EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA 142

E a arte, sem a menor sombra de dúvidas, foi a forma que eu escolhi, 
ou fui escolhida, para expressar-me. 


PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES MENSAIS
ANO 5 — Edição 142
DEZEMBRO 2013
PAULA OLIVEIRA


    1.Quem é Paula Oliveira?
    Sonhadora, idealista e muita envolvida com que faz. Sou uma pessoa que tem uma enorme necessidade de se expressar, e que gosta de fazê-lo por meio da Arte e da Comunicação.


    2. Estudou Teatro e Cinema. Quando e de que forma surgiu em sua vida esse gosto pela arte de representar?
    Lembro-me que desde pequena meu pai sempre incentivava o gosto pela dança, pela música, teatro e leitura. Quando eu e minha irmã éramos bem pequeninas, a gente se reunia nos momentos de lazer e meu pai passava o projetor com filminhos daqueles de rolo, sabe, os rolos antigos? Víamos filmes infantis, e isso me marcou muito. Lembro até hoje de uma das histórias: a da tartaruga que era órfã, nascida e criada pela mamãe galinha. Ela vivia com os seus irmãos pintinhos, e era muito meiga, carinhosa, tudo fazia para agradar seus irmãozinhos. Porém, nas brincadeiras do dia a dia, ela se atrapalhava porque andava muito devagar, sempre ficando para trás. Por isso os pintinhos a excluíam das brincadeiras e zombavam dela. Até que um dia, os pintinhos brincavam num barquinho de papelão, e caíram na água, iam se afogar. E foi ela, a tartaruga corajosa, quem conseguiu salvá-los um a um. A partir desse dia, todos os irmãozinhos pintinhos passaram a respeitá-la. Essa é uma das muitas histórias que me cativaram na infância. Também nessa época, meu pai gostava de gravar a gente cantando músicas e recitando poesias, e também no Natal era uma tradição criarmos peças de teatro em casa e apresentar. Essas referências colaboraram muito para desenvolver o gosto pelas artes e para minha formação. Foram momentos familiares muito felizes. Tanto me influenciaram que ainda pequena eu já fazia Ballet Clássico, porque já apreciava a música, a dança, as diversas formas de expressão. Quando cresci, estudei Teatro com Emílio Fontana. Depois fiz vários outros cursos de interpretação, com Marcelo Travesso e Wolf Maia. Depois que me formei como atriz, fiz Jornalismo na Universidade São Judas Tadeu, e fui qualificando na área de Cinema e TV. Fiz Curso de direção de fotografia em Película; porque eu queria aprender o básico para interagir com um diretor de fotografia na hora de dirigir um filme por exemplo. E também fiz curso de direção de cinema, na Academia Internacional de Cinema. E é assim, a gente não pode parar, sempre há o que aprender, e é isso o que me alimenta e motiva.

    3. Um trabalho realizado por você no cinema é "A Travessia da Serra que Chora", dirigido pelo Zeca Portela. Pode contar aos leitores da FIANDEIRA essa sua experiência e falar algo sobre o filme?
    Foi uma produção grande, realizada por meio de uma parceria entre a TV Aparecida e a TV Século 21. Eu fiz a produção executiva do filme, e posso afirmar que foi uma experiência única, inesquecível para todos que participaram deste processo. Éramos uma equipe técnica com mais de 60 pessoas, além dos atores. Foram 20 dias de gravação entre externas e locações fixas. O início das captações ocorreu na cidade de Itanhandu, MG. Depois seguimos pelo caminho da fé, percorrendo uma boa parte do trajeto realizado pelos romeiros. Terminamos as gravações com locações no Gomeral, em Guaratinguetá, e em Aparecida, SP. Foi uma jornada fascinante, porque em nosso íntimo, fizemos também uma caminhada interior paralelamente ao filme. O nome do filme A Travessia da Serra que Chora se deu por conta da Lenda da Serra que Chora, e que fala da origem das cachoeiras no meio das serras de Minas Gerais. Conta a lenda que havia uma princesa encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi, e que ela se apaixonou pelo Sol. Proibida de viver esse amor, ela foi aprisionada pelo Tupã nas montanhas. Ela chorou rios de lágrimas, Rio Verde, Rio Passa-Quatro, Rio Quilombo, Rios de águas límpidas. Seu povo esqueceu seu nome, mas chamou de Amantigir, a “Serra-que-chora”, Mantiqueira, a montanha que a cobriu…Conta a lenda que foi assim… Neste link, algumas informações sobre essa linda lenda. http://www.serraquechora.com.br/a-pousada/lenda-mantiqueira-que-chora/ A história do filme narra a trajetória de uma família quase destruída pelos acasos da vida. Até que o personagem central dessa família, o Zé, em busca de uma solução para os problemas em casa, faz um pedido a Nossa Senhora, e promete ir a pé de sua cidade até o Santuário de Aparecida, caso seu pedido seja ouvido. Sua oração é atendida de maneira surpreendente, então ele precisa começar sua jornada. O que ele não imaginava é que esta caminhada mudaria sua vida para sempre. Gravado em meio à natureza exuberante da Serra da Mantiqueira, o filme conta a história emocionante onde a fé e a perseverança resgatam os valores mais importantes da vida. Uma história de fé, linda e muito humana. Tivemos o apoio da Prefeitura de Itanhandu, em Minas Gerais, e de várias marcas regionais, como a Cibal que produz o guaraná chamado Guaranita e investiu uma verba em dinheiro, além de outras marcas que nos apoiaram com permutas, como por exemplo a Ecila Laticínios, além de Restaurantes e Hotéis que nos acolheram. O filme está disponível no Youtube.
    4. É atriz. Atua nos palcos. Tem algum personagem, entre todos, que possa ter deixado em você uma predileção ou uma impressão marcante?
    Todos os trabalhos foram muito importantes, porque marcaram um momento profissional e um caminho de aprendizado. Mas creio que o primeiro trabalho em TV, no programa de humor dirigido por Newton Travesso, o “Só Risos na Praça”, na TV Bandeirantes, foi marcante, por iniciar-me no universo da TV. E, ao longo da minha trajetória profissional, gostei muito da oportunidade de fazer no teatro a personagem Luíza, adaptação da Obra de Eça de Queiroz, O Primo Basílio. Uma montagem linda, que exigiu muito preparo para ficar 1 hora 40 minutos no palco o tempo todo... Eu não saía de cena. Essa peça e personagem marcaram tanto, que em 2014, retorno com esse espetáculo, outra montagem, outro diretor. Uma nova fase, após 12 anos! 


5. É responsável por um quadro na Paulinas no qual entrevista personalidades do mundo literário. Pode nos falar sobre esse trabalho?
    O programa de entrevista, anteriormente, era um quadro dentro de um programa de TV. Era exibido na TV Aparecida. Mas antes de virar um quadro de entrevistas, era um quadro formato de merchandising, no qual a apresentadora, no caso eu, falava diretamente sobre o produto que seria divulgado no dia. Foi então, que fiz a proposta de mudarmos esse formato e fazermos um programa de entrevista, no qual escritores, ilustradores e produtores, falassem sobre suas obras, mas principalmente, sobre suas histórias de vida e pensamento. Uma forma de mostrar a pessoa por trás do trabalho. Para conferir basta entrar no site da Paulinas TV, e lá, buscar Dica Paulinas. Ou no meu canal no Youtube.
Cartunista Fê entrevistado por Paula Oliveira ©
    6. Tem um projeto de longa-metragem. Quando teremos esse grande acontecimento em sua vida?
    O filme vai apresentar situações cotidianas, rotineiras, porém, profundamente humanísticas e existenciais... Um filme otimista, que terá humor, sensibilidade e emoção...creio que as pessoas vão se identificar bastante e por meio dessa história, repensar valores de vida. Tem muito da minha história, mas não é autobiográfico. Não posso falar muito ainda sobre esse projeto porque ainda não terminei o roteiro! Mas é um projeto que pretendo realizar em 2015!
    7. É também coordenadora de projetos audiovisuais na TV APARECIDA? Como é esse seu trabalho?
    Trabalhei durante três anos como coordenadora de projetos audiovisuais na TV Aparecida. Mas atualmente, estou na Editora Paulinas.

    8. Além do teatro e do cinema, tem uma terceira paixão, que é o jornalismo. Em que medida as três se entrelaçam em sua vida?
    Na minha cabeça, tudo está interligado. A jornalista faz a pesquisa, busca a informação e escreve a história. A atriz atua nas diversas áreas *(TV, teatro, cinema) e essa formação ampla, me permite tanto ser melhor como entrevistadora ou apresentadora, como inclusive dirigir um filme com mais propriedade, porque entendo o lado do ator e da roteirista. Também desenvolvo trabalho musical há muitos anos. O grupo do qual faço parte se chama MB (Modo Brasileiro). São músicas regionais, estilo MPB, porém o trabalho que desenvolvemos ainda é mais de Raiz. Eu creio que na arte e na comunicação não existem fronteiras. Porque tudo na vida comunica... tudo é comunicação. E a arte, sem a menor sombra de dúvidas, foi a forma que eu escolhi, ou fui escolhida, para expressar-me. Sempre que aceito um desafio profissional ou escolho uma tarefa penso: tem de haver o amor e envolvimento: eu não consigo realizar nada sem essa entrega. É como me sinto feliz...

    9. Também atua como publicitária. Poderia nos expôr como ingressou nesse universo da publicidade?
    Trabalhei em uma agência de Publicidade, chamada Aspas Comunicação. Muito do aprendi em publicidade veio da prática nesta agência, em 2006. Lá tive a oportunidade de fazer o roteiro do filme Institucional e comemorativo dos 50 anos da Scania no Brasil, narrado por Paulo Goulart. Foi o primeiro roteiro significativo que fiz. Depois passei a trabalhar com televisão, eu fazia coordenação de projetos audiovisuais. O campo ampliou-se, e naturalmente, passei a criar filmes e roteiros para comerciais de TV, e dirigir as gravações dos filmes publicitários. Esse filme está no meu canal do You tube!
    Comercial de Natal na Paulinas
    10. Pergunta já datada: de acordo com o avanço e consolidação da era tecnológica, acredita no fim da era do livro de papel?
    Não. Acho que apesar de toda a tecnologia, não existe relação que apague o contato com o papel, o ler folheando as páginas. Com os livros digitais apenas ampliam-se as possibilidades da leitura.

    11. Você é muito fiel aos amigos. A amizade é, para você, um tesouro na vida? Diante dessa questão, ainda é insuperável uma amizade na vida real?
    Os amigos de verdade são para todos os momentos: alegres e tristes. Eles te consolam quando você perde um emprego, um parente, te consolam quando uma relação termina. E comemoram as vitórias ao seu lado. Acho que o laço entre os verdadeiros amigos é um laço puro, sem interesses. Assim como a relação familiar, o amor de pai, mãe e irmãos. Amigos são familiares que a gente escolhe. E sempre nos surpreendemos com eles. Ter amigos de verdade é uma dádiva e te dão o calor humano e tranquilidade de sentir-se em casa!


    12. Tem uma estreia para o início de 2014. Qual é a peça? E qual sua expectativa para esse trabalho?
    Entro em cartaz com a peça O Primo Basílio, dia 27 de fevereiro. No Teatro ETA, rua Major Diogo, 547. Já deixo meu convite a todos os leitores da PALAVRA FIANDEIRA. Aguardo vocês lá!

    13. Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
    Viver com amor, simplicidade, aberto ao novo, não acomodar-se com o que não faz feliz, e não deixar de acreditar e buscar os sonhos... Sempre valorizar cada momento vivido. E principalmente, pensar COLETIVO. Porque não estamos sós. Felicidade é pra todos.
Na estreia do filme Diário de Um Simples Poeta, no Cine Olido ©



Com o escritor José Arrabal ©



PALAVRA FIANDEIRA
Publicação de divulgação literária e artística
ANO 5 — 142 — EDIÇÃO PAULA OLIVEIRA
DEZEMBRO DE 2013
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques

Todas as fotos direitos reservados©

domingo, 10 de novembro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA 141


Entendo que, dentre as felicidades humanas, 
a mais intensa é a que resulta do que gostamos de fazer.



PALAVRA FIANDEIRA

ARTES, EDUCAÇÃO, LITERATURA
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE DIVULGAÇÃO CULTURAL
EDIÇÕES SEMANAIS
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
ANO 5 —Edição 141
Sábado, 9  Novembro 2013

JOSÉ ARRABAL


               1.Quem é José Arrabal?
—Com certeza um cidadão brasileiro nascido em 1946, na cidade de Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, descendente de imigrantes espanhóis e italianos, que sempre tem a estima de sua numerosa família.
Criança feliz e bem criada com carinho pelos pais, após os cursos básico e fundamental, completou cursos universitários e desde jovem exerceu suas mais diversas atividades profissionais.
É um constante professor que acredita no vigor do conhecimento de todas as atividades do saber, assim também um estudante cotidiano, leitor voraz e sem preconceitos, sempre lendo livros, narrativas de ficção, poesia e ensaios de quaisquer áreas, capaz até de ler as linhas das mãos, conforme fez questão de aprender com um amigo cigano.
É apaixonado pelas artes e culturas de todos os povos, desde seus mitos de origem até suas mais contemporâneas obras.
Nessas leituras e apreciação cultural, não se concentra apenas nos conteúdos das áreas ditas Humanas, pois tem idêntico olhar curioso pelas áreas de Exatas e Biológicas.
Privilegia a Música, toda a música do mundo, erudita e popular, igualmente atento à harmonia musical presente em todas as atividades artísticas, seja a música dos sons abstratos, seja a sonoridade rítmica dos traços, das cores, dos monumentos e das palavras.
Não menos, aprecia os esportes. É corintiano vibrante.
Gosta de nadar, em especial, no mar.
Professor, fez-se também jornalista e escritor de livros de ensaios e narrativas.
No jornalismo, exerceu suas atividades em assuntos de Política Internacional e também na expressividade da crítica de artes, mais focado na crítica de teatro e literária.
Escrever é hoje sua atividade mais constante, sendo autor de ensaios e narrativas, crônicas, contos, romances, poesia, histórias para todos, crianças, jovens e adultos. Obras publicadas em mais de 50 títulos editados por diversas empresas do circuito livreiro no Brasil e no exterior.
Tem muitos parentes e amigos. Gosta disto.
É pai de um jovem médico inteligente, correto, brilhante e humanitário.
É igualmente homem de crença religiosa em Deus, crente em todos os Deuses de todos os povos, pois são todos o mesmo Deus.
Não menos é homem de consciência e prática humanista, ciente de que nosso planeta existe para todos em vida comum democrática, associados com paz e fraterna solidariedade. Se assim não é o mundo, em sua realidade cotidiana, no seu entendimento acredita que assim precisa ser e haverá de ser, com sua existência de intelectual dedicado a favor do fim das diferenças sociais, no combates contra as injustiças, os preconceitos e a violência que ainda dividem a Humanidade.
Gosta imensamente de sua cidade natal, que sempre visita, pois mora em São Paulo há mais de 30 anos, sendo paulista adotado com paixão pela cidade, sobretudo por sua condição de urbe de todos os povos.
É de seu agrado viajar, no mais das vezes pelas diversas regiões do Brasil. Brasileiro entusiasmado pelo país, está ciente de que o melhor do Brasil é seu povo trabalhador. Entretanto, não desgosta de nenhum outro país do mundo, nem de qualquer povo, pois todos têm suas boas pessoas, suas belas paisagens, bons costumes não menos dignos de amorosa apreciação.
Se é homem com virtudes, é também homem com defeitos, o que busca enfrentar e superar. De suas qualidades virtuosas, a que mais preza é a modéstia, sempre atento a mantê-la.
Vive consciente da brevidade da vida, daí privilegia a certeza de que o melhor da vida, sua mais essencial conseqüência, é o legado fraterno e solidário que cada um deixa para todos na passagem da existência.
Por conta disto, gosta de semear o conhecimento e assim ser chamado de professor, o que, em seu entendimento, todos são, pois todos têm algo a ensinar a alguém, evidente melhor será se for algo para o bem comum.
É isso aí e não só isso, pois cada um é sempre muitos e também tão pouco e sempre tão menos do que gostaria de ser no decorrer da vida.
Que fazer?


2.Como consegue conciliar tantos afazeres e tantos compromissos culturais? Qual é o segredo da organização do tempo para tanto? 
Pergunta pessoal difícil de responder.
A bem dizer, não sei...
Faço o que considero significativo ou necessário, o que me faz feliz fazer.
Assim cumpro o sentido em minha vida.
Se é importante escrever um livro, não menos importante é fazer o próprio café da manhã ou conversar com um amigo, também viver desperto ou dormir, dar uma aula ou tomar um banho de mar, ler um romance ou ver um jogo de futebol, sobretudo gostar da vida e do próximo com paz, fraternidade, solidariedade. Cada gesto tem seu próprio instante preciso.
Verdade é que não sou homem metódico. Também é verdade que detesto o que me oprime ou oprime os outros. Agrada-me em especial a liberdade. Sobretudo, a liberdade para fazer bem o que gosto de fazer.
Entendo que, dentre as felicidades humanas, a mais intensa é a que resulta do que gostamos de fazer.
Creio que, se há segredo no método para cumprir minhas atividades... conforme induz a pergunta... esse “segredo” é muito mais uma evidencia: cuido do que faço com a mais precisa simplicidade, livre de vaidade, ganância, inveja, competição, egoísmo ou ressentimento.
Assim faço o que deve ser feito, com minhas modestas possibilidades de quem age de acordo com a consciência do bem comum.
Se viver tem vez que é complicado, às vezes até cansativo, é também possível simplificar essa situação da vida. No mais das vezes tento quando é preciso. Manter o bom humor é um bom instrumento para tanto. Não é impossível, nem é tão difícil, alegrar uma eventual tristeza. Pode crer.


3. É autor de livros de ficção para crianças. Conte, por favor, aos leitores da FIANDEIRA sobre sua produção dirigida ao público infantil.
—Sinceramente não escrevo livros de ficção para crianças. Conto e escrevo histórias para leitores de quaisquer idades. O circuito editorial é quem estabelece e determina o segmento comprador privilegiado para os livros escritos por mim.
Com certeza todas as histórias que escrevo principio contando essas histórias para mim e meu agrado. E, se me agradam, passo essas histórias a alguma editora para futura publicação.
Acredito que assim também deve agir o leitor, lendo histórias com o seu agrado de lê-las, sem preconceitos e com o empenho de aprimorar seu gosto pela arte da Literatura.
A bem dizer, a Literatura existe para aprimorar a arte de viver, o que todo livro nos concede através de sua trama, da vivência de suas personagens, de seus conflitos, de sua exposição vibrante e intensa das controvérsias da vida para quem lê.
Creio nisso e constantemente leio com esse propósito.
Se algum de meus livros tem o formato que o circuito editorial entende ser o de um livro para crianças, nada impede que um adulto leia esse livro, se sinta feliz e enriquecido pela satisfação de sua leitura.
Insisto em afirmar: escrevo os livros que escrevo para todos os leitores de quaisquer idades. Prefiro assim.


4. "Da Vinci das Crianças" ´´e uma de suas obras. Qual o eixo condutor da abordagem? O que torna esse trabalho curioso aos olhos da criança? E porque considerou importante a divulgação de Leonardo Da Vinci entre os pequenos?  
—“Da Vinci das Crianças” é só o título do livro.
No meu entender é um livro para todos os leitores, torno a insistir.
Trata-se de uma biografia romanceada de Leonardo da Vinci, livro com belas ilustrações e um texto de feitio que posso chamar de “autobiográfico”, pois seu narrador-protagonista é próprio Leonardo que, idoso, resolve contar sua vida ao leitor.
Escrever essa obra foi para mim uma travessia muito agradável, sobretudo por aquilo que aprendi ao elaborar o livro, reconstruir a vida de Da Vinci através de sua voz própria.
Agradam-me todos os livros que já publiquei. Vale, contudo, afirmar que este “Da Vinci das Crianças”, editado pela Paulinas em sua “Coleção Clássicos do Mundo”, é a mais bela de minhas obras, a mais bem escrita, a mais bem cuidada, talvez graças à grandeza sem igual de sua personagem principal, o próprio Leonardo.
Não em vão é obra que recebeu honroso prêmio da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ).
Em suas páginas, estão o Da Vinci artista e também cientista, sua múltipla paixão criadora pelas mais plenas e vastas áreas do conhecimento, as presenças do menino, do jovem e do velho Leonardo, circulando por atento painel reconstruído de sua época histórica, o Renascimento, período abençoado da história da Humanidade.
Se é “Da Vinci das Crianças” é não menos um Da Vinci para todos.
Disto estou certo e com esse propósito escrevi esse livro em homenagem a Leonardo, a seu significado histórico, à grandeza de seu legado genial.
Admiro Leonardo Da Vinci desde bem garoto.
Desde há muitos anos desejei escrever uma obra a seu respeito.
Creio firmemente que, com esse “Da Vinci das Crianças”, cumpri a contento essa minha antiga vontade. Desde então, publicada a obra, cabe agora a cada leitor me confirmar esse meu contentamento com a missão cumprida.
Que assim seja!
É minha agradecida homenagem a Leonardo Da Vinci!



5. Teve um de seus livros premiados pela conceituada Associação Paulista de Críticos de Arte. Pode nos contar sobre esse acontecimento em sua carreira literária?
—Foi mesmo uma premiação surpreendente. Evidente que fato feliz para mim. Era o meu primeiro livro de ficção publicado e de repente recebo um prêmio por ele.
Faz tempo essa premiação. Aconteceu em 1985.
Sem dúvida trata-se de um prêmio que me trouxe crescente segurança para prosseguir escrevendo e publicando histórias.
No caso, o livro premiado é “A Princesa Raga-Si”.
Um conto singelo com trama que muito me agrada ter escrito e decerto também agrada os leitores, pois ao longo dos anos a obra teve edições diferenciadas com ilustrações diversas e foi muitas vezes adaptada para o teatro, além de ter recebido esse honroso prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Agora mesmo, no limiar de 2014, será história republicada em mais um de meus livros, junto a outros contos que escrevi, em “O Livro das Dez Histórias”. Aguardem.


6."Deméter, A Senhora dos Trigais". O mito Deméter é fascinante. Poderia nos tecer algo sobre ele, a partir do enfoque do livro? 
—O livro “Deméter, a Senhora dos Trigais” é uma publicação da Editora FTD, na Coleção Aventuras Mitológicas. Teve várias edições em formato variado. E uma boa aceitação dos leitores. Mitologia grega é sempre fascinante.
Deméter é realmente uma deusa impar, mulher valente e símbolo da fertilidade. Consta que trouxe as primeiras sementes de trigo e de azeitona para a Humanidade. Que ensinou a semear e a colher, a fazer o pão e o azeite.
E não é só isso. É deusa senhora de um agudo feitio rebelde. Negava-se a desposar outro dos deuses imortais. Quis e foi esposa de um simples mortal. Certa vez desafiou Zeus e o próprio Olimpo. Com igual coragem, enfrentou Hades, senhor deus do reino dos mortos.
Tais ousadias concederam-me o desejo de romancear sua travessia mitológica num livro composto em prosa poética.
Demeter, a Senhora dos Trigais” hoje é obra esgotada, fora de catálogo.
Em breve, vou cuidar de sua republicação.
Espero que sim.


7.Num de seus depoimentos, fala do "vasto romance que todos escrevemos pelo prosseguir da existência", poderia presentear nossos leitores esmiuçando esse seu pronunciamento?

—Estou convencido de que a história de vida de cada um sempre reúne passagens que são realmente fortes e/ou singelos contos, muitas vezes verdadeiros romances vividos ao longo da existência.
Basta recordar o vivido para nos certificarmos disto.
Alias, o próprio Leonardo Da Vinci (que, dentre as múltiplas coisas que fez, ao ser artista pleno e cientista múltiplo, também escreveu contos, preciosas fábulas, invenções conforme as considerava) afirmava que inventar histórias é a mais fácil das invenções. Para tanto, dizia Leonardo, “basta recordar”.
Eis por quê entendo que a vida de cada um sempre reúne contos e, não menos, culmina num romance. Ciente disso e por isso estou convencido de que a Literatura criada pelos escritores, por sua intensa similaridade com a vida, nos aprimora a arte de viver, melhor nos ensina a viver.
Quem lê cotidianamente contos, romances, poesias, bem sabe disto.



                   8. Na infância foi agraciado com o rico privilégio de ter uma professora contadora de histórias. Como vê atualmente, em nossa época transitória para a era tecnológica, a influência ou necessidade do contador de histórias? 
—Pra começo de conversa todas as épocas são transitórias. A tecnologia contemporânea é só mais um instrumento para a vida dos homens, instrumento para o bem e/ou para o mal, assim como foi a roda, nos primórdios da Humanidade, assim como foi a prensa de tipos móveis de Gutemberg produzindo livros em série no Renascimento, aliás invenção nem tanto de Gutemberg pois tal máquina que já existia na China há mais de mil anos.
Não creio que a dita atual “era tecnológica” venha a por fim à valiosa precisão de contar histórias, ouvir histórias, escrever e ler histórias.
Bem se sabe que todas as eras tiveram seus desenvolvimentos tecnológicos próprios e aparentemente surpreendentes e mesmo assim o homem sempre gostou de inventar e apreciar narrativas. De fato, todos os povos sempre inventaram e apreciaram suas narrativas.
Alguns teimam em dizer que o fascínio pela internet afasta os jovens da arte de escrever, quando o que acontece é justamente o contrário. Hoje há milhares de blogs de jovens escrevendo suas histórias para anônimos leitores da web. Hoje qualquer escritor antes inédito, graças à rede, tem muito mais facilidades de distribuir sua Literatura – narrativa ou poesia – para milhões de leitores do planeta, através da internet.
Outro dia, um jovem amigo, após escrever um pequeno conto inspirado num sonho da madrugada do mesmo dia, postou esse seu conto na web, história ilustrada por ele próprio.
Pois bem, no dia seguinte, cerca de dez mil pessoas dos mais diversos países haviam compartilhado a leitura desse dito conto em facebook, com traduções simultâneas e comentários surpreendentes.
A bem dizer, o que ele fez foi tão somente contar sua história utilizando as facilidades do instrumento que ele tinha em mãos, ou seja, a web.
Tenho livros que são baixados por leitores na internet, a bem dizer, pirateados, redobrando suas tiragens impressas. Não me importo com isso. Acho ótimo, pois isso me confirma que alguém quer mesmo ler o que escrevi. E tem vez que percebo fato surpreendente. Se o livro é baixado assim, digamos clandestinamente, enfim, pirateado, logo em seguida crescem suas vendas no circuito editorial.
Então, sem medo da contemporaneidade, vamos prosseguir contanto histórias, ouvindo histórias, escrevendo e lendo histórias, seja onde for.
Que assim seja.
E quanto à professora que me contava histórias no curso primeiro, mestra que me alfabetizou contando histórias em nossa sala de aula... vale confirmar... sempre foi uma mulher genial, para mim, inesquecível, sempre me recordo das histórias que ela nos contava ou lia para nós, seus alunos.
Creio que também graças a ela sou escritor.
Seu nome é lindo, belíssimo o nome dessa professora: Zoé!
Pois é nome de origem grega que significa Vida!
Uma bênção, um presente de Deus para mim!



9.Quem é "A Princesa Raga-Si"?    
—Uma princesa das Índias que inventei. Mocinha que vivia trancada em seu castelo, com medo de sair às ruas, de viver a vida com dinamismo.
Mocinha danada de tímida, com um medão de sujar seu branco vestido de princesa, caso se lançasse ao mundo, convivesse com as demais pessoas, compartilhasse com tudo o que nos rodeia e suas circunstâncias.
Pois bem... eis que um dia chega ao castelo dessa medrosa mocinha justamente um cego... que corajosamente leva Raga-Si com ele através das estradas da vida, mostra a vida à princesa... a vida e tudo mais, suas cores, suas flores, suas gentes, as estações do ano e tudo mais ainda mais... o amor e até mesmo a morte o cego apresenta à princesa.
E o que mais acontece no percurso dessa história?
Quem quiser saber que leia o livro, obra ciente de que apenas são felizes os corajosos, pois quem tem medo da vida nunca é feliz. Pode crer!


10.Que inciativas considera importantes nas pessoas que pensam a Educação, para que as crianças possam ter acesso aos clássicos, seja na escola ou na sua vida comunitária (família, bibliotecárias, internet, amigos)?
—Todas, simplesmente todas. E, dentre estas, o prazer de contar histórias, escrever histórias, semear e distribuir histórias desde as mais simples às mais complexas, sem preconceitos.
Nesse sentido, o Brasil é um país privilegiado. O brasileiro adora contar histórias. Repare bem, se dois amigos se encontram, numa padaria ou botequim de São Paulo ou de uma cidade pequena, e passam a conversar, na satisfação do encontro deles, sempre um conta ao outro alguma história acontecida com ele ou com alguém mais. Brasileiro é assim, sempre um contador de histórias. E que bom que assim é.
Quanto aos livros clássicos, quem os conhece deve divulgá-los, pois todos os livros da literatura clássica reúnem as mais intensas, felizes e/ou controversas situações da vida. E quem os lê sempre mais aprende a viver.

11.Além de naturalmente arrojado, talvez seja o seu mais cativante projeto: transformar em romance o poema "Os Lusíadas", de Camões. Como está o andamento desse projeto? Será dedicado ao público juvenil?  

—É bem verdade que tenho o propósito de transcrever em romance o poema “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões. É sabidamente o mais importante poema da língua portuguesa. Obra poética genial que em prosa narrativa há de se multiplicar para o leitor. Creio que sim.
Trata-se de um trabalho difícil que me exige muita pesquisa, muito cuidado, precisão verbal, vigorosa criatividade, intenso respeito pela obra matriz.
Já estou além da metade do poema, neste meu novo romance.
Agrada-me o que já escrevi. Porém, ainda falta muito para terminar a obra. Creio que em um ano chego ao fim desse árduo trabalho.
Pronto, que ele seja uma justa homenagem a Camões, à história e ao povo de Portugal, também à Literatura em língua portuguesa.
No início do ano, estive em Lisboa. Visitei o Mosteiro dos Jerônimos, onde está o túmulo do poeta. Diante dele ajoelhei-me, orei e pedi a Luís Vaz de Camões que me inspirasse e protegesse no cumprimento dessa missão com “Os Lusíadas”.
Saí reconfortado do Mosteiro. Quem sabe abençoado.
Que assim me favoreça o futuro, ao terminar essa obra que tanto é senhora de meu dia a dia.



12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA? 
—Para tanto e tão feliz oportunidade (que agradeço a você, Marciano Vasques, amigo e colega escritor), prefiro transcrever aqui os parágrafos finais do capítulo “O Leitor é um Escritor”, que encerra meu livro “O Lobisomem da Paulista”, publicado pela Editora Peirópolis.
Que esta seja a minha mensagem final, minha Palavra Fiandeira, nesta longa e para mim muito honrosa entrevista.
Vejamos:
Creio que me tornei escritor devido a meu gosto por ouvir histórias e ler histórias, prazer tatuado em mim por toda essas aventuras na travessia de minha vida, atento ao empenho e esforço das abelhas de meu tio português.
Sei, contudo, que prefiro ler a escrever. Decerto, ler não dói.
Escrever às vezes dói, ainda que seja dor logo transfigurada no mais seguro prazer. Até mesmo creio que leio melhor do que escrevo.
Sei que há escritores que escrevem para ser amados. Outros, porque se julgam infelizes e criam, por suas histórias, mundos diversos, nos quais alcançam alguma felicidade. Há aqueles que escrevem porque não conseguem deixar de escrever. E os que escrevem porque não sabem fazer nada mais senão escrever histórias.
Creio que escrevo por conta do sabor de certas boas saudades, feito quem procura ter o tempo nas mãos por gostar do vivido, mesmo quando inventado. Por gostar imensamente da vida, esse vasto romance de Deus, com intriga e aventuras algumas vezes tão bem resolvidas ou tantas vezes expressas num rascunho rasurado, pleno de falhas que nos revoltam e nos levam ao desejo de reescrevê-lo, ainda que sempre obra-prima de Seu escritor.
Que Deus abençoe o leitor.”




PALAVRA FIANDEIRA

Ano 5 — Edição 141
09 Novembro 2013
PALAVRA FIANDEIRA

Fundada pelo escritor 
Marciano Vasques


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