EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 4 de agosto de 2012

PALAVRA FIANDEIRA — 77




PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL 
ANO 3 — Nº77
4 agosto 2012



MIGUEL ALMEIDA









1.Quem é Miguel Almeida?
Miguel Almeida nasceu em Rãs, pequena aldeia do concelho de Sátão, distrito de Viseu, em 1970. É licenciado em Filosofia (Variante de Filosofia da Ciência) e Mestre em Filosofia da Natureza e do Ambiente.
É autor dos livros Um Planeta Ameaçado: A Ciência Perante o Colapso da Biosfera (2006); A Cirurgia do Prazer: Contos Morais e Sexuais (2010); O Templo da Glória Literária: Versão Poética (2010); Ser Como Tu (2011), Chireto: Uma Semana de Histórias para Contar ao Deitar (2011), O Lugar das Coisas (2012). Publicou também em co-autoria não se fazem Homens como antigamente (2010). Foi ainda coordenador de Palavras Nossas: Colectânea de Novos Poetas Portugueses (2011) e coordenador e co-autor de Contos do Nosso Tempo (Maio 2012).
Agora na primeira pessoa. Sou pai, marido e professor, também ainda sou filho, sendo alguém que ainda assim consegue encontrar um bocadinho de tempo para ser escritor. Mas tudo isto só é possível tornando-o possível, através de uma gestão muito cuidada do tempo, seja no dia-a-dia, seja no curto e médio prazos.

2.Lançou um livro infantil chamado Chireto. Poderia, por gentileza, nos contar sobre ele?
Chireto: Uma Semana de Histórias para Contar ao Deitar é o meu livro, o primeiro na área sempre difícil da chamada (talvez mal)literatura para crianças.
Aquilo que me levou a escrever Chireto foi a interação com o meu próprio filho, tendo a literatura de permeio. Desde que nasceu que o meu filho ouve histórias ao deitar, lidas por mim ou pela minha mulher
Como escritor, mas sobretudo como pai, essa situação levantou-me uma questão, que pode ser colocada nos seguintes termos: a situação rotineira de se contar aos nossos filhos uma história ao deitar não deveria ser assumida apenas como uma questão ética, moralista e moralizante, mas antes como uma questão legal, de direito, portanto, de nós para com os nossos filhos, de todos os adultos para todas as crianças do mundo?
Mais do que colocar a questão, Chireto resolve-a, afirmando categoricamente que sim, que todos os dias deve haver um tempinho para os adultos lerem pequenas histórias às suas crianças.
Entretanto falam-me do tempoda falta de tempoNo entanto, como escritor e sobretudo como pai, eu prefiro falar do tempo bem gasto, nessas pequenas fracções do tempo sem tempo em que a intimidade acontece e a magia aparece
O subtítulo de Chireto é Uma Semana de Histórias para Contar ao Deitar e não é à toa. A estruturação do livro, os capítulos, se assim lhes quisermos chamar, são feira, feira, isto é, são os dias todos de uma semana, porque, naturalmente, na óptica de Chireto, todos os dias as nossas crianças têm direito a ouvir a sua história ao deitar.

3.Também muito apreciaria aos leitores da Fiandeira se nos falasse de seu livro A Cirurgia do Prazer - Contos Morais & Sexuais
A Cirurgia do Prazer é o meu livro. Com ele fiz a minha primeira experiência na prosa de ficção. Trata-se de um livro de contos, de contosamalandrados, como por vezes lhes chamo. A ideia base deste livro foi a de explorar a moralidade e a sexualidade, a realidade e a ficção, a descrição e a reflexão, em cada personagem, em cada atmosfera, em cada situação, em viagens sensuais, que procuram alcançar o centro da comédia humana e o sentido existencial do Homem no mundo. Em sínteses, A Cirurgia do Prazer é um livro divertido, para ler e entreter os leitores, mas também para os fazer pensar, pelo menos um bocadinho.







4.De forma constante organiza antologia com poetas e autores portugueses; como ocorre esse trabalho?
Até agora coordenei duas antologia, Palavras NossasAntologia de Novos Poetas Portugueses e Contos do Nosso Tempo. Como se percebe, trata-se deobras colectivas. A primeira é de poesia e a segunda é de contos. Na primeira estão publicados 30 novos poetas portugueses, isto é, 30 autores que não tinham até à data um registo poético seu, pelo menos na óptica da publicação. Na segunda participaram 21 co-autores, entre os quais estou incluído. Para 2013 está prevista a publicação da Palavras Nossas Vol. II, paranovos poetas portugueses.
Estas antologias alimentam-se sobretudo do bom relacionamento que eu tenho com a Esfera do Caos Editores, a Editora que tem publicado os meus livros, e dos muitos contatos que vou recebendo, mas também procurando, no sentido de se aconselharem comigo acerca das mais variadas questões relacionadas com a publicação. Em relação a estes livros, pode-se dizer que eu faço um pouco o trabalho de um editor: seleciono os participantes, recebo e avalio os textos, sugiro e faço correçõesEnfim, faço um bocadinho de tudo aquilo que penso que faz um editor.
No lançamento da antologia "Palavras Nossas"
5.Exerce atualmente funções na docência. Pode nos expôr o seu trabalho, seus sonhos, etc, no magistério?
Eu sou daqueles que entrou na docência por vocação. Felizmente, penso que a grande maioria dos professores em Portugal foi por esse mesmo motivo que decidiu ser professor. Mas os sonhos desvanecem-se, não é verdade? Quando esbarram com a realidade, por vezes os nossos sonhos mostram que não são mais que meros sonhos. É sabido que a situação econômica em Portugal não está boa, não é verdade? A docência segue a tendência, ou melhor, é arrastada por ela.
Quando entrei na docência, na década de noventa do século passado (já foi tanto tempo! Risos), assumi para mim próprio que a minha maior responsabilidade era para com os alunos, isto é, era para com o processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista a educação e o sucesso dos alunos, os meus alunos. Enredado em burocracias de toda a espécie, hoje não posso assumir isto. De resto, nenhum professor em Portugal o pode assumir. Em Portugal, os professores estão enredados numa cadeia de procedimentos burocráticos e muitos de nós não fazemos outra coisa que não seja obedecer e reproduzir essas mesmas burrocracias (Peço desculpa. Fugiu-me a língua para a verdade! Risos).

6.Atualmente, a poesia se faz necessária nas sociedades do mundo? Poderia, por favor, nos dissertar sobre isso?
Faz, fez e fará. Para mim, a poesia é uma busca de sentido para nós próprios e para o mundo, e nesse sentido acompanhar-nos-á sempre. Também é uma forma de evasão e um desejo de transcendência, e por também não nos vai largar nunca. Enquanto houver admiração e espanto, enquanto houver beleza e deslumbramento, enquanto houver amor e paixão, enquanto houver vida que vive e se sente a viverHaverá sempre poesia. E o mundo, o nosso mundo, precisa cada vez mais de poetas e de poesia.

7.Em seu livro Um Planeta Ameaçado: A Ciência Perante o Colapso da Biosfera, demonstra um interesse pelas questões ambientais. Conte-nos sobre essa sua preocupação e esse seu envolvimento.
Um Planeta Ameaçado: A Ciência Perante o Colapso da Biosfera é o meu livro. Trata-se de uma Tese de Mestrado na Área da Filosofia da Natureza e do Ambiente, que veio a dar um livro.
No princípio, como investigador, confesso que o meu interesse era apenas académico. Mas depois, à medida em que a investigação avançou, e sobretudo depois que o livro apareceu, tornei-me defensor da dita “causa ambiental”. Neste registo, já perdi o conto às inúmeras palestras e conferências que fiz em muitas escolas do país
No essencial, aquilo que procuro fazer é sensibilizar e informar as pessoas para a necessidade de criar uma consciência ambiental que seja condizente com as nossas responsabilidades para com a Terra, a nossa “casa comum”.
Não temos outracasae é preciso cuidar bem dela, porque é da nossa responsabilidade legá-la àsfuturas gerações. É o nosso futuro como espécie que está em questãoA Terra pode não precisar de nós, mas nós não podemos viver sem ela.

8.Uma das coletâneas que organiza recebe o título de Palavras NossasAntologia de Novos Poetas Portugueses. Como anda a poética contemporânea portuguesa, e particularmente a nova geração de autores. Pode nos traçar um breve panorama?
Portugal, diz-se, é um país de poetas, não é verdade? de bons poetasNão seiAfinal de contas, o que é isso de se ser um poeta? O que é isso de se ser um bom poeta? Como autor e como coordenador deobras colectivas de poesia, prefiro não responder a isso. Não o faço por não ter opinião, mas tão-só porque acho que a resposta deve ser dada pelos leitores. Através do meu próprio exemplo como escritor, mas também como coordenador, procuro incentivar sempre as pessoas a escrever. Se as pessoas escrevem, se as pessoas sentem necessidade de escrever, devem fazê-lo, pela simples razão de que isso lhes faz bem e prazer. Se depois de escrever decidem publicar, devem poder fazê-lo, deixando sempre a apreciação e a avaliação para os leitores.
Evento na FNAC—Centro Comercial Colombo

9.Aprecia certamente a Literatura produzida no Brasil. Diga-nos sobre alguns dos autores que já tenha lido ou conheça, clássico ou contemporâneo.
O tempo que tenho para dedicar à leitura é pouco, muito pouco. Não se pode rezar a vários deuses, não é verdade? É pecado (Risos). No entanto, acrescento de imediato que é sempre pouco o tempo que temos para gastar naquilo que mais gostamos. E assim sendo, vou cometendo os meus pecados (Mais Risos).
No que diz respeito à literatura produzida no Brasil, Ferreira Gullar é dos poetas vivos um dos que mais aprecio. Mas é claro, adoro Machado de Assis, Cecília Meireles, Carlos Drummond de AndradeA estes e a outros grandes poetas de todos os tempostemplos, dediquei-lhes poemas de tributo e homenagem no meu livro O Templo da Glória Literária. Espero que os meus poemas sejam suficientemente bons para enaltecer o bastante a obra poética destes grandes escritores.
Num panorama mais geral, gosto muito de Rubens Fonseca e de Clarice Lispector.

10.De que trata O Lugar das Coisas?
O Lugar das Coisas é o meu livro e o de poesia, depois de O Templo da Glória LiteráriaVersão Poética e de Ser Como Tu.
Antes de responder, peço que leiam de novo a resposta que dei à questão 6. Depois de relerem, pergunto: neste nosso mundo, dito desencantado, por fora tão deslumbrante e rico de promessas, mas tão desolado e vazio por dentro, onde enraizar a esperança que nos permite ser e viver?
O Lugar das Coisas procura dar uma resposta simples a esta mesma questão, mostrando em simultâneo que não nada de simples, nas coisas mais simples da vida, como o sonho e a alegria, o amor e a felicidade, agora e sempre, o desejo de transcender o real.
Espaço de comunicação e comunhão O Lugar das Coisas alimenta-se da palavra do que somos, como seres vocacionados para a alegria, o amor e a felicidade. Espaço de solução e consolação,O Lugar das Coisas é concebido como um Sol no centro da vida, numa demanda de valor e sentido para existir e ser vivida.

11.Arrisca uma opinião sobre a propalada profecia do fim da era do livro de papel?
Sim, o livro em versão papel vai acabar, como tudo há de acabar um dia. Em relação ao livro em versão papel, creio que o seu fim vai ser ditado pelos gingarelhos electrónicos, cada vez mais sofisticados, cada vez com mais funções, cada vez com mais mecanismos de sedução e de criação da nossa própria imagem, face a nós próprios e sobretudo face aos outros.

12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Vida. Porque a vida é tudo e tudo é vida.


Com alguns leitores, antes do início de uma sessão de autógrafos



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PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de Literatura e Artes
Publicação aos sábados
Edição 77 — 4 Agosto 2012
Edição Miguel Almeida
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
PALAVRA FIANDEIRA é uma publicação semanal editada em São Paulo/Brasil
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3 comentários:

  1. Conheço o Miguel e é um escritor com uma qualidade invulgar.Sou uma leitora assídua dos seus poemas.
    É muito importante este intercâmbio literario entre dois países que falam a mesma língua.
    Como portuguesa deixa-me orgulhosa.
    Rosa Fonseca

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  2. Miguel, gostei muito de te ler neste espaço do grande escritor Marciano Vasques!
    Continuação de sucesso, é o meu desejo.

    Abraço a ambos
    Cecilia V.B.

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  3. Mais um talento que o Marciano nos traz. E que vou escarafunchar, pois gostei dele.

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