EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 21 de junho de 2014

sexta-feira, 6 de junho de 2014

PALAVRA FIANDEIRA 154

“Não é o material que faz uma boa obra e sim o conteúdo”.


Sou uma artista em constante mutação de formas e conceitos. 




PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 154
07 JUNHO 2014

DJALMIRA DE FREITAS ROSA

        1.Quem é Djalmira de Freitas Rosa?
Uma artista, mulher simples,que ama tudo que faz e fez. Na infância, adorava desenhar em qualquer papel ou tabuinhas tudo que via e observava. Sem materiais próprios, gostava do carvão do fogão a lenha. No decorrer da vida estudou em escola pública e sempre foi estimulada a continuar. Fez cursos técnicos na escola estadual, onde aprendeu muitas coisas que até hoje aplica na vida. Formou-se em ARTES PLÁSTICAS e ARTE DECORATIVA, na Universidade Federal de Santa Maria, na década de 70. Sempre trabalhou e pesquisou dentro desta área, o que sempre entendeu como ARTE. Foi casada e tem três filhos maravilhosos, MINHAS MELHORES OBRAS.
Minha vida nas artes
Minha vida sempre foi direcionada para as artes. Compreendendo a música, plástica e o teatro. A expressividade sempre foi a base fundamental do seu trabalho. Ministrei cursos de desenho e pintura em várias cidades do interior do Rio Grande do Sul, como São Sepé, Júlio de Castilhos, São Pedro e Santa Maria. Como ARTISTA PLÁSTICA comecei como acadêmica na UFSM, fazendo painéis de professores e alunos, retratos em desenho aquarelado, na parede do diretório.
Sempre pesquisando formas e cores (tudo é possível) muita liberdade para criar, sem modismos, nem mesmo imposições. Passando desde a forma acadêmica e real até chegar aos elementos figurativos, às formas abstratas, tudo é fundamental para dar base ao desenho que é a característica mais presente no seu trabalho. O desenho é fundamental sempre.
O medo das cores, no começo, propiciou o surgimento de desenhos em preto e branco e sépia. A descoberta da cor deu-se através da descoberta de processos e a identidade das formas. Para a produção artística materiais diversos são usados, desde o lápis preto, carvão, aquarela, tintas em pva, em acrílica e em óleo. O facilita a identificação imediata de uma característica própria para a sua obra.
Considero-me uma artista, uma mulher inquieta, curiosa, ansiosa, criativa, mas com muita vontade de aprender. Não gosto do “marasmo”, do comodismo, o similar pode cansar, as analogias cansam. As cores podem ser as mesmas, mas as formas não. Existem muitos elementos que podem se transformar em novos elementos plásticos visuais.
Morei em Santa Maria até março de 2014. Consegui, através de grupos, em que ministrava cursos, conceituar o nosso trabalho como uma proposta baseada na expressividade e individualidade de cada um. Acredito que arte é baseada no ser humano como um todo. Fizemos várias exposições importantes. Plantamos e colhemos. Agora, numa nova fase da minha vida, estou morando em Porto Alegre. Novos horizontes, novas propostas, novos artistas. Grandes desafios possíveis e muito trabalho.

2. É artista plástica com uma considerável produção. Qual é, de modo geral, a sua temática, a sua abordagem preferida em suas obras?
Sou uma artista em constante mutação de formas e conceitos. Comecei com retratos e nus (figura humana, com modelo). No decorrer das pesquisas, com processos diversos, todo o elemento visual fez parte da obra.
Figurativos, flores, paisagens, frutas, figura humana e elementos do cotidiano. Sempre gostei de desenhar tudo que via e vejo. Trabalhei com decoração de interiores, fazendo projetos residenciais e vitrines, atividades paralelas, juntamente com a trajetória da expressão artística.


        3. Além de artista plástica, pintando seus quadros, também atua na Arte Digital?
Acho que com a bagagem adquirida durante estes anos, não achei o espectro em que minha obra poderia ser incluída na arte digital, o que não exclui tal possibilidade. A minha liberdade de expressão hoje me direciona para uso de recursos materiais palpáveis, tais como pigmentos recortes, colagens, suportes diferenciados e tecidos, etc. Para não perder a identidade.

    4.Tem uma série de obras intituladas Penumbra. Pode, gentilmente, nos comentar sobre elas? De onde vem a expressão dessa série?
Sobre esta série, ainda está em fase de pesquisa, pois começou como solução de uma necessidade de questões não-plásticas e a descoberta das cores e das imagens fotográficas. Há aí, acredito um novo caminho, um novo link, uma nova abertura como base para pintura e desenho. Um novo ponto de referência.
Pretendo trabalhar com técnicas mistas (óleo, carvão, pó de café, giz de cera e seco) e chegar a um produto diferente ao da fotografia, pois ela serve como elemento de pesquisa de composições e cores.

        5. A partir de quais circunstâncias e por quais acontecimentos em sua vida, quando e como surgiu o seu interesse pela Arte?
O meu interesse pela arte surgiu ainda criança - não especificamente a arte, mas adorava desenhar tudo (família, irmãos, bichos, flores, etc.). Talvez tenha surgido daí a razão de usar vários elementos visuais nas minhas obras. Claro, sem a obrigatoriedade de formas e cores para identificação da obra. A pesquisa sempre foi constante e a evolução do traço e das cores foi essencial para o meu trabalho.

6. Já ilustrou um livro infantil?
Não tive a oportunidade. Hoje faço parte de um projeto, em que procuro interpretar, com desenho e pinturas, contos e poesias de um artista, de um escritor, de um poeta ou de um músico. O que não é tão é fácil, pois a visão que temos não encaixa com o significado que o autor que dar. Tudo é surpresa. Nossa interpretação não é direcionada é mais compacta, PLÁSTICA. É um novo desafio, um novo caminho.


         7. Em sua arte realiza diversos processos de criação e também de técnicas e materiais. Fale, por favor, um pouco sobre isso. Tem, por exemplo, um estilo ou um material que mais aprecia?

Como lecionei em escola pública, onde não existiam materiais, tínhamos que criar tudo. Desde as tintas em PVA, com cores feitas com bisnagas coloridas, giz de cera, carvão, papel reciclado, etc. A partir daí me acostumei a usar qualquer material para me expressar. Sempre pensei: “Não é o material que faz uma boa obra e sim o conteúdo”. Sempre uso técnicas mistas. Misturo tudo que é possível de materiais. Desenho sempre. Não gosto de muita técnica. Acho que a obra fica fria, sem expressão. Meu estilo é livre, sem escolas. Aprecio desde o lápis 6b até a tinta óleo. Uso colagens, massas, suportes diferenciados, papel, papelão, tela, chapas, imagens. Às vezes, nessas misturas nem sei no que resultará, pois o processo macerado, feito com tintas deixadas nas palhetas, é reaproveitado. Tudo é uma surpresa.

      8. E a Literatura? Tem uma preferência de leitura? Romance, contos, crônicas, poesia... Falando nisso, tem algum livro que tenha lido na infância que possa de alguma forma ter influenciado a sua vida ou o seu modo de ser?

Sempre dediquei a leitura voltada à minha área específica, a arte. Não era acostumada a ler só por ler, mesmo porque, sinceramente, o tempo era curto. Na minha infância, escutava muitas histórias e poesias lidas pela minha mãe, mas nada específico. Há cinco anos, comecei a escrever, querendo colocar no papel o que não conseguia com os pincéis. Apenas o que sentia no momento, como forma de dizer algo para mim. Sem textos estudados, sem grandes pretensões.
Gosto de frases e textos que me toquem e que me digam algo. Sou movida a questionamentos. Faço isto constantemente. Preciso deste processo de reflexão. Todo o meu trabalho tem uma ligação forte com isto.
       9. Estive em Santa Maria recentemente na Feira de Livro. Conte-nos algo sobre esse modo de ser do Sul no envolvimento com as Letras e com as Artes...
Morei em Santa Maria por muitos anos. A cidade tem, a meu ver, segmentos direcionados para cada grupo a fim. Nas artes plásticas, por exemplo, segmentos diferentes, música, teatro, dança, literatura. Cada segmento tem suas regras, seus objetivos. E é necessário que a cidades tenham uma entidade para se fortalecer e crescer mais. A feira do livro é um ótimo exemplo de união. Trabalhei por vários anos com grupos de pessoas que mostravam um diferencial. As exposições eram temáticas, com conteúdo e criatividade e individualidade. Levar a arte para o povo é difícil, mas não impossível.

     10.Também escreve, além de pintar? Já teve algum livro publicado ou almeja isso algum dia?

Escrevo o que me vem à cabeça. Quando sinto necessidade de me acalmar, quando estou apreensiva, sinto que me faz bem. Costumo, a minha vida inteira, perguntar e responder e sigo sempre a resposta. Se errar, fui eu. Não editei nada, pois acho que preciso aprender. Esta área é difícil. Talvez esteja aí um novo projeto, um novo desafio. Já fui convidada, mas não estava preparada.

        11.Participa de alguma Associação, alguma entidade de Artistas Plásticos ou Escritores? O que representa em sua vida esse contato, essa amizade e esse encontro com as pessoas no universo artístico e cultural? E considera que a Rede Social, em sua expressão mais genuína, aproxima as pessoas de um modo geral?

Fui sócia fundadora da Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria, fui presidente entre os anos 2000 e 2002. Fizemos um grande trabalho de aproximação de artistas. Com “workshops” e cursos com artistas, de Porto Alegre e locais, que demonstravam os seus processos. Foi um período muito interessante e produtivo. As amizades se concretizaram com as energias e interesses a fim. Propostas de cursos diferentes são necessárias para o crescimento do artista (muito trabalho). Gosto de trocar, aprender e passar adiante conhecimentos. Aprecio a obra de vários artistas que têm a mesma proposta. Acredito que a semelhança faz com que desenvolvamos mais, acreditando sempre na nossa proposta. A rede social aproxima, mas devemos cuidar para não sofrermos uma interferência que modifique a nossa trajetória. As semelhanças existem quando trabalhamos na mesma proposta. Independente de morarmos em qualquer lugar do mundo. Todos temos acesso a tudo. Pesquisar faz parte. Aprender também. Precisamos confiar na nossa proposta artística. Sem modismos. Somos parceiros nas artes.


     12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?


—Somos todos iguais?
Somos todos, porquê?
Amamos, sorrimos, dançamos, cantamos. Vivemos uma vida semelhante, pois necessitamos das mesmas coisas. O que nos diferencia, seria o nosso próprio “EU”, o nosso interior, o nosso espírito.
O invólucro pode ser recheado de beleza, sinceridade, ética e moral. O que faz com que haja uma diferença, de como conseguimos enfrentar o nosso cotidiano. A força interior nos impulsiona a crescer, a buscar elementos para o nosso aprendizado. Todos somos capazes de entender e enfrentar coisas novas que chegam, devemos estar preparados. O valor estético dos elementos vivos, ao nosso redor, são simplesmente imagens aceitáveis. O preconceito, em relação a tudo e todos, só vai demonstrar a nossa ignorância em relação a fatos e propostas de vida que nem sempre são os mesmos. Devemos ter humildade e aprender com o outro, como parte do nosso aprendizado e a família, material e espiritual, está inserida neste contexto.
As necessidades básicas, no decorrer da vida, não se diferenciam de indivíduos com mais ou menos possibilidades financeiras e intelectuais. Ficamos doentes, precisamos de pessoas ao nosso redor, precisamos entender o que nos interessa nesta vida.
O que somos? O que queremos ser? Isso vai depender unicamente de nós mesmos, dotados de livre arbítrio, inteligência e ignorância, para escolhermos o que queremos ser. A escolha é nossa. As diferenças nas escolhas, certas ou erradas, nos farão crescer. Não somos indivíduos sós, contamos sempre o outro para que esta energia funcione.
Certas energias fazem com que consigamos entender o porque de sermos iguais, independentemente de classe social, ideologias políticas, a fé que se professa, credos, etnia. Em cada momento da vida as necessidades que enfrentamos nos encaminham para a superação. Somos capazes de amar sempre!

PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 154
07 JUNHO 2014
EDIÇÃO DJALMIRA DE FREITAS ROSA
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques





©Nesta edição, obras de Djalmira de Freitas Rosa