REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL
Publicação digital de Literatura e Artes
EDIÇÃO 116
ANO 4 —Nº116 —18 MAIO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
FABIANA GUIMARÃES
1, Quem é Fabiana
Guimarães?
—Fabiana Guimarães é
uma pessoa que escutou dentro do coração o chamado da poesia e
decidiu atendê-lo. Dedicada a ela, vive seguindo seus vestígios...
encontrando suas sendas...dentro do cotidiano. Encantada entrega-se à
beleza e transforma-a em histórias, poemas...
2.Lançou o livro Poemas
de sopro e pássaro .
Poderia tecer algum comentário sobre essa sua obra para os leitores
da FIANDEIRA?
—Este é meu segundo
livro editado para adultos. Tenho mais quatro inéditos. Acho os
pássaros seres especiais. Observo comovida
a função deles no mundo. Eles ganham os céus e voltam para a
terra, fazendo conexões entre esses dois opostos. Trazem e levam
a beleza, tecendo com ela uma divina teia. POEMAS DE SOPRO E PÁSSARO
é a expressão poética desse meu olhar encantado com esses seres do
Reino Dévico.
3.Tem um livro
intitulado AYVUERÊ.
Poderia também, gentilmente, nos falar algo sobre ele? E tem títulos
como JANGADEIROS.
Sua vida parece entrelaçada com a vida de pessoas com histórias
populares e com profundos vínculos com a natureza. É isso mesmo?
—AYVUERÊ é uma lenda
indígena criada por mim. Inspirei-me na poética palavra AYVUERÊ
(alma que nunca morre). Ela puxou o fio da história. Fui tecendo-a
com cores e formas pesquisadas na cultura tupi, iluminada pelo povo
Jenipapo Kanidé, cuja reserva fica em Aquiraz, município vizinho
ao meu (Eusebio). O livro conta a história comovente do resgate da
língua tupi-guarani, que possibilita a união de todos os povos
indígenas, formando uma só nação.
Sim, minha vida é
entrelaçada à vida dessas pessoas com histórias populares e
vínculos profundos com a natureza. Nasci no campo e dele nunca me
desvinculei. Entre idas e vindas, em 1992 resolvi voltar a morar na
comunidade ribeirinha do rio Pacoti, colonizada pela minha família,
onde passei minha infância catando vaga-lumes nas noites invernosas;
banhando-me na levada; brincando em mágicos quintais... Desta forma
pude descobrir os sinais da natureza com as próprias mãos,
gravando-os para sempre no meu coração. Esta vivência me permitiu
a grandeza de nunca esquecer que sou filha da natureza. Ela me rege e
norteia. Esta terra também me presenteou com muitos mestres
populares: pescadores, marisqueiras, contadores de histórias,
bordadeiras, rendeiras...Com eles convivi no corpo a corpo da vida,
sendo discípula dos seus saberes. Agora semeio-os no mundo, através
dos meus livros.
4.Acredita que a
Literatura Infantil seja exclusivamente para crianças?
—A literatura infantil,
não é ‘infantil’. É universal. Ela toca e alcança todos que
não deixaram morrer a Criança Divina dentro de si, esta que nos dá
olhos para enxergar o encantamento em cada pequeno substrato do
cotidiano.
5.Atua na Rede Social,
tem um blog. Como vê o futuro da blogosfera diante do avanço e
consolidação da Rede Social?
—As redes sociais,
expõem essencialmente conteúdos, já que os debates promovidos por
elas na maioria dos casos tendem a se esvaziar quando há uma
tentativa de aprofundamento. A blogosfera tende a permite o
compartilhamento de conhecimento. Porém há uma tendência mundial
já em prática, que as pessoas estejam procurando maior
aprofundamento nos conteúdos em busca de conhecimento, inclusive de
forma colaborativa.
BAZAR DAS LETRAS — SESC
6.Pergunta insistente na
FIANDEIRA: Acredita no fim do livro de papel? Chegará essa era ou
essa previsão já era?
—Não acredito nisso. O
livro de papel é algo mágico e permite o exercício da maioria dos
nossos sentidos. Ele é o corpo sólido da essência incorpórea que
o habita. É o único vestígio palpável dela, que nos cabe tocar,
possuir, se relacionar pele na pele através de suas páginas.
Acredito que, mesmo quando o ser humano de tão evoluído, um dia já
prescinda dessa necessidade de posse, ainda assim, o livro de papel
existirá como objeto estético capaz de possibilizar vivências
mágicas de encantamento.
7.Tem alguma obra que
leu quando criança que possa de fato ter influenciado de alguma
forma a sua vida?
—Quando criança, eu
quase não tive livros, exceto os didáticos, onde mergulhava nas
suas imagens e seguia viagem... Grande parte das minhas leituras
foram feitas nos quintais que ofereciam a natureza viva e pulsante
para o meu deleite. Aprendi a ler o grande livro da vida. Ele foi
marcante na minha formação de leitora. Livro na minha infância era
objeto raro, quase hóstia! Hoje me encanto de ver a multiplicidade
de livros que as crianças podem ter acesso, até as de menor poder
aquisitivo, através de inúmeros programas de incentivo ao livro e
à leitura. Cada um mais belo que outro. Alguns dão até vontade de
‘comer’ ...
Só mais tarde, já
cursando letras, uma amiga me apresentou UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO
DOS PRAZERES , de Clarice Lispector. Este literalmente me fez
aprender o prazer pela leitura dos livros de papel, mudando
definitivamente meu destino de leitora. Pude com ele alcançar o tão
falado encantamento pela leitura e comecei a buscar livros e mais
livros... Depois dele, por uma escolha pessoal, os livros deixaram de
ser raros na minha vida. Passaram a ser parte das inspirações
oferecidas pelo Grande Livro da Vida, este que jamais deixará de ser
a minha principal fonte inspiradora.
Na poesia de uma creche
8.Tem pela PAULINAS o
livro O SENHOR DO TEMPO,
que despertou a curiosidade de PALAVRA FIANDEIRA. Qual a abordagem
desse livro, ou melhor dizendo, a que ele exatamente se refere? Sem
tirar o gosto da surpresa do leitor, o que poderia nos comentar sobre
quem possa ser o senhor do tempo?
—Um dia me dei conta: o
tempo é tema recorrente nos meus escritos!
Entre os livros que
escrevi com essa temática tem o ‘O Senhor do Tempo e outras
Histórias’, publicado pela Paulinas, com lindas ilustrações da
grande Simone Matias. De tão lindo, participou da Traçando
Histórias, exposição que reúne os 40 melhores ilustradores do
Brasil, na feira internacional do livro de Porto Alegre.
Trata-se de sete
histórias em versos, que abordam temas da natureza, como os quatro
elementos, a lua... dentre elas, esta deu nome ao livro. Ela fala do
tempo de forma personificada, mostrando a majestade desse senhor
silencioso, que dá conta de tudo em nossas vidas, exercendo poderes
determinantes nos nossos ciclos existenciais.
9.Tem predileção por
algum gênero literário? Poesia? Crônica? Histórias? E ainda, qual
é, para você, a importância do contador de história no mundo
contemporâneo?
—Tenho predileção pela
poesia que vai além do poema e tinge de belezas e encantos todos os
meus poemas e histórias. Ela atinge instâncias incorpóreas e
indizíveis, tornando possíveis, mergulhos inconcebíveis pela
razão.
Acho de extrema
importância a presença do contador de histórias no mundo
contemporâneo. Ele manipula o encantamento com a ponta dos dedos, dá
vidas as histórias fazendo-as transitar entre as eras. Desperta as
adormecidas pelo passado, plantando suas sementes no presente, para
no futuro florirem e frutificarem...
10.Nos conhecemos
através de uma ilustradora, a amiga Teresa Senda Galindo. Como
considera a arte da ilustração num livro infantil? Isto é, qual a
importância do artista ilustrador num livro para crianças?, além
de embelezar a obra, naturalmente.
—Teresa Senda (Senda de
luz) uma nova amiga, mas já muito querida.
Tenho acompanhado pelo
Facebook, um movimento dos ilustradores que diz: NÓS ILUSTRADORES
SOMOS TAMBÉM AUTORES. Infelizmente eles precisão reclamar algo tão
obvio. Sem dúvida alguma, os ilustradores são também autores.
Enquanto nós escritores escrevemos o texto com palavras, eles o
escrevem com imagens, cores, formas...que tornam mais encantadas
nossas palavras. Isso é fundamental, pois essas imagens são lidas
muitas vezes antes das palavras. Aos meus ilustradores, com quem
tenho ficado, até agora, muito satisfeita, quero manifestar aqui
toda minha gratidão.
Teresa Senda —PALAVRA FIANDEIRA 76
11.Considerando que para
o escritor toda sua obra é importante, se tivesse que escolher um de
seus livros para falar algo sobre ele aqui, qual escolheria?
—Difícil responder, pois
cada livro é um filho. Cada gestação e nascimento é especial,
inusitado e singular, me faz plena de graça. Costumo responder a
essa pergunta falando sobre o livro mais recente. Neste caso vou
falar sobre JANGADEIROS, Editora CORTEZ. Escrevê-lo foi uma
experiência que me fez despertar vivências que só estavam
adormecidas, mas vibravam no meu coração. Foi um resgate da minha
história de convivência com o mar e seus heróis marinhos com os
quais convivi desde bem pequena no entorno da minha aldeia.
Com Marco Haurélio no lançamento de "Jangadeiros"
Marco Haurélio —PALAVRA FIANDEIRA 60
12.Deixe aqui a sua
mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
—Parafraseando as
palavras do nosso grande Manoel de Barros: Que
a importância das coisas advenha do encantamento que elas nos
produzem.
Muito me encantou essa
linda oportunidade de falar à PALAVRA
FIANDEIRA.
Que minhas palavras
possam fiar teias poéticas nos corações dos leitores e de alguma
forma, mesmo que secreta, semeiem alguma rasgo de luz.
Agradeço a doce Teresa
Senda, pela indicação da entrevista, e a você, Marciano Vasques
pelo espaço amorosamente concedido.
Na escola Paulo Sá
PALAVRA FIANDEIRA
ANO 4—EDIÇÃO 116
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE DIVULGAÇÃO ARTÍSTICA E LITERÁRIA
PALAVRA FIANDEIRA É UMA PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
FUNDADA PELO ESCRITOR MARCIANO VASQUES
EDIÇÃO 116 — EDIÇÃO FABIANA GUIMARÃES
ficou muito belo,marciano,muito grata!
ResponderExcluirabraço
Bela e oportuna entrevista com a Fabiana, que faz parte de um grupo de talentosos escritores do Nordeste.
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