EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 29 de setembro de 2012

PALAVRA FIANDEIRA 85





PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL 
ANO 3 — Nº85
29 SETEMBRO 2012

DANILO MARQUES




ilustração de Danilo Marques
caricatura de Danilo Marques








1.Quem é Danilo Marques?
Umcarade 38 anos, com a alma cheia de imagens e sonhos que parece ter cento e vinte ou mais; nostálgico, ama as coisas de um tempo que não conheceu, adoraria ter nascido na década de 10 para viver intensamente a de 30, ou mais antigo ainda ter conhecido o segundo reinado... enfim, um sonhador compulsivo, que ama sebos e museus, adora um dia cinzento e musica de qualidade, café preto forte e abraço demorado.
Ilustrador de livros e caricaturista de eventos.
Técnico em música com habilitação em trompete pelo Conservatório Musical André da Silva Gomes.
muito tempo se formou em tipografia pelo Senai e exerceu a profissão enquanto se achava tipografia nas gráficas.



2.Desenvolve um trabalho para as empresas, de realização de caricaturas e uma interação com o público. Como é isso?
Meu trabalho em tempo mais do que integral é ilustração de livros, porém esporadicamente faço caricaturas em eventos (festas de aniversários, confraternização de empresas, convenções, feiras, batizados de boneca, casamentos de cachorrinhos e etc). São cinco agências que fecham os trabalhos e me avisam: - Danilo, fechamos assim assim e assim, daí eu vou e faço.
Geralmente não caricaturo mulheres e crianças; as mulheres porque fico com de caricaturar, e as crianças porque geralmente tem o buylling na escola, então faço tanto de mulheres como de crianças, seus rostos próximo ao real; não real totalmente (retrato), senão demora muito e geralmente tem fila, mas também não satirizo; mas homens adultos são imperdoáveis e me divirto.

Danilo Marques e Simone Pederson

3.O que é exatamente um ilustrador?
Exatamenteé oautor das imagensenquanto o escritor é o autor do texto; Mas floreando a situação, o ilustrador é aquele ao leitor o melhor caminho para viajar no texto que está lendo, interpretando com estilo próprio o que o escritor transmitiu nas palavras.




4.Você é um personagem de quadrinhos, com superpoderes, que foi picado por um vidro de tinta radioativa?
Não tive este privilégio ainda, de estar nos quadrinhos, mas criei esta reinação em minhas biografias porque vejo os currículos dos colegas, e eles estudaram em Sarmede, fizeram faculdade de belas artes, estudaram com este, com aquele, foram pra França, pra Alemanha, ganharam não sei que, se formaram não sei onde... e então um dia chegou meu momento de colocar biografia nos livros e o que eu ia dizer? Pois nunca pisei num curso de desenho, não tenho formação universitária, jamais saí do Brasil nem pra comprar muamba no Paraguai, o que escrever? E agora? Então contei agruras, falei que eu passei situações escabrosas, que trabalhei disso, daquilo, daquilo outro, e olha que fiz de tudo, de vender picolé empurrando carrinho até trabalhar em rádio, de linha de produção de metalúrgica até mestre de fanfarra, então ficou enorme... não era legal o tamanho e nem era legal desfiar rosários de lamúrias...
Então decidi usar essa ficção, cada dia aumento um ponto, risos...
No ultimo livro que ilustrei,A princesinha Marta e sonho de criança, de Lourdes Curra, editora Maneco, escrevi assim:
Nasceu na manhã de 10 de Março de 1974 na cidade de São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo; ainda muito pequeno, foi picado por um vidro de tinta radioativa
(ele tinha boca e dentes) e adquiriu (acredita) poderes de transformar pensamentos em imagens.
Até tem "o no chão", apenas não esta o tempo todo.
Segue traçando sonhos sobre o papel, eles vão tomando forma, assumindo cores, vez por outra lhe dizem: "Adeus". E se vão de mãos dadas com as palavras.
Atualmente tem 66 livros ilustrados e mais alguns que estão sendo preparados na fantástica fábrica de desenhos que fica duas luas da terceira estrela à esquerda do quadrante dos anjos sonhadores...


5.Como foi sua infância, e quando surgiu em você o gosto pelas cores e pelas imagens?
Minha infância foi boa, brinquei na rua no tempo em que se podia brincar na rua, embora gostava mais de ficar em casa desenhando, reinando com miniaturas de bichinhos de plástico que eu dava nome, e ficava fazendo vozes e muitas histórias, as vezes eles ate iam ao Polo Norte, era no congelador da geladeira.
Minha mãe tinha que insistir pra eu ir brincar na rua porque eu ficava mais nos meus desenhos, ou lendo gibis ou brincando com os bichinhos. Então eu ia pra rua jogar bolinha de gude, rodas pião ou brincar de qualquer coisa... enquanto eu ia saindo obrigado meu irmão vinha entrando obrigado também porque ele tinha suado, brigado, se rasgado, se machucado e se divertido, pois na cabeça dos adultos eu não me divertia, mas eu me divertia muito no meu mundo meu.
À noite caçava vaga-lumes, também adorava colecionar joaninhas de diferentes tipos. Não, não nasci no interior, sempre vivi na Grande São Paulo, mas naquela época tinha menos poluição e mais mato.
Sobre o gosto pelas imagens não sei quando surgiu, meus pais dizem que com três anos eu desenhava de ponta cabeça começado os rostos pelo nariz; fico aqui pensando... lecionei pra jardim de infância e me lembro que tem uma época que as crianças escrevem o nome espelhado... acho que eu estava nesta fase porem no desenho ao invés da escrita. Então minha mãe forrava as paredes com meus desenhos nos meus aniversários. Fomos uma família pobre, meu pai era vendedor, é até hoje, minha mãe era costureira, virava noites costurando para nos sustentar pois o trabalho do meu pai não rendia, ela se desgastou por nós, morreu aos 43 anos de Lupus; pintou muitos quadros a óleo, acrílica, fez gravura em latão, artesanato em vidro, possuía muitos cursos de artes plásticas e artesanato e também de cabeleireiro e corte e costura, este ultimo sua profissão onde fazia vestidos para muita gente de perto e de longe, cortava nossos cabelos, cozinhava deliciosamente bem, arrumava a casa cantando, era caprichosa em tudo que fazia, nos amava muito e sempre foi demasiadamente carinhosa e zelosa, era exigente conosco mas sempre cheia de amor e carinho; chorou muito em diversas ocasiões em que, como éramos novos demais, não tínhamos noção da causa da tristeza, hoje eu sei, ela sonhou muito e realizou pouco.




Ziraldo, por Danilo Marques
6.É também um animador de festas? Conte aos nossos leitores sobre isso.
Então, como disse no inicio... as caricaturas que faço são em eventos de todo tipo. Durante o ano tem muitos aniversários, no fim do ano tem confraternizações de empresas... e as agencias que me enviam querem que eu anime.. que brinque, faça piadas, pois junto comigo, na festa, vai mágico, palhaço e etc, então tenho que brincar também, é muito divertido, é troca de energia.

7.Ilustrou, quer dizer, deu traços ao personagemO Blogueiro. Como foi essa sua experiência?
O Blogueiro me lembra os caras que sabiam de tudo quando eu era pequeno... eu sempre admirei pessoas que sabem de tudo um pouco, conhecimento geral, ou seja, o que chamamos hoje de nerds, amo nerds...rs... então, idealizei o blogueiro como os nerds do tempo em que eu era criança e eles eram adolescentes quase adultos... cabelos compridos, óculos, magros, um estereótipo... e o estilo narigudo, mãos e pés grandes é um estilo que adquiri para ilustrações adultas. Quando a editoraAve Mariame convidou para ilustrarNos bastidores do altardo Padre Írio Luiz Rissi, me mostrou um desenho meu e disse que queria aquele estilo, então invisto sempre nele.



8.Você ilustrou uma antologia intitulada CORDÉIS ENCANTADOS. Quem foi o organizador? Fale desse projeto.
Quem organizou cordéis encantados foi Izabelle Valladares. ilustrei mais de cinco antologias organizadas por ela e vários outros livros dela e de autores de sua editora, a Literarte. É uma antologia de textos regionais, ilustrei somente a capa. Dentro tem texto. A capa eu fiz uma cena de uma Rapunzel do agreste... o rapaz com gibão e chapéu de couro está lendo o cordel à Rapunzel, que não aparece, somente as tranças... o desenho é vazado, eu fiz o traço a mão, escaneei e no photoshop deletei a parte branca, deixando de fundo um papel amarelado velho.

9.Num mundo complexo você é simples e busca sempre as amizades. Que importância tem em sua vida os relacionamentos?
Eu amo meus amigos e amo ter amigos. Amizade de verdade tem amor, tem troca de energia, tem verdade; acontece briga, acontece discussão, porque somos indivíduos e conflitos acontecem; também tem desabafos, tem troca de conselhos, tem zelo e cuidado mútuo;se todo mundo fosse amigo dos amigos, ao invés de simplesmente conhecidos, não haveria as doenças modernas: stress, depressão e outras coisas. Meu avô uma vez me disse:Meu filho, ai daquele que não tem na vida seis amigos que lhe carreguem no ultimo dia... e eu me lembro que em seu funeral as alças eram disputadas como prêmio olímpico. Amor de casal é conveniência muitas vezes; noutras vezes nem tem mais amor, apenas tolerância ou comodismo e muitos casais se obrigam a viver como pessoas sem amor debaixo de um mesmo teto com uma das partes se anulando para que o convívio seja menos pior, outras que até se tornam grandes amigos, mas por não ter mais amor homem-mulher acabam numa situação delicada e critica, porque é complicado na cabeça de muitas pessoas que um casal pode se separar e continuar amigo e que isso é o melhor para ambos. Não existe amor maior que amizade. Eu sou grato a tantas pessoas que me cercam, muitas delas que até pedem desculpa por acharem que se intrometem na minha vida, o que não é verdade, se entram em minha vida e dão palpites e até broncas, eu não sinto como invasão, eu sinto o amor delas querendo me ver feliz e cada dia mais realizado. Tenho alguns grandes amigos que sei que me amam muito e eu a eles tenho aqueles amigos que são irmãos que escolhi pra mim e eles também, e tenho aqueles amigos que gostam de conviver comigo mesmo que à distância, ou virtualmente, e a recíproca é verdadeira, não faço ideia de quantos são os meus amigos, pois todo dia faço algum, e não gosto de ter conhecidos de oi, tudo bem! e tchau, quero amigos,intrometam-seem minha vida, por favor, desde já, muito obrigado.

Com Nireuda Longobardi
10.Você também escreve?
Sim. Passei a adolescência escrevendo poesias, adoro a escola byroniana, o que é no Brasil a segunda geração românica; aquela de Álvares de Azevedo e Junqueira Freire. Não faço a mínima ideia de quantas poesias escrevi na vida... em 2003 trabalhei como escritor para uma empresa que fazia telemensagens, eu escrevia mensagens para namorados, amantes, casais, pais, mães, amigos, satíricos e etc, e era gravado em estúdio por locutores, e eram vendidos em kits de CDs e um telefone adaptado para as pessoas trabalharem em casa com telemensagens.
Depois em 2005 eu voltei para esta empresa, porem agora eles eram editora de livros de bolso de 16 páginas vendidos em catálogos... não tinha ISBN, nada, por isso não contabilizo como livros... mas escrevi muitos deles... juntando os que ilustrei, os que escrevi, os que fiz a capa e etc, foram 210 volumes.
Alguns textos meus podem ser encontrados no recanto das letras.

11.É um criador de personagens. Fale-nos de sua galeria de tipos.
Na infância e adolescência criei muitos personagens para minhas próprias histórias...
fi crianças, heróis, underground e etc. Hoje faço somente os personagens que os escritores criam, apenas dou cara para eles... Se adultos costumo seguir o estilo do Blogueiro ou caricatura se é personagem real... se criança sigo um estilo feito de uma mistura de Ziraldo e Mauricio, mas gosto de ambientar em épocas distantes, se oportunidade. Não gosto da modernidade; quando crio personagens, geralmente tem chapéus, gravatas, sapatos, andam sobre paralelepípedos, etc. Meus personagens são geralmente aquilo que eu gostaria de ser e vivem onde e quando eu gostaria de viver.
Um personagem meu que gosto muito é o doutor Luvinstein, no textoO doutor dos espíritos (veja recanto das letras)



12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Eu não acredito em predestinação. Acredito em sonho.
Todos sonhamos, seja em qualquer área.
Eu sonhei muito, e sonho até hoje.
Tenho ainda muitos sonhos... alguns me entristecem, principalmente aqueles que são muito simples de realizar e por alguma teimosia da minha alma eu não realizo, estando a um passo da felicidade; outros me alegram mesmo sem os realizar, de pensar neles me alegro, de tão bons que são.
Algumas pessoas chamam de canalizar; outros de lei da atração, deo segredo.
O que importa mesmo é viver aqui dentro da alma aquilo que a gente sonha sem medo de se frustrar ou jamais realizar... Eu sei o que é fome, sei o que é não ter dinheiro, sei o que é ouvir não da vida, como muitas pessoas que acham que a felicidade não é para eles, que a realização de sonhos é somente para alguns privilegiados. Não acredito nisso, não aceito, discordo, recuso.
Basta olhar Lincoln, Chaplin, Michael Jackson, Lady Di, John Lennon, Mandela, e aqui no Brasil temos Ronaldo, Zezé di Camargo, Lula, tantas histórias de pessoas que tinham tudo pra dar mais que errado e no entanto viveram tudo que sonharam.
LeiamO segredode Ronda Byrne , assistam ao filmeQuem somos nós”: tem no youtube, leiaChatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais, (já li e reli umas cinco vezes, tem umas 720 páginas) e entenda o que é sonhar do nada e realizar ao longo da vida o que se sonha...
Se eu realizei tudo?
Magina... eu sonho mais de 10 coisas todo dia, e se eu não realizar, não vou me frustrar, se todo dia eu realizar um pouco.
no meu mundo eu realizarei.






João Seresteiro, personagem de Danilo Marques


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