EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 104


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PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL

Publicação digital de Literatura e Artes

EDIÇÃO  104

ANO 4 —Nº104 — 23 FEVEREIRO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

JOCÉLIO AMARO




1.Quem é Jocélio Amaro?
Cantor e compositor paraibano, chegou em São Paulo em 1998, trazendo na mala um bocado de poesias e canções, sonhos e esperança de colocar sua musicalidade nessa cidade, e atuou no circuito alternativo ocupando, bares, oficinas e casas de cultura, eventos na praça, passando pela Virada Cultural em 2009.

2.Recentemente, magistralmente, interpretou Luiz Gonzaga. Como é para você essa necessidade de preservar nossas autênticas raízes musicais?
Luiz Gonzaga é responsável pela travessia da Música Popular do Brasil, aproximando o Nordeste do Sudeste, e todo o Brasil. O Brasil foi entrelaçado pelo Rei do Baião.
Não se discute a Música Popular Brasileira sem passar por essa grande referência. Sempre que canto Luiz Gonzaga me emociono. É como se devolvessem as minhas raízes.
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3.De vez em quando se envolve em andanças pela Paraíba e pelos lugares do seu sertão. Como é esse contato, a cada volta sua?
Sempre que vou a Paraíba, tenho tocado em alguns projetos ; como o arte retirante: patrocinado pelo Banco do Nordeste Brasil.
Além dos eventos de Secretarias de Cultura de cidades vizinhas, ou seja: consegui construir uma agenda pelos palcos do nordeste.


4.Uma de suas letras de suas canções fala da América Católica. Como originou em você essa composição, em que momento, em quais circunstâncias?
América católica é uma oportunidade de se fazer um reflexão do crescimento do catolicismo, do patrimônio que o vaticano construiu, do papel dos jesuítas no processo de colonização ora atuando na catequização e por outro lado abrindo as portas para a exploração das nossas riquezas por portugueses, e nossos colonizadores, ou outros.
Disco de Jocélio Amaro
5.Na literatura ainda resiste em alguns casos a mentalidade de grupinhos, onde jamais se cita o poeta, o escritor, que não pertence ao próprio grupinho. Isso ainda acontece na Música?
Um fato que me deixa inquietante e a forma de ocultarem os compositores, geralmente o interprete ocupa todos os holofotes mediáticos mais nunca citam os compositores da obra.


6.Comete uma fusão entre a Literatura e a Música, com letras profundas e verdadeiras. Esse “Acasalamento poético” é fundamental para nos salvar esteticamente na contemporânea arte sonora?
Quando você trabalha um texto, uma poesia, de profundo contexto literário você dá a oportunidade do outros ouvirem e perceberem o poema quando musicado, isso eu tenho buscado sempre, musicando poemas de escritores e poetas e buscando essa cumplicidade de lítero&musical.


7.”Este Cabra Sou Eu”, e outros exemplos, mostra um avanço no desrespeito aos direitos autorais, aproximando a realidade da Internet, onde com algum programa tecnológico, sem pedir licença, obras são parodiadas, adulteradas, etc. Como vê essa questão?
Virou fato comum alguns artistas se debruçarem sobre as obras de outros, atreves das paródias ou maquiando essas obras com novas roupagens, o que na realidade não deixa de ser um comércio que fere brutalmente os direitos autorais e isso requer uma discussão profunda por parte de autores.


8.Não poderia fugir dessa entrevista uma pergunta sobre Raberuan, a doce figura do incansável poeta cantador. Poderia nos falar algo sobre esse artista que fisicamente nos deixou?
Aprendi muito com Raberuan, um poeta finíssimo que trabalhava o romantismo com profunda beleza, dono de belos acordes e que deixou um grande legado na Música Popular Brasileira; outra característica era a beleza que levava para o palco ou seja ele tinha um domínio total com o espaço e sabia muito bem parar uma plateia para ouvi-lo.

Raberuan©



9—Como vê, de um modo geral, a situação do artista hoje diante da mídia?
Deixo claro que hoje vivemos uma ditadura mais violenta do que a de 1964, já que esta perseguia apenas ao ativistas políticos, intelectuais, e artistas que denunciavam o regime com suas obras. Hoje a mídia entra em todas as casas e independente de camadas sociais despejam todo o lixo comercial levando toda uma sociedade a uma paralisia total, ou seja sem o poder de reflexão.

10.Irá participar de um evento musical que já se aproxima, que é o “PAULINHO JEQUIÉ na Casa dos Cordéis , Show "Coração Cantadô" . Pode nos adiantar algo sobre esse acontecimento?
Cantar com Paulinho Jequié e prazeroso além de um grande compositor, interprete e um ótimo contador de causos. Essa experiencia foi vivida a dois anos e já se tornou um realidade nas nossas agendas.

11.Percebe-se vicejando uma fértil produção de cantores e compositores, fora do circuito comercial midiático. Poderia traçar para FIANDEIRA um panorama desses novos artistas contemporâneos?
Existem vários projetos alternativos que fazem com que não percamos as esperanças de levar a nossa musicalidade pelos palcos desse país, cito por exemplo: o projeto "fora do eixo" que tem sido uma alternativa acontecendo por todo país é uma forma de sobreviver pela arte. 


12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Que assim como a palavra fiandeira outros meios de comunicação e informação possam surgir como uma forma de resistência para continuarmos fazendo esse contraponto a toda uma mídia burguesa à serviço do capitalismo. 

Jocélio Amaro com Akira Yamasaki:A canção e a Poesia


PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital semanal de Literatura e Artes
Edições aos Sábados
Edição 104 —JOCÉLIO AMARO
Edição em 23 de Janeiro de 2013
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques 



PALAVRA FIANDEIRA—Todas as imagens ©

sábado, 16 de fevereiro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 103



Acho difícil escolher um momento intenso, 
pois todas as vezes que subo ao palco a sensação é incrível e singular.

PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL

Publicação digital de Literatura e Artes

EDIÇÃO  103

ANO 4 —Nº103 — 16 FEVEREIRO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

DENISE YAMAOKA



1.Quem é Denise Yamaoka?


   Natural de Santos - SP, iniciou seus estudos artísticos ao piano, cantando em corais e atuando em grupos amadores de teatro na baixada santista. Bacharel em Música –Hab. em Composição e Regência pelo Instituto de Artes da UNESP. Em 2003 ingressou como bolsista no Coral do Estado de São Paulo.E no mesmo ano participou do Festival de Inverno de Campos do Jordão como bolsista no coro de câmara, sob a regência do maestro Erick Westberg (Suécia). Também participou de workshops e masterclasses com Sheryl Millnes (EUA), Maria Zouves (EUA), e com o maestro Werner Paff (Alemanha).
             Em meados de 2006, ingressou no Curso de Canto Lírico da Escola Municipal de Música de São Paulo, sob orientação de Andrea Kaiser e desde então, já participou das montagens das operas: "L'Orfeu" - C. Monteverdi sob regência de Abel Rocha, "Così fan tutte"- Mozart sob direção de Mauro Wrona,  "Il campanello di notte"- G. Donizetti, "Tommy" Ópera Rock - The Who, “Ópera do Malandro” – Chico Buarque (numa adaptação para o Coral Municipal Zanzalá de Cubatão), "La barca"  - A. Banchieri e "O empresário" de W. A. Mozart, Em 2008, esteve em turnê na Itália junto ao Coral Luther King, onde se apresentou em diversas igrejas e teatros, sob regência de Martinho Lutero. Em 2009 e 2010 participou da montagem da ópera "Le Nozze di Fígaro" de W. A. Mozart, no papel de Susanna, sob direção de Eloísa Baldin, apresentando-se no teatro João Caetano e na Galeria Olido. No ano de 2010, se tornou bolsista da Fundação Magda Tagliaferro, orientada pela prof.ª Regina Elena Mesquita e viu a necessidade de retornar às Artes Cênicas e iniciou o curso profissionalizante no “Teatro-Escola Célia Helena”, onde desenvolveu também habilidades em maquiagem artística. Em 2011 participou da montagem da ópera “Carmen” de G. Bizet, sob direção de Mauro Wrona, no teatro do “Clube Paulistano” e participou da gravação do DVD “Queen Sinfônico” no Teatro Coliseu de Santos – uma produção da Banda Sinfônica e do Coral Municipal “Zanzalá” da Secretaria de Cultura de Cubatão.
No teatro protagonizou “Lisistrata” de Aristófanes sob direção de Ednaldo Freire; defendeu Irina na peça “Três Irmãs” de A. Tchekhov, sob direção de Gabriel Miziara e atuou na peça “O Inspetor Geral” de N. Gógol sob direção de Rafael Masini.
 Atualmente está dirigindo cenicamente um espetáculo musical na baixada santista junto ao grupo “Broadway Voices” com estréia prevista para outubro de 2013 e atuando no musical infantil “Tic Tic Tati” sob direção de Roberto Lage em cartaz na rede Sesc.


2.É cantora lírica, atriz, maquiadora: a arte, de forma polivalente encontra a sua difusão em você. Há sensações diferentes entre ser atriz, cantora lírica...?

Quando se está em ação no palco, você pode ser motivado tanto pelas palavras e ações quanto pelos sons, ambas as artes são ricas em suas propriedades e a intensidade com que elas me atravessam não divergem, elas se completam. Um cantor lírico para expressar suas músicas, não conta apenas com uma melodia, ele tem que ir à fundo na compreensão do texto a ser cantado e na forma como irá interpretar e passar a mensagem musical, ou seja, ele tem que ser um ator também. 
As bodas de Fígaro 
3.É Regente do Coro da Basílica do Carmo e do Coral Infantil do C.C.A. Carmo . Fale, por favor, aos nossos leitores sobre essa sua atividade...

Cresci dentro de um movimento coral muito forte na minha cidade, foi uma época muito importante que foi decisiva na escolha dos caminhos que trilhei até aqui. Cantei num coral infantil que acabou se tornando infanto-juvenil e logo depois juvenil,  pois nós, crianças, acabamos crescendo juntos e mesmo com interesses diversos, com cotidianos diferentes, sempre tínhamos muita alegria quando tínhamos ensaio do coral, ou seja, éramos ligados pela música. Cresci e continuei com essa paixão, virei assistente de coros adultos, ingressei como bolsista no Coral Do Estado de SP e até hoje canto no Coral Profissional Zanzalá. Toda essa formação me desenvolveu tanto como musicista como socialmente, e por acreditar que o canto em conjunto traz benefícios a quem frequenta essas atividades e também a quem está em torno destas pessoas, procuro sempre manter grupos vocais, que é o caso desse dois coros. Sou muito agradecida pois a Basílica do Carmo e a diretora do CCA. Carmo me abriram as portas e deram espaço para eu criar o Coro Infantil, por acreditarem na música inclusora social e formadora de jovens. Já o Coro da Basílica do Carmo, é um coral tradicional da igreja. Ele foi formado há 5 anos pelo Frei Vinicius em conjunto com entusiastas da comunidade que atualmente me ajudam na parte burocrática do coro. Assumi a regência do Coro ano passado, fui muito bem recebida desde o começo e acho que mais do que ser regente deles eu aprendo muito com as experiências compartilhadas. Posso dizer que meus coros são meus amores.

 Lisistrata
4.Como cantora lírica, poderia nos expôr algum momento que possa ter trazido uma felicidade especial em sua vida? Ou, pela intensidade da alegria em sua mente em cada apresentação, poderia nos destacar um de seus momentos?
Acho difícil escolher um momento intenso, pois todas as vezes que subo ao palco a sensação é incrível e singular. Mas posso citar um  momento marcante que foi a primeira montagem de ópera a qual participei. Isso foi em 2005, no auditório da Unesp. Foi uma montagem estudantil da ópera "La Clemenza di Tito" de W. Amadeus Mozart, eu estava no papel principal, o "Sextus". Lembro-me de ter menos de um mês para aprender o papel, entrei no meio do processo pois quem faria o papel acabou saindo. Eu tinha acabado de iniciar meus estudos de canto e na última récita, no momento em que minha personagem estava em uma das cenas mais fortes, de rebelião, senti uma energia tão intensa, me senti tão completa que creio que foi ali, naquele momento que não duvidei mais do que eu queria fazer pelo resto da vida.
As bodas de Fígaro

5.Ocorreu recentemente uma manifestação na Rede, em seu mural, contra a programação da televisão e até bruscamente, devido a insatisfação (que MERDA de repórteres e jornalistas as televisões estão contratando!). Poderia, gentilmente, nos falar sobre essa questão da influência da mídia televisiva no cotidiano?


Não sou contra as pessoas assistirem televisão, acessarem facebook, jogar vídeo game, procurando apenas entretenimento, passatempo... aliás, eu sou sim uma dessas "jovens antenadas" que gostam de diversidade e muita, muita informação rápida. Bem... esse episódio foi um grande desabafo aos meus amigos de facebook, pois mantenho minha conta controlada e então nem todos podem ler meus desabafos, numa manhã dessas onde eu só queria ouvir as notícias do dia e ficar informada, saber sobre economia, notícias do mundo e até mesmo saber o que tinha de interessante, alguma exposição, bienal, que até pouco tempo atrás os jornais mais serios da manhã tratavam desses assuntos, e acabei colocando em outro canal, que não costumo assistir, pois naquela manhã tinha acordado mais tarde do que de costume e no fim recebi uma carga de imagens pesadas de acidentes, assaltos e violência e isso tem sido muito frequente, e não era bem o que eu queria naquela manhã, se assumo que no fim, aquilo me gerou esse reação, como deve gerar em muitas outras pessoas, pois até meus amigos chegaram a discutir e concordaram, colocando até outros pontos de vista sobre o assunto. Mas o que mais me irrita é a questão de até onde podemos expor as pessoas, tanto no quesito de quem está sendo filmado "a notícia da vez", como de quem assiste. Quem assiste, ok... "que mude de canal!!!" Não acho que seja a solução. A solução é pensar melhor como mostrar a notícia. Um repórter quando vai ao local, pode pegar muitas informações e selecionar o que é pertinente e o que é supérfluo e "sensacionalista". Um câmera pode filmar um acidente, mas não precisa expor os acidentados e nem dar o "ZOOM" desnecessário, já na edição, esses cortes poderiam ser feitos, porque até mesmo quando "borram a imagem"  o trabalho não é bem feito. E isso tudo eu creio ser falta de limites, pois quando uma reportagem dessas vai ao ar às 9 da manhã deve sim haver um critério e um limite de exposição. A televisão, principalmente o canal aberto, pra mim é um forte meio de comunicação e informação e tem que ser tratado com muita responsabilidade e por mais que uma emissora de "abertura" os jornalistas e repórteres tem sim que ter cuidado e ética em seus trabalhos. E acho sim que a televisão perde de longe pra internet pois você tem que ficar esperando uma programação legal, um filme diferente, uma minissérie interessante.... e você tem tudo isso na mão imediatamente na internet. É só saber procurar! 



6.Estive muito recentemente em Santos, a cidade da minha vida. Poderia nos traçar brevemente a programação cultural dentro de suas performances, como música lírica, teatro... E com relação a você, algum espetáculo em Santos no primeiro semestre do ano? Tem algum projeto que já possa ser revelado aqui na FIANDEIRA?
Santos...Paixão de muitos!!!! A cidade é um verdadeiro celeiro de artistas, o movimento cultural é grande no quesito formativo e amador quando tratamos de teatro. São poucos os grupos profissionais sediados aqui em comparação ao número de santistas que estão atuantes no mercado na capital. Temos grandes movimentos teatrais e grandes nomes em nossa cidade, aqui está sediado o FESTES, FESTA, o MIRADA e o FESTIVAL DE CURTA, mas os nossos jovens, quando precisam dar um passo a frente, procurar um curso superior, uma especialização, um mestrado acaba tendo que deixar a cidade e dificilmente volta. Principalmente no quesito MUSICAL!!!! Nossa cidade não mais sedia o FESTIVAL DE MÚSICA NOVA, que um dos nosso grandes compositores, o Gilberto Mendes tanto lutou por esse movimento. Hoje há apenas um curso de formação superior em música na cidade, e a nossa orquestra... creio que não receba a atenção merecida. A ópera nem tem mais espaço por aqui... e olha que em nossa cidade temos nomes importantes no canto lírico nacional e ouvi dizer que realizavam-se montagens operísticas uma década antes de eu nascer!!!! Realmente a área musical precisa de muito carinho por parte dessa nova gestão que está chegando, precisa-se de planos de formação e incentivo, e olha, que gente com vontade pra fazer não falta, tanto de pessoas muito experientes e reconhecidas no cenário, como de jovens que estão em plena formação e com vontade de realizar coisas novas e diferentes... o que está faltando é espaço e muito incentivo!!!! 
Sobre minhas atividades, no primeiro semestre não tenho previsão de espetáculos na cidade, mas retornarei em cartaz com o Musical Infantil "Tic Tic Tati" com a cantora Fortuna. É um espetáculo musical em homenagem a Tatiana Belinky. Os poemas foram cuidadosamente musicados pelo Hélio Ziskind, e também tem canções da cantora Fortuna, os arranjos do espetáculo foram feitos pelo Gabriel Levy e a direção cênica ficou a cargo do Roberto Lage, eles são da uma equipe maravilhosa. O espetáculo está em cartaz na rede SESC e quem estiver interessado pode dar uma conferida na agenda neste site: www.fortunamusica.net.
Mas para o segundo semestre, o elenco do "Broadway Voices" deverá estrear um espetáculo em homenagem à Broadway após um longo processo formativo. O Broadway Voices é um projeto idealizado pelo Fernando Pompeu, Elizangela Lima e Denise Yamaoka visando a formação de jovens talentos da baixada santista que pretendem seguir a carreira artística. Será um processo muito interessante. Quem quiser saber mais é só visitar o nosso site: www.broadwayvoices.com.br.



7.A Rede é complexa, pois é nela que vigoram ciúmes, inveja, etc, mas é também um canal maravilhoso, uma, talvez a maior, imensa revolução na forma como os seres humanos se comunicam, e até, entre outras questões, modificou, de modo geral, o conceito de “Amigo”. Qual a sua visão/opinião sobre a Rede?
Acho a Rede incrível! Ciúmes, inveja e até macumba existem dentro e fora dela, basta apenas nós cuidarmos e muito bem como iremos utilizá-la e como nos proteger. Como eu já disse, meu mural é controlado: só vai ao publico geral o que eu escolho, recados pessoais devem ser tratados por mensagens privadas. O mural serve pra divulgação, trocas de vídeos, leituras, elogios, piadas, tudo com cautela... e vejo muito mais aspectos positivos do que negativos. A rede é ótima em velocidade e informação, precisamos ter consciência do que é relevante ou não... Através dela podemos nos comunicar até com pessoas que poderíamos nunca conhecer!!! Só temos que ter cuidado para não entregarmos tudo da nossa vida, pois nunca sabemos a real índole de quem está do outro lado. O que mais gosto mesmo é de ler biografias de cantores líricos, ver fotos, vídeos deles no YouTube, pesquisar livros e BAIXAR PARTITURAS!!!!! Tanta coisa boa! Acredito que eu aproveito e muito bem o que tem na rede! Mas claro, sempre lembrando que ela não substitui um encontro com os amigos no fim de semana, um abraço apertado e uma tarde de domingo com a família!!!!
8.Participou recentemente, da 1ª Mostra de Estúdios de Ópera de São Paulo. Conte-nos sobre essa sua apresentação, por favor.
Essa mostra foi realmente valorosa. Reunir jovens demonstrando seus talentos, sendo orientados da melhor forma, experimentando a alegria de subir num palco... é confortante para nós vermos que a arte operística esta plantando sementes e que se forem devidamente cuidadas teremos futuros artistas com qualidade e que talvez não precisarão ir para lugares distantes em busca de conhecimento. Mostras, encontros, workshops, festivais e até mesmo concursos devem ser mantidos e principalmente incentivados, pois neles há troca e interação com pessoas experientes na área e digo que temos músicos profissionalíssimos aqui no nosso país que sim se preocupam com a formação e a pesquisa para melhor passar seus conhecimentos à nova geração. Devemos valorizá-los e dar maior abertura para que suas experiências e vivências possam ser compartilhadas dando ferramentas e orientações para melhoria da classe operística no nosso país que infelizmente sofre preconceitos, é pouco reconhecida, recebe pouco incentivo, pouco recurso e tem pouca divulgação. E digo mais, necessita-se entender as diferenças de realidade na formação musical em diversos âmbitos, para que nos conservatórios e escolas de música os planos de ensino musical sejam compatíveis com nossos jovens e nossa realidade e não tentar forçar os jovens a trabalhar em "moldes" que não se adequam a nossa realidade. Essa mostra valeu como reflexão, experimentação e grande aprendizado e no fim, por falta de incentivo e de alguém interessado em levar a diante, não houveram mais Mostras de Estúdio Ópera. E não foi por falta de grupos...


9.O que é o "Grupo Experimental de Ópera"?

O GEO — Grupo Experimental de Ópera, surgiu a partir de uma ideia da minha amiga de longa data Marcia Malaquias. Reunimos jovens estudantes de canto lírico para estudos aprofundados dos processos de montagem de óperas. Estudos de história da ópera, caracterização, interpretação, contra-regragem, tudo o que envolve estes espetáculos além da atuação. Um processo de entendimento geral. Apesar de algumas mudanças do ponto de vista no meio do caminho, nossos esforços resultaram na montagem da ópera "As Bodas de Fígaro" de W. A. Mozart. Atualmente esse grupo se separou, mas gerou muitos frutos, todos que participaram estão envolvidos em outras montagens e concertos com renomados profissionais da nossa área, se ainda não estão, estão no caminho. Esse tipo de grupo de estudos é importante pois abrimos novos horizontes e podemos colocar em prática muita coisa que fica apenas na teoria no nosso cotidiano. E vale lembrar que desde sempre os artistas se reúnem para estudar, debater e explorar novas linguagem  e caminhos diversos para o desenvolvimento da arte num todo. A própria ópera acabou se desenvolvendo a partir da chamada Camerata Fiorentina, que eram músicos e poetas que se reuniam na casa de um conde para discutir qual a melhor forma de se valorizar um texto sem perder a beleza musical. Acho importante  nos espelharmos em tudo o que vem do passado para que com a tecnologia e a facilidade que temos hoje podermos aproveitar o que há de melhor em todos os movimentos artísticos sem perder a visão do que podemos desenvolver num futuro próximo, deixando para os outros material de discussão e criação.

Realizando sonhos


10 A conheci através de um convite para uma apresentação em Santos de um teatro infantil. Aprecia a Literatura Infantil? Considera, que seja definitivamente uma modalidade de literatura apenas para crianças?


A literatura infantil/infanto-juvenil é de extrema importância formativa na vida da criança/jovem. Por mais que haja muita tecnologia, jogos formativos, informação e até mesmo na escola a criança seja bombardeada com "metodologias do ensino" nada pode se comparar com um livro. Apenas o livro consegue transportar as pessoas instigando-as à criatividade e à reflexão. Além disso, o livro é uma forma maravilhosa da família cuidar e estar mais perto da criança. No momento da escolha da leitura, você pensa com carinho na sua criança, quando você se senta com um filho(a), sobrinho(a), neto(a) para ler uma história, certamente cria-se um elo inexplicável. Você criará valores de unidade sem impor, sem contar que a criança se sente amada e vai ser estimulada pelo resto de sua vida, pois quando ela pegar um livro, inconscientemente ela terá uma boa sensação deixada por estes momentos. e eu posso dizer que a literatura infantil não é apenas para as crianças não. Eça é para todos, porque tenho certeza que o adulto que escolheu e partilhou a leitura com sua criança certamente também apreciou e se deixou mergulhar na história. O adulto também se identifica!!! E tão forte pode ser essa identificação que essas histórias se mantêm vivas através deles, eis que os atores, os músicos recorrem às histórias, contos e poemas para criarem espetáculos, e darem forma às suas artes!

11.Falando em Infantil, como vê a Programação Teatral ou 
Musical dedicada ao público infantil atualmente no país, de forma geral?
O teatro infantil atualmente tem muitos formatos. Temos peças voltadas para conscientização ambiental e social, temos peças recheadas com grandes nomes da literatura mundial apresentadas de forma lúdica, temos peças interativas, contadores de histórias e também as peças comerciais voltadas para o entretenimento, tem até projetos de colegas que levam a ópera para o público infantil!!!! Muitas dessas peças a preços populares ou com produções voltadas para as escolas. Não faltam opções com qualidade. O que falta é a facilidade e a abertura para que esses espetáculos cheguem às cidades fora das grandes regiões metropolitanas e esses artistas serem cuidadosamente orientados e devidamente reconhecidos. Eu sinto, de verdade uma lacuna em espetáculos voltados para um público jovem, pouco vejo interesse em desenvolvimento de espetáculos para pré-adolescentes e adolescentes.
12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Realizar sonhos sem perder a essência, respeitar os mestres e a vida, aprender com os mais jovens e se adaptar as novidades, viver intensamente até o último suspiro, atravessar o outro com palavras e melodias. A tristeza nos faz crescer, e a felicidade, nos torna plenos.


No SESC Consolação

Com Thais Sanches Cardoso; Bárbara Martins Franco e Gleice Kelly


PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de artes e literatura
Edições aos sábados
Edição 103 —DENISE YAMAOKA
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques



sábado, 9 de fevereiro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 102


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PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL

Publicação digital de Literatura e Artes

EDIÇÃO  102

ANO 4 —Nº102 — 09 FEVEREIRO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

HELVIO LIMA

 "Nesta hora as vozes do mundo lá fora emudecem e o universo se amplia no atelier que fica imenso porque arte é vida e é hora de tecer novas urdiduras..."

"Domingo na Praça", obra do artista 

1.Quem é Hélvio Lima?
Mineiro, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, formado em letras neolatinas, sou autodidata nas artes plásticas. Comecei em criança, através do desenho, o exercício nas artes. A pintura das telas, a partir dos dezoito. Despertei para a poesia e a literatura no curso clássico e na faculdade. Taurino, 23 de abril, dia de São Jorge, sou um lutador, vou fundo nas coisas que eu gosto, e a paixão pela arte e a poesia, motivam meu trajeto nesta existência. Acredito que já tenha vivido muitas vidas e tenho outras tantas por viver. Sou um grande amigo, sincero com as pessoas com as quais me afinizo e grato a todos que cruzam meu caminho e me fazem crescer. Os desafios da vida é que nos ensinam. O aprendizado é difícil, mas necessário ao nosso aprimoramento. Busco a simplicidade, acima de tudo, na realização do meu trabalho, no convívio com as pessoas que nos rodeiam... Simplificar tudo para chegar à síntese, isto o ideal.


2.Como artista plástico já participou de mais de 300 exposições. Como é a sensação a cada nova exposição?
Desde a primeira exposição coletiva da qual participei aqui em Uberlândia, nos  conturbados anos sessenta, o desafio continua sempre o mesmo: apresentar um trabalho sério, arte, à observação do público. Submeter-se aos olhares diversos, eis a questão. De 1968 aos anos 70 expus em espaços alternativos de lojas e outros lugares, todos que apareciam, que atraiam a leitura de diferentes olhares e classes sociais. Num destes espaços mostrei um desenho grande de Guevara, um pastel/óleo, que motivou a anotação de meu nome por repressores de plantão na cidade. Os temas figurativos de cunho social sempre me atraíram. A série“Campônios/Operários”, levou-me ao reconhecimento inicial da obra. Um terrível incêndio na moldureira, uma semana antes do vernissage, em 1981, queimou 27 obras desta série. Este fato, profundo impacto em mim, mostrou-me a importância das obras que se cria, queridos filhos jogados no mundo.
 A ânsia e a expectativa que antecedem cada mostra nos impulsionam a renovar-nos com criatividade, mas a liberdade de expressão é que deve prevalecer acima de tudo. A partir da década de oitenta, com a premiação em alguns salões de arte, e exposições individuais em galerias de arte, não só em Uberlândia, como em outras cidades brasileiras, pude fazer melhor avaliação do significado e alcance da arte em minha vida. Mais de quarenta anos de carreira me proporcionaram maior segurança ao aceitar os desafios que uma exposição de arte nos impõe, porém, a sensação de uma nova mostra é sempre instigante, surpreendente e desafiadora.
Arte de Helvio LIma ©

3.Conte-nos sobre o jornal "Fundinho Cultural", desde a sua origem, aos seus objetivos.
Há 10 anos edito, no peito e na raça, sem apoios oficiais da cidade onde moro, mas com a colaboração de maravilhosos amigos, o jornal Fundinho Cultural, cujo nome se origina do bairro mais antigo de Uberlândia, o Fundinho. A idéia do jornal nasceu a partir da minha mudança de residência e atelier/galeria para este local. O objetivo da publicação, a princípio, foi trazer relatos significativos, depoimentos históricos de pessoas interessantes da cidade, entremeados de literatura não só dos escritores de Uberlândia, mas de todo o Brasil, e do exterior. À medida que as edições se sucedem, busco aprimorar a sua apresentação e o jornal ganha a apreciação e o incentivo de novos colaboradores. Costumo dizer que o Fundinho Cultural é um jornal de um artista plástico que gosta de escrever e publicar os escritores com o maior prazer. Indescritíveis e ternos momentos o Fundinho Cultural tem me proporcionado. As figuras dos mais vividos à minha porta sugerindo uma entrevista, uma matéria com alguém especial. A avó cujo neto em Dubai busca notícias do bairro onde nasceu. Aquela leitora que envia exemplares para seus parentes na Espanha ou nos Estados Unidos. Um série de histórias felizes. O Fundinho Cultural na tese de mestrado, a premiação “The Best Magazine/Cultural News”, nos Estados Unidos...

4.Vi uma postagem em seu mural com uma canção de Raberuan, artista querido e inesquecível aqui de minha região. Vejo também em você uma bela aproximação com poetas. As artes em suas múltiplas linguagens podem orientar os sentimentos do mundo?
Raberuan, conheço de pouco tempo para cá, mas já admiro bastante. Com suas lindas canções, saídas do coração, uma poética do cotidiano e uma voz personalíssima. Uma pena que ele já partiu para outro plano, tão prematuramente. Fui apresentado a ele pelos vídeos colocados no face, pelos poetas Escobar Franelas (poeta, professor e multimídia) e o Akira Yamazaki (poeta e produtor cultural), de São Paulo. Comecei o intercâmbio com poetas amigos de vários lugares, desde a década de setenta, publicando-os no jornal da empresa onde trabalhava. Continuo recebendo muitos livros e poemas e conhecendo novos talentos. E sempre grato pela gentileza das remessas, vou publicando-os no Fundinho. 
O que seria do universo sem as artes? As artes nos aproximam de Deus, e nos desprendem do chão. Que tristeza, pessoas com raízes no ter somente! E aqueles que só pensam em levar vantagem, baseados nas aparências, que sempre nos enganam?. Quem não tem um olhar para a arte e a poesia não olha prá dentro de si, não sabe o que é viver.
Entre os admiradores da arte de Helvio Lima, o lindo poeta Akira Yamasaki, 
já um fiandeiro.

Na galeria de amigos de Helvio Lima,
 Escobar Franelas, guerreiro da literatura e ativista cultural com alma de educador. 
Também já um fiandeiro.
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5.Sempre recebo belos postais com sua pintura e a reprodução de versos de poemas de poetas contemporâneos. Como é realizado esse trabalho? Como os versos são escolhidos? Pode nos falar, por gentileza, sobre isso?
Os postais, com minhas pinturas e versos do conterrâneo poeta Aricy Curvello, surgiram em 2001, a partir de um projeto inicial de 3 obras que participaram de um Salão Internacional de Artes, em Brasilia, e obtiveram o primeiro lugar. A série “O Chão que a gente pisa”, em acrílica e técnica mista sobre tela foi desenvolvida em cerca de 30 obras e quase em sua totalidade foram transformadas em edições especiais de postais que tem sido espalhados pelo mundo. No processo de elaboração, foram realizadas as pinturas e depois a busca dos poemas, de forma abstrata sem a obrigatória correlação com a obra, mas de certa forma com ela comprometida. O estudo e a admiração pela  poesia de Aricy Curvello, com seus temas da contemporaneidade levaram-me, com o consentimento do autor, a incorporá-la no trabalho plástico. Recentemente foi realizada em São Paulo, na Casa Amarela, com a curadoria de Escobar Franelas, uma exposição destes postais e algumas obras inéditas.

A arte postal de Helvio Lima, com versos de diversos poetas...

Entre os quais, Aricy Curvello

6.Promove uma mescla, uma sintonia elegante e apurada em sua arte, com motivos populares banhados num requinte de cores e técnica. Sua infância influenciou esse seu modo de ver e de fazer arte?
A infância feliz vivida em paz, num lar tranquilo, com muito amor, possibilita o equilíbrio da criança e norteia seus rumos. Natural de um lar de operários, o meu pai Iracy, desenhava bem, era pintor de paredes e me ensinou o segredo das cores. Minha mãe, Miquita, uma bandolinista, oriunda de uma família profundamente musical me ensinou a cantar. O meu avô era compositor e maestro do Jazz Band Az de Ouro. O tio, dono da Orquestra Tapajós, tinha a harmonia de  Glenn Miller em seu itinerário. Em criança ficava observando os varais da Dona Magnólia, as diferentes cores das roupas, e os canteiros de copos de leite, cravos e madressilvas. Queria saber o por que de tudo, e desenhava as primeiras formas que via com a pequena caixa de lápis de cor.
O exercício da cor é uma forte presença em minha arte e o desenvolvimento das várias técnicas me possibilitam expressar-me com liberdade. (grifado por Fiandeira)

7.A Rede é uma maravilhosa revolução na forma como as pessoas se comunicam e se relacionam, mas é nela também que vemos nos murais a reprodução de postagens arrogantes e preconceituosas, muitas vezes disfarçadas e elitizadas, como também piadas que reproduzem estereótipos, etc... Poderia, por favor, nos dar o seu depoimento sobre o que para você significa a Rede?
Demoro um pouco a acostumar-me e adaptar-me às possibilidades da informática. Mas, acredito que os tempos modernos nos impelem a encontrar na Rede os resultados para as buscas de cada um. Hoje, não tem como radicalizar-se em atitudes de negar o que foi criado pelo homem, talvez, para alguns, ativar meras conveniências das relações comerciais, mas existe um leque de novas possibilidades e abertura para rápida comunicação. As pessoas são livres para postar o que quiserem, mas, podemos ocultar os assuntos, vídeos e afins, que agridem nosso senso estético e nos causa insatisfações. Não sou favorável às denúncias, nem censuras, mas, cada um vê o que quer e tudo bem... Preencher com arte, cultura e sabedoria é sempre uma saudável dica. E fora com as postagens arrogantes e preconceituosas,  piadinhas de duplo sentido que geram discriminações. Vejo um bom vídeo, uma frase legal, um texto que nos desperta a criatividade e nos alerta para a solidariedade e o carinho pelo próximo, curto e compartilho com prazer.
Postado por Helvio Lima, na Rede, em seu mural.

8.Lembra qual foi a sua primeira pintura? E tem alguma que o tenha marcado de forma mais acentuada?
A primeira pintura, um óleo sobre tela, foi uma simples natureza morta, mas, a seguir quis pintar um conjunto musical de traços marcados, de tendência expressionista, para homenagear minha família de músicos. Esta obra faz parte do acervo do meu irmão Hélio. Pintei também uma série em pastel oleoso que retratava grupos humanos. Um grupo de crianças especiais em seu passeio pela praça conduzidos pela professora. Um quadro que retratava a explosão da alegria. Fiz o retrato de um casal de idosos, magros, o homem cego que pedia esmolas com um pequeno quadro de Nossa Senhora Aparecida. Eu os via passar por minha rua diariamente e os fixei numa tela. Pintava muito o que via, pelas formas quase acadêmicas.


9.Pode nos revelar um pouco como é o seu trabalho ao lado da companheira em seu atelier? E poderia também nos atiçar algo sobre o livro que pretende publicar em 2013?
Em nosso atelier/galeria no centro da cidade, situado ao lado da residência, trabalhamos, principalmente, quando cessam os ruídos da cidade, o telefone, a rotina dos filhos Renan e Isabela, as obrigações de todo cidadão comum. Trabalhávamos quase que diariamente com múltiplas exposições e projetos. Agora, intercalamos um pouco as atividades artísticas com as aulas do atelier livre que ministramos e as edições do jornal. Na paz do atelier do cerrado, onde Adélia Lima, minha meiga e generosa companheira há 37 anos, talentosa escultora, faz seus trabalhos de maior formato. O contato com a natureza, no campo, o encontrar-se consigo mesmo, sem telefone, sem campainha, só a passarada, nos alimenta... Tivemos em 2012 o projeto de um bom livro sobre minha história de 40 anos envolvido com as artes, aprovado pela Secretaria de Cultura de Minas Gerais, mas a não formação de uma equipe para isto e circunstâncias externas não permitiram ainda a realização deste sonho, mas a batalha continua neste ano. Tenho inúmeras críticas sobre minha obra, depoimentos de colecionadores e fotos das diversas fases para compor o livro.
Ao lado da companheira Adelia, com quem divide o atelier e a vida, entre as cores de seu viver.
10.O quadro da capa desta edição é lindo. Como é a sua rotina de produção de suas telas? Prefere as manhãs? Ou pinta nas noites? Fale um pouco sobre isso aos leitores de nossa FIANDEIRA, por favor.
Não existe uma rotina em meu trabalho, nem dia, nem hora certa para subir ao atelier e começar uma nova obra. Depois de um período afastado das tintas estou organizando o atelier para iniciar novos trabalhos neste início de ano.Tenho que me sentir completamente à vontade para produzir uma nova obra. Gosto de trabalhar à noite. Roupas velhas e leves, um radinho tocando, um lanchinho que sempre vem e deixa a vida rolar. Nesta hora as vozes do mundo lá fora emudecem e o universo se amplia no atelier que fica imenso porque arte é vida e é hora de tecer novas urdiduras...



(Ensaio na Praça)
Obras de Helvio Lima, entre cartões postais e quadros: fonte de cores e luzes.

11.Considera que alguns pintores tenham de alguma forma exercido alguma influência em sua formação como artista? Em sua infância, como se deu os primeiros contatos com a pintura. Lembra de algum autor que o tenha encantado de imediato?
Em criança, não tive contato com literatura específica à arte. Tive convivência com músicos mas não com artistas plásticos. O ambiente de onde eu vim era extremamente simples e a preocupação maior era suprir as necessidades básicas da sobrevivência, os estudos e a saúde. Nós todos, as pessoas da casa, estávamos envolvidos o tempo todo com trabalhos árduos e estafantes. No labor operário, ao lado de meu pai, na pintura de paredes, tive contato com os pigmentos e as cores e daí as primeiras experiências pictóricas, mas nisto não tive nenhuma aprovação dele. Um operário quer um filho médico, engenheiro ou advogado, não um artista ou um poeta... Pelo menos, este era o testamento lido diariamente nos meus ouvidos. Se insistisse neste assunto o coro comia, com certeza. Na adolescência e mocidade, a partir dos recursos vindos dos meus primeiros empregos, comprei alguns livros e frequentei as livrarias da pequena cidade. Gostei muito dos expressionistas, achei maravilhoso aquele estilo solto, denso e interior. Penso que no meu trabalho inicial carreguei alguma influência daquilo que vi nos livros. Impossível não citar a força expressiva de Van Gogh, Matisse, Munch, Modigliani, gênios que povoaram o meu mundo de sonhos.
 Van Gogh
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Modiglioni

12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?

Trabalho, trabalho e mais trabalho, com prazer. Assim a aranha tece sua teia e vive sua sina. A fiandeira faz a sua parte, tecendo dia e noite o seu destino.  E eu fico aqui tecendo palavras e agradecendo ao amigo, brilhante escritor Marciano Vasques a oportunidade de fazer meus relatos, contar um pouco de mim. Muita honra estar aqui neste espaço junto com tanta gente importante! Fiquei muito feliz em passar minha experiência de vida, meu caso de amor com a arte e a poesia, um caminho de muita alegria e realizações felizes. Grato amigo Marciano e grato a todos que puderem ler meu sincero relato. Abraços gerais aqui do cerrado brasileiro, com o canto das siriemas, dos mutuns, o sabor e o perfume dos muricis.

O artista com a querida família. ©





Arte de cores e luzes


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