“Não é o material que faz uma boa obra e sim o conteúdo”.
Sou uma artista em constante mutação de formas e conceitos.
PALAVRA FIANDEIRA
ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 154
07 JUNHO 2014
DJALMIRA DE FREITAS ROSA
1.Quem
é Djalmira de Freitas Rosa?
—Uma
artista, mulher simples,que ama tudo que faz e fez. Na infância,
adorava desenhar em qualquer papel ou tabuinhas tudo que via e
observava. Sem materiais próprios, gostava do carvão do fogão a
lenha. No decorrer da vida estudou em escola pública e sempre foi
estimulada a continuar. Fez cursos técnicos na escola estadual, onde
aprendeu muitas coisas que até hoje aplica na vida. Formou-se em
ARTES PLÁSTICAS e ARTE DECORATIVA, na Universidade Federal de Santa
Maria, na década de 70. Sempre trabalhou e pesquisou dentro desta
área, o que sempre entendeu como ARTE. Foi casada e tem três filhos
maravilhosos, MINHAS MELHORES OBRAS.
Minha
vida nas artes
Minha
vida sempre foi direcionada para as artes. Compreendendo a música,
plástica e o teatro. A expressividade sempre foi a base fundamental
do seu trabalho. Ministrei cursos de desenho e pintura em várias
cidades do interior do Rio Grande do Sul, como São Sepé, Júlio de
Castilhos, São Pedro e Santa Maria. Como ARTISTA PLÁSTICA comecei
como acadêmica na UFSM, fazendo painéis de professores e alunos,
retratos em desenho aquarelado, na parede do diretório.
Sempre
pesquisando formas e cores (tudo é possível) muita liberdade para
criar, sem modismos, nem mesmo imposições. Passando desde a forma
acadêmica e real até chegar aos elementos figurativos, às formas
abstratas, tudo é fundamental para dar base ao desenho que é a
característica mais presente no seu trabalho. O desenho é
fundamental sempre.
O
medo das cores, no começo, propiciou o surgimento de desenhos em
preto e branco e sépia. A descoberta da cor deu-se através da
descoberta de processos e a identidade das formas. Para a produção
artística materiais diversos são usados, desde o lápis preto,
carvão, aquarela, tintas em pva, em acrílica e em óleo. O facilita
a identificação imediata de uma característica própria para a sua
obra.
Considero-me
uma artista, uma mulher inquieta, curiosa, ansiosa, criativa, mas com
muita vontade de aprender. Não gosto do “marasmo”, do comodismo,
o similar pode cansar, as analogias cansam. As cores podem ser as
mesmas, mas as formas não. Existem muitos elementos que podem se
transformar em novos elementos plásticos visuais.
Morei
em Santa Maria até março de 2014. Consegui, através de grupos, em
que ministrava cursos, conceituar o nosso trabalho como uma proposta
baseada na expressividade e individualidade de cada um. Acredito que
arte é baseada no ser humano como um todo. Fizemos várias
exposições importantes. Plantamos e colhemos. Agora, numa nova fase
da minha vida, estou morando em Porto Alegre. Novos horizontes, novas
propostas, novos artistas. Grandes desafios possíveis e muito
trabalho.
2.
É artista plástica com uma considerável produção. Qual é, de
modo geral, a sua temática, a sua abordagem preferida em suas obras?
—Sou
uma artista em constante mutação de formas e conceitos. Comecei com
retratos e nus (figura humana, com modelo). No decorrer das
pesquisas, com processos diversos, todo o elemento visual fez parte
da obra.
Figurativos,
flores, paisagens, frutas, figura humana e elementos do cotidiano.
Sempre gostei de desenhar tudo que via e vejo. Trabalhei com
decoração de interiores, fazendo projetos residenciais e vitrines,
atividades paralelas, juntamente com a trajetória da expressão
artística.
3.
Além de artista plástica, pintando seus quadros, também atua na
Arte Digital?
—Acho
que com a bagagem adquirida durante estes anos, não achei o espectro
em que minha obra poderia ser incluída na arte digital, o que não
exclui tal possibilidade. A minha liberdade de expressão hoje me
direciona para uso de recursos materiais palpáveis, tais como
pigmentos recortes, colagens, suportes diferenciados e tecidos, etc.
Para não perder a identidade.
4.Tem uma série de obras intituladas Penumbra. Pode, gentilmente, nos
comentar sobre elas? De onde vem a expressão dessa série?
—Sobre
esta série, ainda está em fase de pesquisa, pois começou como
solução de uma necessidade de questões não-plásticas e a
descoberta das cores e das imagens fotográficas. Há aí, acredito
um novo caminho, um novo link, uma nova abertura como base para
pintura e desenho. Um novo ponto de referência.
Pretendo
trabalhar com técnicas mistas (óleo, carvão, pó de café, giz de
cera e seco) e chegar a um produto diferente ao da fotografia, pois
ela serve como elemento de pesquisa de composições e cores.
5.
A partir de quais circunstâncias e por quais acontecimentos em sua
vida, quando e como surgiu o seu interesse pela Arte?
—O
meu interesse pela arte surgiu ainda criança - não especificamente
a arte, mas adorava desenhar tudo (família, irmãos, bichos, flores,
etc.). Talvez tenha surgido daí a razão de usar vários elementos
visuais nas minhas obras. Claro, sem a obrigatoriedade de formas e
cores para identificação da obra. A pesquisa sempre foi constante e
a evolução do traço e das cores foi essencial para o meu trabalho.
6.
Já ilustrou um livro infantil?
—Não
tive a oportunidade. Hoje faço parte de um projeto, em que procuro
interpretar, com desenho e pinturas, contos e poesias de um artista,
de um escritor, de um poeta ou de um músico. O que não é tão é
fácil, pois a visão que temos não encaixa com o significado que o
autor que dar. Tudo é surpresa. Nossa interpretação não é
direcionada é mais compacta, PLÁSTICA. É um novo desafio, um novo
caminho.
7.
Em sua arte realiza diversos processos de criação e também de
técnicas e materiais. Fale, por favor, um pouco sobre isso. Tem, por
exemplo, um estilo ou um material que mais aprecia?
—Como
lecionei em escola pública, onde não existiam materiais, tínhamos
que criar tudo. Desde as tintas em PVA, com cores feitas com bisnagas
coloridas, giz de cera, carvão, papel reciclado, etc. A partir daí
me acostumei a usar qualquer material para me expressar. Sempre
pensei: “Não é o material que faz uma boa obra e sim o conteúdo”.
Sempre uso técnicas mistas. Misturo tudo que é possível de
materiais. Desenho sempre. Não gosto de muita técnica. Acho que a
obra fica fria, sem expressão. Meu estilo é livre, sem escolas.
Aprecio desde o lápis 6b até a tinta óleo. Uso colagens, massas,
suportes diferenciados, papel, papelão, tela, chapas, imagens. Às
vezes, nessas misturas nem sei no que resultará, pois o processo
macerado, feito com tintas deixadas nas palhetas, é reaproveitado.
Tudo é uma surpresa.
8.
E a Literatura? Tem uma preferência de leitura? Romance, contos,
crônicas, poesia... Falando nisso, tem algum livro que tenha lido na
infância que possa de alguma forma ter influenciado a sua vida ou o
seu modo de ser?
—Sempre
dediquei a leitura voltada à minha área específica, a arte. Não
era acostumada a ler só por ler, mesmo porque, sinceramente, o tempo
era curto. Na minha infância, escutava muitas histórias e poesias
lidas pela minha mãe, mas nada específico. Há cinco anos, comecei
a escrever, querendo colocar no papel o que não conseguia com os
pincéis. Apenas o que sentia no momento, como forma de dizer algo
para mim. Sem textos estudados, sem grandes pretensões.
Gosto
de frases e textos que me toquem e que me digam algo. Sou movida a
questionamentos. Faço isto constantemente. Preciso deste processo de
reflexão. Todo o meu trabalho tem uma ligação forte com isto.
9.
Estive em Santa Maria recentemente na Feira de Livro. Conte-nos algo
sobre esse modo de ser do Sul no envolvimento com as Letras e com as
Artes...
—Morei
em Santa Maria por muitos anos. A cidade tem, a meu ver, segmentos
direcionados para cada grupo a fim. Nas artes plásticas, por
exemplo, segmentos diferentes, música, teatro, dança, literatura.
Cada segmento tem suas regras, seus objetivos. E é necessário que a
cidades tenham uma entidade para se fortalecer e crescer mais. A
feira do livro é um ótimo exemplo de união. Trabalhei por vários
anos com grupos de pessoas que mostravam um diferencial. As
exposições eram temáticas, com conteúdo e criatividade e
individualidade. Levar a arte para o povo é difícil, mas não
impossível.
10.Também
escreve, além de pintar? Já teve algum livro publicado ou almeja
isso algum dia?
—Escrevo
o que me vem à cabeça. Quando sinto necessidade de me acalmar,
quando estou apreensiva, sinto que me faz bem. Costumo, a minha vida
inteira, perguntar e responder e sigo sempre a resposta. Se errar,
fui eu. Não editei nada, pois acho que preciso aprender. Esta área
é difícil. Talvez esteja aí um novo projeto, um novo desafio. Já
fui convidada, mas não estava preparada.
11.Participa de alguma Associação, alguma entidade de Artistas
Plásticos ou Escritores? O que representa em sua vida esse contato,
essa amizade e esse encontro com as pessoas no universo artístico e
cultural? E considera que a Rede Social, em sua expressão mais
genuína, aproxima as pessoas de um modo geral?
—Fui
sócia fundadora da Associação dos Artistas Plásticos de Santa
Maria, fui presidente entre os anos 2000 e 2002. Fizemos um grande
trabalho de aproximação de artistas. Com “workshops” e cursos
com artistas, de Porto Alegre e locais, que demonstravam os seus
processos. Foi um período muito interessante e produtivo. As
amizades se concretizaram com as energias e interesses a fim.
Propostas de cursos diferentes são necessárias para o crescimento
do artista (muito trabalho). Gosto de trocar, aprender e passar
adiante conhecimentos. Aprecio a obra de vários artistas que têm a mesma proposta. Acredito que a semelhança faz com que desenvolvamos
mais, acreditando sempre na nossa proposta. A rede social aproxima,
mas devemos cuidar para não sofrermos uma interferência que
modifique a nossa trajetória. As semelhanças existem quando
trabalhamos na mesma proposta. Independente de morarmos em qualquer
lugar do mundo. Todos temos acesso a tudo. Pesquisar faz parte.
Aprender também. Precisamos confiar na nossa proposta artística.
Sem modismos. Somos parceiros nas artes.
12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
—Somos todos iguais?
Somos todos, porquê?
Amamos,
sorrimos, dançamos, cantamos. Vivemos uma vida semelhante, pois
necessitamos das mesmas coisas. O que nos diferencia, seria o nosso
próprio “EU”, o nosso interior, o nosso espírito.
O
invólucro pode ser recheado de beleza, sinceridade, ética e moral.
O que faz com que haja uma diferença, de como conseguimos enfrentar
o nosso cotidiano. A força interior nos impulsiona a crescer, a
buscar elementos para o nosso aprendizado. Todos somos capazes de
entender e enfrentar coisas novas que chegam, devemos estar
preparados. O valor estético dos elementos vivos, ao nosso redor,
são simplesmente imagens aceitáveis. O preconceito, em relação a
tudo e todos, só vai demonstrar a nossa ignorância em relação a
fatos e propostas de vida que nem sempre são os mesmos. Devemos ter
humildade e aprender com o outro, como parte do nosso aprendizado e a
família, material e espiritual, está inserida neste contexto.
As
necessidades básicas, no decorrer da vida, não se diferenciam de
indivíduos com mais ou menos possibilidades financeiras e
intelectuais. Ficamos doentes, precisamos de pessoas ao nosso redor,
precisamos entender o que nos interessa nesta vida.
O
que somos? O que queremos ser? Isso vai depender unicamente de nós
mesmos, dotados de livre arbítrio, inteligência e ignorância, para
escolhermos o que queremos ser. A escolha é nossa. As diferenças
nas escolhas, certas ou erradas, nos farão crescer. Não somos
indivíduos sós, contamos sempre o outro para que esta energia
funcione.
Certas
energias fazem com que consigamos entender o porque de sermos iguais,
independentemente de classe social, ideologias políticas, a fé que
se professa, credos, etnia. Em cada momento da vida as necessidades
que enfrentamos nos encaminham para a superação. Somos capazes de amar sempre!
PALAVRA FIANDEIRA
ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 154
07 JUNHO 2014
EDIÇÃO DJALMIRA DE FREITAS ROSA
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
©Nesta edição, obras de Djalmira de Freitas Rosa
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