EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

PALAVRA FIANDEIRA 143

A poesia faz parte da hospitalidade gaúcha.

Tudo é poesia na minha visão  “desfocada” do mundo... e muito “focada” na realidade de um fato, uma flor, uma janela ou uma mesa torta... Não sei escrever outra coisa. 


PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 143
1º de Março 2014

HAYDÉE HOSTIN

Estar atenta ao mundo e tirar dele poemas, ora doces, ora amargos, 
tem preço, muitas vezes alto.

1.Quem é Haydée Hostin?
Mulher, mãe e avó com os pés na poesia. Meus tempos maduros são mais tranquilos. Tempos de tentar mudar o mundo, esses... vão longe. Hoje, tenho um olhar mais atento, às coisas mais próximas e à natureza. Tenho certeza da minha sinceridade e da palavra que empenho nos meus afazeres. Meus desejos são de fraternidade, de portas abertas à diversidade.  Prezo pessoas, amigos e amigas. Embora me falte a precisão dos maestros, tento manter a família no compasso da alegria e da compreensão. Sou Licenciada em História. Lecionei em Escolas Estaduais do Rio Grande do Sul e também em Particulares. Fui funcionária da UFSM por seis anos. Sou sócia fundadora da Casa do Poeta de Santa Maria, fui Tesoureira, Presidente por três gestões, Vice presidente. Atualmente sou 2º Tesoureira e faço parte do Conselho Editorial da entidade.
Sou Vice Presidente do Fórum das Entidades Culturais de SMaria.
Fui agraciada com a Medalha do Mérito Cultural Prado Veppo, concedida pala Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria/RS   


2.“O tempo é cruel” é título de um de seus belos poemas. O que diria aos leitores da FIANDEIRA sobre esse poema e sobre o tempo?
O livro que contém  “O tempo é cruel”, Coração Guepardo, faz parte de uma época de perdas e mudanças radicais. Há muita confissão, muitas angustias, aversões e também esperança. O guepardo na sua velocidade, representa o horizonte, a distancia em disparada.
O poema faz da metáfora a linguagem para explicar a velocidade dos dias, meses e anos na vida de cada um.
 O tempo, não nos espera. De repente estamos frente ao espelho tão modificados, tão embranquecidos ou flácidos, que nos espantamos, pois é tudo matéria... e no coração (esse custa a se entregar) ainda temos a velocidade dos desejos. São com os desejos que o tempo se espanta!



3.”Equilíbrio de açucenas”: sobre o que trata esse seu livro de tão fascinante título? Pode nos falar algo sobre ele?
Equilíbrio de açucenas é formado por poemas que partem ou partiram do meu jardim interior. É um reviver de poemas antigos ligados a poemas que semeei nos últimos tempos. A reunião destes poemas é um passo ao delírio poético e um “equilibrar-se” nas “açucenas” dos meus sonhos de poeta.
Já os meus editores dizem  que o Açucenas – “é paisagem, espaço generoso no qual a lírica amorosa da poeta se instala e encontra, nesse território esfaimado de beleza...,os quadros que pinta, escreve, propõe uma espécie de panteísmo”.
É um livro que me deu a honra de ser publicado pelo Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, na [coleção originais] Porto Alegre 2013. Premio que me deu muita alegria.



4.Está abrindo o mês de Março, com o retorno de PALAVRA FIANDEIRA, no coração das comemorações do Dia Internacional da Mulher. Deixe aqui o seu depoimento de como vê a situação da mulher atualmente, no Brasil, e no mundo.
Março é o meu mês. O mês que faço aniversário. Tenho um março instalado no meu coração. Adoro esse mês, as suas águas, os seus calores e um outono iniciante ao fim... Por sorte é o mês da Mulher. Embora eu não me enquadre como feminista, tenho um olhar crítico e amoroso em relação às  mulheres. Pessoalmente nunca me senti “menor” por ser mulher, mas é um sentimento particular, de auto estima e reflexão. As mulheres evidentemente têm alcançado espaços de privilegiados de estudos e trabalho. Têm galgado cargos políticos, educacionais e empresariais. Se destaca nas artes, nos esportes. Essas estão na linha do conforto, dos privilégios. Mas, há as que, junto com milhares de seres humanos, são humilhadas, estão famintas, sem direito à educação, saúde, segurança e espaços políticos e institucionais. Lhes falta justiça além do pão.

As mulheres são rosas
deixam perfumes.
São aço – deixam marcas.
Queimam e renascem
à luz da paixão .(HH)


5 Escreveu a orelha do livro de Mara Pittaluga, está presente em Antologias organizadas no Sul, e participa de uma entidade que congrega poetas. Conte-nos sobre essa característica da união literária entre os gaúchos.
O Rio Grande do Sul tem uma história literária vibrante. Santa Maria não é diferente. Aquí é berço do poeta Felippe D’Oliveira (1890-19330). Cidade universitária, é repleta de jovens estudantes, professores de todos os níveis e uma  história que remonta aos demarcadores de fronteiras que aqui aportaram no século XVIII. Sua história passa mais tarde pelos caminhos da ferrovia que, muito contribuiu para inserir a cidade nas mais variadas artes. Pela ferrovia chegavam grupos teatrais, orquestras, cantores, circos e outros tantos artistas.
A nossa entidade Casa do Poeta de Santa Maria, une um grupo bem diversificado de pessoas, mas que têm em comum  a literatura, a poesia. Em função desse trabalho, nos unimos a outros grupos da cidade com variadas expressões artísticas. Santa Maria tem vários grupos literários, que se reúnem, que editam  e lançam livros. Temos muitos escritores premiados e reconhecidos pelo Rio Grande à fora.
 A poesia faz parte da hospitalidade gaúcha. Todas as vertentes da poesia, desde a regionalista e nativista (nem sempre entendidas em outras geografias) até os “atuais” que distribuem poemas pelas ruas.  


6.Seus livros TELHADO DE VIDRO e também CORAÇÃO GUEPARDO são nitidamente de poemas. Essa é a sua grande fortaleza na Literatura, a sua preferência de leitura também?
Tudo é poesia na minha visão  “desfocada” do mundo... e muito “focada” na realidade de um fato, uma flor, uma janela ou uma mesa torta... Não sei escrever outra coisa. Muito embora às vezes escreva. Por isso fico constrangida quando me chamam “escritora”. Sou poeta, tenho “ferramentas” para exercer poesia, sou mulher para a eternidade  ou efemeridade dos versos. E para ser poeta é preciso (como já disse em um poema)  - “saber que poesia é pular muros, desligar madrugadas e as 10 horas da manhã, na dizer nada ao sol, apenas enfileirar as contas do dia ao fio invisível da ternura...”
Leio muitas coisas, mas leio muita poesia. Felizmente leio muito bons poetas, não vou enumerá-los. Não quero excluir ninguém.
    


7.Fale aos leitores da FIANDEIRA algo sobre a revista FORA DA ASA.
A Revista Fora da Asa, nasceu  da necessidade de darmos um rumo diferenciado ao que vínhamos fazendo em termos de publicações na Casa do Poeta de SM. Foi uma aventura linda, que foi bem recebida. As poetas Denise Reis e Maria Regina Caetano Soares foram as artífices, fizeram todo o projeto.
A Casa do Poeta de SM (CAPOSM), realiza semanalmente os “Cafezinhos Poéticos”(já estamos próximos aos 570º, em 12 anos de vida). São desses momentos que nascem inspirações, os desejos de mostrar trabalhos. Fora da Asa colheu as palavras dos  autores a as lançou em voos para a cidade e (felizmente para além dos muros da cidade).
   

8.Escreveu um livrinho delicado chamado AS TARTARUGUINHAS. Conte-nos, por gentileza, a sua visão sobre a importância da Literatura Infantil  na infância.
Para ser bem sincera, não sou autora de livros infantis. Escrevi “As Tartaruguinhas” para minha neta Renata.
Esses versos infantis foram gestados quando minhas filhas eram meninas. Naqueles tempos, eu fazia para presenteá-las, tartaruguinhas com cascas de nozes. Ponto. Ficou no passado. Quando a Renata, já andava por aqui, ganhei em uma Feira do Livro, nozes da minha amiga, escritora Selma Feltrin. Sobraram quatro casquinhas que viraram quatro tartaruguinhas, e deram origem aos versos dedicados a neta. É um “romancinho” que ficou delicado (ao seu olhar) e ao olhar de muitos. É um orgulho bom que tenho.
É fundamental as leituras na infância. Meu livro referencial, meu despertar poético é Alice no País das Maravilhas, que li no Paraná ainda muito menina. Ali nasceu a minha poesia! Embora não me considere escritora, vou até as escolas e falo aos alunos como é maravilhoso os caminhos entre as entrelinhas e  as palavras de um livro.  


9.Embora já esteja em dezenas de Antologias, participou da Antologia Poesia 2013, e esteve na Noite de Lançamento em São Paulo. Como foi e que significado teve em sua vida esse acontecimento?
Conhecia São Paulo de passagem. Agora conheço de “voragem”, pois estive por apenas três dias. Foi uma alegria, curtimos a cidade. Andamos de metrô com cara de felizes. Ninguém entendia nada. Estivemos no Museu da Palavra. É magnífico! O pouco que vimos nos deu a maior tesão.
Participar da Antologia 2013  foi um passo importante para conhecer e ser conhecida por pessoas de destaque na literatura paulista e brasileira. Como são amorosos os poetas e amigos (as) que nos recepcionaram. Como são talentosos (as)  os companheiros (as) de Antologia. Foi um espaço que conquistamos. Não vamos esquecer, São Paulo ficou no nosso coração. Que cidade!


10.O que pensa sobre as já antigas profecias do fim da era do livro de papel?
Não acredito nisso. Todas as formas de expressão permanecem. Olhem os antigos LPs, estão de volta com toda a intensidade.
Livros não serão substituídos, são companheiros. A palavra gravada no papel é sagrada. Ilumina. Atrai. Distrai. Vai para a cama. Viaja. As pessoas compram livros, embora ainda devam comprar mais.
Livros deveriam fazer parte da “cesta básica” como diz o Profº Orlando Fonseca, da UFSM.   

11.Seu interessante poema GUARDANDO, puro de leveza, está na Antologia que comemora 150 anos de Santa Maria. Quais as grandes saudades que você tem e onde as quarda?

GUARDANDO é um poema que nasceu na rua, ao atravessar uma rua.
As minhas saudades e lembranças (eu as confundo), são da tenra infância...são de pessoas, as que já “se encantaram” e as que estão por aí vivendo suas vidas.
Tenho saudades de Santa Maria da minha adolescência  e juventude, dos colégios onde estudei...
Tenho saudades de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, onde morei por vinte anos, onde aprendi coisas fundamentais para minha vida. Além disso a paisagem, os campos e a língua, misturada da fronteira, extremamente rica e pitoresca. Muita poesia ficou na minha alma, naqueles anos, e depois vieram para os cadernos com toda a força.
Mas, as minhas saudades e as guardo no coração e diferente do poema, sem mágoa nenhuma!



12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Participar da Palavra Fiandeira é uma grande emoção. É um exercício de gostoso espanto e responsabilidade. É como lançar um livro.
A  poética tem sido a minha companheira. Estar atenta ao mundo e tirar dele poemas, ora doces, ora amargos, tem preço, muitas vezes alto. A sensibilidade do poeta, o faz “antenado” a tantos acontecimentos,  a tantos e tantos detalhes.
Meu desejo é manter minha mente sempre alerta aos pequenos momentos poéticos. Meus medos são de perder a luz, que ilumina sentidos e sentimentos, de perder a fé que  nos faz correr atrás das pequenas asas da poesia... Perdê-las jamais. É necessária a continuidade dos versos, do canto, das rimas. É preciso viver (mesmo nesse caos) a alegria das páginas iluminadas de poemas que foram escritos por loucos,que lucidamente amam a vida.
Agradeço ao querido poeta Marciano Vasques  pela gentileza do convite. Fazer parte da Palavra Fiandeira é receber o melhor presente de 2014. 



  PALAVRA FIANDEIRA

Ano 5 — Edição 143 — Haydée Hostin
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques 

Março é o meu mês.