EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 27 de março de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 23




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PALAVRA FIANDEIRA
 REVISTA DE LITERATURA
 ANO 1 - Nº 23 - 27 MARÇO 2010

NESTA EDIÇÃO:
CLAUDIA CANTO

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1. Quem é Cláudia Canto?
É complicado falar de nós mesmos, acredito que sempre subtrairemos ou somaremos alguns aspectos. A única coisa que acredito, é que os conceitos de verdades que tenho hoje poderão cair por terra amanhã, não tenho problema algum em mudar minhas opiniões, rever meus conceitos...
Hoje a Cláudia é uma pessoa inquieta, tentando buscar sempre a maturidade, e aprendendo em todas as situações.
Quero e pretendo adquirir a cada dia mais maturidade e discernimento. Permanecer sempre humilde na minha caminhada, e estar sempre rodeada de amigos.



2. Lançou um livro, intitulado CIDADE TIRADENTES: DE MENINA A MULHER. Poderia nos falar sobre essa obra? É um livro biográfico?
Cidade Tiradentes de Menina a Mulher, é um livro que tinha a idéia a escrever há muito tempo, mas não sabia qual seria meu foco narrativo, sabia que não queria fazer um estudo antropológico ou geográfico.
Foi ai que surgiu a idéia de contar a historia da Cidade Tiradentes, como se ela fosse uma mulher, abordando temas como drogas, gravidez precoce, ONGS, etc, em paralelo com a minha historia no bairro.
E para me ajudar ainda mais, descobri que o Instituto Polis de pesquisa e o Centro Cultural Espanhol, estavam procurando agentes culturais do bairro.
Realizamos o trabalho: eu, Daniel Hilário, Bob Jay, Tio Pac, onde buscamos encontrar a maior quantidade de artistas, para no final criarmos um site com os artistas da Cidade Tiradentes.

3. Fale-nos da efervescência cultural da Cidade Tiradentes.
O que posso dizer é que a Cidade Tiradentes tem muito a ser descoberto e bastante a contribuir com a cultura em todos os sentidos. E por falar nisso, o site esta aberto para os artistas que não foram mapeados ainda, basta enviar um email: cartovideo@gmail.com

4.Sua história de vida está entrelaçada com a Cidade Tiradentes? O que representa de fato a região em sua vida?
Sim, claro! A minha base, minha educação, adquiri na Cidade Tiradentes, freqüentei os bailinhos, meu primeiro namoradinho foi lá... Se me virei na Europa, foi por tudo que aprendi na Cidade Tiradentes. Posso estar em qualquer lugar do mundo, mas a minha essência manterei.
Pode parecer demagogia, mas quem me conhece sabe que isso tudo é verdade.
O que puder fazer para contribuir com a Cidade Tiradentes, com certeza o farei.


5. Conte-nos algo sobre o seu livro "Morte Às Vassouras". Qual a sua abordagem, a partir de que necessidade ele nasceu?
Eu, a Juliana Penha, jornalista da Revista Rap Brasil, decidimos em menos de uma semana, que faríamos uma viagem para Europa, em busca de novos horizontes, para isso economizamos nossos míseros recursos, mas no último momento infelizmente o pai dela morre, nosso grande incentivador. Depois de pensar muito ela decide não seguir em frente com os nossos planos, e eu como já tinha comprado minha passagem não tive como voltar atrás.
Sem conhecer nada nem ninguém cheguei a Lisboa. Dentre outras coisas, acabei me tornando empregada doméstica em um casarão, cuidando de dois anciãos, praticamente em semi cárcere.
Foi desta experiência lapidante que nasceu Morte ás Vassouras, um diário onde relato toda esta experiência. Mas o mais interessante e que depois de dois anos voltei para Portugal e lancei o livro por lá...


6. Já foi chamada e é considerada Cidadã Operária do Mundo. Como se sente diante de um título tão significativo?
Sou sim, operária das letras, uma formiguinha que pretende fazer sempre algo de bom, em qualquer lugar que esteja. Procuro dar sempre o meu melhor, mas juro que não sabia que carregava este título, mas fico bastante congratulada.



7. Tem lançado seus livros em locais como os CEUS, e as escolas da periferia de São Paulo. Como é esse contato, qual a receptividade do público?
Adoro, me sinto muito bem, desejo que meus livros atinjam todas as pessoas, todas as classes sociais, não quero barreiras para minhas letras.
É muito bom, acredito que com estas aproximações, talvez consiga modificar o paradigma de que o escritor está sempre longe, em algum lugar inatingível...
Digo sempre: cada um tem uma maneira de se expressar no mundo e o meu é este, mas isto não quer dizer que é melhor nem pior.

8. Quantos livros já lançou?
Tenho quatro livros lançados: Morte ás Vassouras, Bem Vindo ao Mundo dos Raros, contos e crônicas de uma psiquiatria, Mulher Moderna tem Cúmplice, e o mais recente , Cidade Tiradentes de Menina a Mulher.



9. No campo de leitura literária, qual o gênero que mais aprecia, e mais satisfação lhe traz? Poesia? Romance? Contos? Crônicas?
Gosto de ler tudo que possa de alguma forma complementar as lacunas do meu espírito, e que ao mesmo tempo me traga mais discernimento.
Mas para escrever tenho mais facilidade com os contos e as crônicas.

10. O que pensa de eventos gigantescos, como a Bienal do Livro? Eles contribuem realmente para a difusão do livro?
Mesmo sabendo que só os escritores mais renomados têm espaço na bienal, acredito que é válido. A energia do evento é maravilhosa, é uma maneira de chamar atenção para a literatura.

11.Além de escritora, é jornalista. Para muitos , são as duas melhores profissões do mundo. E para você?
Para mim foi a forma que encontrei para dar voz a minha alma inquieta, como um cabeleireiro usa a tesoura para fazer seus cortes.
Cada um tem seu papel no mundo, mas o mais importante e descobrirmos qual o nosso talento, no que somos melhores, e a partir disto correr atrás.

12. Diga algo ou algumas coisas que fazem com que sinta uma imensa tristeza,
Fico imensamente perturbada e triste, com as pessoas que não tem abrigo, que estão em situação de rua.
Para muitos isto é uma paisagem rotineira, não incomoda, mas eu fico muito mal...

13. Como vê a influência tecnológica no mundo, acredita que o futuro é sombrio? Até que ponto a tecnologia interfere nos costumes e na cultura dos povos?
As coisas acabam se interligando de alguma forma. Quando a televisão apareceu, muitos acreditaram na falência do rádio, mas com o tempo perceberam que as coisas vão tomando cada um o seu lugar, não enxergo um futuro sombrio por causa da tecnologia, mas sim no que diz respeito ao nosso planeta.
O planeta esta pedindo socorro, e ninguém esta tomando nenhuma atitude.

14. A Internet, inclusive, está mudando o conceito de autoria. Como vê essa questão para o artista, o escritor, enfim, para o autor?
Não tenho problemas com isso, pelo contrário, se alguém se prestar a fazer um tipo de coisa como esta, significa que o que escrevo agradou tanto a pessoa, que ela se prestou a correr este risco.
O peso na consciência tem que vir da própria pessoa.
Eu mesmo me inspirei muito em Hermam Hesse, para escrever! Somos os outros...
Tenho planos de colocar alguns dos meus livros na net, transforma-los em E.book.
O universo pede equilíbrio, nada é nosso de fato, tudo nos foi emprestado, devemos tentar sempre repartir.

15. Defina o que é para você a felicidade.
Depende, hoje a felicidade para mim é ter o meu trabalho reconhecido por um grande número de pessoas, mas amanhã pode ser outra coisa.
Felicidade depende de varias coisas, do momento que se vive, da idade, da maturidade etc

16. Quais os seus projetos como escritora?
Tenho planos de lançamento na Europa, vou levar a Cidade Tiradentes para todos os cantos, sem barreiras...


17. Diga um livro ou mais de um, que realmente influenciou a sua vida de alguma forma.
São muitos os livros, sou a soma de tudo que leio, desde Machado de Assis, Lima Barreto, Gabriel Garcia Márquez, Marcelo Rubens Paiva, Plínio Marcos, José de Alencar, Dostoieviesk, uma amiga que escrevia muito na Faculdade, frases de pára-choque, as poesias dos saraus, enfim, tudo que me tocar.


18. Já deve ter ouvido dizer que Poesia não vende. Para você, isso tem sentido ou é uma invenção editorial?
As pessoas que não conhecem poesia acham que e uma coisa maçante, por isto que muitas editoras não investem. Mas os inúmeros saraus que esta acontecendo por todos os lados, acredito que esteja servindo para quebrar certos conceitos.

19. A Poesia é necessária no mundo atual?
Sim, sem dúvidas!

20- Promove e participa de saraus com o público feminino. Como vê a participação da mulher atualmente na produção cultural?
A mulher está enfim, conquistando seu lugar de direito!! Isto em todos os setores, principalmente nas produções culturais.
Aqui ou ali, sempre tem a presença de alguma mulher...


21. Deixe a sua mensagem para PALAVRA FIANDEIRA.

Parabéns pela nobre iniciativa!
Continue assim... E no que eu puder colaborar, estou inteira à disposição. 
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ENTREVISTA REALIZADA POR MARCIANO VASQUES

Marciano Vasques é escritor.

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sábado, 20 de março de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 22




PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
ANO 1- Nº 22 - 20 MARÇO 2010

NESTA EDIÇÃO:
COLHEITA DE FLORES

MARÍLIA CHARTUNE

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MARCIANO VASQUES ENTREVISTA:

1. Quem é Marília Chartune?

- Mineira de Tocantins, sétima filha de uma família de 10 filhos, sou a mais inquieta de todos. Acho que tenho coragem e determinação (os  outros me definem como inconsequente). Sempre busquei meus objetivos, mesmo que fossem necessárias mudanças radicais, mas sempre sou responsável pelos possíveis e eventuais erros. Sou hiperativa, de gosto eclético e gosto de realizar muitas atividades ao mesmo tempo, o que me deixa atrapalhada às vezes. Tenho dificuldade em dizer "não", por isso me arrisco às vezes a ser incompreendida se falta tempo para a família. Pratico esportes como ciclismo, natação e aero-axé (dança aeróbica) e também faço caminhadas, mas nada disso com muito fanatismo. Gosto de futebol, assisto a jogos no estádio e pela TV, música, dança e literatura. Atualmente participo de dois programas: Rádio Antena 1: Jogo de Cintura ( Só por Mulheres) e Sala de Debate (Cultura, Política, Atualidades, Cidade, etc. feito por homens) Enfim, arrisco dizer que sou apenas uma pessoa que procura conquistar um espaço e ser respeitada como mulher e profissional.


2(A). Participou, como artista convidada de PALAVRA FIANDEIRA, para ilustrar a edição com o escritor Nelson Hoffmann. O que representou para você esse encontro da sua arte com a literatura?
- Uma grande honra ilustrar um texto tão bom, principalmente porque não escolhi, fui brindada. Isso demonstra que o fato de estar de acordo com a obra literária, meu trabalho está muito próximo da ilustração. Frequentemente executo trabalhos similares, como capas de livros, revistas e parcerias com escritores e poetas em publicações. Também o contrário acontece: meu trabalho foi apresentado e descrito em muitas ocasiões por escritores como José Cândido de Carvalho e Geraldo França de Lima, ambos imortais da Academia Brasileira de Letras, entre outros. Em Santa Maria, fazemos interação com escritores e poetas, ora ilustrando, ora recebendo comentários literários sobre nossos trabalhos.

2(B). Como é o seu trabalho de orientação de artistas em seu atelier? De que forma isso acontece?
- Trabalho com alunos desde 1993 em Santa Maria. A orientação é individual, cada um tem seu estilo próprio, mas a formação de "Escola" é inevitável. O traço caracteriza o estilo do grupo, muitas cores são usadas por influência deste trabalho, mas oriento para que se tornem profissionais e participem de mostras competitivas, coletivas e individuais. Tenho alunos com idades e profissões distintas, que no início procuram uma terapia ocupacional ou mesmo um "hobby". Outros querem realizar um projeto de vida adiado. Até tem os que são artistas e querem aprender novas técnicas. Ao final todos se realizam no que fazem e isso me deixa ainda mais comprometida com eles, que se tornaram  colegas de trabalho.

3. Teve um de seus trabalhos artísticos impresso num cartão telefônico da Telecom. Conte-nos sobre isso, fale sobre o trabalho contemplado e o que representou em sua vida essa alegria.
- Há quinze anos sou parceira de um festival de dança "Santa Maria em Dança", cuja identificação visual é sempre uma reprodução de um quadro meu no tema e a cada ano privilegia um grupo ou um estilo de dança. A Brasil Telecom, empresa que confeccionava esses cartões, estampou no ano de 2002 o quadro "Seres", coreografia do Balé da Cidade. Foi a única imagem de Santa Maria que ilustrou um cartão telefônico, tenho muito orgulho de ter sido contemplada com essa oportunidade.


4. Considera relevante, claro, os prêmios na carreira de um artista. E é uma artista premiada. Qual foi o primeiro que recebeu? Como viveu essa primeira emoção?
- Considero qualquer distinção um orgulho para um artista. Receber prêmios simbólicos como medalhas, troféus e certificados é uma recompensa pelo trabalho executado e coloca o artista num patamar de prestígio perante a classe artística e cultural, mas não representa uma promessa de bom desempenho na profissão, pois o que importa mesmo é a regularidade de produção, a lucidez e criatividade do artista. Conta-se um pouco com a sorte, mas o trabalho ininterrupto, a sequência lógica e a divulgação são muito mais importantes. Recebi muitos prêmios na minha profissão. mas o mais importante foi o primeiro: "Medalha de Bronze no Salão de Desenho da Sociedade Brasileira de Belas Artes" Senti uma emoção muito forte quando fui comunicada por achar que era muito remota a possibilidade de isso vir a acontecer. Depois vieram outros prêmios, como troféus-destaque em exposições como a Bienal Latino Americana em Sâo Paulo e medalha de ouro no Salão Nacional Flumitur de Arte, que foram muito importantes e creditam alguns itens ao currículo.

5. Como é ser Personalidade Cultural da AAPSM? Conte aos leitores de PALAVRA FIANDEIRA o que é a AAPSM.

- A Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria é uma entidade fundada em 1992 e tem uma importância muito acentuada em Santa Maria, que é "Cidade Cultura". Promove artistas e incentiva com atividades, cursos, exposições e concede premiações anuais. Como artista ganhei 15 troféus em diversas mostras e eventos, e como fui presidente dessa entidade por duas gestões, assim como participante de todas as diretorias desde a sua criação, fui contemplada com o troféu "Personalidade Cultural" em 2003.

6. É uma artista plástica com um trabalho de encher os olhos e a alma. Já pensou em ilustrar um livro infantil?

- Como artista quero expandir meu trabalho a diversas áreas. Como tenho formação acadêmica, conheço muitas técnicas e sou formada em pintura e restauração. Mas o desenho é uma aptidão que me levou a ter gosto pelas artes plásticas e para ilustrar livros tem que convencer que aquele traço é uma imagem que representa o que está escrito sem que o universo imaginativo do leitor seja prejudicado ou menosprezado. Seria um desafio e eu tenho interesse nisso sim.

7. Falando em Literatura Infantil, acompanha a produção nacional de livros para as crianças?
- Acompanho a área ilustrativa, cartoons e quadrinhos. Participei de um trabalho na Universidade Estadual do Rio de Janeiro com artistas e cartunistas como Maurício de Souza, Henfil, Ziraldo, Décio Pignatari entre outros, sobre Educação Através da Arte em 1978. Esse trabalho ajudou a compreender o universo da criação destinada ao público infantil e como a produção nacional era restrita e pouco elucidativa. Excluindo esses mestres do desenho, destacavam-se à época, Monteiro Lobato, Clássicos da Literatura infantil e Júlio Verne. Aqui em Santa Maria, na Feira do Livro, sempre procurei adquirir livros infantis, além disso, sou amiga e admiradora de alguns escritores e orientei os filhos para a leitura, mas confesso que sei muito pouco do que se produz para o público infantil, além do que aparece nas feiras.

8. Aprecia os temas regionais, o que representa uma valorização da cultura e um amor pela sua terra, sua região, ou seja, a região na qual vive. Ao mesmo tempo, carrega em si a condição do artista como ser universal. Isso confere? Está expresso em sua arte?
Dança gaúcha
- Sim, minha arte é universal, de linguagem simples e fácil compreensão por ser muito objetiva. Mas a referência telúrica é evidente: sou de Minas Gerais e a princípio, minha pintura representava montanhas, paisagens e casarios que identificavam minhas raízes. Ao me transferir para o Rio de Janeiro, onde me formei e iniciei minha atividade profissional, pesquisei a luz e a atmosfera característica da região, pintando cenas do Rio de Janeiro e marinhas. Influenciada por pintores de rua de Paris, iniciei a fase de Cenas Urbanas que até hoje são temas constantes no meu trabalho. No Rio Grande do Sul, me apaixonei pela cultura gaúcha, música, dança e tradição, temas que estão presentes em minha pintura atual, assim como as cenas de rua de Santa Maria, cidade que me adotou e eu amo tanto.

9. O que pensa sobre o verso de Milton Nascimento: "Todo artista tem que ir aonde o povo está". Ou o "Povo tem que ir aonde o artista está"?
Esse lema é verdadeiro, o artista tem que ir aonde o povo está! No Rio de Janeiro, fiquei por quase seis anos ininterruptos, expondo na feira de Ipanema, antiga Feira Hippie, local que recebe visitantes de todo o país e do exterior. Nos dias atuais, a vida agitada não permite que as pessoas visitem museus, galerias com tanta frequência, mas através da internet, esses acessos são possíveis dentro das próprias residências. Além disso, exposições, workshops e  demonstrações de técnicas são realizadas em shoppings, bancos, locais públicos e de grande circulação de pessoas. Isso propicia a um número maior de apreciadores o convívio direto com a arte.


10. Aos doze anos já recebia encomendas para desenhar. Conte-nos sobre isso.
- Sempre gostei de desenhar, mas o lado lúdico foi substituído pelo prático. Sempre que alguém precisava de um trabalho em que o desenho fosse necessário, era uma encomenda certa. Recebia em troca material de desenho ou o que as pessoas achassem justo como forma de pagamento. Por isso, me especializei em retratos de D. Pedro I, Tiradentes, Duque de Caxias para trabalhos escolares de alunos que queriam impressionar ou pais zelosos pelos trabalhos dos filhos. Os parentes solicitavam retratos a grafite, como o do meu tio Raul , f eito quando eu tinha apenas 12 anos e até hoje está em bom estado.

11. Como foi a sua convivência com os impressionistas no Rio de Janeiro, o que representou esse momento em sua vida e para a sua obra?
- Minha formação foi acadêmica e pela Escola Nacional de Belas Artes, UFRJ passaram muitos artistas de diversas tendências: expressionistas, pop, surrealistas, seguidores do suprematismo, enfim, modernistas e contemporâneos. Mas o que mais me influenciou e me encantou foi o estilo impressionista de Eliseu Visconti, Henrique Cavalleiro e Antônio Parreiras. A nova figuração passou por perto, mas a luz e a cor desses artistas me aproximaram da Sociedade Brasileira de Belas Artes, onde esse estilo era muito executado por artistas frequentadores do prédio na Lapa. Na Feira de Ipanema conheci artistas importantes e com alguns convivi mesmo sem que tenha frequentado o atelier desses mestres do pincel. Mas foi na pintura de um espanhol que eu me baseei para seguir nessa linha de trabalho: Joaquim Sorolla, e muitos artistas cariocas também se identificaram com a beleza de suas marinhas e a luz ofuscante dos tecidos brancos das figuras ao sol. A conjunção de luz, cor e movimento norteia meu trabalho há mais de vinte anos.

12. É verdade que em Copacabana conseguiu produzir três mil quadros? Fale, por gentileza, dessa produção, desse período, dessa vertiginosa alegria de pintar;
- Morava em Copacabana e produzia incessantemente pinturas a óleo e aquarelas por encomendas e o mercado de arte era efervescente na década de 80. Em 1981 pintei para a Bolsa de Valores do Rio, um lote de 500 aquarelas para serem dadas em um Congresso da Revista Bolsa. Também criei e pintei os figurinos, alegorias, adereços e carros para uma escola de samba do Rio em 1983. Pintava por mês uma série de 100 telas que entregava aos marchands que vendiam em leilões de arte. Trabalhava dia e noite, contabilizei mais de cinco mil quadros nesses 30 anos de trabalho. Em 1979 ganhei o primeiro prêmio e desde então não parei mais. Claro que o volume de produção não significa qualidade, mas aprender a usar as tintas e os pincéis com destreza foi um dos resultados de tanta produção.

13. Consta que você participa ativamente da vida cultural em Santa Maria, onde vive. Poderia nos pincelar como ocorre essa participação?

- Sou participante ativa da vida cultural de Santa Maria. Além da AAPSM, que já citei anteriormente, integro o Conselho Municipal de Cultura, Fórum das Entidades Culturais, e participo de eventos ligados às artes plásticas, como exposições temáticas em locais públicos, como Base Aérea e Câmara de Vereadores, cursos, workshops, feiras e congressos. Na UFSM ministro cursos extracurriculares em Congressos de design e participo de diversas promoções da entidade. Juntamente com meus alunos levamos o nome de Santa Maria a outras localidades, como Porto Alegre e Montevidéo, com diversas exposições e participações em salões e publicações sobre arte. Atualmente participo de dois programas de debates na rádio Antena 1, com dois grupos e assuntos diversos.

Com a artista plástica Ziza Mezzomo


Com amigos numa exposição de sua autoria
14. Aproveite, e trace-nos um panorama da vida cultural em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

Pintando na praça

- Cidade Cultura, tem  Cursos de Artes, Arquitetura, Desenho Industrial, Música, etc em diversas entidades acadêmicas Federal e Particulares. 
 Museu de Arte além de muitos outros museus específicos de cada área.
 Conta com várias universidades particulares além da Federal.
 Na área de Música temos vários festivais, orquestra sinfônica, corais, bandas de rock, bandas marciais e muitos cantores líricos e populares, além do Nativismo que  é a referência em festivais regionais.
 Além do Curso de Teatro, 
 Várias salas de cinema com lançamentos semanais e concomitantes com as capitais e outros palcos em clubes e escolas para apresentações artísticas, além de palcos ao ar livre em praças e parques. Há também uma Feira do Livro anual com inúmeros lançamentos.
 Nas artes plásticas temos uma produção universitária e dos artistas locais que somam um número expressivo de produtores visuais divididos em vários grupos.      Exposições itinerantes,  mostras anuais, e uma Casa de Cultura que abriga diversas instituições culturais.

15. Estudou na Espanha, onde fez Pós- Graduação. Poderia nos revelar a sua vivência neste período, de que maneira enriqueceu a sua alma artística, além, claro, da aquisição cultural pelo curso?
- Fiz uma pós graduação em convênio da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a Escola de Turismo de Baleares, em Palma de Mallorca. A pesquisa foi feita sobre a Influência moura na arte espanhola e a história da arte espanhola até os dias atuais. Foi enriquecedor e produtivo porque além dos livros e anotações de historiadores, pude ver cada etapa do estudo no local, o que ajudou a memorizar e aprofundar os conhecimentos. Além disso, vivenciar a cultura do país é muito bom.

16. Já pensou em realizar algum projeto na área de animação digital, ou coisa assim? Como vê a influência da tecnologia nos fazeres artísticos e de que forma isso poderá modificar os parâmetros estéticos no futuro?
- Nessa área não tive nenhum interesse, isso demandaria muito tempo e eu deixaria outras atividades que considero prioritárias. Mas acompanho a arte contemporânea e há muitos anos vem se destacando o uso desenfreado da ferramenta digital, modificando parcialmente a estética, principalmente nas mostras como Bienais, Documenta, entre outras. Acredito que a arte pura jamais deixará de ter seu espaço, principalmente na ótica de curadores importantes dessas mostras, que ao invés de serem consumidores daquilo que ajudam a divulgar, ostentam em suas coleções, peças de valor indubitável de artistas do pincel, como Francis Bacon e Sorolla.

17. Todos os seus quadros encerram, cada um, uma beleza e às vezes alguns enigmas, revele-nos algo sobre o quadro JUSTIÇA.

JUSTIÇA

- É um tema interessante por levar a idéia de uma deusa que representa a Justiça por ter se sentado ao lado de Zeus e aconselhado nas suas decisões e banquetes. Deusa Themis, apaixona muitos artistas, mas interessa aos profissionais do direito, por isso faço muitas obras encomendadas. Na internet aparece um quadro baseado no Palácio da Justiça de Brasília que foi reproduzido em vários sites de Portugal, Rússia, Itália, Brasil e Oriente. Muitos deram os devidos créditos, mas se tornou domínio público e eu me orgulho cada vez que vejo mais um desses sites e blogs com minha obra, que é uma releitura bidimensional de uma outra em três dimensões.

18. Algo encantador é a predominância de guarda-chuvas, de chuva, de paisagens luminosas com chuvas em sua produção; com esse motivo produziu quadros de extraordinária beleza e rara luminosidade. De onde vem, qual a origem, quando surgiu esse gosto por esse tema?

ÍNDIOS
- O gosto vem do simples fato de ser pictórico. É uma cena bonita, gosto dos reflexos, da água, da composição e do aconchego e proteção do guarda - chuva. Alguns arriscam hipóteses de que eu deva ter tido algumas perdas, mas é muito objetivo, devo ter perdido alguns guarda- chuvas...

19. A poesia procura se expressar de diversas formas. No seu caso, através da pintura, pois algumas de suas telas têm uma extraordinária força poética, que atinge em cheio os olhos do coração. Já se sentiu poeta?
- Seria um desprestígio aos poetas... mas me sinto meio poeta quando consigo em uma única pincelada um efeito mágico e perturbador! Às vezes a veia poética nos alcança, mas a rima é um efeito plástico, uma cor vibrante ou uma luz tênue acompanhada da sombra azulada da manhã que conseguimos imprimir no branco da tela. Me senti poeta quando pintei uma cena do cotidiano carregada de lirismo como a Cinelândia no Rio com seus ambulantes e pessoas que se misturaram em uma pintura leve, monocromática e com uma luz que insistiu em destacar um ponto áureo, que era o indivíduo em questão colocado em posição estratégica para essa finalidade: ser prioridade ao olhar do observador.

20. Fale-nos da sua infância, pois se é na infância que a poesia brota, seja no reflexo do sol no verde de uma folha, na clorofila iluminada pela manhã orvalhada, é de se acreditar que na sua infância, em algum momento, alguma cor ou algo tenha despertado ou criado a artista que viria a se tornar, pois a arte não é só a técnica, mas também a alma exposta. Quando surgiu a artista Marília Chartune?
José Cândido de Carvalho escreveu para o Jornal "O Fluminense" de Niterói:
..." é que a moça Marilia nasceu para pintar como o vento para ventar e o rio para correr... não precisa de apresentação de ninguém... nem do Papa nem do Rei. É só chegar e dizer: -Veja esse azul que tirei do céu no verão passado! Estará apresentada...divinamente apresentada!"
Esse trecho do texto publicado na sua coluna define o que eu sempre fiz. Iniciei um curso de Engenharia Civil na Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, mas abandonei para seguir meu rumo traçado desde a infância. Herdei de meu pai, um exímio desenhista e pintor de paisagens que nunca me saíram da lembrança, mas se perderam nas mudanças, o gosto pela arte. De minha mãe, herdei a coragem e a energia para o trabalho, além de que ela sempre me colocou frente ao compromisso de executar essa tarefa. Os dois são minhas referências, inteligentes e sempre dispostos, meu pai com 91 anos e minha mãe com 83 ainda trabalham, adoram ler, passear e conviver com as pessoas. Então a cor, o reflexo, a manhã orvalhada como a que se referiu na pergunta podem estar representados na minha infância pelos meus pais que me abriram os olhos para a luz, exposição da alma e acreditar que toda aptidão tem que ser acompanhada da técnica e do trabalho para que se transforme em produto.

21; Um de seus motivos de poesia e mel é o quadro "Grávida". Como surgiu a sua inspiração para essa obra?


Grávida II
- Foi encomenda de uma aluna que estava grávida, se tornaria mãe solteira de um filho com nome de arcanjo que nasceu prematuramente. Me sensibilizei com a dor e o amor dela pelo filho, inclusive pela incerteza de que o filho sobreviveria. Mesmo assim ela quis presentear o médico que foi solidário e amigo com uma tela minha. A inspiração foi passada por ela.

22. Fale, por favor, um pouco sobre a arte contemporânea. Como anda a produção atual? Certamente acompanha. Poderia citar alguns artistas, cujo trabalho a encanta?
- A arte contemporânea é uma linguagem usada pelo artista para explicar a própria linguagem. às vezes efêmera, não é de fácil consumo, mas quem disse que não é arte? Pode ser bi, tridimensional ou holográfica, mas é acompanhada quase sempre de um memorial descritivo como a arte conceitual e ninguém precisa entender. No Brasil poderia citar alguns pintores contemporâneos de grande aceitação e valorização no mercado: Geração 80, grupo formado no Parque Lage lançou Daniel Senise, Leonilson, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, etc

23. Remetendo-a à nona pergunta, o que deveria ser feito para que o povo, o grande público, tivesse mais acesso à arte?
- Educação na infância para que a prática de consumo de artes plásticas, música, dança, teatro fosse mais difundida e séria, deixando de ser apenas no sentido lúdico e apreciativo, mas no sentido cultural e de preservação das tradições de toda a comunidade a que pertencemos.
Arte menos elitista, principalmente nas classes intelectuais e acadêmicas que se trancam em seus espaços físicos e não interagem com a sociedade.
Manifestações multidisciplinares com as várias formas de divulgação: Literatura, publicidade, música, dança, performance com várias linguagens

24. Essa pergunta faz parte do estatuto de PALAVRA FIANDEIRA: O que é para Marília Chartune a felicidade?

- Felicidade para muitos é uma bênção, mas para mim é uma conquista...

25. Deixe a sua mensagem para os leitores de PALAVRA FIANDEIRA.

Para apreciar a arte não se deixe levar pelo "gosto-não gosto". Duvide da crítica de "plantão", ninguém tem autoridade para decidir o que você vai querer ver, ouvir, fruir ou se arrepiar de emoção. Arte é empatia, prazer, atração, ou simplesmente cultura... tire suas próprias conclusões!!!

Marília Chartune Teixeira 
Põr do sol em Santa Maria - Rio Grande do Sul
Arte de Alexandre Frasson Domingues em Papel de Parede 

Trecho da Primeira Quadra da Dr. Bozano em outono chuvoso
Óleo sobre Tela 1,00x0,70 - Enfoque para o movimento e a luz

domingo, 14 de março de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 21





PALAVRA FIANDEIRA
 REVISTA DE LITERATURA
ANO 1 - Nº 21 - 14 MARÇO 2010
NESTA EDIÇÃO:
REGINA SORMANI

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1. Quem é Regina Sormani?
 
A autora autografando 
- Alguém que não desiste nunca

2. Conte-nos, por gentileza, sobre o seu projeto "Viva o Livro Infantil".   

- É um projeto que realizo em conjunto com meu Teatro de Bonecos, quando visito escolas e BIJS aqui na capital, ou quando vou ao interior para  participar de encontros, feiras de livros, tarde de autógrafos, etc. Esse projeto visa estimular a leitura, colocando os leitores em contato com personagens do livro.

3. Como deve ser um(a) contador(a) de Histórias? Ele ou ela deve ou precisa sempre utilizar recursos, adereços?
- Gosto muito de trabalhar com os contadores de história. Em primeiro lugar, o contador precisa amar o que faz. Cada qual tem seu estilo. Usar adereços, ou não, é uma escolha  pessoal. Trabalho sempre com bonecos, fantoches, marionetes e acho  sensacional. 

4. Você  foi eleita para coordenar a AEILIJ  de São Paulo. Explique aos leitores o que é a AEILIJ. 

- A AEILIJ  é a Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, e fez 10 anos em 2009. Ela congrega profissionais de todo o Brasil e se divide em várias regionais, sendo a nossa, de São Paulo, aquela que tem o maior número de associados. A AEILIJ foi criada para fortalecer a classe e está crescendo, conquistando novas adesões e parcerias.  

5. É plenamente feliz no exercício dessa coordenação?  Encontra o respaldo, ou seja, conta com a participação e o envolvimento de todos os membros da sua Regional? 

- Acho que ninguém consegue ser totalmente feliz....prefiro dizer que caminhei bastante, desde que aceitei o cargo. Conquistei algumas medalhas virtuais, rsrsrs... Ainda não estou satisfeita, tenho muito chão pela frente.  Conto com a participação de vários membros da regional, você, inclusive, que é um  amigo precioso. Tenho tentado “recrutar” o pessoal, utilizando o blog, a lista regional, as feiras de livros, as homenagens.  Aos poucos, os associados estão se aproximando, aderindo às atividades. 

5. Você  realiza matérias para a TV PAULINAS. Como é esse trabalho? Fale-nos sobre ele.
 
Presépio construído para programa da TV PAULINAS 

- Tenho vários livros publicados pelas Paulinas. Fui convidada para falar a respeito da AEILIJ SP. Gostaram bastante e me pediram que fizesse algumas entrevistas com:  ilustradores, crianças nas livrarias e com o Papão que é um boneco que os pequeninos adoram. Os resultados foram positivos  e nos próximos meses mais coisas deverão acontecer. 

6. Sua família está  repleta de artistas, não é? Diga um pouco sobre o trabalho de seu marido, e também de seu filho.

- O Marchi é um ilustrador bastante conhecido, e tem dado muita força à AEILIJ SP, apesar de não ser um associado.
Ele faz parte da SIB, que é a Sociedade dos Ilustradores do Brasil. Meu filho, Daniel, é barítono, cantor lírico, Vem participando de várias montagens operísticas, 
Com o filho ator
e a Raquel, minha filha mais nova, é estilista, trabalha no ramo da moda feminina.

7. Demonstra valorizar o envolvimento social com os amigos, gosta de promover jantares, cafés matinais, almoços..., fale sobre  o prazer que isso lhe proporciona.

Com amigas escritoras e ilustradoras 

- Na verdade, tenho feito menos encontros sociais do que considero necessário. É difícil mobilizar os associados numa cidade como São Paulo . As pessoas, de maneira geral, priorizam seus compromissos particulares... Aqui, tudo é longe, o trânsito é caótico. É uma verdadeira maratona organizar  e promover almoços, jantares, cafés, etc....Por outro lado: estar junto, conversar, falar sobre projetos, é realmente muito bom. 

8. Um de seus livros, BICHINHOS DO ZOOLÓGICO, está na 10ª  Edição. Qual a abordagem desse livro e para qual público etário é direcionado?   

- Durante as várias visitas que fiz ao Zoo de São Paulo, os tratadores de animais me relataram problemas com animais que comeram saquinhos de plástico jogados pelos freqüentadores. Muitas vezes, a falta de informação leva a comportamentos inadequados, então, pensei em escrever um livro com versos e brincadeiras para ensinar crianças e adultos a não jogar comida aos animais. O livro é muito procurado pelas escolas, pois as crianças, ainda muito pequenas ( 3 ou 4 anos) são levadas anualmente  para visitar o  zoológico.

9. Como vê  a importância da Poesia no processo educacional de uma criança? Crê  que há um investimento satisfatório nessa área na educação? 

- Sempre considerei a poesia meu instrumento de trabalho mais eficaz e prazeroso. Tudo fica melhor, mais efetivo quando é dito em versos. Infelizmente, não sei por qual motivo é tão complicado editar livros de poesia  aqui na nossa terra, que é  tão rica em poetas e compositores.

10. Certamente visita escolas. Qual a sua experiência, e a receptividade do público infantil? 

- Sim, tenho visitado muitas escolas. Certa vez, uma diretora me chamou e disse: -“ Toda vez que você vem com o teatro, parece que as crianças vão receber o Papai Noel!”  Nunca mais me esqueci daquelas palavras.

11. Além de escrever, exerce criatividades manuais. De onde e de quando veio esse gosto pela arte com as mãos?

- Olhe, até que faço “pouca arte”! Fiz um curso de desenho e pintura há alguns anos atrás, mas, não tenho lá grande talento, não. Gosto de arte em geral e tento me manter informada sobre as várias tendências. Admiro muito o trabalho dos Ilustradores e pintores do nosso tempo.  

12. Também se destaca por participar de homenagens, tal como ocorreu com Tatiana Belinky. Acredita que essas homenagens contribuam para a memória e a valorização dos talentos de nosso país? Há algum próximo homenageado em vista? 

Na Assembleia Legislativa de São Paulo, 
em ato de homenagem à escritora Tatiana Belinky 
- Conforme você citou, as homenagens contribuem para fixar a memória dos talentos do nosso país. Em breve, convocarei uma reunião com os associados de Sampa para recolher sugestões a respeito do homenageado de 2010. Sugestões recolhidas, esses nomes serão votados e aquele que tiver o maior número de votos será indicado para ser homenageado.

13. De que modo a mídia e a sua programação (músicas, etc) influenciam no comportamento e no afastamento da criança da leitura? Acredita que a mídia possa influenciar de forma oposta, ou seja, levando os pequenos ao apego do livro?

- Sim, a mídia é importante  e isso pode se converter em influência positiva ou negativa, dependendo da maneira como for utilizada. Ocorre que : quase não existe programação de boa qualidade voltada ao público infantil. Então, as crianças passam  horas sentadas, assistindo desenhos importados, muitas vezes violentos  ou sem conteúdo.

14. Fale de suas criações no Teatro Infantil, área em que também atua.

- Escrevi peças infantis adaptadas dos meus livros. Personagens que fazem sucesso entre a garotada: a boneca Letícia e o monstro Bocalhão, do livro: Bye, Bye, Amigo Monstro ( Paulus).Outra personagem que é odiada, mas, levanta o público é a Poluição, que foi construída com sucata, tampinhas de garrafa e tiras de plástico ( Paulinas) Tenho carinho por todas as personagens que criei para o teatro.  

15. Quem não tem cão usa a imaginação?
- Essa história surgiu numa época em que morei num condomínio no qual o síndico proibia animais. Rodrigo, o menino da história, queria ter um cachorro e como não podia, inventou um cão imaginário. Usou a imaginação!  

16. Um de seus livros, "Quem Tem Medo do Porão?", é  uma obra interativa. É um livro sobre o medo na infância? 
Livro de Regina Sormani 
- Pode ser visto dessa forma, mas, trata-se da minha história, minhas aventuras, com  coleguinhas, no porão da casa da família.
Aquelas crianças existiam de fato. Hoje, são adultos e consegui reunir a maioria em 2007, num lançamento que fiz na escola onde estudei, em Agudos, interior do estado. Lá, recebi muitas homenagens e me emocionei muito.
Homenageada em Agudos 
17. Tem algum projeto em qualquer área que já possa revelar?

- Pretendo terminar de escrever outro livro de poesia infantil e correr atrás de um patrocínio para realizar oficinas de poesia nas escolas, centros culturais, BIJS, o que pintar......  

18. Qual a sua maior fonte de leitura preferida? Poesia? Poesia Infantil? Contos? Romances? Biografias? Poderia citar um ou uns livros que foi / foram importantes em sua vida?  

- Para relaxar, gosto de histórias detetivescas, onde a gente põe a imaginação para trabalhar. Para meditar, tenho um belo livro de cabeceira: Memórias, Sonhos e Reflexões, de Jung.  Poesia? Sim, poesia eu sempre leio muito e adoro escrever.

19. Professor, bem sabemos, na atualidade, em nossa terra, não é bem valorizado, aliás, podemos afirmar que é desvalorizado, a começar pelas autoridades com poderes. Sendo que a Educação e a Literatura de certa forma são irmãs, como vê a valorização do Escritor hoje por aqui? Tem alguma sugestão de como ele poderia ser mais valorizado?  

- Como você deve saber, sou pedagoga, já batalhei muito, dei aulas em condições inimagináveis e não me recordo de dias melhores. Sempre foi difícil. A valorização do escritor tem que começar, aliás, já começou, dentro do nosso próprio meio, com mobilizações, assim como faz a AEILIJ, assim como cada regional  deve tentar  fazer, Temos que ser vistos e ouvidos. Quanto tempo vai demorar para que as coisas melhorem, não sei. Sei que o pior é a estagnação.
Vamos trabalhar minha gente! Juntos e participativos seremos mais fortes.

20. Deixe a sua mensagem para os leitores de PALAVRA FIANDEIRA.  

- Agradeço a oportunidade de deixar aqui meus depoimentos e quero terminar esta entrevista parabenizando o escritor Marciano Vasques que tem se empenhado em fazer da PALAVRA FIANDEIRA um veículo de informação cultural da melhor qualidade. Quem quiser conhecer mais sobre meu trabalho pode acessar:
Um grande abraço aos leitores de PALAVRA FIANDEIRA.

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ENTREVISTA REALIZADA POR MARCIANO VASQUES
Marciano Vasques é o fundador de PALAVRA FIANDEIRA