PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL
ANO 3 — Nº80
25 agosto 2012
IRENE SERRA
Sonhar é o alimento da vida, da esperança, da força.
Recebi o mundo e muito mais...
Imagem em RioTotal
AZALEIA —Imagem em RioTotal
1.Quem
é
Irene
Serra?
Uma
sonhadora.
Geralmente
dedico
meu
tempo
mais
aos
outros
que
a
mim
mesma,
isto
é,
deixo
de
fazer
um
monte
de
coisas
que
gostaria
para
atender
necessidades
de
terceiros.
É
um
erro,
bem
sei,
mas
isso
está
tão
enraizado
que
já
não
dá
para
modificar.
Agora
estou
na
fase
de
“andar”
no
calçadão
da
praia,
bem
cedo.
Mas
logo
me
vejo
sentada
apreciando
a
paisagem:
o
Morro
Dois
Irmãos
me
cala
fundo;
no
Cristo
sinto
a
elevação
da
alma;
a
areia
esperando
as
ondas
me
traz
momentos
de
felicidade
plena.
É
quando
sinto
a
alegria
de
viver
e
de
amar.
2.Você
edita
já
alguns
anos,
ao
lado
do
companheiro,
a
excelente
revista
virtual
RIO
TOTAL.
Pode
nos
traçar
a
história
de
Rio
Total?
Quando
começou,
quem
teve
a
ideia...
Esta
história
começa
em
1994.
A
internet
estava
iniciando
seus
primeiros
passos
mais
concretos.
O
jornalista
Luiz
Carlos
Guedes
-
nosso
editor
chefe
-
ficou
entusiasmado
com
as
possibilidades
que
esta
novidade
apresentava
e
abrimos
um
site
que
se
chamava
Catálogo
do
Rio;
era
um
site
de
propaganda,
visando
à
divulgação
de
serviços
médicos
e
que,
em
aproximadamente
um
ano,
se
estendeu
a
outras
áreas.
As pessoas -
principalmente o comércio e a indústria - ainda não entendiam bem
o que era internet e como ela iria ajudar em seus negócios, sendo
que a maioria nem tinha acesso àquela novidade. Muitas vezes, quando
íamos fazer uma proposta, confundiam internet com NET, que também
estava se consolidando na época.
Dois anos depois
resolvemos criar o Rio Total, com o objetivo de divulgar o Rio. À
medida que expandíamos, sentimos que não éramos só Rio e
começamos a convidar escritores de outros estados e países, que
passaram a colaborar com magníficos artigos, fortalecendo cada vez
mais o CooJornal, nossa seção de literatura.
A partir daí, já
passamos por 8 reformas de lay-out e ampliação de conteúdo.
Ganhamos prêmios e destaque em jornais e isso é muito gratificante.
Luiz Carlos Guedes
3.O
que
é
o
COOJORNAL?
CooJornal
é
a
abreviatura
de
Cooperativa
Jornalística
Digital.
Durante
muitos
anos
foi
página
aberta
a
colaborações
de
jornalistas
e
acadêmicos
que
quisessem
publicar
matérias,
artigos
ou
crônicas
que
não
foram
ou
não
podiam
ser
publicadas
nos
veículos
de
comunicação
que
trabalhavam.
Daí
ter
sido
adotado
o
nome
CooJornal
que
é
uma
homenagem
a
um
dos
mais
combativos
jornais
alternativos
e
que
também
era
uma
cooperativa
de
jornalistas,
publicado
em
Porto
Alegre,
durante
os
anos
da
ditadura
militar.
La Fille de Nulle Part
Cobertura do 65º Festival de Locarno,
por Rui Martins, correspondente internacional de RioTotal
Talvez
a
maior
diferença
do
CooJornal,
seja
o
fato
de
termos
registro
no
ISSN,
o
que
dá
certa
segurança
aos
escritores
na
preservação
de
seus
direitos
autorais.
Outro
diferencial
é
a
preocupação
com
a
revisão
de
textos
de
todo
o
material
publicado,
principalmente
dos
artigos,
contos
e
crônicas.
Com
o
passar
dos
anos,
o
CooJornal
acabou
se
restringindo
a
artigos,
crônicas
e
trabalhos
acadêmicos,
perdendo
o
viés
das
matérias
jornalísticas.
Neste
ano
– 2012
– fizemos
uma
nova
reforma
para
retomar
o
sentido
de
cooperativa
jornalística
adotando
um
sistema
“paper”,
que
é
atualizado
diariamente
com
matérias
de
diversos
órgãos
de
imprensa
– principalmente
do
Rio
– mas,
mantendo
a
publicação
de
crônicas
e
artigos
acadêmicos
e
também
uma
forte
linha
de
informação
literária.
Deuses egípcios em "Feliz Idade", RioTotall
4.Já
foi
agraciada
na
Câmara
Municipal
por
sua
página
dedicada
à
terceira
idade.
Poderia,
gentilmente,
nos
contar
esse
fato?
Havíamos criado a
seção Feliz Idade, voltada a essa faixa etária, àquela época tão
carente de informações específicas. Em pouco tempo fui procurada
pelo vereador Pedro Porfírio que batalhava pela terceira idade e que
sentira ser nosso site relevante. A premiação foi uma honra e
guardo até hoje aquele momento com muito carinho e orgulho.
Hoje,
Feliz
Idade
não
se
atém
apenas
à
terceira
idade,
já
que
felicidade
é
para
todas
as
idades.
Ilustração em Belverede Bruno
5.Luiz
acalentava
um
sonho
de
escrever
um
livro
sobre
os
holandeses
no
Brasil.
Como
anda
esse
sonho?
E
vocês,
entrelaçam,
dividem
sonhos?
Sonhar
é
o
alimento
da
vida,
da
esperança,
da
força.
Quando
se
deixa
de
sonhar
é
porque
se
perdeu
o
sentido
de
viver.
Compartilhar
os
sonhos
é
dividir
seus
mais
profundos
desejos
e
isso
nós
fazemos
sempre.
O
livro
sobre
os
holandeses
continua
na
sua
melhor
fase.
Na
fase
do
sonho,
da
pesquisa,
das
frases
soltas.
Na
realidade
não
é
sobre
os
holandeses
no
Brasil,
mas
sim,
sobre
os
holandeses
como
precursores
das
grandes
empresas
multinacionais
já
no
século
XVI,
através
da
criação
e
administração
das
duas
Companhias
das
Índias
– a
Oriental
e
a
Ocidental.
E
de
como,
na
época,
tinha-se
uma
perfeita
compreensão
do
hoje
tão
badalados
conceitos
de
produção
em
série,
marketing
e
logística.
É
uma
tese
bem
interessante,
porém
extremamente
trabalhosa.
Mas
com
certeza
este
livro
vai
sair.
6.Quais
as
condições
concretas
para
a
viabilidade
do
site.
Quanto
tempo
é
consumido
semanalmente
para
pôr
no
ar
a
revista?
Sendo
edição
semanal,
não
precisamos
de
muitas
pessoas
para
a
elaboração
do
site.
São
só
dois
editores
e
média
de
15
colaboradores
que
enviam
seus
textos.
(Ah,
como
gostaríamos
que
os
enviassem
com
mais
antecedência!).
Recebemos
sugestões
de
matérias
e
releases
de
uma
rede
de
jornalistas
e
assessorias
de
imprensa,
além
de
fazermos
muita
pesquisa
durante
a
semana.
Tudo
é
analisado
e
escolhido
até
quarta-feira.
Aí,
é
madrugada
adentro
para
estar
no
ar
na
sexta
logo
cedo.
Artur da Távola, um dos colaboradores de RioTotal (In Memória)
7.Escreveu
poemas,
como
PROMESSA
A
SANTO
ANTÔNIO,
e
também
crônicas.
Como
anda
a
sua
produção
de
escrita?
Tem
tempo
para
tal?
Não
me
considero
uma
verdadeira
escritora
nem
muito
menos
uma
poetisa.
Sempre
gostei
e
tive
facilidade
em
escrever,
tanto
que
meu
pai
achava
que
eu
deveria
seguir
a
carreira
de
jornalista.
Eu,
ainda
muito
jovem
e
imatura,
apesar
do
apoio
paterno,
queria
ser
da
geração
de
psicólogos.
Escrevo
o
que
sinto
e
como
sinto.
Luiz
diz
que
meus
textos
agradam
porque
não
têm
a
fria
linguagem
jornalística,
têm
a
linguagem
do
coração.
Fico
sempre
na
dúvida
se
é
por
este
viés
mesmo
ou
se
ele
está
apenas
querendo
me
agradar
para
que
eu
continue
fazendo
o
site...
Assim,
não
tenho
muito
tempo
para
escrever.
Mas,
de
vez
em
quando,
bate
aquela
“luzinha
inspiradora”
e
acabo
arranjando
um
tempo
– madrugada,
com
certeza
– para
liberar
a
fala
de
minha
alma.
8.Você
se
emociona,
chora,
se
envolve
com
as
questões
de
seus
amigos,
como
ocorreu
com
a
tristeza
que
sentiu
quando
do
anúncio
do
fim
do
Jornal
do
Enéas...
Mas
fale,
aqui,
um
pouco
de
algumas
grandes
alegrias
que
já
sentiu.
Ah, já tive
alegrias mil. Na vida pessoal são incontáveis, então, vou me
referir a duas trazidas pelo site.
Recebi,
na
seção
Comunidade
Judaica,
email
da
húngara
Judite,
que
procurava
uma
grande
amiga
afastada
pela
2ª
Guerra
Mundial.
Seu
nome?
Helga
Szmuk.
Pois
a
Helga
era
a
responsável
pela
nossa
Astronomia.
Trocamos
mensagens
e
passei
a
ser
íntima
dos
preparativos
do
reencontro.
Judite
enviou
passagem
para
a
Helga
e
me
convidou
para
ir,
também,
à
Hungria.
Helga
ficou
por
lá
dois
meses,
rejuvenesceu,
estava
mais
feliz.
E
eu
também!
De outra feita,
chega-nos email para a seção Vida Saudável. Uma mãe pedia ajuda
para seu filho de 5 anos que apresentava doença rara, com
dificuldade de tratamento no Brasil. Solicitamos e recebemos todos os
documentos e exames de comprovação. Levantamos a bandeira e
começamos a fazer campanha, publicando uma solicitação de ajuda a
alguém que tivesse algum conhecimento sobre a doença. Pois do
Canadá recebemos resposta e o convite para que lá a criança fosse
examinada. A família embarcou e continuamos mantendo contato, até
sabermos da melhora efetiva da criança e que passariam a morar lá.
Vieram se despedir e me presentearam com um mundo de vidro. Recebi o
mundo e muito mais...
9.O
Rospo
e
a
Sapabela,
meus
personagens,
eram
publicados
no
jornal
GAZETA
PENHENSE,
aos
sábados.
Então,
você
os
levou
para
a
internet.
Podemos
dizer
que
eles
surgiram
na
Web
a
partir
de
você.
Como
foi
a
sua
imediata
paixão
pelos
meus
queridos
anfíbios?
E
o
que
pensa
desses
sapos
filósofos
e
suas
conversas
brejeiras?
São
diálogos
muito
interessantes
e
que
levam,
além
de
informação
e
entendimento
das
coisas
cotidianas
ao
público
infanto-juvenil
(e
adulto,
por
que
não
dizer?),
ainda
tem
sempre
um
sentido
reflexivo
que
considero
o
mais
importante
– a
moral
da
história.
Frases
que,
inclusive,
podem
ser
destacadas
dos
textos
e
continuam
dando
sentido
a
situações
diferentes
da
própria
história
em
que
estão
escritas.
Como
você
mesmo
disse
na
história
“A
benzedeira
e
o
doutor”
:
Não
basta
uma
caneta
e
um
papel
para
uma
receita.
A
melhor
receita
começa
no
verbo,
na
alma
aberta.
10.Em sua crônica “Enternecimento” você se refere, inclusive, ao seu amor e sua paixão pelos animais. Fale aos nossos leitores, por favor, um pouco sobre isso, e como foi sua infância.
“Enternecimento”
surgiu
quando
Luiz
entrevistou
um
criador
de
gado
e
trouxe
algumas
fotos
ilustrativas.
Senti,
de
imediato,
a
ligação
de
afeto
entre
o
criador
e
uma
vaquinha,
seu
olhar
embevecido,
correspondido.
Estávamos
em
São
Carlos,
SP,
e
admirei-os
tanto
que
fui
à
fazenda
conhecê-los.
Gosto
mesmo
de
animais.
De
Pirassununga,
vieram
Sansão
e
Dalila.
Noite
fria
e
chuvosa,
deixaram
os
dois
cães
em
uma
caixa
de
sapato,
na
porta
de
casa.
Foi
uma
maldade
o
que
fizeram!
Eles
tinham
apenas
duas
semanas
de
vida.
Hoje,
são
uma
alegria
a
mais,
junto
ao
Pituca,
gato
amarelo
dourado,
uma
lindeza,
que
veio
de
Taubaté.
Enquanto
Pituca
só
falta
falar,
batendo
a
patinha
no
que
quer,
Sansão
e
Dalila,
do
jardim,
nos
olham
e
sorriem
mostrando
os
dentes.
Certa
vez,
em
um
táxi,
conversava
com
minha
irmã
sobre
isso
e
o
motorista
sem
se
virar,
exclama:
a
senhora
devia
levar
eles
para
um
circo.
Pois
é,
ninguém
acredita.
Minha
infância
foi
o
que
de
melhor
pode
se
dar
a
uma
criança.
Meus
irmãos
e
eu
passávamos
as
férias
em
Corinto,
pequena
cidade
de
Minas,
junto
a
vários
primos.
Dançávamos
da
casa
de
um
tio
ao
outro,
íamos
para
Buenópolis,
Diamantina,
pulávamos
para
Belo
Horizonte
e
Ouro
Preto,
íamos
para
a
fazenda,
nadávamos
no
Rio
das
Velhas,
à
noite
deitávamos
na
varanda
para
observar
o
céu
e
as
estrelas.
Quanta
saudade!
11.Incrível
sua
alma,
de
expansão
democrática.
Edita
textos
judaicos,
mas
também
acolhe
textos
com
outros
viés,
podemos
assim
dizer.
Seus
braços
estão
sempre
abertos
para
as
manifestações
de
seus
colaboradores,
jamais
interferindo
de
qualquer
forma,
em
quaisquer
questões.
Conte-nos
como
afinal
se
sente
realizando
esse
projeto
de
vida,
pois
não
se
pode
mais
separar
Irene
Serra
de
Rio
Total.
Só
o
fato
de
estarmos
há
18
anos
ininterruptos
com
o
site
no
ar,
sem
nenhum
patrocínio
efetivo,
já
é
uma
realização.
Agora
já
estou
aposentada
do
consultório
e
me
dedico
quase
integralmente
ao
RioTotal.
Mas
há
alguns
anos
era
bem
complicado.
Após
a
tensa
labuta
do
dia,
trabalhava
no
site
do
final
da
tarde
até
de
noite.
Luiz
dava
aulas
na
faculdade
e,
quando
voltou
ao
rádio,
tive
de
assumir
o
site
com
mais
intensidade.
Mas
fazíamos
com
prazer.
Hoje,
ainda
é
a
mesma
sensação
de
descoberta
e
alegria,
o
mesmo
entusiasmo.
Nem
sei
qual
a
época
melhor.
E
ainda
continuo
fazendo
planos,
acalentando
sonhos
e
desejos
e
o
maior
deles
é,
sem
dúvida,
lançar
a
versão
impressa
do
Rio
Total.
12.
Deixe
aqui
seus
comentários
finais.
Qual
é
a
sua
Palavra
Fiandeira?
Gostaria
de
falar
em
prol
da
cultura.
É
preciso
revitalizar,
manter,
promover
e
até
criar
novos
museus,
salas
de
cinema,
exposições
e
arte,
bibliotecas,
teatros,
etc.
Mas
nada
adianta
se
não
há
público
com
capacidade
intelectual
para
isso.
Então,
o
melhor
é
a
educação
e
começando
pela
básica.
Eu
criaria
uma
disciplina
obrigatória
do
curso
elementar
ao
superior:
cultura.
Assim,
alguns
deixariam
de
achar
que
cultura
é
saber
ler,
escrever,
fazer
as
4
operações
e
ter
lampejos
de
algum
fato
histórico,
além,
evidentemente,
de
saber
contar
o
final
da
última
novela...
PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de Literatura e Artes
EDIÇÃO SEMANAL aos sábados
Edição 80 — IRENE SERRA
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
Oi, Marciano
ResponderExcluirObrigada pela oportunidade. Foi um prazer e uma honra estar em Palavra Fiandeira.
Beijos, Irene