A poesia faz parte da hospitalidade gaúcha.
Tudo é poesia na minha visão “desfocada” do mundo... e muito “focada” na realidade de um fato, uma flor, uma janela ou uma mesa torta... Não sei escrever outra coisa.
PALAVRA FIANDEIRA
ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 143
1º de Março 2014
HAYDÉE HOSTIN
Estar atenta ao mundo e tirar dele poemas, ora doces, ora amargos,
tem preço, muitas vezes alto.
1.Quem é Haydée Hostin?
Mulher, mãe e avó com os pés
na poesia. Meus tempos maduros são mais tranquilos. Tempos de tentar mudar o
mundo, esses... vão longe. Hoje, tenho um olhar mais atento, às coisas mais
próximas e à natureza. Tenho certeza da minha sinceridade e da palavra que
empenho nos meus afazeres. Meus desejos são de fraternidade, de portas abertas
à diversidade. Prezo pessoas, amigos e
amigas. Embora me falte a precisão dos maestros, tento manter a família no
compasso da alegria e da compreensão. Sou Licenciada em História. Lecionei em
Escolas Estaduais do Rio Grande do Sul e também em Particulares. Fui
funcionária da UFSM por seis anos. Sou sócia fundadora da Casa do Poeta de
Santa Maria, fui Tesoureira, Presidente por três gestões, Vice presidente.
Atualmente sou 2º Tesoureira e faço parte do Conselho Editorial da entidade.
Sou Vice Presidente do Fórum
das Entidades Culturais de SMaria.
Fui agraciada com a Medalha
do Mérito Cultural Prado Veppo, concedida pala Câmara Municipal de Vereadores
de Santa Maria/RS
2.“O tempo é cruel” é título
de um de seus belos poemas. O que diria aos leitores da FIANDEIRA sobre esse
poema e sobre o tempo?
O livro que contém “O tempo é cruel”, Coração Guepardo, faz
parte de uma época de perdas e mudanças radicais. Há muita confissão, muitas
angustias, aversões e também esperança. O guepardo na sua velocidade,
representa o horizonte, a distancia em disparada.
O poema faz da metáfora a
linguagem para explicar a velocidade dos dias, meses e anos na vida de cada um.
O tempo, não nos espera. De repente estamos
frente ao espelho tão modificados, tão embranquecidos ou flácidos, que nos
espantamos, pois é tudo matéria... e no coração (esse custa a se entregar)
ainda temos a velocidade dos desejos. São com os desejos que o tempo se
espanta!
3.”Equilíbrio de açucenas”:
sobre o que trata esse seu livro de tão fascinante título? Pode nos falar algo
sobre ele?
Equilíbrio de açucenas é
formado por poemas que partem ou partiram do meu jardim interior. É um reviver
de poemas antigos ligados a poemas que semeei nos últimos tempos. A reunião
destes poemas é um passo ao delírio poético e um “equilibrar-se” nas “açucenas”
dos meus sonhos de poeta.
Já os meus editores
dizem que o Açucenas – “é paisagem,
espaço generoso no qual a lírica amorosa da poeta se instala e encontra, nesse
território esfaimado de beleza...,os quadros que pinta, escreve, propõe uma
espécie de panteísmo”.
É um livro que me deu a honra
de ser publicado pelo Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, na
[coleção originais] Porto Alegre 2013. Premio que me deu muita alegria.
4.Está abrindo o mês de
Março, com o retorno de PALAVRA FIANDEIRA, no coração das comemorações do Dia
Internacional da Mulher. Deixe aqui o seu depoimento de como vê a situação da
mulher atualmente, no Brasil, e no mundo.
Março é o meu mês. O mês que
faço aniversário. Tenho um março instalado no meu coração. Adoro esse mês, as
suas águas, os seus calores e um outono iniciante ao fim... Por sorte é o mês
da Mulher. Embora eu não me enquadre como feminista, tenho um olhar crítico e
amoroso em relação às mulheres.
Pessoalmente nunca me senti “menor” por ser mulher, mas é um sentimento
particular, de auto estima e reflexão. As mulheres evidentemente têm alcançado
espaços de privilegiados de estudos e trabalho. Têm galgado cargos políticos,
educacionais e empresariais. Se destaca nas artes, nos esportes. Essas estão na
linha do conforto, dos privilégios. Mas, há as que, junto com milhares de seres
humanos, são humilhadas, estão famintas, sem direito à educação, saúde,
segurança e espaços políticos e institucionais. Lhes falta justiça além do pão.
As mulheres são rosas
deixam perfumes.
São aço – deixam marcas.
Queimam e renascem
à luz da paixão .(HH)
5 Escreveu a orelha do
livro de Mara Pittaluga, está presente em Antologias organizadas no Sul, e
participa de uma entidade que congrega poetas. Conte-nos sobre essa
característica da união literária entre os gaúchos.
O Rio Grande do Sul tem uma
história literária vibrante. Santa Maria não é diferente. Aquí é berço do poeta
Felippe D’Oliveira (1890-19330). Cidade universitária, é repleta de jovens
estudantes, professores de todos os níveis e uma história que remonta aos demarcadores de
fronteiras que aqui aportaram no século XVIII. Sua história passa mais tarde
pelos caminhos da ferrovia que, muito contribuiu para inserir a cidade nas mais
variadas artes. Pela ferrovia chegavam grupos teatrais, orquestras, cantores,
circos e outros tantos artistas.
A nossa entidade Casa do
Poeta de Santa Maria, une um grupo bem diversificado de pessoas, mas que têm em
comum a literatura, a poesia. Em função
desse trabalho, nos unimos a outros grupos da cidade com variadas expressões
artísticas. Santa Maria tem vários grupos literários, que se reúnem, que
editam e lançam livros. Temos muitos
escritores premiados e reconhecidos pelo Rio Grande à fora.
A poesia faz parte da hospitalidade gaúcha.
Todas as vertentes da poesia, desde a regionalista e nativista (nem sempre
entendidas em outras geografias) até os “atuais” que distribuem poemas pelas
ruas.
6.Seus livros TELHADO DE
VIDRO e também CORAÇÃO GUEPARDO são nitidamente de poemas. Essa é a sua grande
fortaleza na Literatura, a sua preferência de leitura também?
Tudo é poesia na minha
visão “desfocada” do mundo... e muito
“focada” na realidade de um fato, uma flor, uma janela ou uma mesa torta... Não
sei escrever outra coisa. Muito embora às vezes escreva. Por isso fico
constrangida quando me chamam “escritora”. Sou poeta, tenho “ferramentas” para
exercer poesia, sou mulher para a eternidade
ou efemeridade dos versos. E para ser poeta é preciso (como já disse em
um poema) - “saber que poesia é pular
muros, desligar madrugadas e as 10 horas da manhã, na dizer nada ao sol, apenas
enfileirar as contas do dia ao fio invisível da ternura...”
Leio muitas coisas, mas leio
muita poesia. Felizmente leio muito bons poetas, não vou enumerá-los. Não quero
excluir ninguém.
7.Fale aos leitores da
FIANDEIRA algo sobre a revista FORA DA ASA.
A Revista Fora da Asa,
nasceu da necessidade de darmos um rumo
diferenciado ao que vínhamos fazendo em termos de publicações na Casa do Poeta
de SM. Foi uma aventura linda, que foi bem recebida. As poetas Denise Reis e
Maria Regina Caetano Soares foram as artífices, fizeram todo o projeto.
A Casa do Poeta de SM
(CAPOSM), realiza semanalmente os “Cafezinhos Poéticos”(já estamos próximos aos
570º, em 12 anos de vida). São desses momentos que nascem inspirações, os
desejos de mostrar trabalhos. Fora da Asa colheu as palavras dos autores a as lançou em voos para a cidade e (felizmente
para além dos muros da cidade).
8.Escreveu um livrinho
delicado chamado AS TARTARUGUINHAS. Conte-nos, por gentileza, a sua visão sobre
a importância da Literatura Infantil na
infância.
Para ser bem sincera, não sou
autora de livros infantis. Escrevi “As Tartaruguinhas” para minha neta Renata.
Esses versos infantis foram
gestados quando minhas filhas eram meninas. Naqueles tempos, eu fazia para
presenteá-las, tartaruguinhas com cascas de nozes. Ponto. Ficou no passado.
Quando a Renata, já andava por aqui, ganhei em uma Feira do Livro, nozes da
minha amiga, escritora Selma Feltrin. Sobraram quatro casquinhas que viraram
quatro tartaruguinhas, e deram origem aos versos dedicados a neta. É um
“romancinho” que ficou delicado (ao seu olhar) e ao olhar de muitos. É um
orgulho bom que tenho.
É fundamental as leituras na
infância. Meu livro referencial, meu despertar poético é Alice no País das
Maravilhas, que li no Paraná ainda muito menina. Ali nasceu a minha poesia!
Embora não me considere escritora, vou até as escolas e falo aos alunos como é
maravilhoso os caminhos entre as entrelinhas e
as palavras de um livro.
9.Embora já esteja em dezenas
de Antologias, participou da Antologia Poesia 2013, e esteve na Noite de
Lançamento em São Paulo. Como foi e que significado teve em sua vida esse
acontecimento?
Conhecia São Paulo de
passagem. Agora conheço de “voragem”, pois estive por apenas três dias. Foi uma
alegria, curtimos a cidade. Andamos de metrô com cara de felizes. Ninguém
entendia nada. Estivemos no Museu da Palavra. É magnífico! O pouco que vimos
nos deu a maior tesão.
Participar da Antologia
2013 foi um passo importante para
conhecer e ser conhecida por pessoas de destaque na literatura paulista e
brasileira. Como são amorosos os poetas e amigos (as) que nos recepcionaram.
Como são talentosos (as) os companheiros
(as) de Antologia. Foi um espaço que conquistamos. Não vamos esquecer, São
Paulo ficou no nosso coração. Que cidade!
10.O que pensa sobre as já
antigas profecias do fim da era do livro de papel?
Não acredito nisso. Todas as
formas de expressão permanecem. Olhem os antigos LPs, estão de volta com toda a
intensidade.
Livros não serão
substituídos, são companheiros. A palavra gravada no papel é sagrada. Ilumina.
Atrai. Distrai. Vai para a cama. Viaja. As pessoas compram livros, embora ainda
devam comprar mais.
Livros deveriam fazer parte
da “cesta básica” como diz o Profº Orlando Fonseca, da UFSM.
11.Seu interessante poema
GUARDANDO, puro de leveza, está na Antologia que comemora 150 anos de Santa
Maria. Quais as grandes saudades que você tem e onde as quarda?
GUARDANDO é um poema que
nasceu na rua, ao atravessar uma rua.
As minhas saudades e
lembranças (eu as confundo), são da tenra infância...são de pessoas, as que já
“se encantaram” e as que estão por aí vivendo suas vidas.
Tenho saudades de Santa Maria
da minha adolescência e juventude, dos
colégios onde estudei...
Tenho saudades de Santana do
Livramento, na fronteira com o Uruguai, onde morei por vinte anos, onde aprendi
coisas fundamentais para minha vida. Além disso a paisagem, os campos e a
língua, misturada da fronteira, extremamente rica e pitoresca. Muita poesia
ficou na minha alma, naqueles anos, e depois vieram para os cadernos com toda a
força.
Mas, as minhas saudades e as
guardo no coração e diferente do poema, sem mágoa nenhuma!
12.Deixe aqui a sua mensagem
final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Participar da Palavra
Fiandeira é uma grande emoção. É um exercício de gostoso espanto e
responsabilidade. É como lançar um livro.
A poética tem sido a minha companheira. Estar
atenta ao mundo e tirar dele poemas, ora doces, ora amargos, tem preço, muitas
vezes alto. A sensibilidade do poeta, o faz “antenado” a tantos
acontecimentos, a tantos e tantos
detalhes.
Meu desejo é manter minha
mente sempre alerta aos pequenos momentos poéticos. Meus medos são de perder a
luz, que ilumina sentidos e sentimentos, de perder a fé que nos faz correr atrás das pequenas asas da
poesia... Perdê-las jamais. É necessária a continuidade dos versos, do canto,
das rimas. É preciso viver (mesmo nesse caos) a alegria das páginas iluminadas
de poemas que foram escritos por loucos,que lucidamente amam a vida.
Agradeço ao querido poeta
Marciano Vasques pela gentileza do
convite. Fazer parte da Palavra Fiandeira é receber o melhor presente de 2014.
Ano 5 — Edição 143 — Haydée Hostin
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
Março é o meu mês.
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