EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 25 de maio de 2013

PALAVRA FIANDEIRA 117




PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL

Publicação digital de Literatura e Artes

EDIÇÃO  117


ANO 4 —Nº117 —25 MAIO  2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

CACÁ LOPES




1.Quem é Cacá Lopes?

O meu nome é Cacá Lopes
Nasci em Araripina,
Sou da terra de Nabuco
Pernambuco me fascina,
Vim ao mundo nas quebradas
Da região Nordestina.

Sou poeta, cantador
Sim Senhor! sou brasileiro,
Cantor e compositor
Cordelista, violeiro,
Sigo espalhando versos
No chão do país inteiro.



2.O que é a caravana do cordel?

É um grupo de poetas que surgiu há quatro anos em São Paulo, com o objetivo de fortalecer o Cordel, essa rica manifestação popular tradicional brasileira.
O movimento itinerante é formado por múltiplos fazedores de arte, vindos de vários estados da Nação Nordestina, mas tem também representantes de São Paulo, entre eles e elas: cantores, músicos, cordelistas, escritores, repentistas, xilógrafos, pesquisadores e entusiastas da poesia do povo.


3.Participa de eventos como a “Virada Cultural”. Que importância atribui para esses acontecimentos que enfeitam a cidade de arte e cultura?

Participei esse ano pela primeira vez da Virada Cultural, com os poetas João Gomes de Sá e Varneci Nascimento, no palco Virada Literária, a convite da LIBRE – Liga Brasileira de Editora.
É inegável a importância da Virada para o cenário cultural de São Paulo, é um tipo de evento gratuito que se espalha por outras cidades do país, promovendo as várias manifestações artísticas, movimentando o turismo, e gerando renda para todos os envolvidos, além de atrair milhares de pessoas que na maioria das vezes não tem o hábito de frequentar shows ou ambientes com culturas diversas.


4.A literatura de cordel hoje se notabiliza não apenas por ser a força de uma expressão popular, mas por estar cada vez mais se expandindo no panorama literário e cultural das metrópoles. Como vê hoje essa movimentação do cordel?

Vejo com bons olhos e de ouvidos atentos acompanho todo esse “burburim” em torno do cordel. Nas minhas andanças com o Projeto Cordel nas Escolas, há mais de 15 anos, percebo o grande interesse do aluno pela arte das métricas, pelas histórias rimadas e também o esforço do professor(a) ao abordar o Cordel no seu dia a dia escolar, com diferentes temas que encantam  e buscam despertar nos novos leitores o gosto pela leitura e o saber.

5.Às vezes um amigo desfaz a amizade do outro pelo fato de que o outro não o divulga, isso acontece. Diante dessa e de outras tantas questões, como interpreta o avanço espetacular da Rede Social no mundo, influindo de forma assombrosa na forma como a humanidade se comunica hoje, e até modificando, em termos, o conceito de “amigo”?

Com o surgimento das Redes Sociais pelo mundo, percebo muitas pessoas em busca de novos amigos virtuais, onde me parece que no conceito de amigo, o que mais prevalece é a quantidade e não a qualidade. É uma questão de ego e um vício dos tempos modernos. É fato e notório que, jamais o virtual irá superar o pessoal, pois não existe a presença física, o olho no olho, o aperto de mão. Como diz o poeta Escobar, há braços para abraços.

6.Como anda a sua produção, os seus projetos? Tem algum inédito, que possa aos amigos da Fiandeira revelar?

Estou finalizando a gravação de um inédito CD, o sexto da carreira, com músicas próprias e outras em parceria com Costa Senna, Marco Haurélio, João Gomes de Sá e Dé Pajeú. Algumas dessas canções enveredam pelo mundo do cordel, a exemplo da História de João Grilo e Chicó, que pode ser ouvida pelos amigos da Fiandeira.
OBS: Marciano, essa música se encontra na WEB, favor copiar, pois não aprendi ainda a usar essa ferramenta. Baixar procurando Cacá Lopes no Google, no link na 7ª página aparecerá CACÁ LOPES 2013 By Hermes Alves, com 6 canções, a primeira é JOÃO GRILO e CHICÓ.

Na poesia popular, deve sair até o fim do ano um novo trabalho pela Editora Luzeiro, denominado Cordel: Provérbios Engraçados e tenho inéditos uns 20 títulos pra serem publicados em Folhetos e Livros.



7.É compositor, poeta e cordelista. De que forma a infância tem responsabilidade por essa forma de estar no mundo, em produção e amor pelas letras e pela arte?

A infância é o doce recreio da vida, e a adolescência é como  férias no sítio da vovó, inesquecível. Refletindo essas fases da nossa passagem pelo mundo, sei da missão que cada de nós temos pra seguir e que a arte e o amor pelas letras podem contribuir  na transformação de uma rua, de uma vila,  bairro ou cidade, um outro mundo é possível sim.
Ao participar de um projeto social na periferia de Lajeado / Guaianases na Zona Leste da cidade, numa parceria da Ericsson do Brasil com a  ONG AVIB, tenho procurado semear minha arte em abrigos e escolas do entorno, tentando  melhorar o repertório de crianças e adolescentes dessa imensa Região da cidade, levando a boa música e o cordel, para essa turminha tão bombardeada por música de má qualidade e de gosto duvidoso.


8.Quando recebeu o seu primeiro sopro da poesia? Já na infância ou na adolescência? Tem um momento certamente em que a poesia bate à porta de nossa vida.

Fui apresentado a poesia numa época em que a escola era chamado de Grupo Escolar, no curso Primário, quase na mesma época em que meu pai Elpídio Lopes Frazão(já falecido), me apresentava a Literatura de Cordel, os Folhetos adquiridos nas feiras de Araripina. Entre os clássicos da época, um dos títulos que ficaram grudados na minha memória foi A Chegada de Lampião no Inferno, de José Pacheco.


9.Esteve recentemente no lançamento de Marco Haurélio. Além dele, quais nomes citaria nessa fecunda constelação da Literatura de Cordel, que considera grandes contribuições contemporâneas na difusão dessa modalidade literária?

Num dos capítulos do mais recente livro Literatura de Cordel – Do Sertão à Sala de Aula, de Marco Haurélio, tem um subtítulo
denominado: A hora e a vez da nova geração, onde constam nomes de vários poetas contemporâneos, que muito contribuem para a exposição e difusão do cordel na atualidade. Além de Marco, fazem parte dessa seara: Klévisson e Arievaldo Viana, Rouxinol do Rinaré, Costa Senna, Varneci Nascimento, Moreira de Acopiara, João Gomes de Sá, Aderaldo Luciano, Pedro Monteiro, Nando Poeta, Antônio Barreto, Luiz Wilson, Aldy Carvalho, Josué Gonçalves de Araújo, Cleusa Santo, Benedita Delazari, Fábio Sombras, Eduardo Valbueno, Assis Coimbra, Bosco Maciel, Nireuda Longobardi, Nezite Alencar, entre tantos outros que lançam e de forma independente seus cordéis em suas cidades, e acabam não ganhando projeção nas grandes metrópoles.


10.Já lançou um livro e CDs? Poderia, gentilmente, nos falar sobre eles?

Iniciei minha carreira no rádio como locutor, depois  na música e há uma década comecei a percorrer o caminho das das letras. Em 2001, lancei o primeiro livro, Cinderela em Cordel, adaptação da clássica obra do francês Charles Perrault, pela Claridade Editora, do grupo Nova Alexandria. Um ano depois, o segundo livro Vida e Obra de Gonzagão em Cordel, Ensinamento Editora. Em folhetos tenho publicados uma dezena, pela Ed. Luzeiro e também independentes.
O primeiro registro fonográfico ocorreu no início de 1984, em São Paulo, portanto, há quase 30 anos. De lá pra, lancei 06 CDs, 02 compactos e um disco em vinil (LP), além de várias coletâneas.


11.Mora também na Zona Leste e tem acompanhado a produção de Literatura, Música e Arte de alguns artistas da região, chamada de periferia. Uma efervescente produção artística e literária invade as praças de alguns recantos, como São Miguel Paulista e Itaquera, O que sobre isso poderia nos dizer?

Sou morador de Guaianases na ZL, há 29 anos e tenho acompanhado a militância de vários artistas, sujeitos periféricos, nos saraus da arte maloqueira, da quebrada. Na ONG Ação Educativa, funciona o Espaço Cultural Periferia no Centro, onde há 3 anos participo do Sarau Bodega do Brasil.
Quanto ao MPA – Movimento Popular de Arte da Zona Leste criado na década de 80 no vizinho Bairro de São Miguel Paulista, participei apenas de alguns eventos, não integrei a formação original, mas tenho amigos até hoje, a exemplo de Ceciro Cordeiro, Sacha Arcanjo, Zulu de Arrebatá, Escobar e Edvaldo Santana. O MPA voltou a cena esse ano num dos palcos da Virada Cultural.




12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?

Eu respondi em Cordel
Sua pergunta primeira,
E em versos também é
A resposta derradeira,
Obrigado aos leitores
Da Palavra Fiandeira.
 
O autor dessa Revista,
Enfrenta firme a rotina,
Conheci na Biblioteca
Lá na Cora Coralina,
Marciano é de Santos
Sua escrita é cristalina.

A Palavra é um pássaro
Que viaja sem parar,
Difundindo a poesia
Com um múltiplo olhar,
Um espaço democrático
É Um Blog bem simpático
Pra quem quer se informar



PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DE DIVULGAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE LITERATURA E ARTES
PUBLICAÇÃO SEMANAL
EDIÇÃO 117 —CACÁ LOPES
PALAVRA FIANDEIRA:
FUNDADA PELO ESCRITOR MARCIANO VASQUES





sábado, 18 de maio de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 116






PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL

Publicação digital de Literatura e Artes

EDIÇÃO  116


ANO 4 —Nº116 —18 MAIO  2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

FABIANA GUIMARÃES



1, Quem é Fabiana Guimarães?
—Fabiana Guimarães é uma pessoa que escutou dentro do coração o chamado da poesia e decidiu atendê-lo. Dedicada a ela, vive seguindo seus vestígios... encontrando suas sendas...dentro do cotidiano. Encantada entrega-se à beleza e transforma-a em histórias, poemas...

2.Lançou o livro Poemas de sopro e pássaro . Poderia tecer algum comentário sobre essa sua obra para os leitores da FIANDEIRA?
—Este é meu segundo livro editado para adultos. Tenho mais quatro inéditos. Acho os pássaros seres especiais. Observo comovida a função deles no mundo. Eles ganham os céus e voltam para a terra, fazendo conexões entre esses dois opostos. Trazem e levam a beleza, tecendo com ela uma divina teia. POEMAS DE SOPRO E PÁSSARO é a expressão poética desse meu olhar encantado com esses seres do Reino Dévico.


3.Tem um livro intitulado AYVUERÊ. Poderia também, gentilmente, nos falar algo sobre ele? E tem títulos como JANGADEIROS. Sua vida parece entrelaçada com a vida de pessoas com histórias populares e com profundos vínculos com a natureza. É isso mesmo?
—AYVUERÊ é uma lenda indígena criada por mim. Inspirei-me na poética palavra AYVUERÊ (alma que nunca morre). Ela puxou o fio da história. Fui tecendo-a com cores e formas pesquisadas na cultura tupi, iluminada pelo povo Jenipapo Kanidé, cuja reserva fica em Aquiraz, município vizinho ao meu (Eusebio). O livro conta a história comovente do resgate da língua tupi-guarani, que possibilita a união de todos os povos indígenas, formando uma só nação.
Sim, minha vida é entrelaçada à vida dessas pessoas com histórias populares e vínculos profundos com a natureza. Nasci no campo e dele nunca me desvinculei. Entre idas e vindas, em 1992 resolvi voltar a morar na comunidade ribeirinha do rio Pacoti, colonizada pela minha família, onde passei minha infância catando vaga-lumes nas noites invernosas; banhando-me na levada; brincando em mágicos quintais... Desta forma pude descobrir os sinais da natureza com as próprias mãos, gravando-os para sempre no meu coração. Esta vivência me permitiu a grandeza de nunca esquecer que sou filha da natureza. Ela me rege e norteia. Esta terra também me presenteou com muitos mestres populares: pescadores, marisqueiras, contadores de histórias, bordadeiras, rendeiras...Com eles convivi no corpo a corpo da vida, sendo discípula dos seus saberes. Agora semeio-os no mundo, através dos meus livros.



4.Acredita que a Literatura Infantil seja exclusivamente para crianças?
—A literatura infantil, não é ‘infantil’. É universal. Ela toca e alcança todos que não deixaram morrer a Criança Divina dentro de si, esta que nos dá olhos para enxergar o encantamento em cada pequeno substrato do cotidiano.


5.Atua na Rede Social, tem um blog. Como vê o futuro da blogosfera diante do avanço e consolidação da Rede Social?
—As redes sociais, expõem essencialmente conteúdos, já que os debates promovidos por elas na maioria dos casos tendem a se esvaziar quando há uma tentativa de aprofundamento. A blogosfera tende a permite o compartilhamento de conhecimento. Porém há uma tendência mundial já em prática, que as pessoas estejam procurando maior aprofundamento nos conteúdos em busca de conhecimento, inclusive de forma colaborativa.
Elas tem funções diferentes. Por isso acredito que uma não boicotará o destino da outra. Ao contrario, as redes sociais são e serão vias de acesso aos bloques divulgando-os entre as inúmeras pessoas que conhecemos e nos relacionamos, de uma forma impossível de acontecer, caso elas não existissem.

BAZAR DAS LETRAS — SESC

6.Pergunta insistente na FIANDEIRA: Acredita no fim do livro de papel? Chegará essa era ou essa previsão já era?
—Não acredito nisso. O livro de papel é algo mágico e permite o exercício da maioria dos nossos sentidos. Ele é o corpo sólido da essência incorpórea que o habita. É o único vestígio palpável dela, que nos cabe tocar, possuir, se relacionar pele na pele através de suas páginas. Acredito que, mesmo quando o ser humano de tão evoluído, um dia já prescinda dessa necessidade de posse, ainda assim, o livro de papel existirá como objeto estético capaz de possibilizar vivências mágicas de encantamento.


7.Tem alguma obra que leu quando criança que possa de fato ter influenciado de alguma forma a sua vida?
—Quando criança, eu quase não tive livros, exceto os didáticos, onde mergulhava nas suas imagens e seguia viagem... Grande parte das minhas leituras foram feitas nos quintais que ofereciam a natureza viva e pulsante para o meu deleite. Aprendi a ler o grande livro da vida. Ele foi marcante na minha formação de leitora. Livro na minha infância era objeto raro, quase hóstia! Hoje me encanto de ver a multiplicidade de livros que as crianças podem ter acesso, até as de menor poder aquisitivo, através de inúmeros programas de incentivo ao livro e à leitura. Cada um mais belo que outro. Alguns dão até vontade de ‘comer’ ...
Só mais tarde, já cursando letras, uma amiga me apresentou UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES , de Clarice Lispector. Este literalmente me fez aprender o prazer pela leitura dos livros de papel, mudando definitivamente meu destino de leitora. Pude com ele alcançar o tão falado encantamento pela leitura e comecei a buscar livros e mais livros... Depois dele, por uma escolha pessoal, os livros deixaram de ser raros na minha vida. Passaram a ser parte das inspirações oferecidas pelo Grande Livro da Vida, este que jamais deixará de ser a minha principal fonte inspiradora.

                                          
                  
Na poesia de uma creche

8.Tem pela PAULINAS o livro O SENHOR DO TEMPO, que despertou a curiosidade de PALAVRA FIANDEIRA. Qual a abordagem desse livro, ou melhor dizendo, a que ele exatamente se refere? Sem tirar o gosto da surpresa do leitor, o que poderia nos comentar sobre quem possa ser o senhor do tempo?
—Um dia me dei conta: o tempo é tema recorrente nos meus escritos!
Entre os livros que escrevi com essa temática tem o ‘O Senhor do Tempo e outras Histórias’, publicado pela Paulinas, com lindas ilustrações da grande Simone Matias. De tão lindo, participou da Traçando Histórias, exposição que reúne os 40 melhores ilustradores do Brasil, na feira internacional do livro de Porto Alegre.
Trata-se de sete histórias em versos, que abordam temas da natureza, como os quatro elementos, a lua... dentre elas, esta deu nome ao livro. Ela fala do tempo de forma personificada, mostrando a majestade desse senhor silencioso, que dá conta de tudo em nossas vidas, exercendo poderes determinantes nos nossos ciclos existenciais.


9.Tem predileção por algum gênero literário? Poesia? Crônica? Histórias? E ainda, qual é, para você, a importância do contador de história no mundo contemporâneo?
—Tenho predileção pela poesia que vai além do poema e tinge de belezas e encantos todos os meus poemas e histórias. Ela atinge instâncias incorpóreas e indizíveis, tornando possíveis, mergulhos inconcebíveis pela razão.
Acho de extrema importância a presença do contador de histórias no mundo contemporâneo. Ele manipula o encantamento com a ponta dos dedos, dá vidas as histórias fazendo-as transitar entre as eras. Desperta as adormecidas pelo passado, plantando suas sementes no presente, para no futuro florirem e frutificarem...


10.Nos conhecemos através de uma ilustradora, a amiga Teresa Senda Galindo. Como considera a arte da ilustração num livro infantil? Isto é, qual a importância do artista ilustrador num livro para crianças?, além de embelezar a obra, naturalmente.
—Teresa Senda (Senda de luz) uma nova amiga, mas já muito querida.
Tenho acompanhado pelo Facebook, um movimento dos ilustradores que diz: NÓS ILUSTRADORES SOMOS TAMBÉM AUTORES. Infelizmente eles precisão reclamar algo tão obvio. Sem dúvida alguma, os ilustradores são também autores. Enquanto nós escritores escrevemos o texto com palavras, eles o escrevem com imagens, cores, formas...que tornam mais encantadas nossas palavras. Isso é fundamental, pois essas imagens são lidas muitas vezes antes das palavras. Aos meus ilustradores, com quem tenho ficado, até agora, muito satisfeita, quero manifestar aqui toda minha gratidão.
Teresa Senda —PALAVRA FIANDEIRA 76

11.Considerando que para o escritor toda sua obra é importante, se tivesse que escolher um de seus livros para falar algo sobre ele aqui, qual escolheria?
—Difícil responder, pois cada livro é um filho. Cada gestação e nascimento é especial, inusitado e singular, me faz plena de graça. Costumo responder a essa pergunta falando sobre o livro mais recente. Neste caso vou falar sobre JANGADEIROS, Editora CORTEZ. Escrevê-lo foi uma experiência que me fez despertar vivências que só estavam adormecidas, mas vibravam no meu coração. Foi um resgate da minha história de convivência com o mar e seus heróis marinhos com os quais convivi desde bem pequena no entorno da minha aldeia.
Com Marco Haurélio no lançamento de "Jangadeiros"
Marco Haurélio —PALAVRA FIANDEIRA 60


12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
—Parafraseando as palavras do nosso grande Manoel de Barros: Que a importância das coisas advenha do encantamento que elas nos produzem.
Muito me encantou essa linda oportunidade de falar à PALAVRA FIANDEIRA.
Que minhas palavras possam fiar teias poéticas nos corações dos leitores e de alguma forma, mesmo que secreta, semeiem alguma rasgo de luz.
Agradeço a doce Teresa Senda, pela indicação da entrevista, e a você, Marciano Vasques pelo espaço amorosamente concedido.
Na escola Paulo Sá

PALAVRA FIANDEIRA
ANO 4—EDIÇÃO 116
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE DIVULGAÇÃO ARTÍSTICA E LITERÁRIA
PALAVRA FIANDEIRA É UMA PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
FUNDADA PELO ESCRITOR MARCIANO VASQUES
EDIÇÃO 116 — EDIÇÃO FABIANA GUIMARÃES


sábado, 11 de maio de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 115




PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL

Publicação digital de Literatura e Artes

EDIÇÃO  115


ANO 4 —Nº115 —11 MAIO  2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

ANDRÉ LUÍS OLIVEIRA

RENATO ANDRADE

MARCIANO VASQUES


MARCIANO VASQUES PARA RENATO:

1.Meu caro: O que representa em sua vida, além da carreira, ilustrar um livro infantil?
RENATO ANDRADE—Acho que talvez seja a tradução mais completa de minha arte, Quando ilustro um livro infantil coloco ali
quase todo meu repertório e bagagem:cartum, artes plásticas, ilustração publicitária,,,isso tudo somado responsabilidade de transmitir o que o autor quer e o que a criança espera




2.Sua arte é comprometida com as liberdades humanas. Considerando que o despertar da consciência política não brota espontaneamente, pode nos resumir como foi a trajetória da sua consciência?

Tive contato desde muito cedo com leituras que traziam essa preocupação social. Uma querida e saudosa tia me abastecia já em 78, 79 com obras de forte carga crítica. Depois comecei a fazer charges para publicações sindicais. Hoje publico no jornal "A CIDADE" e procuro sempre contribuir para reflexão do leitor


ANDRÉ LUÍS PARA RENATO ANDRADE:

3.Renato, Alguns ilustradores acreditam que têm que oferecer mais do que apenas transpor em imagens o texto.
Na sua opinião, o que deve ter uma boa ilustração?
O ilustrador seria, então, um coautor da obra ?
Acho que a sintonia entre texto e ilustração é fundamental. Quando leio a história o processo criativo já começa, acho que escrita e desenho se complementam e no livro infantil isso é indissociável.


4.Você tem um vínculo estreito com a literatura, somos amigos há mais de 30 anos e sei que sempre foi leitor assíduo, apaixonado por livros. Seus cartuns e charges são bastante criativos, assim como seus textos.
Você pensa em produzir como autor uma obra literária, seja para o público infantil ou adulto ?
Penso sim, acho que é um caminho natural e inevitável para o meu trabalho, um dia corro atrás e agarro a ideia...rsrsrs

ANDRÉ LUÍS PARA MARCIANO VASQUES

5.Marciano Vasques, em um de seus poemas em REVOADA DE VERSOS, você diz: “ PARDAL, perdão! Pela perda do quintal.”
Eu e Renato, residentes em Ribeirão Preto, poderíamos utilizar nesse verso um trocadilho:
Pardal, perdão! Pelo excesso de canavial!”
Há 40 anos tínhamos mais contato com os pássaros em nossas cidades e campos.
Pergunto: O poeta foi buscar o menino Marciano Vasques para criar REVOADA DE VERSOS? E os pássaros, eles exercem um fascínio em você?
Sim, os pássaros exercem um fascínio em mim. De certa forma, os pássaros mais próximos na minha infância, como o pardal, e alguns que eu não via, só ouvia, como o piar da coruja no telhado, pelo qual eu aprendia um tacho, uma tina de folclore com as superstições de meu pai, que dizia que coruja piando no telhado é morte na certa de alguém da família. Quando eu raiava no dia, e corria para a ensolarada alvorada do quintal, via, sem compreender direito, que aquelas histórias noturnas de meu pai faziam parte de uma coisa imensa que iria abranger a minha vida futuramente, de alguma forma, só não tinha ideia de que seria na escolha do caminho da literatura. Sofro pelos livros que ainda não foram escritos. Depois, tive contatos com alguns pássaros, como um cacatua que impregnou de tristura a minha alma. E assim fui indo... O Gil cantando “Gaivota” e reorientando a minha estética, e o lema de CHURROS: “O Poeta é um Pássaro sem Fronteiras”.


6.Caro poeta, em sua opinião, o que caracteriza ou diferencia a poesia infantil dos demais gêneros poéticos?
A poesia infantil fala de imediato, essa é a sua característica nobre, a mais evidenciada, mas fala de imediato com a criança. A criança não precisa de tradutor nem de interprete, para assimilar uma poesia. Diferente da poesia para os adultos, que certas vezes é produzida para um grupo de intelectuais, a poesia infantil fala por si: é clara, objetiva e sincera. E a criança gosta espontaneamente, ou não. Não adianta enfeitar, nem forçar rimas, a poesia flui na brincadeira de viver que é a criança nas ruas empoeiradas de sua infância ou na ausência de cirandas.

MARCIANO VASQUES PARA ANDRÉ

7.André, Você se realiza e demonstra felicidade com o seu ofício de Educador.
Quando sentiu que esse era o caminho a ser trilhado?
Comecei em 1983, quando minha mãe, diretora do Colégio Pequeno Príncipe em Ribeirão Preto, convidou – me para desenvolver um programa de recreação com as crianças da Educação Infantil. Minha mãe argumentou que, ao me observar em contato com os primos e primas mais novas, verificou um suposto “jeito especial” na condução de brincadeiras que eu inventava e reinventava para entreter os pequenos em tardes chuvosas. Aceitei o convite e comecei a frequentar o colégio todas as tardes.
Magro, com longos cabelos encaracolados e usando óculos tipo John Lennon, logo ganhei o apelido de Visconde de Sabugosa. Bastou uma semana para que eu percebesse que, afinal, tinha encontrado meu lugar no mundo e não me via fazendo outra coisa que não passasse pelo sorriso de uma criança. Nessa época, deixei o curdo de Ciências Sociais e fui cursar Pedagogia.


8.O que mais o atrai na Literatura Infantil?
A possibilidade, das mais espontâneas, de lidar com o imaginário, com a invenção, com o lúdico, com a descoberta das possibilidades da linguagem.


RENATO ANDRADE PARA MARCIANO VASQUES

9.Depois de tantos livros e histórias o que lhe surpreende ainda nesse tão nobre ofício?
O que me surpreende a cada dia é o inesgotável deslumbramento das incessantes e infinitas possibilidades da literatura, num universo de estéticas indomáveis. O poeta sempre irá mais longe. 
Entre teceres, quando um poeta se deixa emaranhar pelos tentáculos do cotidiano ou pelo golfar de militâncias políticas e tais acontecimentos, que se ficassem apenas no âmbito da cidadania sem interferir ou ferir as letras reduzindo a inerente transparência ou o fulgor próprio da literatura, isso me entristece, mas cada qual “sabe a dor e a delícia de ser o que é”, mesmo quando o avesso do favo favorece o não-ser em sua plenitude. 
Então, o que mais me surpreende é o poeta sem a alma em ferros, livre como um pássaro, tornando-se portador da voz dos tempos, dos gemidos, das almas regadas por um turbilhão de afãs, por mais sutileza que possa haver em quaisquer desvios.



10.O que ainda está para ser contado?
Tudo! A vida de grandes filósofos como Espinosa, dos grandes médicos da alma, como Epicuro, ainda não encontraram a forma exata da literatura para chegarem aos leitores do mundo. Todas as vidas imensas precisam ser convertidas em literatura, para que possam desabrochar nas transformações de cada vida, influenciar os rapazes que estão perdidos no mundo. 

A literatura pode sim salvar vidas, nas periferias do mundo, criar elos profundos e inquebrantáveis, entre a moça que caminha numa empoeirada “calle” de Moçambique, de Angola ou de São Miguel Paulista. A literatura pode sim também edificar uma elite autêntica, não uma elite falsa, como a de uma burguesia capenga ou desprovida de sentido histórico e de memória, apenas amparada na máquina de idiotizar do luxo sem alma. A literatura, penso, é o bem mais necessário no mundo. Caso a tecnologia afaste uma nova geração da literatura, isso vivia a ser um desastre de inevitáveis proporções na alma do mundo.


RENATO ANDRADE PARA ANDRÉ LUÍS:


11.Caro André, qual é a parte mais difícil de escrever para crianças?
Os meus dois primeiros livros publicados para o público infantil: A CIDADE DOS CACHORROS e ASSEMBLEIA DOS BICHOS foram concebidos, inicialmente, como roteiros de peças de teatro, parte de um projeto que desenvolvo no colégio onde trabalho.
Transpor, adequar os “argumentos” criados para uma apresentação cênica dos pequenos para uma narrativa literária foi um processo, na ocasião, trabalhoso e repleto de cuidados.
De lá para cá, “penso literatura”, ou seja, quando surge alguma ideia, que julgo interessante, desenvolvo-a como uma narrativa literária.
Escrever para crianças é um exercício prazeroso, mas que requer responsabilidade. O fato de trabalhar e conviver com crianças há 30 anos faz com que as ideias surjam em abundância, pois motes para boas histórias pipocam ao meu redor, com muita frequência.
Por outro lado, a minha maior dificuldade para maturar as ideias e colocá-las no papel tem sido pela escassez de tempo, e pelo fato de ter uma grande carga horária no colégio. Também o tempo dispensado em meu trabalho como psicopedagogo clínico, reduz o tempo dedicado à criação literária.
Contudo, as histórias, os poemas vão surgindo, às vezes, com tanta força que vão sendo escritos nos intervalos, nas frestas dos dias.




12.Existe algum assunto que ainda gostaria de abordar em um livro?
Sim, as ideias existem, vão sendo trabalhadas, maturadas, como disse na resposta à pergunta anterior. A paternidade, por exemplo, está me proporcionando experiências riquíssimas, que podem ser disparadoras de narrativas interessantes.

Ora sim, ora não,ora...ora!”, meu próximo livro( depois de Revoada de versos)e que deverá ser publicado no segundo semestre trata com bom humor, das peripécias e birras de um garoto que tem muita dificuldade de lidar com a palavra NÃO.
Quero também continuar escrevendo poemas como em BICHOS DIVERSOS e REVOADA DE VERSOS, pois além do prazer de criar, como educador, vejo a importância desse gênero para as crianças das séries iniciais. Crianças gostam de poesia, das rimas da musicalidade dos versos, das palavras brincando. Enfim, do prazer da descoberta das possibilidades da linguagem.



PALAVRA FIANDEIRA
FUNDADA PELO ESCRITOR
MARCIANO VASQUES
ANO 4 —EDIÇÃO 115
EDIÇÃO: ANDRÉ LUÍS OLIVEIRA
        RENATO ANDRADE
            MARCIANO VASQUES
PALAVRA FIANDEIRA: 
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE LITERATURA E ARTES