PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL
ANO 3 — Nº76 (Nº 148)
28 JULHO 2012
TERESA SENDA GALINDO
1.Quem
é Teresa Senda Galindo?
Gosto
de dizer que sou ilustradora de livros infanto&juvenis, ainda que
não haja esta classificação profissional. É como me vejo, o que
sou. Talvez seja melhor me definir como consumidora antes de
produtora, pois vivo atrás de belas ilustrações e projetos.
Eu
sou de 56, tenho este ano 56 anos… filha de japoneses, tenho um
nome japonês, Reiko. Sou casada com Douglas Galindo há 27 anos, e
dois filhos que me ensinam a viver, Douglinhas e Raquel. Douglas tem
formação publicitária e também é ilustrador.
Sou
cristã e procuro viver conforme os valores do reino de Deus.
2.Já
ilustrou diversos livros para várias editoras. Pode aos nossos
leitores contar um pouco essa história?
Desde
o início a produção de ilustrações para livros foi em conjunto,
Douglas e Teresa. Livros didáticos,paradidáticos, literatura,
álbuns, jogos, com ênfase no público infanto&juvenil.
Trabalhar
a quatro mãos não é fácil, pois cada um tem um estilo,
experiência, técnica, e na hora da correria não é possível
acertar tudo. Isso pressupõe muita paciência, tolerância, acordos
e um alvo a alcançar. Já estamos neste trabalho há 22 anos.
–Editoras
Ática,
Moderna,
Saraiva,
Scipione,
Atual,
SM,
Paulus,
Mundo
Mirim;
–
Não
são
livros,
mas
trabalhamos
conteúdo
e
arte
para:
Brinquedos
Grow,
Estrela,
Toyster,
Dican,
caixinhas
do
McLancheFeliz;
3.Aprecia
e parece apaixonada pela aquarela. Pode, por favor, contar a
trajetória dessa predileção em seu fazer artístico?
Ao
que chamamos de aquarela, na prática comercial usamos a ecoline, uma
tinta líquida, já preparada para uso imediato, fácil de usar e com
cores vibrantes.
Aprendi
a usar os materiais como grafite, nanquim, ecoline, aquarela,
gouache, no tempo da escola de desenho publicitário, na década de
70. Muitas ilustrações publicitárias como as editoriais eram
pintadas em ecoline, com traços em nanquim.
Recebi
muita influência de livros ilustrados japoneses, modernos e antigos;
me apaixonei pela arte de Mucha, depois de Dulac, Hackham, numa
mistura do fantástico com o sensual, todos servindo os contos
infantis.A transparência da aquarela, a sugestão que oferecem à
leitura da obra, são características que aprecio.
Com
o uso cada vez maior da arte digital, da qual o Douglas tem maior
domínio, pude me dedicar mais às feitas em papel e pincel.
Acredito
que o trabalho artesanal exerce um poder terapêutico sobre o artesão
e há um elo entre ele e o leitor além das palavras, um certo
segredo.
Gosto
muito de sentir a tinta, o pincel sobre o papel…o montar uma cena
peça por peça faz do trabalho criativo um jogo, e nunca uma obra é
totalmente compreendida antes do final. Acho que é essa intimidade
entre as partes que me empolga ao desenvolver um desenho.
E
há a figura do escritor. Eu prefiro respeitar e executar a obra que
ele concebeu. Para mim, o ilustrador apesar de ser um co-autor, deve
tentar encantar o autor e depois o leitor com a sua ilustração.
4.Seus
desenhos, suas ilustrações, são de fato lindeza de grudar nos
olhos. Suas flores, seus motivos. Tem, por acaso, alguma temática
que possa ser uma preferência especial?
Fico
feliz
pelo
carinho
de
suas
palavras,
Marciano
Vasques.
Há
motivos
que
são
mais
fáceis
para
mim,
outros
são
desafios.
Temas
isolados
como
flores,
animais,
pessoas,
seriam
mais
próximos
a
mim
do
que
carros,
máquinas,prédios…
mas
o
enfoque
do
conto
infantil
me
encanta.
Para
os didáticos tivemos que trabalhar com todo tipo de temas e estilos,
tivemos que executar obras no estilo de outras pessoas, o que é
muito desgastante, e não somos reconhecidos por uma característica
pessoal.
Falando
nas flores, essa série de ilustrações que você conhece faz parte
da coleção de 4 mini-livros com frases elaboradas pela Editora
Paulus. Elas têm o formato de 8X8 cm e as artes foram feitas com
cerca de 12 cm, e vê-las grandes na tela do computador não fazia
parte do plano…
5.Ilustra
livros infanto&juvenis e também didáticos. A partir de que
momento passou a trabalhar com essas obras? Qual a origem desse
acontecimento em sua carreira artística?
Eu
tinha iniciado minha carreira nas artes como ilustradora
publicitária, mas sempre fui uma competente arte-finalista.
Trabalhei na Ed. Abril como arte-finalista até o nascimento do meu
filho e passei a fazer apenas free-lances de toda espécie.
Tive
oportunidade de ilustrar para livros apenas na década de 90, após o
plano Collor ter inviabilizado a empresa que Douglas e amigos
formaram na área de incentivos – e restava a área de ilustrações
editoriais como fonte de recursos.
Foram
anos de intenso trabalho para livros didáticos e paradidáticos. Em
poucos anos contávamos cerca de 200 livros ilustrados por nós, em
diversas editoras nacionais.
Vez
por outra tínhamos o prazer de ilustrar obras literárias de autores
infanto&juvenis. Foi assim que conheci o Nelson Albissú, a Telma
Guimarães, entre outros.
Os
maiores problemas sempre foram os prazos, sempre apertados,
refletindo na qualidade do produto final. [Certa vez tínhamos que
ilustrar livros de uma coleção de contos, a cada 15 dias, no tempo
do gouache e aerógrafo. Deixei para pintar a primeira página
depois, esperando ter tempo para uma abertura impactante. Pois tive
que fazer isso em 20 minutos, no último dia do prazo… qualidade
pela metade!]
Nossos
filhos cresceram em meio a papéis, tintas e livros, pois instalamos
nosso estúdio “provisório” em nossa sala. Até hoje estamos no
mesmo lugar.
6.Como
vê a produção contemporânea de literatura infanto-juvenil?
Não
sou estudiosa do assunto, mas procuro acompanhar como consumidora que
sou. Há muitos autores que precisam ser lidos e ouvidos,
ilustradores que precisam ser apreciados, editoras e gráficas que
precisam ter melhores condições de trabalho… A avalanche da
incoerência geral também se encontra na LIJ, e quem permanece em
seu posto é um herói.
7.Já
ilustrou Histórias em Quadrinhos?
Ser
desenhista de HQs deve ter sido sonho de muitos de nossa geração… Passei anos lendo os mangás japoneses, o Douglas, os heróis. Meu
sonho desvaneceu-se quando um professor literalmente esculachou as
revistas japonesas e disse não haver espaço para aquele tipo de
desenho. Ele não tinha nada de profeta, … mas eu parei de pensar
nisso.
O
Douglas já desenhou HQs, e tem projetos engavetados com
excelentes ideias.
8.Já
tem algum livro infantil ou juvenil de sua autoria? Ou algum projeto?
Somente
projetos, Marciano Vasques… Eu me interesso muito por projetos
educativos, mas devo reconhecer que não sou uma pessoa de letras.
Aprendi a reconhecer isso através da entrevista de uma amiga
ilustradora, a Lúcia Brandão, ao declarar: o meu negócio é
desenhar!
E
estou aprendendo a incorporar em meus projetos a poesia, através dos
contatos com tantos poetas inspirados!
9.Verdade
que vive numa família de artistas?
Acho
que formamos uma … O Douglas e eu corremos o risco de nos
casarmos sendo dois artistas gráficos. A nossa filha Raquel cresceu
passando as noites acordada vendo-nos trabalhar, e absorveu o fazer
sem que precisássemos ensinar. Ela tem um estilo diferente do nosso
e usa os recursos digitais com excelência. Já trabalhou conosco,
mas hoje busca aperfeiçoamento profissional em outra área.
O
nosso filho Douglinhas é o único que não desenha pro. Ele é um
showman, rs… [ele é pessoa limítrofe, mas trabalha e é muito
querido pelos colegas]
10.Participa
da Rede Social, e mantêm intercâmbio cultural e de amizade com
diversos autores e leitores. Como vê o avanço das Redes e qual a
importância disso em nosso contemporâneo?
Demorei
a entrar no Orkut, mais ainda no Facebook. Sabia que isso iria roubar
muito do meu tempo, e aconteceu, mas não me arrependo. Inicialmente
houve um reencontro maravilhoso com amigos de todas as épocas, de
parentes distantes, que de outra forma seria impossível. Fui
conhecendo pessoas e passei para a fase profissional, cerquei-me de
ilustradores, autores, editores, e ¡posso ser amiga de muitos deles!
E fato interessante, fui conhecendo a mim…
A
primeira coisa importante foi que as lembranças coletivas dos amigos
do passado me trouxeram à integralidade, ao eu que foi sendo perdido
através dos anos. O quem eu era e quem eu sou se somaram, se
aceitaram, estou mais integral.
Segundo,
o nosso universo se expande ao limite que impomos… o meu limite é
quanto posso ter de relacionamentos, porque não sou colecionadora de
amigos, e faço questão de ter um mínimo de contato com os que
tenho. Eu tenho aprendido muito pessoal e culturalmente. Há muito
boas informações, sabendo procurar. Networks podem se estabelecer.
Não
vejo como manter vínculos em termos globais daqui pra frente sem as
Redes. Ainda que haja muitas preocupações sobre o perder os
relacionamentos pessoais, vejo que uma hora, como em tudo, vai
ocorrer o reencaixe naturalmente. As piores previsões não
acontecem.
Com o escritor Nelson Albissú
11.Você
trabalha num estúdio chamado Douglas Galindo. Conte aos nossos
fiandeiros, por gentileza, sobre esse estúdio.
O
Estúdio Douglas Galindo é composto por Douglas, Teresa e Raquel.
Por
muitos anos mantivemos o nome da antiga empresa de incentivos, que se
tornou obsoleta para a nossa atividade atual, de ilustrações.
Para
não usar siglas ou nome fantasia que nos descaracterizasse, optamos
pelo nome pelo qual a maioria de nossos clientes nos conhecia,
Douglas Galindo.
A
nossa principal atividade é ilustração editorial, mas continuamos
a atender a publicitária, comunicação visual, executadas em
técnicas tradicionais e digitais.
12.Convive
com flores, tem uma alma de expansão universal, é fiel aos amigos,
ilustra livros com suas imagens emocionantes. Como foi sua infância?
O
seu conceito a meu respeito é melhor do que o meu próprio…
A
minha infância foi muito normal, com algumas estranhezas…
Nasci
em Santo André, SP, numa família composta por mãe, pai, avó
paterna e depois chegaram dois irmãos e uma irmã. Logo cedo fomos
morar num grande terreno dividido com a família de um tio. Aí
começou a minha vida consciente e os grandes feitos de minhas
memórias!
As
estranhezas foram por conta de que só conheci o português quando
entrei no pré-primário, aos 6 anos. Até então eu creio que vivia
no Japão, kkk… Só se falava e pensava-se como japonês, os
conhecidos eram só japoneses… Então foi assim: no pré não sabia
o que significava lápis de cor; no primeiro ano: o que era chuva?
Estudei numa escola de freiras: tenho muita gratidão pelas freiras
que me alfabetizaram!
A
cerca de um km do centro de S.A., minha casa era vizinha de lavouras,
granja de ovos, 2 campinhos de futebol cortadas por um rio que ainda
tinha peixinhos! E atrás da minha casa matavam galinhas para vender!
E corria com pé no chão, fazia bolinhos de barro, aprendi a falar
palavrão, chupava cana roubada, e tinha uma amiga especial, minha
vizinha com quem devo ter aprendido a maioria das brincadeiras de
corda, bola, cantigas de roda, boneca, depois costuramos e fizemos
bonecas de vestir de papel, criávamos histórias em quadrinhos…
As
mulheres da minha casa formaram o meu caráter e uma vocação. Eu
devo ter usufruído da maior parte dos cadernos de ler e pintar que
minha mãe tinha trazido do Japão. Ela era uma excelente contadora
de histórias, boa costureira, boa cozinheira… e minha avó tentava
me dar uma boa educação e me ensinava japonês, me levava para
aprender dança japonesa, mas eu gostava mesmo era de correr
descalça… um dos livros de que me lembro bem era uma adaptação
de Shakespeare, Sonhos de Uma Noite… para crianças, lindamente
ilustrado em pena p/b – claro, em japonês.
Éramos
uma família cristã, então desde cedo aprendemos a temer a Deus.
Bem,
tem muito mais… quem sabe um dia escrevo um livro sobre esse tempo…
13.Deixe
a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Perseverança.
Muitas vezes não vemos frutos, mas se permanecermos aguardando e
vigiando, veremos os sinais de uma colheita abundante.
Obrigado
por me acolher na Palavra Fiandeira, lugar de amigos…
Livro infantil ilustrado por Teresa Senda Galindo. Obra de Nelson Albissú
As obras desta edição são de autoria de Teresa Senda Galindo, para livros de Literatura Infantil e Juvenil e didáticos.
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PALAVRA FIANDEIRA
Revista digital de Literatura e Artes
Publicação virtual semanal
Edições aos sábados
Edição 76
Edição Teresa Senda Galindo
28 de Julho de 2012
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor MARCIANO VASQUES
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Marciano Vasques, fiquei imensamente honrada em participar de sua revista, a Palavra Fiandeira! Agradeço a oportunidade e desejo sucessos a todos os seus empreendimentos!
ResponderExcluirAbraços carinhosos,
Teresa
Olá amigo, passando para deixar um abraço, dizendo que moça talentosa, terê cordeiro.
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