EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

PALAVRA FIANDEIRA 71





PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL 
ANO 3 — Nº71
23 JUNHO 2012



SUELI GONÇALVES

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ACREDITAR!




AUTOR: Roberto Machado Alves
1.Quem é Sueli Gonçalves?



Eu me considero uma pessoa feliz, cercada de carinho da família e dos amigos, apaixonada pela vida e realizada na profissão.
Sou formada pela Faculdade de Ciências Humanas e Letras da Universidade de São Paulo, com habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa.
Ser professora era o meu sonho desde menina. Reunia as minhas bonecas e ficava ensinando para elas o que havia aprendido na escola durante o dia. Com 10 anos alfabetizei uma amiguinha de 7! Apesar dessa minha vocação para o magistério, demorou para eu ingressar na profissão, pois, logo me casei e tive três filhas; então, trabalhava, na época, por meio período, no Banco do Brasil; depois, ia correndo para casa para cuidar das meninas.
Em 1996, finalmente, eu me vi assinando a posse como professora eventual de uma escola da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Chorei de emoção! Era o sorriso de Deus para mim, naquele momento único, coroando uma espera de vinte anos!
Exerci a regência de sala de aula durante 10 anos e, desde 2006, trabalho na Diretoria de Educação Penha, pela expansão do Projeto Academia Estudantil de Letras – AEL, que nasceu de uma ideia que tive para, basicamente, desenvolver o gosto dos alunos pela leitura e pela literatura, explorando, dessa última, sua função humanizadora; investir na necessidade urgente da convivência pacífica na sociedade, começando pela escola e pela família; e de promover a autoestima dos alunos como fator determinante de sucesso na escola e na própria vida.



2.Fundou um projeto encantador na Educação Municipal de São Paulo. Um sonho que virou realidade, a AEL. Pode contar ao leitor da Fiandeira o que é a AEL? E como nasceu esse projeto?
É uma Academia de Letras - assim como a ABL - com as devidas adaptações para o público estudantil. Funciona assim: os alunos escolhem um autor da literatura para representar na AEL. Fazem pesquisas e realizam seminários nas escolas sobre os seus amigos literários. Assistem a palestras de poetas, escritores e artistas convidados. Permanecem no Projeto durante o tempo que desejarem; geralmente não se ausentam antes de saírem da escola, ao término de seus cursos. Os mais experientes vão, pouco a pouco, assumindo a titularidade das cadeiras pretendidas. Outros, mais novos, das séries precedentes, também são preparados, como membros correspondentes ou suplentes, para assumir a vacância da titularidade, quando os primeiros saem, ficando, assim, garantida a continuidade do processo, de forma organizada e eficiente. Frequentam aulas de literatura (focadas no lúdico) e de teatro, ambas no contraturno escolar, isto é, fora do horário regular das aulas. Não é obrigatório participar do Projeto AEL e não há exigência de qualquer pré-requisito para o ingresso dos alunos; é um projeto de inclusão, portanto. Os alunos acadêmicos participam, ainda, de saídas culturais, solenidades de fundação de novas academias, festas anuais de posse, homenagens aos patronos das academias e mostras de teatro, onde eles mesmos encenam obras primas e primorosas da literatura de todos os tempos e de todos os lugares. Por fim, os alunos são os protagonistas do Projeto, sentem isso, vivenciam isso de fato, e por isso gostam de participar.
A AEL nasceu embaixo dos eucaliptos da EMEF Padre Antônio Vieira, em 2005, onde ficávamos, doze alunos e eu, conversando sobre autores, livros e poesias. As ideias fluíram naturalmente e, quando percebemos, estava tudo ali à nossa frente, prontinho para realizar.


AEL Nelson Albissú

3.E a ALP? O que é?
É a Academia de Letras dos Professores, fundada há quase quatro anos, contando atualmente com 101 professores, que já tomaram posse de suas cadeiras literárias e outros em processo de formação.
A ALP foi a melhor maneira que encontrei para explicar aos professores o que era a Academia Estudantil de Letras e como funcionava.
Vivenciando a experiência dos alunos ficou fácil entender o que eles faziam e o que sentiam, pois, a dinâmica é exatamente a mesma nos dois Projetos.
As emoções se repetem com a mesma intensidade, porque, em contato com a Arte, especialmente com a Literatura e nas questões humanas, todos se igualam: não existem mais adultos e crianças ou jovens; nem professores nem alunos.

Trigésimo encontro da ALP


4.Como é emocionante e lindo a festa de posse ou de aniversário de uma Academia Estudantil de Letras!, como a Festa Anual de Posse e Quinto Aniversário da AEL Cecília Meireles. Fale, por gentileza, aos leitores, da emoção que sente, e o que isso de fato em sua vida representa.
Eu me sinto, despretensiosamente, uma mãezona de todas as Academias, as quais amo igualmente, como uma verdadeira mãe mesmo, com uma porção de filhos.
Como é maravilhoso vivenciar esses momentos solenes! Não tem como não me render à emoção e chegar às lágrimas em todas as vezes!
Faz tempo que a AEL virou para mim PAIXÃO! Por ela eu choro, eu rio, eu luto, eu vivo! Coloca-se na minha vida ao lado de tudo o que mais prezo. Deve ser como é um livro para os seus autores...


Festa de posse na AEL Cecília Meireles

5.Recentemente, uma nova festa, na posse da AEL Guimarães Rosa. Você comparece nessas festas? Está sempre presente?
Nossa programação anual é bastante intensa: cada escola realiza os seminários internos, mensalmente; as festas anuais de posse e a mostra de teatro; além de recebermos convites para participação em eventos extras.
Recentemente assistimos às Festas de Posse da AEL Padre Antônio Vieira, AEL Cecília Meireles e AEL Guimarães Rosa, que primaram pelo capricho, dedicação e protagonismo – uma mais linda do que a outra!
Neste mês realizaremos mais quatro eventos com essa configuração. Ainda faltarão doze, que serão realizados até o início do mês de agosto. Depois virá a mostra de teatro desse ano, com adaptações de obras literárias para o palco.
É motivo de muita alegria poder participar de todas as atividades relacionadas com a AEL. Às vezes acontece uma coincidência de datas e só assim deixo de participar de uma ou de outra, mas fico absurdamente inconformada com essa situação.
AEL Mário Quintana


6.Fiquei muito feliz ao ver o nome de um grande amigo meu, o Nelson Albissú, numa Academia Estudantil de Letras. Isso resgata algo precioso. Nome de escritores, poetas, educadores, artistas, em escolas. Seu projeto se torna ainda mais importante, visto que a escola é o lugar da palavra, e sobretudo, da palavra poética. Poderia nos falar sobre isso?

Nelson Albissú é escritor e diretor teatral, 
residente em Mogi das Cruzes


As próprias escolas escolhem os patronos de suas academias, ainda na fase de implantação. No rol das cadeiras literárias, uma – a de número 1 - dará nome à própria AEL.
No ano passado, o escritor Nelson Albissú foi escolhido como patrono da cadeira número 1 , quando foi fundada, na EMEB Walter de Almeida Monteiro, em Poá, no bairro de Calmon Viana, a AEL que recebeu o seu nome.
O querido escritor tinha já uma história carinhosa com a escola: ele a visitava frequentemente, realizava palestras e contava histórias, encantando os pequenos com sua criatividade e com os seus livros.
A Academia Estudantil de Letras promove o estreitamento dos vínculos entre os escritores e a escola, convidando-os para os seminários internos, tornando possível um diálogo muito interessante, onde os alunos os percebem como pessoas parecidas com eles, acessíveis e humanas, além de muito especiais no trato com a palavra. Não raramente, eles se entusiasmam e acabam escolhendo-os como amigos literários, para representar na AEL, a partir de um encontro desses.



7.Participa da Rede Social..., e o Facebook, por exemplo, é uma espantosa revolução no modo como a humanidade se comunica; Como a era tecnológica, que está se tornando a cada dia mais presente na vida dos jovens? Ela poderia reverter a sua condição original de substituta da era humanista? Como essa possibilidade? Acredita que a Educação poderia contribuir para que a Era Tecnológica seja, digamos, humanista, ou isso ocorre?

Participo da Rede Social, principalmente do FaceBook. Admiro e aprovo toda essa evolução tecnológica, embora reconheça a necessidade de saber usufruir de seus benefícios com cautela e responsabilidade.
A Educação – sempre ela – deve permear todas as intenções e ações, para que prevaleça o humano sempre e, claro, também nesse importante contexto




8.Sueli, para idealizar e desenvolver um projeto como esse, da AEL, certamente tem um amor intenso pelos livros. Como foi a sua infância? Tem algum livro, alguma obra, que considera que possa ter influenciado de alguma forma o rumo da sua vida?
Ah! Eu tenho um amor intenso pelos livros, sim! Se alguém esquecer um livro na minha mesa de trabalho, eu vou levá-lo pra casa, lê-lo da primeira à última página, e devolvê-lo só no dia seguinte ao lugar de origem, como se nada tivesse acontecido...Coisa feia!
Tinha uma Biblioteca perto da minha casa, quando eu era criança. Eu chegava da escola e corria para lá. Lia, lia, lia... com o objetivo de aprender a escrever... Eu queria escrever como José de Alencar! Li todos os livros dele antes de completar 15 anos! Achava lindo usar metáforas nas redações, mas eu nem sabia o que eram metáforas...
Eu também queria inventar histórias para serem representadas no teatro, que eu improvisava com a ajuda do meu pai, no quintal da minha casa, e ensaiava com todos os meus amigos que quisessem participar. A primeira história que escrevi foi: “O Príncipe do Papagaio Verde”(até hoje não entendi bem esse “do” no título...)
Meu pai gostava de reunir os filhos e minha mãe ao redor da mesa da cozinha, para “cantarmos” histórias de cordel. Havia um ritmo a obedecer. Ninguém suportava ficar mais de dez minutos naquela mesa, mas eu adorava!!! O cordel que mais me apaixonou foi “Pavão Misterioso”.
Na adolescência, eu me apaixonei pelo poeta J.G.de Araújo Jorge , que na Faculdade - fiquei sabendo – não era tão bom assim, segundo a crítica literária! Desilusão! Mas que ele sabia falar do que eu sentia como ninguém, sabia! Só perdia pra mim mesma quando eu comecei a escrever os meus primeiros poemas de amor...
Ah! Se tivesse na minha escola uma AEL, eu e meia dúzia de amigas, que ficávamos declamando numa sala de aula vazia, na hora do recreio, iríamos adorar!





9.É uma pessoa amorosa e muito querida. Acredita no ideal de uma Educação onde o afeto seja o orientação, na qual, na alfabetização, a Literatura Infantil seja protagonista?



É exatamente nisso em que eu acredito! Não acredito em nada que seja diferente dessa premissa!
Tenho assistido a verdadeiros milagres na AEL!
Uma vez participei de um curso nomeado “Pedagogia da Afetividade” e me encontrei nessa filosofia, embora, acredite que não haja uma receita a seguir; tudo depende muito mais da nossa intuição e do nosso amor sincero.



10.Conhece o livro SERAFIN DE POETAS? Como crianças escrevendo poesias numa época de tanta velocidade?



SERAFIN DE POETAS é uma dessas inspirações que nos arrebata de repente, como educadores, e, penso, tenha acontecido assim com o grande amigo e escritor, Marciano Vasques.
O livro é lindo, incrível mesmo! O título, a capa, tudo perfeito! Eu o li por várias vezes seguidas!
Crianças pequenas e jovens, debruçados sobre algum caderno, ou talvez uma folha em branco, em determinado momento, escrevendo versos, dando vazão às emoções, sem pressa, com a ordem interna de sentir apenas...
Para mim, são como anjos, serafins mesmo, desenhando formas bonitas nas nuvens...



11.Pretende, assim que tiver condições (tempo, etc) viajar para divulgar em outros municípios, ou até estados, esse seu lindo trabalho, que deveria ser implantado no Brasil inteiro?

Aprendi com uma amiga querida que não podemos aprisionar uma ideia e que, se ela dá certo, precisamos difundi-la, ampliá-la, divulgá-la, sem egoísmos ou vaidades.
Então, eu sempre me coloco à disposição de quem queira conhecer melhor o Projeto, ensinando o passo a passo de sua execução, zelando, somente, para que ele seja sempre utilizado para servir à Educação, puramente, conservando a sua essência e propósitos.
Nasceu a AEL Poeta Antônio Francisco, em Apodi, no Rio Grande do Norte, sem eu me deslocar para lá, conversando pela Internet com a professora interessada. Até hoje nos relacionamos pelo Facebook e acompanho daqui o desenvolvimento dessa AEL, que persiste já por alguns anos, revelando talentos literários e alimentando os sonhos de crianças, jovens e professores, como acontece aqui.




12.Deixe a sua mensagem final. Qual é a sua Palavra Fiandeira?
Agradeço pela oportunidade de responder a esta entrevista. Coloquei o meu coração em cada palavra. Espero que tenha dignificado humildemente este maravilhoso blog, criado pelo Marciano Vasques.
A minha PALAVRA FIANDEIRA é ACREDITAR! Ela é capaz de tecer TUDO o que sonhamos!!! 
AEL Luís Fernando



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PALAVRA FIANDEIRA 
Publicação digital de Literatura e Artes,
 fundada pelo escritor Marciano Vasques

PUBLICAÇÃO SEMANAL, AOS SÁBADOS
EDIÇÃO 71 — SUELI GONÇALVES
EDIÇÃO 23 JUNHO 2012
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Um comentário:

  1. O trabalho da Sueli é inspirado, e merece ampliação, visitação, apreço e imitação. Parabéns, Marciano, por trazê-la à luz, pois ela é merecedora de muitas palmas. Aliás, a Veja São Paulo, traz na edição de 26 de dezembro de 2012 uma nota simpática sobre ela e mais 9 empreendedores sociais dessa nossa Sampalândia. Estou muito feliz por tudo isso.

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