REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL
Publicação digital de Literatura e Artes
EDIÇÃO 115
ANO 4 —Nº115 —11 MAIO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
ANDRÉ LUÍS OLIVEIRA
RENATO ANDRADE
MARCIANO VASQUES
MARCIANO
VASQUES PARA RENATO:
1.Meu
caro: O que representa em sua vida, além da carreira, ilustrar um
livro infantil?
RENATO
ANDRADE—Acho que talvez seja a tradução mais completa de minha
arte, Quando ilustro um livro infantil coloco ali
quase
todo meu repertório e bagagem:cartum, artes plásticas, ilustração
publicitária,,,isso tudo somado responsabilidade
de transmitir o que o autor quer e o que a criança espera
2.Sua
arte é comprometida com as liberdades humanas. Considerando que o
despertar da consciência política não brota espontaneamente, pode
nos resumir como foi a trajetória da sua consciência?
—Tive
contato desde muito cedo com leituras que traziam essa preocupação
social. Uma querida e saudosa tia me abastecia já em 78, 79 com
obras de forte carga crítica. Depois comecei a fazer charges para
publicações sindicais. Hoje publico no jornal "A CIDADE"
e procuro sempre contribuir para reflexão do leitor
ANDRÉ
LUÍS PARA RENATO ANDRADE:
3.Renato,
Alguns ilustradores acreditam que têm que oferecer mais do que
apenas transpor em imagens o texto.
Na
sua opinião, o que deve ter uma boa ilustração?
O
ilustrador seria, então, um coautor da obra ?
—Acho
que a sintonia entre texto e ilustração é fundamental. Quando leio
a história o processo criativo já começa, acho que escrita e
desenho se complementam e no livro infantil isso é indissociável.
4.Você
tem um vínculo estreito com a literatura, somos amigos há mais de
30 anos e sei que sempre foi leitor assíduo, apaixonado por livros.
Seus cartuns e charges são bastante criativos, assim como seus
textos.
Você
pensa em produzir como autor uma obra literária, seja para o público
infantil ou adulto ?
—Penso
sim, acho que é um caminho natural e inevitável para o meu
trabalho, um dia corro atrás e agarro a ideia...rsrsrs
ANDRÉ LUÍS PARA
MARCIANO VASQUES
5.Marciano
Vasques, em um de seus poemas em REVOADA DE VERSOS, você diz: “
PARDAL, perdão! Pela perda do quintal.”
Eu
e Renato, residentes em Ribeirão Preto, poderíamos utilizar nesse
verso um trocadilho:
Pardal,
perdão! Pelo excesso de canavial!”
Há
40 anos tínhamos mais contato com os pássaros em nossas cidades e
campos.
Pergunto:
O poeta foi buscar o menino Marciano Vasques para criar REVOADA DE
VERSOS? E os pássaros, eles exercem um fascínio em você?
—Sim,
os pássaros exercem um fascínio em mim. De certa forma, os pássaros
mais próximos na minha infância, como o pardal, e alguns que eu não
via, só ouvia, como o piar da coruja no telhado, pelo qual eu
aprendia um tacho, uma tina de folclore com as superstições de meu
pai, que dizia que coruja piando no telhado é morte na certa de
alguém da família. Quando eu raiava no dia, e corria para a
ensolarada alvorada do quintal, via, sem compreender direito, que
aquelas histórias noturnas de meu pai faziam parte de uma coisa
imensa que iria abranger a minha vida futuramente, de alguma forma, só não tinha ideia de que seria na escolha do caminho da
literatura. Sofro pelos livros que ainda não foram escritos. Depois,
tive contatos com alguns pássaros, como um cacatua que impregnou de
tristura a minha alma. E assim fui indo... O Gil cantando “Gaivota”
e reorientando a minha estética, e o lema de CHURROS: “O Poeta é
um Pássaro sem Fronteiras”.
6.Caro
poeta, em sua opinião, o que caracteriza ou diferencia a poesia
infantil dos demais gêneros poéticos?
—A
poesia infantil fala de imediato, essa é a sua característica
nobre, a mais evidenciada, mas fala de imediato com a criança. A
criança não precisa de tradutor nem de interprete, para assimilar
uma poesia. Diferente da poesia para os adultos, que certas vezes é
produzida para um grupo de intelectuais, a poesia infantil fala por
si: é clara, objetiva e sincera. E a criança gosta espontaneamente,
ou não. Não adianta enfeitar, nem forçar rimas, a poesia flui na
brincadeira de viver que é a criança nas ruas empoeiradas de sua
infância ou na ausência de cirandas.
MARCIANO
VASQUES PARA ANDRÉ
7.André,
Você se realiza e demonstra felicidade com o seu ofício de
Educador.
Quando
sentiu que esse era o caminho a ser trilhado?
—Comecei
em 1983, quando minha mãe, diretora do Colégio Pequeno Príncipe em
Ribeirão Preto, convidou – me para desenvolver um programa de
recreação com as crianças da Educação Infantil. Minha mãe
argumentou que, ao me observar em contato com os primos e primas mais
novas, verificou um suposto “jeito especial” na condução de
brincadeiras que eu inventava e reinventava para entreter os pequenos
em tardes chuvosas. Aceitei o convite e comecei a frequentar o
colégio todas as tardes.
Magro, com longos
cabelos encaracolados e usando óculos tipo John Lennon, logo ganhei
o apelido de Visconde de Sabugosa. Bastou uma semana para que eu
percebesse que, afinal, tinha encontrado meu lugar no mundo e não me
via fazendo outra coisa que não passasse pelo sorriso de uma
criança. Nessa época, deixei o curdo de Ciências Sociais e fui
cursar Pedagogia.
8.O
que mais o atrai na Literatura Infantil?
A
possibilidade, das mais espontâneas, de lidar com o imaginário, com
a invenção, com o lúdico, com a descoberta das possibilidades da
linguagem.
RENATO
ANDRADE PARA MARCIANO VASQUES
9.Depois
de tantos livros e histórias o que lhe surpreende ainda nesse tão
nobre ofício?
O
que me surpreende a cada dia é o inesgotável deslumbramento das incessantes e
infinitas possibilidades da literatura, num universo de estéticas
indomáveis. O poeta sempre irá mais longe.
Entre teceres, quando um
poeta se deixa emaranhar pelos tentáculos do cotidiano ou pelo
golfar de militâncias políticas e tais acontecimentos, que se ficassem
apenas no âmbito da cidadania sem interferir ou ferir as letras
reduzindo a inerente transparência ou o fulgor próprio da
literatura, isso me entristece, mas cada qual “sabe a dor e a
delícia de ser o que é”, mesmo quando o avesso do favo favorece o
não-ser em sua plenitude.
Então, o que mais me surpreende é o
poeta sem a alma em ferros, livre como um pássaro, tornando-se
portador da voz dos tempos, dos gemidos, das almas regadas por um
turbilhão de afãs, por mais sutileza que possa haver em quaisquer
desvios.
10.O
que ainda está para ser contado?
Tudo! A vida de grandes filósofos como Espinosa, dos grandes médicos da
alma, como Epicuro, ainda não encontraram a forma exata da
literatura para chegarem aos leitores do mundo. Todas as vidas
imensas precisam ser convertidas em literatura, para que possam
desabrochar nas transformações de cada vida, influenciar os rapazes
que estão perdidos no mundo.
A literatura pode sim salvar vidas,
nas periferias do mundo, criar elos profundos e inquebrantáveis,
entre a moça que caminha numa empoeirada “calle” de Moçambique,
de Angola ou de São Miguel Paulista. A literatura pode sim também
edificar uma elite autêntica, não uma elite falsa, como a de uma
burguesia capenga ou desprovida de sentido histórico e de
memória, apenas amparada na máquina de idiotizar do luxo sem alma. A
literatura, penso, é o bem mais necessário no mundo. Caso a
tecnologia afaste uma nova geração da literatura, isso vivia a ser
um desastre de inevitáveis proporções na alma do mundo.
RENATO
ANDRADE PARA ANDRÉ LUÍS:
11.Caro
André, qual é a parte mais difícil de escrever para crianças?
—Os
meus dois primeiros livros publicados para o público infantil: A
CIDADE DOS CACHORROS e ASSEMBLEIA DOS BICHOS foram concebidos,
inicialmente, como roteiros de peças de teatro, parte de um projeto
que desenvolvo no colégio onde trabalho.
—Transpor,
adequar os “argumentos” criados para uma apresentação cênica
dos pequenos para uma narrativa literária foi um processo, na
ocasião, trabalhoso e repleto de cuidados.
De
lá para cá, “penso literatura”, ou seja, quando surge alguma
ideia, que julgo interessante, desenvolvo-a como uma narrativa
literária.
Escrever
para crianças é um exercício prazeroso, mas que requer
responsabilidade. O fato de trabalhar e conviver com crianças há 30
anos faz com que as ideias surjam em abundância, pois motes para
boas histórias pipocam ao meu redor, com muita frequência.
Por
outro lado, a minha maior dificuldade para maturar as ideias e
colocá-las no papel tem sido pela escassez de tempo, e pelo fato de
ter uma grande carga horária no colégio. Também o tempo dispensado
em meu trabalho como psicopedagogo clínico, reduz o tempo dedicado à
criação literária.
Contudo,
as histórias, os poemas vão surgindo, às vezes, com tanta força
que vão sendo escritos nos intervalos, nas frestas dos dias.
12.Existe
algum assunto que ainda gostaria de abordar em um livro?
—Sim,
as ideias existem, vão sendo trabalhadas, maturadas, como disse na
resposta à pergunta anterior. A paternidade, por exemplo, está me
proporcionando experiências riquíssimas, que podem ser
disparadoras de narrativas interessantes.
“Ora
sim, ora não,ora...ora!”, meu próximo livro( depois de Revoada de
versos)e que deverá ser publicado no segundo semestre trata com bom
humor, das peripécias e birras de um garoto que tem muita
dificuldade de lidar com a palavra NÃO.
Quero
também continuar escrevendo poemas como em BICHOS DIVERSOS e REVOADA
DE VERSOS, pois além do prazer de criar, como educador, vejo a
importância desse gênero para as crianças das séries iniciais.
Crianças gostam de poesia, das rimas da musicalidade dos versos, das
palavras brincando. Enfim, do prazer da descoberta das possibilidades
da linguagem.
Tudo que eu senti ao ler essa maravilhosa ''entrevista-a-três'' coloquei no FB, Ciano.
ResponderExcluirFiquei feliz em conhecer um pedacinho mais de cada um de vocês e parabenizo o autor que teve essa feliz ideia!
Show!!!
Deus conserve para sempre essa bonita amizade! E desejo-lhes todo sucesso do mundo!!
Abraços a você, André e Renato.
Roubei palavras de um livro, mas elas fugiram de mim. Questionamentos invadiram minha mente exclamativa.
ResponderExcluirFechei o livro o mais depressa que pude na esperança de detê-las... só me restaram as incoerências.
(Agamenon Troyan)
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