EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

domingo, 29 de agosto de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 40


 PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
 ANO 1 - Nº 40 - 29/AGOSTO/2010
FUNDADA POR MARCIANO VASQUES

NESTA EDIÇÃO:
DE ESPANHA:
JOSÉ PEJÓ VERNIS
POR ROCÍO L' AMAR
(CHILE)
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O QUE SE PREMIA QUANDO SE PREMIA A 
JOSÉ PEJÓ VERNIS

Neste mundo onde só se aprecia a mediocridade, a capacidade de fingir, o gesto vazio, a pornografia, as garotas que só brincam ao riso saturadas de silicone, o nervo, os oportunistas, o "Amigo da Onça", os chegados à crítica ademicista, o adulador, o snob, os pedantes, o midiático, enfim, entre outros figurinos, não obstante, todavia se premia a poesia como se fosse ontem, nestes tempos de grandes conflitos, calamidades, desapego, fome, crises sociais,  através destes lugares donde o escritor/ poeta escreve, sombreando trêmulo disperso apoteótico.

Dizem que há poetas que se ancoram aos grandes poetas e desde ali fazem linguagem, movem e comovem, rompem círculos viciosos, falam e em seguida cortam laços.

No Chile abundam, com muita naturalidade, oficinas literárias de onde emergem talentos. Imagino que em outros países também. Obviamente, uns mais anônimos que outros, uns mais obscuros que outros, uns mais astutos que outros, uns mais urdidores que outros.

Também há os prolíficos, sem militância em nenhuma oficina. Escritores ao nú de vidas nuas, que só vão e vêm e têm sua mochila de sonhos como única companhia, explorando recantos, territórios, utopias, a escritura, modificando por completo a concepção da liberdade. Estes escritores poetas não necessitam ser chamados ao Parnaso porque sempre estão, e sempre estarão nomeando o que não tem nome todavia.




Porém, já há quem menospreza estas tarefas, estas ansiedades, este trabalho literário.
O que nos resguarda, dizia Rilke, é nossa vulnerabilidade.

O leitor, a leitora, quer poesia?

Toc Toc Toc, me pergunto: ao momento de escrever estas palavras com o fogo do amor pela poesia. É mãe e mestra a poesia que manifesta sua vontade, sempre com firmeza, através do rito do poema? Questiono-me: serve de meio de comunicação como verbo, como idioma? Serve ao espírito?


Toc Toc Toc, José, abra-me tua porta, e deixa-me entrar, necessito saber, o que é o mesmo, conhecer realmente sobre o fenômeno de tua poesia que aparece como um acúmulo de prêmios nos últimos tempos...Creio que já seja tempo sobre o qual podemos falar.




Eis aqui então a entrevista com José Pejó Vernis, de Espanha.

1. A poesia atual existe, aproximadamente, a partir de meados dos anos 90. Qual acredita você que seja sua novidade?

Há muita novidades. Cada autor é praticamente uma novidade. Evolui o pensamento, que se adapta às convicções e se manifesta com a linguagem. A gente que não lê publicações recentes, que se limita à velha biblioteca de seu tataravô, seguirá escrevendo poesia clássica toda a sua vida. E não é mal, porém é uma pena.
Creio que a diferença mais notável, aparte da linguagem, está na metáfora, em passar de estabelecer relações inéditas entre as palavras, a descobrir atributos insuspeitável das palavras. Criar imagens na tela dos olhos que a oficina mental transforma em sensações. A beleza exclusiva do insuspeitável e surpreendente.



2. Coexiste um novo tom, combinações de conteúdos e recursos, ou se detectam influências com respeito do tradicional ou comum, que pensa você, que alcançou um grau de maturidade que faz possível sua análise?


- Antes a beleza se encontrava na música e no ritmo, isto é, uma beleza sonora porque a poesia era feita para cantá-la. Agora a beleza se encontra nas imagens. É uma poesia visual, com a qual se desfrutam os olhos da imaginação e dos da alma, portanto, é distinta, não se busca a rima. Se foge dela até ao ponto em que as assonâncias produzam feridas nos ouvidos e derrames nos olhos. Por outra parte, quando se usa o verso branco se assegura o ritmo se os versos vão bem acentuados, porém qualquer pessoa pode escrever com o verso livre ou com prosa poética sem ter que preocupar-se com as medidas que tanto limitam na hora de escrever. O ritmo não é algo inato, é algo que se adquire. Trata-se de fazer algo novo, como dizia Lorca, de encontrar duas palavras que não se conheçam entre si, que não houvessem estado juntas antes Ser poeta é questão de ofício.
Nesse sentido, cada poeta é uma surpresa.


3. Aceitaria que esses sentimentos de surpresa são o modo em que "" O novo"  seja o distintivo da poesia atual à hora de ler, ou tem outra opinião?

- É o que mais caracteriza, sim. A imaginação necessita exercitar-se e busca a fórmula.



4. A proliferação, por certo, ou derrame de "poemas" em internet, com todo o peso de sua realidade, fortalece ou debilita a literatura atual, ou se confundem os "" manchones" como um novo movimento artístico com o movimento fundamental das letras e o sentido de ser poeta?


- Estava se vendo demasiada televisão ao contrário da leitura, e a sensibilidade se deteriora se não se exercita. é o sentimento, e não o pensamento, o que permanece inalterável como fator comum da humanidade. Internet tem possibilitado o acesso à poesia, que é a depositária dos sentimentos. Isso é positivo desde que se mantenha a porta aberta à cultura, creio que fortalece à literatura. Toda contribuição é boa por muita ficção que leve sempre vá sempre unida à realidade. Nós somos reais e a literatura é algo nosso. Cada um utiliza seu próprio "idioma" e o faz o melhor que pode.
Não creio que se escreva para ser poeta nem que se escreva por ser poeta. Há muitos motivos que te levam a escrever. Apesar de ser um tópico, é certo que todos teremos algo de poeta dormindo em nosso interior. Às vezes se desperta.

Internet é uma plataforma nova muito útil para relacionar-se e para compartilhar, e a gente a utiliza. Converte tempo em aprendizagem.

5. Qualquer um pode ser poeta/escritor. Porque se lê que fazer blogs é como editar livros, então o sentido de ser poeta/escritor se abriu, se ampliou, e possibilitou que praticamente qualquer um possa ser poeta/ escritor, sempre que edite; e ao mesmo tempo, os livros se tornaram outra coisa diferente do que são, e esse passar a ser outra coisa possibilitou que " qualquer coisa" pudesse ser um livro. Que opina você?


- Tenho que melhorar, qualquer coisa não é um livro.
Um livro tem que trazer algo novo e útil, porque é uma referência para quem o lê.
A cultura é um privilégio e hoje é um direito ao alcance da mão e a poesia é um meio de expressar-se. Nem todo mundo pretende fazer um livro com seu blog. Creio que é uma invenção paralela.

6. Porque crê  que as pessoas se fascinam pela potência terrível que oferece internet a tal ponto de chegar a subordinar-se a ele ou ela, como queira chamar-lhe, enquanto a publicação, difusão, comunicação, leitura?


Pela mesma razão que a gente se fascina pelos carros, ou automóveis, como queira chamá-los, tendo duas pernas para caminhar.


7- A escrita é obviamente primeiramente com respeito da edição, porém longe de ser apenas um fim do poeta/escritor, é, também, um meio para ter fama e dinheiro. É sua desculpa?



- Pode ser que alguém considere assim, porém eu não creio que seja uma desculpa. Os que se dedicam a escrever, e não fazem outra coisa, algo haverão de comer e o buscam. Eu escrevo porque gosto e isso tem sido algo que me veio envolvendo aos poucos até ao ponto de me apaixonar; Sei que nunca vou viver disto, porém não deixarei de escrever. Se não me publicam, bem, e se me publicam, melhor. Nem o que dizer tem, que um reconhecimento sempre enfatiza o resultado, já de por si agradecido, de escrever.



8. Que é poesia? Gostaria que analisassem as matizes a metáfora para descrever ainda que seja subjetivo, obviamente, realmente o fenômeno?



Poesia

Me pareceu
Uma ligeira brisa,
uma barragem
um átomo de ar
que gritava.

Só a chama
pequena de um lampião
A reconheceu.

Cúmplice
tamborilava em seu diálogo
sútil,como entre sílabas.

Caminho do silêncio
levava seu hino.
funda, a poesia

Considerando que a poesia sejas tu, como temática, a poesia se define por sua capacidade de síntese e de associação (sobretudo a moderna). A principal ferramenta é a metáfora, isto é, a expressão que contém implícita uma comparação entre termos que se sugerem uns ou outros, ou entre os que o poeta encontra sutis afinidades.
Detrás do que os olhos narram está a poesia, que transmite sensações, navegando em nosso mar de sentimentos, e, às vezes, nos comove.



Quando abres os olhos, o que ves é o mundo.
Entretanto, os fecha à luz
um instante, um segundo, e o que ves
é a poesia.

A metáfora é uma comparação , e a imagem é a construção de uma nova realidade semântica mediante significados que, em conjunto, sugerem um sentido unívoco e às vezes distingo e estranho.

Sempre digo que uma sequência louca, feito uma avalanche de metáforas, não necessariamente é poesia, porém haverá que buscar-lhe um nome a isso, e que o relacione com ela, porque se leva muito.

O recurso está bem em poesia e é preciso, porém o mesmo que um mecânico com um milhão de ferramentas...Se só tem isso, não poderá construir um carro, nem um triciclo sem timbre.

Também um montão de parafusos e peças, se não estão unidos entre si com uma função determinada que resolva cada um , é um montão de sucata


.
9. A poesia está distanciada do mercado dos consumidores...Sim, não, por que?


Sim, está distanciada do leitor pela falta de costume, porque sendo tão bonita ou fascinante, necessita de um tempo para descobri-la e acostumar-se com ela. Talvez haja que pensar mais do acostumado para lê-la e isso pesa.
Quando se descobre a consideração que proporciona a poesia, começa a ser imprescindível, entretanto, a poesia está unida à cultura, e isso está em declive hoje em dia pela televisão e pelo sistema educacional, ente outras coisas.



10. A partir de que e como constrói você sua poesia, e onde radica o substancial?



Minha poesia, de alguma maneira, tem algo de autobiografia (mas bem íntima, não anedótica). Ditam-me meus sentimentos ainda que reflexão ponha uma ordem ao caos das sensações. Invento histórias distantes, interpreto o que acontecem o que me comove. É muito difícil objetivar, porém tento. Escrever poesia leva à sanidade da autocrítica.

11. Para quem escreve você, e qual é sua sensação quando escreve?


Não se trata de escrever para os demais, ainda que muitas vezes se faz..."Um soneto me instruiu violante..." Eu escrevo para me ver depois de fora, com outros olhos. Quando isso acontece, descubro o que, sem a escrita, nunca houvesse conhecido.

Escrevo, descrevo, depois o leio e às vezes, me emociono inesperadamente.

Se o penso, me dou conta de que escrevo para mim de meu interior, ainda que depois tenha essa apetência ou necessidade de compartilhar-lo com os demais. Pensá-lo é outra forma de desfrutá-lo, ainda que não aconteça.



12. Qual é a pedrinha que leva no sapato com respeito ao seu trabalho literário?


Eu, mais do que uma pedrinha, levo um caminhão de cascalho, e que nunca parece que acabem de estar bem os poemas que escrevo, e isso sempre o descubro uns dias depois de haver-lhe feito perfeitos.



13. Ademais está dito, que há uma poesia ativa e outra passiva. Você é amoroso com ela, isto é, escreve todos os dias ou de vez em quando?

Escrevo todos os dias que posso, e não escrevo mais porque os dias têm apenas 24 horas e de vez em quando tenho que dormir. Não obstante, não passo todo o tempo escrevendo. Isso eu faço aos poucos, em momentos, quando surgem, entretanto, corrijo trabalhos anteriores ou leio e aprendo do coração dos demais, que é onde se guarda a pouca sabedoria que possa estar ao meu alcance.


14. Você ganhou vários prêmios no último e presente ano como força produtiva. Que lhe deixam estas distinções e qual é a importância?


- Os concursos potencializam a criação, porém não caio no perigo do desânimo quando não me premiam uma obra. Às vezes compete gente com uma obra muito melhor, ou que mais corresponda ao gosto do jurado, e outras, é questão de nome. Isso já disse Cervantes com respeito aos certames literários.
Fora disso, não tem mais importância. O importante é que gosto do que escrevo e se aos demais também gostam, bem será melhor. Acumular prêmios é engrossar o currículo e isso é uma referência para os demais, porém minha poesia é a mesma.

A mim me serve de incentivo. Sempre é agradável receber um reconhecimento, seja do tipo que seja. Há uma parte da vida que alguém deixa quando escreve para compartilhá-la com quem possa ler, se ninguém lê, essa parte morre. Necessitamos escrever, porém necessitamos que nos leiam para seguir vivendo, vivendo nos demais.
A cerimônia de tirar uma obra da gaveta e enviá-la a um concurso ou certame, é para lhe dar a oportunidade de voar, e se volta com o abraço de um Bem Feito!, anima bastante.

15. Entre as concepções idealista e materialista, como objetos de contemplação ou compreensão consciente da literatura, qual, na prática mesma?



O universo poético é a sensibilização. E costumo associar cada coisa a uma ideia, porém se quero encontrar a definição exata, não posso idealizá-la porque isso é distanciar-me da realidade. Donde esperam os sonhos, se aprisiona o desengano.



16. Os poeta/escritores criam uma rede social cada vez mais complexo que se converte em verdadeira divisão das relações sociais, a partir do momento em que consigam algum status. Tem você consciência disso como intelectual ligado ao mundo da criatividade literária?



Estou convencido dessa realidade que salta à vista, porém não ocorre sempre e espero que a mim não me aconteça nunca nada parecido porque onde melhor estou é onde não estou.

17. Que pensa você a respeito dos poetas/escritores que se desenvolvem dentro de um partido político ou setor político?



Com relação a isso, gostaria de não pensar nada, porém resulta que o pior de não pensar, é o que poderia pensar.
O fenômeno, que começa em uma simbiose, termina em um parasitismo acordado e nada conveniente para a sociedade.
A força do homem está em sua crenças. Esse é o motivo que o move. Sua debilidade, sem dúvida, está em como as expressa, a meu modo de ver. Abrir os olhos é o primeiro gesto para olhar, e se pode dar uma piscadela, porém não é o mesmo que abrir um olho e ter o outro fechado.
Não sei por que, porém eu, a palavra política a tenho como sinônimo de manipulação, e não há coisa que aborreça mais. Gosto da poesia, porém não dos panfletos.


18 - O que pensa sobre a poesia latino-americana? E tem algum ou alguma poeta que lhe resulte interessante de compartilhar nesta entrevista?



Nos velhos continentes a repercussão dos movimentos culturais na poesia, passou dos filósofos poetas aos poetas filósofos e cada época foi deixando o ofício marcado a golpe de verso segundo as correntes que forma surgindo, até ao ponto de passar do idealismo de Platão a "matar a Platão" livro da fenomenal poeta Hispânico- Belga Chantal Maillard) , por exemplo. No novo continente, salvando a cultura indígena, tudo se revolucionou (Nos dois sentidos da palavra) segundo os acontecimentos, isto é, conquistas, desconquistas, ditaduras e os demais... porém à velocidade vertiginosa. O homem adquire o compromisso da palavra, no sentido de fazê-la voar, transmiti-la quando seja preciso, sobretudo, quando um povo não pode falar, e seu grito tem que dar a volta ao mundo tantas vezes quando puder. Quem tem o dom da palavra não a deve exercer, ainda que muitas vezes, por isso, seja perseguido. Não o faz porque se lhe pede o povo, o faz por que se lhe pede a alma. A poesia teve sempre essa força reivindicatória em boa parte da obra dos autores reconhecidos, ou não, acrescentando o fator exílio em muitos deles. Poderia nomeá-los muitíssimos que estão em nossa mente e que me marcaram por sua sensibilidade e por sua humanidade. Relaciono Novo continente com Nova poesia. Porém, mais além disso, surgem novas formas de comunicar ou intercomunicar, (essa comunicação que se cria entre o que escreve e o que lê) e é fascinante descobrir a beleza dos versos sem espartilho.




Destacaria de Neruda, em uma ponta, até Benedetti, em outra, como imprescindíveis , porém no meio há muitíssimos poetas fundamentais mais, e a lista se faria interminável desde a Terra do Fogo até México. Gosto, sobretudo: Alejandra Pizarnik, Idea Vilarino, Juan Gelman, Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Oliverio Girondo, Cristina Peri Rossi e, naturalmente, o inconfundível rio poético de Rocío L' Amar, como uma inovação importante no campo da literatura. Sei que deixei muitos, porém para encurtar, deixo um resumo poético que os acolhe a todos....





Quando os versos choram livres de pontos,
vírgulas e outros estragos,
sobram as falsas academias
e os dogmas, os traços inflexíveis
que podem derrotá-los.

Cada lágrima quebrada vai em um voo
que desocupa ao tempo.


Desses versos, que flutuam como núvens,
na chuva que molha nossos pés.



19 - Apelo à sua espontaneidade. Poesia amadora, sentimental ou existencial?


Bom, não me resta a dúvida de se existo ou não, porque sofro e isso me deixa claro. Nem as dúvidas do amor, porque amo e também o tenho claro. Assim que o que expresso são sentimentos e as sensações que me produzem, por si tiveram uma origem ou um final, e nenhuma das duas coisas consegui averiguar todavia.


20. Se pudesse ou quisesse ao Chile retornar, onde gostaria de aterrisar e por que?


.
A franja é muito estreitinha e no sul costuma fazer muito frio, porém se é questão de escolher, próximo de você seria um bom lugar, sem dúvida alguma.


BIOGRAFIA




José Pejó Vernis nasceu em 13 de Maio de 1952 em Castelldefels, Barcelona, Espanha.

Bacharelado Técnico Superior na Universidad Laboral de Alcalá de Henares, com o título de Maestria Industrial Estudos de Arquitetura na Universidade Politécnica de Valência e na Escola de Arquitetura de Madri. Passa a formar parte da Campanhia Ibéria L.A.E, em 1977, permanecendo em atividade durante 30 anos, ao largo dos quais realizou 25.000 horas de voo.
Pertence à Associação de Escritores e Artistas Espanhóis ( A.E. A.E).
Jamais deixou de escrever a partir do ano 2009, e preretirado na era PC, começou a concursar em alguns certames literários para ver o que acontecia, e estes são os resultados:


- 1 ° Prêmio de Poesia XIX Certame Literário "Cruz de Piedra" 2009 - Huétor Vega (Granada)
2] Prêmio de Poesia XVIII Certame Literário "Semillero Azul" 2009 - Sant Joan Despí (Barcelona)
- 1 er Prêmio XV Concurso Literário de Poesia “Castillo de Rochafrida” 2009 Ossa de Montiel (Albacete).

- 1 er Prêmio de Poesia 2009 de Villafranca de los Caballeros (Toledo) - Homenagem à Larra.

- 1 er Prêmio I de Poesia Certame Poético “POE-SILLA” - Modalidade Valenciano . Silla ( Valência).
- 2º Prêmio de Poesia IV Certame Poétic Nacional “J. GIL CÁNOVAS” - Modalidade Castelhano El Vendrell (Tarragona).

- O segundo prêmio no concurso de Nadales 2009 - Poesia viva de Igualada (Barcelona)
-1er Premio Festa Major de Gràcia “Mercè Rodoreda” de Poesia 2009 (Barcelona).
-Accésit XII Premi de Poesia SENYORA JOSEFINA OLIVERAS (VÍDUA DE GUAÑABENS) 2010 El Pont de Vilomara i Rocafort.
-2º Premio XIX CONCURS LITERARI NARCÍS LUNES I BOLOIX DE POESIA 2010 de Sant Vicenç dels Horts (Barcelona)
-1er Premio XXIII CONCURS LITERARI PREMI SANT GREGORI 2010 (Girona).
- O segundo prêmio XV PREMIO DE POESIA “LUYS SANTAMARINA” 2010.
-2º Premio Centro Cultural García Lorca A.A. (Nou Barris) 2010 (Barcelona).
-1er Premio XIV CERTAMEN LITERARIO "CASTILLO DE CORTEGANA" 2010 Cortegana (Huelva).
-Finalista en el Premio de Poesía “Nicolás del Hierro” de la Universidad Popular de Piedrabuena (Ciudad Real) 2010.


QUANDO ESCREVO


Quando escrevo em um canto,
a meia luz,
para não confundi-las com pirilampos,
tiro brilho das palavras nunca antes pronunciadas.
Voam como morcegos
nivelados à mesa
com seu alfabeto cego
e cheiram como a madeira enferrujada
sob as mortas folhas do outono.
Porém não têm formas, não as ouço.

São iguais às flores de um jarro vazio,
colmeias em um inverno dormentes
sem mel e sem abelhas, só o voo.
Uma frágil agitação imperceptível
incapaz de fazer ruído

Entretanto, de mim não medra o verso;
não nasce quando espero que invente,
que se incorpore e ande. Não!
Necessita encontrar-se em suas cinzas
para expressar-se o fogo;
Necessita buscar o astro necessário,
habitar na água para fazer
do barro da carne o verbo último.
Às vezes pastoreia lágrimas
ou desenha os anjos que forjam
epitáfios em sua lápide fúnebre.
Para mim é muito difícil encontrar
a raiz da sede, a poesia
bem além de bolhas crepitantes
de mares, de Netunos com tridentes
ou de rios ardentes em seus
lírios.
Custo imensamente sabê-la para ser-lhe fiel,
e assim, choro minha pena diante de sua ausência.
Corrijo os desacertos de tentá-lo
por minha conta, ou desisto.
É um calafrio, é uma brisa
fugaz em minha garganta quando passa
Um palpitar que chega como impulso
e acaso
no instante em que a sinto, a escrevo, como agora.
Porém isto não é nenhuma poesia.



.


OITO VERSOS

O relógio parou com oito versos
no ar que ali respirava,
e, decididamente, percorreu o mostrador
um molecular vento com aromas
de menina apaixonada.
Com respeito ao amor soube dizer: bons dias!
Com respeito ao ódio descreveu
toda sua geografia: rios, vales, montanhas, fogo e água.




Quando a luz se agita,
uma sombra ocupa seu lugar.
A luz que chega
para alimentar-se da sombra
é nova e não conhece
à luz anterior
nem o que se levou.
Eu, entretanto,
cada dia vou a dormir e te levo
comigo.
E quando me desperto
sei que és tu.
Sei que tu és quem está comigo.
A única luz do universo,
em meu destino, de ira e volta.


.

AO OUTRO LADO DA CERRAÇÃO

E não será que tu,
borboleta celeste, escondeu
sob sua saia a fome que tenho,
a academia do beijo, entre teus lábios,
e fez de minha sede o dobro da vertigem
de esperá-la e tê-la a ti esperando?
Disse-lhe, e, ao instante, mordeu-me, tacitamente,
na orelha a voz de seu sussurro:
" Acabou-se, não me espere nunca mais,
não voltes a esperar-me, só toma-me
cada respiro teu. Rompe o ar 
e suaviza em tua boca minha vibração"
Não suspeitei do fogo, e o demônio
atrelou meu corpo às suas palavras.

*************************************
ROCÍO L' AMAR
Rocío L' Amar é correspondente e colaboradora de 
PALAVRA FIANDEIRA no CHILE

Brilhante e conceituada intelectual, jornalista e poeta, atua na blogosfera ampliando espaços para a divulgação da cultura literária e da arte entre os povos
*
Tradução do Espanhol : Marciano Vasques

sábado, 7 de agosto de 2010

PALAVRA FIANDEIRA - 39


 PALAVRA FIANDEIRA
 REVISTA DE LITERATURA
ANO 1 - Nº 39 - 07/08/2010
 NESTA EDIÇÃO:
Obra da artista Marília Chartune, 
uma das convidadas desta edição
TERCEIRA EDIÇÃO TEMÁTICA:
PAI

"Aprendi também a respeitar amores e paixões alheias."
Edson Gabriel
 

"percebo como fui privilegiada por compartilhar com elas o carinho paterno" 
Regina Sormani
 
"Seu porte firme e elegância natural são sinais da sua dignidade"
Marília Chartune Teixeira 


"É preciso mostrar ao filho, no dia a dia, a estrada por onde seguem os bons, os justos."
Maria Thereza Cavalheiro 

"Outras vezes, quase sempre aos Sábados de manhã, aparecia com brindes, bonecos de porta-chaves, cromos e canetas."
Carmen Ezequiel 


"Puedo decir que soy una persona muy feliz con las pequeñas cosas y me encanta compartir con los hermanos..." 
Montserrat

" Gosto de recordar sua alegria nas festas de aniversário."
Jéssica Lima

****************


REGINA SORMANI - ESCRITORA

A casa das cinco meninas
Todas as vezes que o Dia dos Pais é lembrado, imediatamente, as luzes da memória se acendem e apontam para os anos felizes da minha juventude. A cidade de Agudos, no interior do estado, certo dia recebeu uma família que ali chegou e se estabeleceu, com moradia e comércio. Tratava-se de um simpático casal de libaneses: dona Talge e o Sr. Youssef Ayub e suas cinco filhas: Neusa, Neide, Filomena, Málaque e a caçulinha, a Talginha.
As meninas, nascidas no Brasil, esbanjavam alegria e eram muito queridas por todos. Logo, fiz amizade com a família e, em especial com uma das meninas, a Neide. Morávamos perto uma da outra, eu, na rua 13 de Maio e ela, na 7 de Setembro. E, por vezes, trocávamos de casa e de família. Minha amiga adorava comida italiana feita no fogão de lenha da minha mãe. Após o almoço, geralmente macarrão ao sugo com almôndegas ou frango, ela passava horas ouvindo meu pai contar  a respeito do vovô italiano que, na juventude, nadara no famoso lago de Como, perto de Milão, na Lombardia.
Mas, hoje, quero falar daquele pai libanês, o Sr Youssef. A casa das cinco meninas ainda está no mesmo lugar, em Agudos, na rua 7 de Setembro e a mais nova delas, a Talginha ainda mora lá.
Muitas e muitas vezes, nós saíamos tarde dos bailes de sábado, no Tênis Club local, acompanhadas pela dona Talge. As meninas, então, acabavam me convencendo que seria melhor que eu dormisse na casa delas. Na verdade, era uma boa oportunidade para colocar as fofocas em dia. Ficávamos conversando até o sono chegar.
Pela manhã, lá vinha o pai das meninas nos chamar para a primeira refeição. Jamais esquecerei a figura bondosa do Sr Youssef! Ele próprio preparava tudo: trazia o pão quentinho da padaria, fazia o café, arrumava as frutas na mesa e servia a melhor coalhada síria que já experimentei em toda a minha vida. As meninas sempre comentavam que todas as manhãs, durante a semana, ele montava uma linda bandeja e levava para a esposa, em primeiro lugar. Só depois de cumprir alegremente essa tarefa, aquele pai dedicado saía para trabalhar na mercearia.
Hoje, pensando nas cinco meninas e no pai maravilhoso que tiveram, percebo como fui privilegiada por compartilhar com elas o carinho paterno, ingrediente principal daqueles cafés servidos nas manhãs de domingo, há vários anos atrás, na minha juventude.

Regina Sormani





JÉSSICA LIMA - Publicitária

São Paulo, dia dos Pais.

Pai,

Lembro-me bem das manhãs ensolaradas em que nós, de mãos dadas, íamos comprar pão. Os pássaros cantavam tão bonitos.

Daquela tarde chuvosa em que você não chegava para me buscar na escola. Já havia passado do horário, e eu estava com medo, todos os alunos já haviam ido. Foi um alívio quando você chegou.

Lembra quando fomos buscar meu irmão, recém-nascido, no hospital? Eu disparei a correr pela maternidade, e você atrás de mim. E um tempo depois, quando ele ficou doente e teve que ser internado... Só ficamos nós dois em casa, lembra, pai? Esperávamos minha mãe e meu irmão voltarem.

Gosto de recordar sua alegria nas festas de aniversário. Você dançava bem.

Tinhas razão, eu não teria gostado de fazer aquele curso, não tem nada a ver comigo, exceto a admiração que tenho pela área. Graças aquele conselho, achei o meu caminho.

Lembro de como ficou nervoso ao pegar o avião. E depois, a sua alegria quando estava perto da sua terra natal.

Não gostei nada de vê-lo no hospital. A casa ficou tão vazia. Não podíamos nem ficar lá. Lembro a pizza que pedimos para jantar e as lágrimas de minha mãe. Perdi o chão.

Lembro de sua volta para casa e de reparar com tem gente que gosta muito de você.

Descobri que podemos até ter mais de um pai. Claro, para mim, você é incomparável, mas podemos gostar tanto de outra pessoa e sermos retribuídos, que a adotamos como pai, por tão grande ser o carinho.

Fico a imaginar como teria sido a vida se ele não tivesse partido.

Também acredito em Deus, é o Pai de todos.

Você é um grande exemplo de luta, determinação e vitória. Do interior do Ceará à cidade grande. Nem tinha o que comer quando era criança. A vida era dura para você e seus catorze irmãos, eu sei. Mas, conseguiu dar tudo aos seus filhos.

Mesmo com os problemas, vejo todos os dias a nossa família seguindo unida.

Para mim, dia de pai e mãe são todos.

Obrigada pela vida.

Feliz Dia dos Pais.





MARILIA CHARTUNE TEIXEIRA
 Artista Plástica

DIA DOS PAIS


O Dia dos Pais no Brasil foi importado pelo publicitário Sylvio Behring, e foi instituído que seria no dia 14 de agosto, homenageando São Joaquim, patriarca da família, esposo de Sant’Ana, pai de Maria e portanto, avô de Jesus. Mas foi transferido para o segundo domingo de agosto, certamente por motivos comerciais. Uma pesquisa revela que é o segundo maior movimento de vendas, perdendo apenas para o Natal, pois supostamente, as mulheres seriam as responsáveis.
Minha família comemora essa data há 63 anos, quando nascia minha irmã mais velha e a cada ano chegava mais um filho, até completar uma dezena. Meu pai, com 91 anos, é cheio de vitalidade, trabalha, lê (sem o uso de óculos), adora esportes e como bom mineiro da Zona da Mata, torce por um time do Rio de Janeiro, no caso, o Flamengo, mas tem o Atlético Mineiro como segunda opção. Jogou futebol e treinou um time amador, e foi citado em um jornal de Belo Horizonte por João Saldanha, comentarista gaúcho, como o legítimo “Carrossel Holandês”. Tem gosto musical apurado e coleciona discos de Silvio Caldas, Nelson Gonçalves e Ataulfo Alves além de orquestras, bandas e instrumentalistas de choro. Como torcedor inveterado, acorda de madrugada para assistir à Fórmula 1 e invariavelmente, recupera o sono à tarde, após ler nos jornais os comentários.
Como regra de etiqueta pessoal, reconhece a importância de um convite e não hesita em viajar quilômetros para prestigiar um casamento, formatura ou aniversário, desde que não seja de avião. Seu porte firme e elegância natural são sinais da sua dignidade e a autoconfiança e respeito tem apoio incondicional de minha mãe, companheira habitual e parceira nas lutas e conversas intermináveis de mais de 64 anos de casamento e como têm assunto!
Quando criança, eu esperava pacientemente que fizesse a barba ao chegar a casa para lhe dar um beijo e ficava ao seu lado perguntando o porquê das duas “estradas” na testa. Até hoje relembra sempre que vai fazer a barba e eu fico muito emocionada por saber disso. Seu senso de humor lhe faz ser um bom contador de histórias e o talento acalentado para desenho e pintura, foi explorado timidamente na juventude, mas abandonado por motivos óbvios, afinal com 10 filhos, nunca sobrou tempo! Com recursos escassos, pintou paisagens que se perderam nas muitas mudanças, mas não na nossa memória em que representou cenas bucólicas e realistas com detalhes como o rastro de um cavalo distraído, determinando o “ponto áureo” com intuição. Herdei a habilidade para o desenho e para não desperdiçar essa herança, produzi alguns milhares de óleos, acrílicos e aquarelas que, certamente não se perderão nas mudanças. Fiz uma série de pinturas com cenas campestres e em um dos quadros, tem um carro de bois que está na parede da sala de jantar. Meu pai, muito detalhista, contou o número de patas da boiada e como obteve um número ímpar, pediu que eu completasse. Eu fui protelando, enrolando até que ele mesmo o fez... com maestria!
Quando decidi transformar esse dom em trabalho, tive que escolher uma marca ou identidade artística, então ironicamente, só imprimiram meu sobrenome materno, mas com o tempo, fui percebendo que não fazia diferença, de qualquer maneira, minha marca pessoal é o orgulho e a bênção de ser sua filha!

MARILIA CHARTUNE TEIXEIRA
ARTISTA PLÁSTICA



EDSON GABRIEL - Escritor

SOBRE PAIS, FUTEBOL E VIDA

Meu pai, falecido há cerca de cinco anos, não me deixou lições sobre o prazer da leitura e da escrita. Pela simples razão de que foi um leitor dos menos assíduos, de pouca base, cuja vida passou muito tempo trabalhando para sobreviver. Escrevia o mínimo possível, talvez o meramente necessário para dar conta das coisas que sua vida simples exigia. Vivemos uma vida de escassez quase total de livros, revistas e jornais. Eu vi livro de verdade, pela primeira vez, perto dos dez anos.
Não sei de onde eu tirei esse prazer imenso de ler e escrever. Não foi certamente nas minhas andanças pela escola nem tampouco pelo incentivo familiar.
Se não tive lições de prazer pela leitura e escrita, na infância e na juventude, não posso dizer o mesmo sobre futebol, principalmente nestes dias em que os ares e as jabulanes da copa ainda embotam nossos corações e mentes. Foi torcendo por um time de futebol que aprendi com meu pai algumas coisas que carrego comigo até hoje.
Aprendi primeiro como é gostoso ter definido o objeto de nossos amores e paixões. Funciona como uma espécie de tábua de salvação. Um amor ou uma paixão está sempre disponível para receber os nossos sentimentos, sem cobranças, sem dificuldades, sem olhares enviesados. Por um amor e por uma paixão luta-se uma vida inteira.
Aprendi que mesmo a força e a impetuosidade do amor e da paixão podem ser controladas. Esse é um exercício difícil, mas gostosamente saudável. Torcer por um time de futebol não deve ser o fim último da vida e precisa estar sob o controle de nosso pensamento. O rebaixamento ou o título mais expressivo de um campeonato deve ser olhado e sentido com a mesma intensidade que nos envolvemos em amores e paixões: equilibradamente. Nem tanto ao céu nem tanto à terra.
Aprendi também a respeitar amores e paixões alheias. Torcer por um time de futebol e amá-lo profundamente, a ponto de transmitir essa paixão para os filhos, não me dá o direito de não reconhecer e respeitar o amor e a paixão por outros times. Pelo contrário, o amor por meu time de futebol só é possível na contradição da existência de outros tantos times. É um exercício difícil esse, um dos mais difíceis pela vida a fora, mas um dos mais interessantes: entender que a pluralidade dos amores é que encanta a escolha de um amor ou paixão.
Perder e ganhar faz parte da vida de todos nós. Aprendi isso, com a calma e paciente torcida de meu pai, torcendo por um time de futebol que ele me deu a torcer. Há vários provérbios que a sabedoria popular usa para expressar este ensinamento, entre os quais me recordo do “um dia é da caça e o outro é do caçador”. Conviver com estas alternâncias da vida também se aprende torcendo por um time de futebol. Perde-se e se ganha com igual facilidade. Dosar o equilíbrio no exercício dessa gangorra não é fácil; mas é necessário. Para o bem da própria existência.
Violência não dá camisa para ninguém. Parece fácil, tão fácil dizer, proclamar e viver essa prática. Não é. E foi torcendo por um time de futebol que aprendi, com meu pai, que a violência não leva a lugar nenhum. Ou, quando leva, a resposta é outro comportamento violento. Desacreditar do comportamento violento como atitude na vida é aprendizagem que se compõe com outras atitudes e permitem tomar isso como reflexão e postura.
Aprendi que sempre haverá um novo dia e com ele uma nova situação, novo contexto, novas perspectivas. Um dia após o outro, invariavelmente com uma noite no meio. Torcer por um time de futebol é administrar a dinâmica dos prazeres possíveis que pode mudar a qualquer minuto, a qualquer dia. Como a vida, um time, um elenco, seus interesses e suas realizações podem mudar sempre. Aprender a tolerar essa perspectiva de mudança constante, tal qual a vida se nos apresenta, é gostoso, possível e saudável.
Se meu pai estivesse vivo, eu estaria lembrando e agradecendo estas aprendizagens, tão necessárias, hoje, na vida de torcedor de um time que ganhou tudo no ano passado, quando completou noventa e nove anos de história, e perde tudo no ano em que comemora o seu centenário.
Pois é, como aprendi: é do futebol e é da vida.
EDSON GABRIEL GARCIA
Educador, escritor e torcedor corintiano



CARMEN EZEQUIEL
Escritora e poeta

O PAI


Cedo, Sábado de manhã.
No chão da nossa cozinha descansava uma caixa de madeira cheia de laranjas, de uma cor laranja - avermelhada, grandes, da baía.
Ontem, não estavam aí?
Chegaram já largas horas da noite, pela fresca, pois o calor aperta neste Julho pomposo.
Saíram do Algarve, passaram pelo Baixo Alentejo e aqui, ao Alto, chegaram.
Eram imensas, colossais, luzidias, sedosas e apelativas. Convidavam ao manjar.
Mas, ainda era cedo e o pequeno-almoço teria de ser o primeiro (pois é a mais importante refeição do dia). Laranjas como essas já são difíceis de encontrar.
Era um prazer o tempo que se levava a descascar. A cada golpe da faca, um grito de dor saía da casca fina da maravilhosa iguaria, e de um espirro o seu suco nos queimava os olhos e o seu cheiro agreste mas doce mantinha-nos interessados. Cada gomo corpulento transpirava pelos dedos da mão e na boca, um misto de gulodice imunda nos deixava.
Divinal!
Enquanto nos deliciávamos com este autêntico doce dos deuses, se reparava, então, noutra surpresa melosa.
Por cima do frigorífico, meio escondida, meio a descoberto, uma caixa vermelha e dourada. Com chocolates de leite e amêndoa. Boa! Maravilha!
Já sinto água na boca!
Lá longe, no alto daquele protector de alimentos (e, de crianças, por sinal, já que lá em cima não chegávamos), lá estavam eles, os chocolates, e elas, as gulodices (pois era aí também que se colocavam as delícias que não se podiam alcançar).
Uma vez por outra, dava por mim empoleirada numa cadeira de braços cinzenta, de escritório giratória, que o pai havia trazido para casa.
E, rodava, rodava, até chão não haver mais! Claro, que não chegava aos chocolates, de leite com amêndoas, revestidos de vermelho e dourado.
Nunca necessitamos de nos portar bem para um merecer! Que era um mimo, lá isso era!

Outras vezes, quase sempre aos Sábados de manhã, aparecia com brindes, bonecos de porta-chaves, cromos e canetas. Mimos para os miúdos.
Houve uma vez, que uma bicicleta nos trouxe. Eu sempre quis ter uma bicicleta. Era amarela. Já sabia andar, mas aquela foi a minha primeira. Muitas vezes dela caí, me levantei e voltei a andar.
Os fins-de-semana eram curtos, mas esperados. Até que um dia deixaram de ser. Porque crescemos e nos tornamos mais exigentes. Porque os mimos que ansiávamos eram o carinho e o diálogo.
Agora, somos nós que vamos às Sextas-feiras e, ou aos Sábados de manhã.
Não levamos laranjas, nem chocolates, nem brindes alguns.
Levamos apenas a nossa pessoa, o nosso carinho e amor, diálogo (ainda que por vezes, se discuta), compreensão e a certeza de que também é nosso orgulho ter um pai, outrora ausente, agora não.
Agradeço ao meu pai pela caminhada e pelo crescimento mútuos.


Carmen Ezequiel 



MARIA THEREZA CAVALHEIRO
Escritora
SER PAI

O pai é o alicerce da família. Impõe-se pela compreensão, pelo aconselhamento saudável e, principalmente, pelo bom exemplo. Qualquer que seja o erro do filho, o pai deve estar presente, não para deplorá-lhe o comportamento, mas para dar-lhe forças para vencer as fraquezas. O pai não condena: mostra o caminho certo. O pai repreende quando necessário, porque seu papel é o de condutor. Ele zela pela prole. Pai é a viga da casa, que mantém erguida contra todas as intempéries.
Alguns sugerem que mãe é o coração, e pai a razão. Mas, em verdade, a educação de um filho, a sua formação interior, deve ser compartilhada por ambos, dentro do amor e do respeito. Filhos nascidos num lar equilibrado serão os cidadãos ideais para a formação da Pátria de amanhã. Pai e mãe - cada um tem seus misteres junto ao filho. Seus ensinamentos a ministrar, dentro de sua sensibilidade e experiência.
Ter ainda pai é um privilégio da existência. Mas ter um pai amigo é ter essa graça duas vezes. É preciso mostrar ao filho, no dia a dia, a estrada por onde seguem os bons, os justos. Pai é o timoneiro do barco da família. É o farol da barra, que ilumina a trajetória. Que alerta contra os perigos. Quantas vezes o filho - nau sem rumo - encontra o porto seguro nos braços do pai!
Por tudo isso, também se dedica um Dia do ano especialmente aos pais, que em 2010 será, entre nós, a 8 de agosto.
Assim como o "Dia das Mães", que surgiu do grande amor de Anna M. Jarvis por sua genitora, a ideia do "Dia dos Pais" foi também de uma filha dedicada: Sonora Louise Smart Dodd, filha de William Smart, um veterano de guerra.
Sonora Louise quis homenagear o próprio pai, que viu a esposa falecer em 1898, ao dar à luz o sexto filho, e teve de criar o recém- nascido e os outros cinco sozinho. Assim, em 1910, em Spokane, cidade próxima a Washington, nos Estados Unidos, a data foi comemorada pela primeira vez no aniversário de seu pai, a 19 de junho.
Em 1966, lá se tornou oficial, mas para ser celebrada no terceiro domingo de junho.
No Brasil, o "Dia" escolhido foi o segundo domingo do mês de agosto. Vários países passaram a festejá-lo em datas diversas. Em Portugal, é em 19 de março, "Dia de São José". Na Grécia, em 21 de Junho. Na Austrália, no segundo domingo de setembro. No Canadá, em 17 de junho. No Reino Unido e no Peru, terceiro domingo de junho. No Paraguai, segundo domingo desse mesmo mês.
Lembramos, no entanto, que o "Dia dos Pais" não deve ser exclusivamente uma homenagem ao pai biológico, mas a todos aqueles que representam, de uma forma ou de outra, a figura paterna: o padrasto, o avô, o tio que ajuda na criação, o professor. E podemos homenagear também todos os nossos amigos que são pais, e os pais de todos os nossos amigos! É sempre bom ser lembrado, com uma palavra amável, um presente simbólico, um cartão, um bilhete, um telefonema, um e-mail, uma poesia, uma trova...
Digo em meu livro "Trovas para Refletir":

O pai é presença forte
que mal nenhum intimida.
Defende o filho da morte,
como o defende na vida.

O pai deve incentivar o filho, estimulá-lo em sua aptidões. E, quando preciso admoestá-lo, nunca fazê-lo perto de estranhos. Um dia diante da vida, o jovem agradecerá as reprimendas. Digo também:

Um filho não se acoberta:
quando a virtude periga,
há só ternura encoberta
na mão que ao filho castiga.

Castigar, porém, não é maltratar, não é humilhar, ferir a auto-estima do filho. Antes de tudo é necessário mostrar-lhe o erro, a vergonha das consequências, o mal que pode causar aos outros - e a si mesmo. Há castigos que não aviltam, não diminuem, não criam traumas. Mas ensinam.

Amar ao filho com equilíbrio, sem lhe fazer todas as vontades. Amar sem sufocar, sem oprimir, sem cobrar: Ser pai não é ser déspota; não é impor sua vontade em tudo que diz respeito ao filho. Deixá-lo criar sua própria personalidade, seguir seus gostos ao se vestir e pentear. Deixá-lo seguir a profissão que deseja. Não querer sua própria realização através do filho: Aconselhar, mas não impor. Guiar, mas não cercear. Sugerir, mas não ditar. Deixar que o filho ande por seus próprios pés!

Maria Thereza Cavalheiro


MONTSERRAT
Blogueira, cronista e ativista cultural
Me encanta el tema de los sueños, yo cada noche suelo soñar y muchas veces me acuerdo, es como si viviera una película y a menudo sueño con personas a las que ni siquiera conozco.

O quizá me haya cruzado durante el día con ellas y mi memória fotográfica las haya captado en el subconciente no sé.

Yo no suelo buscar el significado a nada, pero ahora le voy contar´lo que soñé un día.

Era una época en la que tenía algunos problemas, como todo el mundo se pasan etapas.

Yo soy una persona creyente y siempre digo que para mi la Fe ha sido y es terapéutica.

Bueno pues aquella noche soñé que estaba en mi Parróquia y de pronto, levitaba y me vi abrazada a la imagen del Santo Cristo de la Luz, la imagen se desgolgaba y abrazada a ella flotaba y daba vueltas por el espacio, entonces de repente yo caía en una Oficina o Despacho.


Paso un tiempo después de haber tenido este sueño.
Y me hice voluntaria de Cáritas y la oficina es la de la Parróquia del Santísimo Cristo de la Luz, donde doy atención Primaria a los inmigrantes y personas necesitadas.

Puedo decir que soy una persona muy feliz con las pequeñas cosas y me encanta compartir con los hermanos de todas las razas, culturas y paises.

¿Seria mi sueño una premonición?.

Montserrat