EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 28 de julho de 2012

PALAVRA FIANDEIRA — 76/ 148



PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL 
ANO 3 — Nº76 (Nº 148)
28 JULHO 2012



TERESA SENDA GALINDO











1.Quem é Teresa Senda Galindo?
Gosto de dizer que sou ilustradora de livros infanto&juvenis, ainda que não haja esta classificação profissional. É como me vejo, o que sou. Talvez seja melhor me definir como consumidora antes de produtora, pois vivo atrás de belas ilustrações e projetos.
Eu sou de 56, tenho este ano 56 anos… filha de japoneses, tenho um nome japonês, Reiko. Sou casada com Douglas Galindo há 27 anos, e dois filhos que me ensinam a viver, Douglinhas e Raquel. Douglas tem formação publicitária e também é ilustrador.
Sou cristã e procuro viver conforme os valores do reino de Deus.


2.Já ilustrou diversos livros para várias editoras. Pode aos nossos leitores contar um pouco essa história?
Desde o início a produção de ilustrações para livros foi em conjunto, Douglas e Teresa. Livros didáticos,paradidáticos, literatura, álbuns, jogos, com ênfase no público infanto&juvenil.
Trabalhar a quatro mãos não é fácil, pois cada um tem um estilo, experiência, técnica, e na hora da correria não é possível acertar tudo. Isso pressupõe muita paciência, tolerância, acordos e um alvo a alcançar. Já estamos neste trabalho há 22 anos.
Editoras Ática, Moderna, Saraiva, Scipione, Atual, SM, Paulus, Mundo Mirim;
Não são livros, mas trabalhamos conteúdo e arte para: Brinquedos Grow, Estrela, Toyster, Dican, caixinhas do McLancheFeliz;



3.Aprecia e parece apaixonada pela aquarela. Pode, por favor, contar a trajetória dessa predileção em seu fazer artístico?

Ao que chamamos de aquarela, na prática comercial usamos a ecoline, uma tinta líquida, já preparada para uso imediato, fácil de usar e com cores vibrantes.
Aprendi a usar os materiais como grafite, nanquim, ecoline, aquarela, gouache, no tempo da escola de desenho publicitário, na década de 70. Muitas ilustrações publicitárias como as editoriais eram pintadas em ecoline, com traços em nanquim.
Recebi muita influência de livros ilustrados japoneses, modernos e antigos; me apaixonei pela arte de Mucha, depois de Dulac, Hackham, numa mistura do fantástico com o sensual, todos servindo os contos infantis.A transparência da aquarela, a sugestão que oferecem à leitura da obra, são características que aprecio.
Com o uso cada vez maior da arte digital, da qual o Douglas tem maior domínio, pude me dedicar mais às feitas em papel e pincel.
Acredito que o trabalho artesanal exerce um poder terapêutico sobre o artesão e há um elo entre ele e o leitor além das palavras, um certo segredo.
Gosto muito de sentir a tinta, o pincel sobre o papel…o montar uma cena peça por peça faz do trabalho criativo um jogo, e nunca uma obra é totalmente compreendida antes do final. Acho que é essa intimidade entre as partes que me empolga ao desenvolver um desenho.
E há a figura do escritor. Eu prefiro respeitar e executar a obra que ele concebeu. Para mim, o ilustrador apesar de ser um co-autor, deve tentar encantar o autor e depois o leitor com a sua ilustração.



4.Seus desenhos, suas ilustrações, são de fato lindeza de grudar nos olhos. Suas flores, seus motivos. Tem, por acaso, alguma temática que possa ser uma preferência especial?

Fico feliz pelo carinho de suas palavras, Marciano Vasques. motivos que são mais fáceis para mim, outros são desafios. Temas isolados como flores, animais, pessoas, seriam mais próximos a mim do que carros, máquinas,prédiosmas o enfoque do conto infantil me encanta.
Para os didáticos tivemos que trabalhar com todo tipo de temas e estilos, tivemos que executar obras no estilo de outras pessoas, o que é muito desgastante, e não somos reconhecidos por uma característica pessoal.
Falando nas flores, essa série de ilustrações que você conhece faz parte da coleção de 4 mini-livros com frases elaboradas pela Editora Paulus. Elas têm o formato de 8X8 cm e as artes foram feitas com cerca de 12 cm, e vê-las grandes na tela do computador não fazia parte do plano…


5.Ilustra livros infanto&juvenis e também didáticos. A partir de que momento passou a trabalhar com essas obras? Qual a origem desse acontecimento em sua carreira artística?
Eu tinha iniciado minha carreira nas artes como ilustradora publicitária, mas sempre fui uma competente arte-finalista. Trabalhei na Ed. Abril como arte-finalista até o nascimento do meu filho e passei a fazer apenas free-lances de toda espécie.
Tive oportunidade de ilustrar para livros apenas na década de 90, após o plano Collor ter inviabilizado a empresa que Douglas e amigos formaram na área de incentivos – e restava a área de ilustrações editoriais como fonte de recursos.
Foram anos de intenso trabalho para livros didáticos e paradidáticos. Em poucos anos contávamos cerca de 200 livros ilustrados por nós, em diversas editoras nacionais.
Vez por outra tínhamos o prazer de ilustrar obras literárias de autores infanto&juvenis. Foi assim que conheci o Nelson Albissú, a Telma Guimarães, entre outros.
Os maiores problemas sempre foram os prazos, sempre apertados, refletindo na qualidade do produto final. [Certa vez tínhamos que ilustrar livros de uma coleção de contos, a cada 15 dias, no tempo do gouache e aerógrafo. Deixei para pintar a primeira página depois, esperando ter tempo para uma abertura impactante. Pois tive que fazer isso em 20 minutos, no último dia do prazo… qualidade pela metade!]
Nossos filhos cresceram em meio a papéis, tintas e livros, pois instalamos nosso estúdio “provisório” em nossa sala. Até hoje estamos no mesmo lugar.


6.Como vê a produção contemporânea de literatura infanto-juvenil?
Não sou estudiosa do assunto, mas procuro acompanhar como consumidora que sou. Há muitos autores que precisam ser lidos e ouvidos, ilustradores que precisam ser apreciados, editoras e gráficas que precisam ter melhores condições de trabalho… A avalanche da incoerência geral também se encontra na LIJ, e quem permanece em seu posto é um herói.


7.Já ilustrou Histórias em Quadrinhos?
Ser desenhista de HQs deve ter sido sonho de muitos de nossa geração… Passei anos lendo os mangás japoneses, o Douglas, os heróis. Meu sonho desvaneceu-se quando um professor literalmente esculachou as revistas japonesas e disse não haver espaço para aquele tipo de desenho. Ele não tinha nada de profeta, … mas eu parei de pensar nisso.
O Douglas já desenhou HQs, e tem projetos engavetados com excelentes ideias.



8.Já tem algum livro infantil ou juvenil de sua autoria? Ou algum projeto?
Somente projetos, Marciano Vasques… Eu me interesso muito por projetos educativos, mas devo reconhecer que não sou uma pessoa de letras. Aprendi a reconhecer isso através da entrevista de uma amiga ilustradora, a Lúcia Brandão, ao declarar: o meu negócio é desenhar!
E estou aprendendo a incorporar em meus projetos a poesia, através dos contatos com tantos poetas inspirados!


9.Verdade que vive numa família de artistas?
Acho que formamos uma … O Douglas e eu corremos o risco de nos casarmos sendo dois artistas gráficos. A nossa filha Raquel cresceu passando as noites acordada vendo-nos trabalhar, e absorveu o fazer sem que precisássemos ensinar. Ela tem um estilo diferente do nosso e usa os recursos digitais com excelência. Já trabalhou conosco, mas hoje busca aperfeiçoamento profissional em outra área.
O nosso filho Douglinhas é o único que não desenha pro. Ele é um showman, rs… [ele é pessoa limítrofe, mas trabalha e é muito querido pelos colegas]



10.Participa da Rede Social, e mantêm intercâmbio cultural e de amizade com diversos autores e leitores. Como vê o avanço das Redes e qual a importância disso em nosso contemporâneo?
Demorei a entrar no Orkut, mais ainda no Facebook. Sabia que isso iria roubar muito do meu tempo, e aconteceu, mas não me arrependo. Inicialmente houve um reencontro maravilhoso com amigos de todas as épocas, de parentes distantes, que de outra forma seria impossível. Fui conhecendo pessoas e passei para a fase profissional, cerquei-me de ilustradores, autores, editores, e ¡posso ser amiga de muitos deles! E fato interessante, fui conhecendo a mim…
A primeira coisa importante foi que as lembranças coletivas dos amigos do passado me trouxeram à integralidade, ao eu que foi sendo perdido através dos anos. O quem eu era e quem eu sou se somaram, se aceitaram, estou mais integral.
Segundo, o nosso universo se expande ao limite que impomos… o meu limite é quanto posso ter de relacionamentos, porque não sou colecionadora de amigos, e faço questão de ter um mínimo de contato com os que tenho. Eu tenho aprendido muito pessoal e culturalmente. Há muito boas informações, sabendo procurar. Networks podem se estabelecer.
Não vejo como manter vínculos em termos globais daqui pra frente sem as Redes. Ainda que haja muitas preocupações sobre o perder os relacionamentos pessoais, vejo que uma hora, como em tudo, vai ocorrer o reencaixe naturalmente. As piores previsões não acontecem.
Com o escritor Nelson Albissú


11.Você trabalha num estúdio chamado Douglas Galindo. Conte aos nossos fiandeiros, por gentileza, sobre esse estúdio.
O Estúdio Douglas Galindo é composto por Douglas, Teresa e Raquel.
Por muitos anos mantivemos o nome da antiga empresa de incentivos, que se tornou obsoleta para a nossa atividade atual, de ilustrações.
Para não usar siglas ou nome fantasia que nos descaracterizasse, optamos pelo nome pelo qual a maioria de nossos clientes nos conhecia, Douglas Galindo.
A nossa principal atividade é ilustração editorial, mas continuamos a atender a publicitária, comunicação visual, executadas em técnicas tradicionais e digitais.


12.Convive com flores, tem uma alma de expansão universal, é fiel aos amigos, ilustra livros com suas imagens emocionantes. Como foi sua infância?
O seu conceito a meu respeito é melhor do que o meu próprio…
A minha infância foi muito normal, com algumas estranhezas…
Nasci em Santo André, SP, numa família composta por mãe, pai, avó paterna e depois chegaram dois irmãos e uma irmã. Logo cedo fomos morar num grande terreno dividido com a família de um tio. Aí começou a minha vida consciente e os grandes feitos de minhas memórias!
As estranhezas foram por conta de que só conheci o português quando entrei no pré-primário, aos 6 anos. Até então eu creio que vivia no Japão, kkk… Só se falava e pensava-se como japonês, os conhecidos eram só japoneses… Então foi assim: no pré não sabia o que significava lápis de cor; no primeiro ano: o que era chuva? Estudei numa escola de freiras: tenho muita gratidão pelas freiras que me alfabetizaram!
A cerca de um km do centro de S.A., minha casa era vizinha de lavouras, granja de ovos, 2 campinhos de futebol cortadas por um rio que ainda tinha peixinhos! E atrás da minha casa matavam galinhas para vender! E corria com pé no chão, fazia bolinhos de barro, aprendi a falar palavrão, chupava cana roubada, e tinha uma amiga especial, minha vizinha com quem devo ter aprendido a maioria das brincadeiras de corda, bola, cantigas de roda, boneca, depois costuramos e fizemos bonecas de vestir de papel, criávamos histórias em quadrinhos…
As mulheres da minha casa formaram o meu caráter e uma vocação. Eu devo ter usufruído da maior parte dos cadernos de ler e pintar que minha mãe tinha trazido do Japão. Ela era uma excelente contadora de histórias, boa costureira, boa cozinheira… e minha avó tentava me dar uma boa educação e me ensinava japonês, me levava para aprender dança japonesa, mas eu gostava mesmo era de correr descalça… um dos livros de que me lembro bem era uma adaptação de Shakespeare, Sonhos de Uma Noite… para crianças, lindamente ilustrado em pena p/b – claro, em japonês.
Éramos uma família cristã, então desde cedo aprendemos a temer a Deus.
Bem, tem muito mais… quem sabe um dia escrevo um livro sobre esse tempo…





13.Deixe a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Perseverança. Muitas vezes não vemos frutos, mas se permanecermos aguardando e vigiando, veremos os sinais de uma colheita abundante.
Obrigado por me acolher na Palavra Fiandeira, lugar de amigos…

Livro infantil ilustrado por Teresa Senda Galindo. Obra de Nelson Albissú



As obras desta edição são de autoria de Teresa Senda Galindo, para livros de Literatura Infantil e Juvenil e didáticos.
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PALAVRA FIANDEIRA
Revista digital de Literatura e Artes
Publicação virtual semanal
Edições aos sábados
Edição 76 
Edição Teresa Senda Galindo
28 de Julho de 2012
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor MARCIANO VASQUES
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sexta-feira, 20 de julho de 2012

PALAVRA FIANDEIRA — 75




PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL 
ANO 3 — Nº75
21 JULHO 2012



CECÍLIA VILAS BOAS








Willem Haenraets
1.Quem é Cecília Vilas Boas?


Penso que todos os dias descobrimos um pouquinho de nós, mas daquilo que sei, posso partilhar. Nasci na aldeia de Paio Pires, distrito de Setúbal. Foi em Paio Pires que aprendi a ler e a escrever. Brinquei, cresci e fiz amizades. Estudei na escola Primária de Paio Pires, Preparatória Paulo da Gama, na Amora, Secundária Dr.José Afonso, nas Cavaquinhas. Aos 18 anos, fui trabalhar para Lisboa e passei a ser trabalhadora-estudante, durante vários anos consecutivos. Finalizei o complementar no Liceu de Camões, já em Lisboa, frequentei o curso de Direito na Universidade Internacional durante 3 anos, mas acabei por optar pela formação em secretariado. Sou secretária de administração numa empresa de Engenharia de Transportes. Sou casada e tenho dois filhos. Há um ano e meio criei o blog oceanoazul.sonhos onde comecei a escrever e a sentir o carinho e o apoio de todos aqueles que amavelmente têm passado por lá. Em Setembro de 2011 surgiu a hipótese de editar um livro. Depois de muito ponderar, permiti que as minhas palavras e aquilo que sou, em muito transmitido no que escrevo, se soltassem de mim. Descobri o gosto pela escrita e até hoje não parei.


2.Lançou recentemente o livro ÂMBAR E MEL: Conte-nos sobre essa sua obra.


Lancei Âmbar e Mel, no dia 17 de Dezembro de 2011. Âmbar e Mel, é um livro que fala essencialmente de sentimentos. Fala da natureza, de aromas, cores, sol, mar, fala de luar, de estrelas, fala do que é simples mas que nos toca de forma profunda e que muitas vezes esquecemos de contemplar nesta azafama diária. Fala também, de alguma forma de Deus, numa tentativa de encontro muito peculiar. Fala do sonho que, como escreveu o grande poeta António Gedeãoo sonho comanda a vida. No final do livro existe uma pequena homenagem à minha avó, em forma de um relembrar saudoso, pessoa que me marcou imenso e que foi muito importante na minha vida.


3.Agora, por gentileza, nos conte sobre o evento do lançamento: Como foi essa experiência, esse contato com o futuro leitor?


Beatriz Lousan — Violoncelo
(Lançamento de ÂMBAR E MEL, no Seixal)

O evento foi na livraria da Chiado Editora, em Lisboa. Senti um borboletar enorme no estômago, pois nunca tinha falado para uma plateia, a responsabilidade era enorme. Não fazia a menor ideia de como o livro iria ser recebido. Familiares, amigos, colegas de trabalho, muitos foram os presentes que fizeram o meu coração bater mais forte. Tive ao meu lado, na apresentação, dois grandes amigos, António Tapadinhas e José Luís Outono, que me deram imenso apoio para enfrentar a sala que estava repleta. Tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas que só conhecia virtualmente. Foi uma experiencia única e muito gratificante.

Lançamento de ÂMBAR E MEL
4.Além de poeta, escreve crônicas. Um de seus textos,Candura, é de uma beleza de encher os olhos. Conte aos leitores da FIANDEIRA se esse texto é autobiográfico, se o lugar existe mesmo, e como é a sua vivência com esses recantos.

Gosto muito de prosa. Candura é um dos meus textos preferidos. Aquele lugar, vive no meu ser. Existe uma vida, que me proporcionou momentos inesquecíveis em lugares semelhantes ao descrito. Os meus pais são do Alentejo (sul de Portugal) e durante a minha infância e até mesmo adolescência, recebi e respirei muito da candura e simplicidade daquela gente. É um prazer enorme, conseguir passar para palavras, o sentimento que ficou em mim. Quando volto aqueles lugares, bebo das recordações e guardo-as em mim


5.Seu blog é um oceano. Como a importância da blogosfera no mundo atualmente?

O meu blog é um oceano de mares onde navegam palavras lançadas pelos meus sentimentos. E tal como o mar, umas vezes calmo outras revolto, assim é a vida. É dela que escrevo, umas vezes com cor, outras vezes descolorida, outras onde a quietude invade e outras ainda onde o grito e a tristeza se fazem ouvir. Por lá navegam pessoas que merecem todo o meu respeito, carinho e atenção. De entre letras e palavras, nasceram sentimentos que me despertaram para outra realidade – o mundo da blogosfera - É muito gratificante poder ler e sentir, mesmo que virtualmente, a relação que se estabelece entre pessoas de várias fronteiras. Move-nos a partilha de culturas, a paixão pela poesia, pela imagem, pela música e tantos outros interesses comuns. A corrente que se gera é de tal forma intensa que, a par do nosso quotidiano, partilhamos sentimentos, vivências e parte do nosso mundo, com pessoas que não conhecemos. Apesar de serem relações virtuais, são intensas e fazem parte do nosso dia-a-dia. Foi neste palmilhar que me cruzei com imensas pessoas que escrevem de si aos outros, pessoas que gritam do mundo que nos rodeia, gente que nos toca a alma e não está dormente ao que se passa num mundo feito muitas vezes, egocêntrico e indiferente ao seu semelhante.




6.Percebe-se nitidamente a sua apreciação pela pintura, assim como por outras formas de arte. pintou alguma tela?

Gosto imenso de pintura. Pintar liberta sentimentos, estados de alma, é força, é cultura, é história, é testemunha dum povo. No fundo, a vida é uma paleta de cores que vai pintando, aqui e ali, a tela da vida que fica impressa no tempo, no tempo de cada um de nós.
Já pintei algumas coisas mas nunca aprendi a técnica. Pintava de vez em quando, antes de me ter dedicado, de alguma forma, à escrita. Pinturas muito simples, que só a família e alguns amigos conhecem, como estas duas…

Aldeia / Ericeira


Mas podemos pintar também, através das palavras. Em Âmbar e Mel, existe umatelaque se chama CORES
CORES (in Âmbar e Mel)
Quero pintar a tela da vida. Na paleta coloco as cores primárias. azul, amarelo e vermelho. Com elas pinto o céu, o imenso mar, o sol e as graciosas papoilas. misturo as c ores e obtenho o preto. Pinto dias cinzentos, frios onde a resignação reina e a desmotivação invade. mas a vida precisa de cor. Continuo com o meu pincel e misturo o amarelo com o azul, obtenho um verde natureza. Com ele, coloro plantas e florestas preencho de ar puro o universo. Com o amarelo e o vermelho pinto o por de sol, laranja intenso que afaga corações enternecidos e apaixonados. Com o azul e vermelho semeio violetas e distribuo aromas. abro a janela que dá para o jardim e deixo que a luz entre, sem ela as cores não existem. Permito que o branco pinte a tela. branco é luz, pureza, candura. Nos tons coloridos que se vão seguindo, pinto a alegria, o amor, a amizade. Pinto becos escuros de azul ciano, pinto a fome de verde esperança, pinto a fé e a humildade de branco, pinto o orgulho e o cinismo de preto para que não se reflictam ao mundo e sejam absorvidos pelas cores da bondade, da solidariedade, cores quentes e luminosas. Pinto o sonho de azul e com ele percorro a tela para que a humanidade nunca deixe de acreditar que é sonhando que a vida avança.



7.Aprecia a Literatura Infantil? O que pensa sobre essa modalidade literária?


Gosto imenso de literatura infantil. É aí, enquanto mundo mágico, que o sonho se alimenta. Dizer, em palavras simples, para que cheguem aos pequenos leitores, é uma arte preciosa, e essencial ao seu desenvolvimento. É magnífico podermos observar uma criança enquanto lê um livro, ou vermos o brilho dos seus olhos quando lhes contamos uma história, é algo contagiante e disso, Marciano Vasques, você sabe melhor que ninguém, como grande escritor que é, neste mundo das crianças. Não me posso esquecer que foi com o Rospo e com a Sapabela que você me conquistou como leitora, foi lendo as suas histórias que tive o prazer de o conhecer, e crescer muito, neste mundo que é a escrita.
Ainda a prepósito da literatura infantil, fui convidada para participar numa coletânea de contos infantis que se chama de A a ZZZZZZZZZZZ, da Editora Viera da Silva, com um conto de minha autoria, intitulado O Jardim dos Livros, a sair no final de Junho.

8.Seu poema SONHO...é de uma grandeza poética pura e delicada. Faz notar novamente a presença do mar em sua arte literária. Qual a origem ou os motivos que a levam a priorizar o mar em seu fazer poético?


O meu poemaSONHO foi escrito aquando do seu primeiro convite para participar na PALAVRA FIANDEIRA 65 de 2011. Reeditei o poema mas aparece muito idêntico ao anterior.
Adoro o mar. No meu imaginário existem baías lindas, de águas azuis, existem mares e sonhos de meninos. Existem barquinhos de papel, que no meu imaginário, não se desfazem na água, ao invés, transportam neles a esperança de um mundo melhor, o desejo da efetivação de sonhos, que todos temos, e que começam na infância, acompanhando-nos ao longo da vida. A imensidão do mar faz-me sentir a realidade de ser ínfima, mas ao mesmo tempo, permite-me a liberdade de sonhar.




SONHO


Na baía do sonhar
Olhando o infinito azul do mar
Vem o menino brincar
Com conchas, algas, pedrinhas
Constrói castelos de encantar.




Com o seu barquinho de papel
Inventa viagens e embarcações
Brinca com golfinhos e gaivotas
Voa nas asas dos sonhos
Navega no mar das ilusões.




Deitado nos verdes prados da montanha
Nos aromas que o vento traz ao passar
Olha o céu, escreve histórias nas nuvens


Contempla as estrelas a cintilar.




Este menino, sedento de colo
Continua embalando seu sonhar
Nos braços imaginados mas reconfortantes


Das prazerosas cantigas de ninar.







9.Pode nos contar resumidamente sobre o movimento poético em Portugal?


os que criticam porque se escreve muito, os que criticam que se edita tudo, outros ainda que criticam, e nada criam. efectivamente, um movimento poético enorme em Portugal, que penso ser positivo. Poderá ser questionada a originalidade e a qualidade do que se edita, mas esse julgamento cabe aos leitores ao fazerem a selecção daquilo que querem ler, mas é importante que haja oferta. São imensas as alternativas postas à disposição daqueles que estão interessados em divulgar o que escrevem. Encontramos pessoas que escrevem com muita qualidade e que de outra forma, nunca seriam conhecidos. O mesmo acontece na pintura, na fotografia, na musica e nas muitas formas de arte, em geral. Nem todos podem ser excelentes, o importante é que exista hipótese de criar e divulgar. Os sites, blogs, as revistas, os jornais, as redes sociais, são meios onde facilmente a divulgação se faz e nos a conhecer, em tempo útil, o que se passa em termos gerais. Do escrever ao editar nem sempre é um passo fácil de se dar.




10.Já pensa em alguma nova obra literária que possa revelar ao público enquanto projeto?


Sim, já tenho um novo projeto. Um outro livro de poesia, diferente de Âmbar e Mel. É um livro mais introspectivo, mais silencioso, com um eco que espero, chegue a vós.


11.Participou de uma antologia poética chamada “Antologia de Poesia Contemporânea”. Pode nos falar dessa antologia e por qual motivo considerou que deveria participar?


Participei na III Antologia de Poesia Contemporânea, que se chama “Entre o Sono e o Sonho” coordenada por Gonçalo Martins, com a chancela da Chiado Editora, lançada em Fevereiro passado.
Fui convidada pelo coordenador e achei que podia ser uma boa experiencia, a partilha de escrita de vários autores num só livro.
Mais recentemente, participei numa coletânea de contos intituladaContos do nosso Tempo, com a coordenação de Miguel Almeida, a convite da Editora Esfera do Caos. Nesta obra participo com dois contos intitulados A PEROLAe CARTAS DE AMOR. A sair brevemente.


12.Deixe aqui aos leitores a sua mensagem final. Qual é a sua Palavra Fiandeira?

A poesia é uma linguagem universal onde o eco da palavra é infindável. que levar as pessoas a questionarem o seu próprioeu, procurarem o seu caminho, encontrarem-se para se possam dar. assim se pode melhorar as relações entre os povos. A poesia é um veículo que nos permite evoluir espiritualmente. Crescer espiritualmente, é um trabalho árduo, diário, mas no qual devemos investir. Devemos tomar consciência de quão frágeis somos, de como a vida é efémera, e aproveitarmos essa consciência para praticar o bem no nosso dia a dia de modo a podermos olhar para o reflexo de nós, na vida terrena, e gostarmos daquilo que vemos, e daquilo que conseguimos dar de nós aos outros.
É urgente que se aprenda a valorizar o ser humano, é urgente que se aprenda a valorizar o que temos de melhor em nós, é urgente que se ouça a voz de Deus, no nosso silêncio.


* Os livros, são tesouros de meditação, reflexão e conhecimento. Têm cheiro, forma e magiacomprem livros!*



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                                 PALAVRA FIANDEIRA
Revista digital de Literatura e Artes
Publicação aos sábados
Edição 75 — Em 21 de Julho de 2012
Edição: Cecília Vilas Boas
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo Escritor
Marciano Vasques
Palavra Fiandeira é uma publicação semanal editada em São Paulo/Brasil
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