EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

domingo, 10 de novembro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA 141


Entendo que, dentre as felicidades humanas, 
a mais intensa é a que resulta do que gostamos de fazer.



PALAVRA FIANDEIRA

ARTES, EDUCAÇÃO, LITERATURA
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE DIVULGAÇÃO CULTURAL
EDIÇÕES SEMANAIS
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
ANO 5 —Edição 141
Sábado, 9  Novembro 2013

JOSÉ ARRABAL


               1.Quem é José Arrabal?
—Com certeza um cidadão brasileiro nascido em 1946, na cidade de Mimoso do Sul, estado do Espírito Santo, descendente de imigrantes espanhóis e italianos, que sempre tem a estima de sua numerosa família.
Criança feliz e bem criada com carinho pelos pais, após os cursos básico e fundamental, completou cursos universitários e desde jovem exerceu suas mais diversas atividades profissionais.
É um constante professor que acredita no vigor do conhecimento de todas as atividades do saber, assim também um estudante cotidiano, leitor voraz e sem preconceitos, sempre lendo livros, narrativas de ficção, poesia e ensaios de quaisquer áreas, capaz até de ler as linhas das mãos, conforme fez questão de aprender com um amigo cigano.
É apaixonado pelas artes e culturas de todos os povos, desde seus mitos de origem até suas mais contemporâneas obras.
Nessas leituras e apreciação cultural, não se concentra apenas nos conteúdos das áreas ditas Humanas, pois tem idêntico olhar curioso pelas áreas de Exatas e Biológicas.
Privilegia a Música, toda a música do mundo, erudita e popular, igualmente atento à harmonia musical presente em todas as atividades artísticas, seja a música dos sons abstratos, seja a sonoridade rítmica dos traços, das cores, dos monumentos e das palavras.
Não menos, aprecia os esportes. É corintiano vibrante.
Gosta de nadar, em especial, no mar.
Professor, fez-se também jornalista e escritor de livros de ensaios e narrativas.
No jornalismo, exerceu suas atividades em assuntos de Política Internacional e também na expressividade da crítica de artes, mais focado na crítica de teatro e literária.
Escrever é hoje sua atividade mais constante, sendo autor de ensaios e narrativas, crônicas, contos, romances, poesia, histórias para todos, crianças, jovens e adultos. Obras publicadas em mais de 50 títulos editados por diversas empresas do circuito livreiro no Brasil e no exterior.
Tem muitos parentes e amigos. Gosta disto.
É pai de um jovem médico inteligente, correto, brilhante e humanitário.
É igualmente homem de crença religiosa em Deus, crente em todos os Deuses de todos os povos, pois são todos o mesmo Deus.
Não menos é homem de consciência e prática humanista, ciente de que nosso planeta existe para todos em vida comum democrática, associados com paz e fraterna solidariedade. Se assim não é o mundo, em sua realidade cotidiana, no seu entendimento acredita que assim precisa ser e haverá de ser, com sua existência de intelectual dedicado a favor do fim das diferenças sociais, no combates contra as injustiças, os preconceitos e a violência que ainda dividem a Humanidade.
Gosta imensamente de sua cidade natal, que sempre visita, pois mora em São Paulo há mais de 30 anos, sendo paulista adotado com paixão pela cidade, sobretudo por sua condição de urbe de todos os povos.
É de seu agrado viajar, no mais das vezes pelas diversas regiões do Brasil. Brasileiro entusiasmado pelo país, está ciente de que o melhor do Brasil é seu povo trabalhador. Entretanto, não desgosta de nenhum outro país do mundo, nem de qualquer povo, pois todos têm suas boas pessoas, suas belas paisagens, bons costumes não menos dignos de amorosa apreciação.
Se é homem com virtudes, é também homem com defeitos, o que busca enfrentar e superar. De suas qualidades virtuosas, a que mais preza é a modéstia, sempre atento a mantê-la.
Vive consciente da brevidade da vida, daí privilegia a certeza de que o melhor da vida, sua mais essencial conseqüência, é o legado fraterno e solidário que cada um deixa para todos na passagem da existência.
Por conta disto, gosta de semear o conhecimento e assim ser chamado de professor, o que, em seu entendimento, todos são, pois todos têm algo a ensinar a alguém, evidente melhor será se for algo para o bem comum.
É isso aí e não só isso, pois cada um é sempre muitos e também tão pouco e sempre tão menos do que gostaria de ser no decorrer da vida.
Que fazer?


2.Como consegue conciliar tantos afazeres e tantos compromissos culturais? Qual é o segredo da organização do tempo para tanto? 
Pergunta pessoal difícil de responder.
A bem dizer, não sei...
Faço o que considero significativo ou necessário, o que me faz feliz fazer.
Assim cumpro o sentido em minha vida.
Se é importante escrever um livro, não menos importante é fazer o próprio café da manhã ou conversar com um amigo, também viver desperto ou dormir, dar uma aula ou tomar um banho de mar, ler um romance ou ver um jogo de futebol, sobretudo gostar da vida e do próximo com paz, fraternidade, solidariedade. Cada gesto tem seu próprio instante preciso.
Verdade é que não sou homem metódico. Também é verdade que detesto o que me oprime ou oprime os outros. Agrada-me em especial a liberdade. Sobretudo, a liberdade para fazer bem o que gosto de fazer.
Entendo que, dentre as felicidades humanas, a mais intensa é a que resulta do que gostamos de fazer.
Creio que, se há segredo no método para cumprir minhas atividades... conforme induz a pergunta... esse “segredo” é muito mais uma evidencia: cuido do que faço com a mais precisa simplicidade, livre de vaidade, ganância, inveja, competição, egoísmo ou ressentimento.
Assim faço o que deve ser feito, com minhas modestas possibilidades de quem age de acordo com a consciência do bem comum.
Se viver tem vez que é complicado, às vezes até cansativo, é também possível simplificar essa situação da vida. No mais das vezes tento quando é preciso. Manter o bom humor é um bom instrumento para tanto. Não é impossível, nem é tão difícil, alegrar uma eventual tristeza. Pode crer.


3. É autor de livros de ficção para crianças. Conte, por favor, aos leitores da FIANDEIRA sobre sua produção dirigida ao público infantil.
—Sinceramente não escrevo livros de ficção para crianças. Conto e escrevo histórias para leitores de quaisquer idades. O circuito editorial é quem estabelece e determina o segmento comprador privilegiado para os livros escritos por mim.
Com certeza todas as histórias que escrevo principio contando essas histórias para mim e meu agrado. E, se me agradam, passo essas histórias a alguma editora para futura publicação.
Acredito que assim também deve agir o leitor, lendo histórias com o seu agrado de lê-las, sem preconceitos e com o empenho de aprimorar seu gosto pela arte da Literatura.
A bem dizer, a Literatura existe para aprimorar a arte de viver, o que todo livro nos concede através de sua trama, da vivência de suas personagens, de seus conflitos, de sua exposição vibrante e intensa das controvérsias da vida para quem lê.
Creio nisso e constantemente leio com esse propósito.
Se algum de meus livros tem o formato que o circuito editorial entende ser o de um livro para crianças, nada impede que um adulto leia esse livro, se sinta feliz e enriquecido pela satisfação de sua leitura.
Insisto em afirmar: escrevo os livros que escrevo para todos os leitores de quaisquer idades. Prefiro assim.


4. "Da Vinci das Crianças" ´´e uma de suas obras. Qual o eixo condutor da abordagem? O que torna esse trabalho curioso aos olhos da criança? E porque considerou importante a divulgação de Leonardo Da Vinci entre os pequenos?  
—“Da Vinci das Crianças” é só o título do livro.
No meu entender é um livro para todos os leitores, torno a insistir.
Trata-se de uma biografia romanceada de Leonardo da Vinci, livro com belas ilustrações e um texto de feitio que posso chamar de “autobiográfico”, pois seu narrador-protagonista é próprio Leonardo que, idoso, resolve contar sua vida ao leitor.
Escrever essa obra foi para mim uma travessia muito agradável, sobretudo por aquilo que aprendi ao elaborar o livro, reconstruir a vida de Da Vinci através de sua voz própria.
Agradam-me todos os livros que já publiquei. Vale, contudo, afirmar que este “Da Vinci das Crianças”, editado pela Paulinas em sua “Coleção Clássicos do Mundo”, é a mais bela de minhas obras, a mais bem escrita, a mais bem cuidada, talvez graças à grandeza sem igual de sua personagem principal, o próprio Leonardo.
Não em vão é obra que recebeu honroso prêmio da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ).
Em suas páginas, estão o Da Vinci artista e também cientista, sua múltipla paixão criadora pelas mais plenas e vastas áreas do conhecimento, as presenças do menino, do jovem e do velho Leonardo, circulando por atento painel reconstruído de sua época histórica, o Renascimento, período abençoado da história da Humanidade.
Se é “Da Vinci das Crianças” é não menos um Da Vinci para todos.
Disto estou certo e com esse propósito escrevi esse livro em homenagem a Leonardo, a seu significado histórico, à grandeza de seu legado genial.
Admiro Leonardo Da Vinci desde bem garoto.
Desde há muitos anos desejei escrever uma obra a seu respeito.
Creio firmemente que, com esse “Da Vinci das Crianças”, cumpri a contento essa minha antiga vontade. Desde então, publicada a obra, cabe agora a cada leitor me confirmar esse meu contentamento com a missão cumprida.
Que assim seja!
É minha agradecida homenagem a Leonardo Da Vinci!



5. Teve um de seus livros premiados pela conceituada Associação Paulista de Críticos de Arte. Pode nos contar sobre esse acontecimento em sua carreira literária?
—Foi mesmo uma premiação surpreendente. Evidente que fato feliz para mim. Era o meu primeiro livro de ficção publicado e de repente recebo um prêmio por ele.
Faz tempo essa premiação. Aconteceu em 1985.
Sem dúvida trata-se de um prêmio que me trouxe crescente segurança para prosseguir escrevendo e publicando histórias.
No caso, o livro premiado é “A Princesa Raga-Si”.
Um conto singelo com trama que muito me agrada ter escrito e decerto também agrada os leitores, pois ao longo dos anos a obra teve edições diferenciadas com ilustrações diversas e foi muitas vezes adaptada para o teatro, além de ter recebido esse honroso prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Agora mesmo, no limiar de 2014, será história republicada em mais um de meus livros, junto a outros contos que escrevi, em “O Livro das Dez Histórias”. Aguardem.


6."Deméter, A Senhora dos Trigais". O mito Deméter é fascinante. Poderia nos tecer algo sobre ele, a partir do enfoque do livro? 
—O livro “Deméter, a Senhora dos Trigais” é uma publicação da Editora FTD, na Coleção Aventuras Mitológicas. Teve várias edições em formato variado. E uma boa aceitação dos leitores. Mitologia grega é sempre fascinante.
Deméter é realmente uma deusa impar, mulher valente e símbolo da fertilidade. Consta que trouxe as primeiras sementes de trigo e de azeitona para a Humanidade. Que ensinou a semear e a colher, a fazer o pão e o azeite.
E não é só isso. É deusa senhora de um agudo feitio rebelde. Negava-se a desposar outro dos deuses imortais. Quis e foi esposa de um simples mortal. Certa vez desafiou Zeus e o próprio Olimpo. Com igual coragem, enfrentou Hades, senhor deus do reino dos mortos.
Tais ousadias concederam-me o desejo de romancear sua travessia mitológica num livro composto em prosa poética.
Demeter, a Senhora dos Trigais” hoje é obra esgotada, fora de catálogo.
Em breve, vou cuidar de sua republicação.
Espero que sim.


7.Num de seus depoimentos, fala do "vasto romance que todos escrevemos pelo prosseguir da existência", poderia presentear nossos leitores esmiuçando esse seu pronunciamento?

—Estou convencido de que a história de vida de cada um sempre reúne passagens que são realmente fortes e/ou singelos contos, muitas vezes verdadeiros romances vividos ao longo da existência.
Basta recordar o vivido para nos certificarmos disto.
Alias, o próprio Leonardo Da Vinci (que, dentre as múltiplas coisas que fez, ao ser artista pleno e cientista múltiplo, também escreveu contos, preciosas fábulas, invenções conforme as considerava) afirmava que inventar histórias é a mais fácil das invenções. Para tanto, dizia Leonardo, “basta recordar”.
Eis por quê entendo que a vida de cada um sempre reúne contos e, não menos, culmina num romance. Ciente disso e por isso estou convencido de que a Literatura criada pelos escritores, por sua intensa similaridade com a vida, nos aprimora a arte de viver, melhor nos ensina a viver.
Quem lê cotidianamente contos, romances, poesias, bem sabe disto.



                   8. Na infância foi agraciado com o rico privilégio de ter uma professora contadora de histórias. Como vê atualmente, em nossa época transitória para a era tecnológica, a influência ou necessidade do contador de histórias? 
—Pra começo de conversa todas as épocas são transitórias. A tecnologia contemporânea é só mais um instrumento para a vida dos homens, instrumento para o bem e/ou para o mal, assim como foi a roda, nos primórdios da Humanidade, assim como foi a prensa de tipos móveis de Gutemberg produzindo livros em série no Renascimento, aliás invenção nem tanto de Gutemberg pois tal máquina que já existia na China há mais de mil anos.
Não creio que a dita atual “era tecnológica” venha a por fim à valiosa precisão de contar histórias, ouvir histórias, escrever e ler histórias.
Bem se sabe que todas as eras tiveram seus desenvolvimentos tecnológicos próprios e aparentemente surpreendentes e mesmo assim o homem sempre gostou de inventar e apreciar narrativas. De fato, todos os povos sempre inventaram e apreciaram suas narrativas.
Alguns teimam em dizer que o fascínio pela internet afasta os jovens da arte de escrever, quando o que acontece é justamente o contrário. Hoje há milhares de blogs de jovens escrevendo suas histórias para anônimos leitores da web. Hoje qualquer escritor antes inédito, graças à rede, tem muito mais facilidades de distribuir sua Literatura – narrativa ou poesia – para milhões de leitores do planeta, através da internet.
Outro dia, um jovem amigo, após escrever um pequeno conto inspirado num sonho da madrugada do mesmo dia, postou esse seu conto na web, história ilustrada por ele próprio.
Pois bem, no dia seguinte, cerca de dez mil pessoas dos mais diversos países haviam compartilhado a leitura desse dito conto em facebook, com traduções simultâneas e comentários surpreendentes.
A bem dizer, o que ele fez foi tão somente contar sua história utilizando as facilidades do instrumento que ele tinha em mãos, ou seja, a web.
Tenho livros que são baixados por leitores na internet, a bem dizer, pirateados, redobrando suas tiragens impressas. Não me importo com isso. Acho ótimo, pois isso me confirma que alguém quer mesmo ler o que escrevi. E tem vez que percebo fato surpreendente. Se o livro é baixado assim, digamos clandestinamente, enfim, pirateado, logo em seguida crescem suas vendas no circuito editorial.
Então, sem medo da contemporaneidade, vamos prosseguir contanto histórias, ouvindo histórias, escrevendo e lendo histórias, seja onde for.
Que assim seja.
E quanto à professora que me contava histórias no curso primeiro, mestra que me alfabetizou contando histórias em nossa sala de aula... vale confirmar... sempre foi uma mulher genial, para mim, inesquecível, sempre me recordo das histórias que ela nos contava ou lia para nós, seus alunos.
Creio que também graças a ela sou escritor.
Seu nome é lindo, belíssimo o nome dessa professora: Zoé!
Pois é nome de origem grega que significa Vida!
Uma bênção, um presente de Deus para mim!



9.Quem é "A Princesa Raga-Si"?    
—Uma princesa das Índias que inventei. Mocinha que vivia trancada em seu castelo, com medo de sair às ruas, de viver a vida com dinamismo.
Mocinha danada de tímida, com um medão de sujar seu branco vestido de princesa, caso se lançasse ao mundo, convivesse com as demais pessoas, compartilhasse com tudo o que nos rodeia e suas circunstâncias.
Pois bem... eis que um dia chega ao castelo dessa medrosa mocinha justamente um cego... que corajosamente leva Raga-Si com ele através das estradas da vida, mostra a vida à princesa... a vida e tudo mais, suas cores, suas flores, suas gentes, as estações do ano e tudo mais ainda mais... o amor e até mesmo a morte o cego apresenta à princesa.
E o que mais acontece no percurso dessa história?
Quem quiser saber que leia o livro, obra ciente de que apenas são felizes os corajosos, pois quem tem medo da vida nunca é feliz. Pode crer!


10.Que inciativas considera importantes nas pessoas que pensam a Educação, para que as crianças possam ter acesso aos clássicos, seja na escola ou na sua vida comunitária (família, bibliotecárias, internet, amigos)?
—Todas, simplesmente todas. E, dentre estas, o prazer de contar histórias, escrever histórias, semear e distribuir histórias desde as mais simples às mais complexas, sem preconceitos.
Nesse sentido, o Brasil é um país privilegiado. O brasileiro adora contar histórias. Repare bem, se dois amigos se encontram, numa padaria ou botequim de São Paulo ou de uma cidade pequena, e passam a conversar, na satisfação do encontro deles, sempre um conta ao outro alguma história acontecida com ele ou com alguém mais. Brasileiro é assim, sempre um contador de histórias. E que bom que assim é.
Quanto aos livros clássicos, quem os conhece deve divulgá-los, pois todos os livros da literatura clássica reúnem as mais intensas, felizes e/ou controversas situações da vida. E quem os lê sempre mais aprende a viver.

11.Além de naturalmente arrojado, talvez seja o seu mais cativante projeto: transformar em romance o poema "Os Lusíadas", de Camões. Como está o andamento desse projeto? Será dedicado ao público juvenil?  

—É bem verdade que tenho o propósito de transcrever em romance o poema “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões. É sabidamente o mais importante poema da língua portuguesa. Obra poética genial que em prosa narrativa há de se multiplicar para o leitor. Creio que sim.
Trata-se de um trabalho difícil que me exige muita pesquisa, muito cuidado, precisão verbal, vigorosa criatividade, intenso respeito pela obra matriz.
Já estou além da metade do poema, neste meu novo romance.
Agrada-me o que já escrevi. Porém, ainda falta muito para terminar a obra. Creio que em um ano chego ao fim desse árduo trabalho.
Pronto, que ele seja uma justa homenagem a Camões, à história e ao povo de Portugal, também à Literatura em língua portuguesa.
No início do ano, estive em Lisboa. Visitei o Mosteiro dos Jerônimos, onde está o túmulo do poeta. Diante dele ajoelhei-me, orei e pedi a Luís Vaz de Camões que me inspirasse e protegesse no cumprimento dessa missão com “Os Lusíadas”.
Saí reconfortado do Mosteiro. Quem sabe abençoado.
Que assim me favoreça o futuro, ao terminar essa obra que tanto é senhora de meu dia a dia.



12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA? 
—Para tanto e tão feliz oportunidade (que agradeço a você, Marciano Vasques, amigo e colega escritor), prefiro transcrever aqui os parágrafos finais do capítulo “O Leitor é um Escritor”, que encerra meu livro “O Lobisomem da Paulista”, publicado pela Editora Peirópolis.
Que esta seja a minha mensagem final, minha Palavra Fiandeira, nesta longa e para mim muito honrosa entrevista.
Vejamos:
Creio que me tornei escritor devido a meu gosto por ouvir histórias e ler histórias, prazer tatuado em mim por toda essas aventuras na travessia de minha vida, atento ao empenho e esforço das abelhas de meu tio português.
Sei, contudo, que prefiro ler a escrever. Decerto, ler não dói.
Escrever às vezes dói, ainda que seja dor logo transfigurada no mais seguro prazer. Até mesmo creio que leio melhor do que escrevo.
Sei que há escritores que escrevem para ser amados. Outros, porque se julgam infelizes e criam, por suas histórias, mundos diversos, nos quais alcançam alguma felicidade. Há aqueles que escrevem porque não conseguem deixar de escrever. E os que escrevem porque não sabem fazer nada mais senão escrever histórias.
Creio que escrevo por conta do sabor de certas boas saudades, feito quem procura ter o tempo nas mãos por gostar do vivido, mesmo quando inventado. Por gostar imensamente da vida, esse vasto romance de Deus, com intriga e aventuras algumas vezes tão bem resolvidas ou tantas vezes expressas num rascunho rasurado, pleno de falhas que nos revoltam e nos levam ao desejo de reescrevê-lo, ainda que sempre obra-prima de Seu escritor.
Que Deus abençoe o leitor.”




PALAVRA FIANDEIRA

Ano 5 — Edição 141
09 Novembro 2013
PALAVRA FIANDEIRA

Fundada pelo escritor 
Marciano Vasques


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