EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 8 de março de 2014

PALAVRA FIANDEIRA 144


Acontece que nesse labor literário, 
minha alma dança e rodopia no meio do salão.



Quero que cada livro meu seja uma espécie de abraço, 
um multiplicador de ternura


PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 144
8 de Março 2014

PENÉLOPE MARTINS


1.Quem é Penélope Martins?

Acho que eu sou uma pessoa com disposição. O resto das coisas tipo como e o que eu estudei, onde me formei, com quem andei e como foram minhas notas, é só o resto (uma montoeira de papel com carimbo e só). Sou uma pessoa mediana de conhecimento mediano, mas com uma disposição de tirar o fôlego de muita gente.


2.Esteve recentemente em Portugal e levou uma bagagem com livros do Brasil. Conte-nos essa experiência, por gentileza.

Em novembro passado fui para Portugal com um projeto bacana, contar e cantar uma história minha junto com uma história de Alice Vieira, autora portuguesa de suma importância para a literatura destinada à infância e juventude. Junto comigo viajou Joel Costa Marques, parceiro nas composições musicais e também nas narrações de história. A amiga Monika Tognollo também viajou conosco registrando todos os momentos com sua máquina fotográfica.

Foi uma verdadeira odisseia. Como o projeto não tinha patrocínio de nada, nem de ninguém, resolvi multiplicar esforços para reunir livros de nossos autores para saudar os leitores portugueses. Assim, convidei amigos autores a me encaminhar um livro destinado ao acervo da Biblioteca da Escola Pública Alice Vieira, em Lisboa. Não pensei que seria atendida em larga escala (risos), mas os amigos autores encaminharam livros e indicaram o projeto para outros autores que também encaminharam e a mala de literatura somou os 30 quilos permitidos para embarque.

Em pleno inverno, tive que me virar com uma mala só para viajar porque a outra mala era feita de histórias.


3.Está com livro na praça. Pode nos falar algo sobre essa sua obra. De que se trata? O que nos pode contar?

Pois é, eu sou uma narradora que também conta as próprias histórias e isso é muito legal porque eu posso, inclusive, reescrever a história cada vez que conto para um público diferente. Agora em abril teremos o lançamento do meu primeiro livro, editado pela Folia das Letras, um conto que inventei para meu filho quando ele ainda era pequenino para convencê-lo a tomar banho. André, meu filho, gostava muito de figuras monstruosas e histórias de botar medo na gente, por isso criei o menino fedorento da cabeleira infestada de baratas.


4.É encantadora de histórias na empresa "Mar de Palavras". O que é ser uma encantadora de histórias?
Gosto muito da palavra encantar. Quem encanta toca o outro com sua empolgação, magia, vontade de viver. A leitura sempre foi para mim um portal rumo ao desconhecido e eu sempre gostei de atravessar a fronteira, descobrir coisas novas e pensar novas possibilidades. Quando conto histórias ou quando faço oficinas com leitores, transbordo essa minha sede de viver e de saber mais. Escutei certa vez que só o conhecimento compartilhado pode se tornar sabedoria. Quero ser um dia uma velhinha sábia, uma senhorinha que fez compartilhar muitas histórias.



5.Como vê a necessidade ou não do contador de histórias em nossa era digital?

Era digital ou analógica, tanto faz, somos carne e osso, somos feitos de sentimentos. Talvez hoje seja ainda mais importante promover encontros ao redor de leituras e histórias justamente porque as pessoas estão conectadas a maior parte do tempo com máquinas. Eu adoro a internet, fiz amigos incríveis na rede social, mas nada substitui o encontro, o cheiro do café, o gosto do bolo, a conversa...


6.O que foi a fanzinada da mulherada?

Mais uma aventura, embora eu não faça parte diretamente desta edição. A Fanzinada da Mulherada é um projeto que reúne arte em diversas formas de expressão e, pela lente de Monika Tognollo fui parar lá registrada como modelo de um ensaio fotográfico em homenagem às mulheres, inaugurando a série da fotógrafa intitulada de “Feminina”. Bom, a palavra modelo aqui deve ser esclarecida porque não era modelo como aquela de revista (coisa que não sou), mas era a mulher de vida real, com mais de 40 anos de idade, que trabalha, arranja coisas da casa, cuida de filhos e tantas outras coisas. Fico feliz que o ensaio desperte o olhar para essa beleza, a beleza de ser mulher e fazer tantas coisas.



7.Para uns a Rede é apenas uma chance de exibicionismo, para outros, é a oportunidade de ampliar a difusão do ideal literário, enfim, para cada qual representa algo. De qualquer forma, a Rede está inserida numa revolução que modifica a cada dia a forma do ser humano se comunicar. Como vê esse extraordinário acontecimento na  humanidade?

A rede social é um grande ganho, não tenho dúvidas. Há quem reclame de publicações tolas e de opiniões equivocadas, mas eu não vejo sob esta ótica. A rede social encurtou distâncias e nos aproximou de gente que seria muito difícil de conhecer na nossa rotina habitual. As trocas de informações existem e são saudáveis, mas é claro, como eu já disse, nada substitui o encontro pessoal. Todavia, na rede social eu mesma suporto saudades de amigos queridos que vivem muito longe de mim e com os quais não posso estar fisicamente presente todos os dias.


8.Aprecia a Literatura Infantil, de modo indubitável. Acredita que a Literatura Infantil possa ser protagonista num processo de Alfabetização?

A literatura para infância embora tenha esse nome não serve somente às crianças, ao contrário, é excelente fonte para alfabetização para todos nós. Não falo da alfabetização de ler e escrever, ou a capacidade de compreender um texto, até porque acho que este papel obviamente a leitura pode protagonizar. Mas gostaria de chamar atenção para alfabetização do sentir, aquela que nós deixa mais permeáveis e amplia nossa percepção de mundo. Quem pode dizer que a obra “OU ISTO OU AQUILO” de Cecília Meireles não sensibiliza leitores mais experientes? E os monstros de Maurice Sendak, também não há uma ilha para eles em nossos corações adultos? Poderia citar inúmeras obras aqui e não terminaria nunca a lista.



9.Falando em Rede, qual o peso real do “Curtir”, o que ele pode exatamente significar de modo geral, ou particularmente?

Curtir de um modo geral significa "li sua publicação". De uma maneira particular serve para alertar publicações que achamos interessantes, relevantes, divertidas. Na rede social tem hora para tudo, tem assunto muito sério que precisa ser compartilhado para que todos tenham acesso à informação, tem coisa bonita que pode inspirar outras pessoas e tem humor. Venhamos e convenhamos, é preciso ter boa dose de humor na vida.

10.Conte-nos algo sobre um sonho que gostaria de ver realizado, em sua vida. E também um que pudesse contemplar a melhoria de vida no planeta.

Meu sonho pessoal é continuar escrevendo e publicando e contando histórias. Eu me formei em Direito e sou advogada. Gosto de poder ajudar pessoas com conhecimento jurídico. Já atuei em processos que me deram muito orgulho. Acontece que nesse labor literário, minha alma dança e rodopia no meio do salão.

Desejo todos os dias um mundo com menos desigualdade social. Por isso acredito na força do conhecimento compartilhado, nesse pão dividido entre muitos.


11.Em seu universo de leitura, qual gênero a deixa mais consigo mesma: a Poesia, o Romance, a Crônica...?

Eu vejo poesia em todos os gêneros. Passeio pelo dicionário e procuro verbetes que me provoquem sensações poéticas. Acho que a poesia é meu estado de espírito com as palavras, é como consigo me nutrir de beleza.



©Monica Tognóllo

12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua Palavra Fiandeira?

A vida me presenteou desde sempre. Fui gerada num lar de amor e respeito, convivi com meus avôs bem de perto e pude aprender com as histórias deles. Não gerei crianças, mas me tornei mãe de dois filhos. Tenho amigos queridos que compartilham os dias comigo (as alegrias e as angústias). Eu sou uma pessoa que tem acreditado no poder do amor, na capacidade que o ser humano tem de transformar tudo a sua volta nutrido pelos laços do afeto. Eu vejo isso na minha própria vida e tento repetir no mundo. Quero que cada livro meu seja uma espécie de abraço, um multiplicador de ternura. O mundo é melhor quando nos deixamos amar e amamos também.


Com JoEL CostaMar
Numa Folia de Letras

PALAVRA FIANDEIRA

Ano 5— Edição 144
PENÉLOPE MARTINS
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques






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