EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 20 de março de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 22




PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
ANO 1- Nº 22 - 20 MARÇO 2010

NESTA EDIÇÃO:
COLHEITA DE FLORES

MARÍLIA CHARTUNE

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MARCIANO VASQUES ENTREVISTA:

1. Quem é Marília Chartune?

- Mineira de Tocantins, sétima filha de uma família de 10 filhos, sou a mais inquieta de todos. Acho que tenho coragem e determinação (os  outros me definem como inconsequente). Sempre busquei meus objetivos, mesmo que fossem necessárias mudanças radicais, mas sempre sou responsável pelos possíveis e eventuais erros. Sou hiperativa, de gosto eclético e gosto de realizar muitas atividades ao mesmo tempo, o que me deixa atrapalhada às vezes. Tenho dificuldade em dizer "não", por isso me arrisco às vezes a ser incompreendida se falta tempo para a família. Pratico esportes como ciclismo, natação e aero-axé (dança aeróbica) e também faço caminhadas, mas nada disso com muito fanatismo. Gosto de futebol, assisto a jogos no estádio e pela TV, música, dança e literatura. Atualmente participo de dois programas: Rádio Antena 1: Jogo de Cintura ( Só por Mulheres) e Sala de Debate (Cultura, Política, Atualidades, Cidade, etc. feito por homens) Enfim, arrisco dizer que sou apenas uma pessoa que procura conquistar um espaço e ser respeitada como mulher e profissional.


2(A). Participou, como artista convidada de PALAVRA FIANDEIRA, para ilustrar a edição com o escritor Nelson Hoffmann. O que representou para você esse encontro da sua arte com a literatura?
- Uma grande honra ilustrar um texto tão bom, principalmente porque não escolhi, fui brindada. Isso demonstra que o fato de estar de acordo com a obra literária, meu trabalho está muito próximo da ilustração. Frequentemente executo trabalhos similares, como capas de livros, revistas e parcerias com escritores e poetas em publicações. Também o contrário acontece: meu trabalho foi apresentado e descrito em muitas ocasiões por escritores como José Cândido de Carvalho e Geraldo França de Lima, ambos imortais da Academia Brasileira de Letras, entre outros. Em Santa Maria, fazemos interação com escritores e poetas, ora ilustrando, ora recebendo comentários literários sobre nossos trabalhos.

2(B). Como é o seu trabalho de orientação de artistas em seu atelier? De que forma isso acontece?
- Trabalho com alunos desde 1993 em Santa Maria. A orientação é individual, cada um tem seu estilo próprio, mas a formação de "Escola" é inevitável. O traço caracteriza o estilo do grupo, muitas cores são usadas por influência deste trabalho, mas oriento para que se tornem profissionais e participem de mostras competitivas, coletivas e individuais. Tenho alunos com idades e profissões distintas, que no início procuram uma terapia ocupacional ou mesmo um "hobby". Outros querem realizar um projeto de vida adiado. Até tem os que são artistas e querem aprender novas técnicas. Ao final todos se realizam no que fazem e isso me deixa ainda mais comprometida com eles, que se tornaram  colegas de trabalho.

3. Teve um de seus trabalhos artísticos impresso num cartão telefônico da Telecom. Conte-nos sobre isso, fale sobre o trabalho contemplado e o que representou em sua vida essa alegria.
- Há quinze anos sou parceira de um festival de dança "Santa Maria em Dança", cuja identificação visual é sempre uma reprodução de um quadro meu no tema e a cada ano privilegia um grupo ou um estilo de dança. A Brasil Telecom, empresa que confeccionava esses cartões, estampou no ano de 2002 o quadro "Seres", coreografia do Balé da Cidade. Foi a única imagem de Santa Maria que ilustrou um cartão telefônico, tenho muito orgulho de ter sido contemplada com essa oportunidade.


4. Considera relevante, claro, os prêmios na carreira de um artista. E é uma artista premiada. Qual foi o primeiro que recebeu? Como viveu essa primeira emoção?
- Considero qualquer distinção um orgulho para um artista. Receber prêmios simbólicos como medalhas, troféus e certificados é uma recompensa pelo trabalho executado e coloca o artista num patamar de prestígio perante a classe artística e cultural, mas não representa uma promessa de bom desempenho na profissão, pois o que importa mesmo é a regularidade de produção, a lucidez e criatividade do artista. Conta-se um pouco com a sorte, mas o trabalho ininterrupto, a sequência lógica e a divulgação são muito mais importantes. Recebi muitos prêmios na minha profissão. mas o mais importante foi o primeiro: "Medalha de Bronze no Salão de Desenho da Sociedade Brasileira de Belas Artes" Senti uma emoção muito forte quando fui comunicada por achar que era muito remota a possibilidade de isso vir a acontecer. Depois vieram outros prêmios, como troféus-destaque em exposições como a Bienal Latino Americana em Sâo Paulo e medalha de ouro no Salão Nacional Flumitur de Arte, que foram muito importantes e creditam alguns itens ao currículo.

5. Como é ser Personalidade Cultural da AAPSM? Conte aos leitores de PALAVRA FIANDEIRA o que é a AAPSM.

- A Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria é uma entidade fundada em 1992 e tem uma importância muito acentuada em Santa Maria, que é "Cidade Cultura". Promove artistas e incentiva com atividades, cursos, exposições e concede premiações anuais. Como artista ganhei 15 troféus em diversas mostras e eventos, e como fui presidente dessa entidade por duas gestões, assim como participante de todas as diretorias desde a sua criação, fui contemplada com o troféu "Personalidade Cultural" em 2003.

6. É uma artista plástica com um trabalho de encher os olhos e a alma. Já pensou em ilustrar um livro infantil?

- Como artista quero expandir meu trabalho a diversas áreas. Como tenho formação acadêmica, conheço muitas técnicas e sou formada em pintura e restauração. Mas o desenho é uma aptidão que me levou a ter gosto pelas artes plásticas e para ilustrar livros tem que convencer que aquele traço é uma imagem que representa o que está escrito sem que o universo imaginativo do leitor seja prejudicado ou menosprezado. Seria um desafio e eu tenho interesse nisso sim.

7. Falando em Literatura Infantil, acompanha a produção nacional de livros para as crianças?
- Acompanho a área ilustrativa, cartoons e quadrinhos. Participei de um trabalho na Universidade Estadual do Rio de Janeiro com artistas e cartunistas como Maurício de Souza, Henfil, Ziraldo, Décio Pignatari entre outros, sobre Educação Através da Arte em 1978. Esse trabalho ajudou a compreender o universo da criação destinada ao público infantil e como a produção nacional era restrita e pouco elucidativa. Excluindo esses mestres do desenho, destacavam-se à época, Monteiro Lobato, Clássicos da Literatura infantil e Júlio Verne. Aqui em Santa Maria, na Feira do Livro, sempre procurei adquirir livros infantis, além disso, sou amiga e admiradora de alguns escritores e orientei os filhos para a leitura, mas confesso que sei muito pouco do que se produz para o público infantil, além do que aparece nas feiras.

8. Aprecia os temas regionais, o que representa uma valorização da cultura e um amor pela sua terra, sua região, ou seja, a região na qual vive. Ao mesmo tempo, carrega em si a condição do artista como ser universal. Isso confere? Está expresso em sua arte?
Dança gaúcha
- Sim, minha arte é universal, de linguagem simples e fácil compreensão por ser muito objetiva. Mas a referência telúrica é evidente: sou de Minas Gerais e a princípio, minha pintura representava montanhas, paisagens e casarios que identificavam minhas raízes. Ao me transferir para o Rio de Janeiro, onde me formei e iniciei minha atividade profissional, pesquisei a luz e a atmosfera característica da região, pintando cenas do Rio de Janeiro e marinhas. Influenciada por pintores de rua de Paris, iniciei a fase de Cenas Urbanas que até hoje são temas constantes no meu trabalho. No Rio Grande do Sul, me apaixonei pela cultura gaúcha, música, dança e tradição, temas que estão presentes em minha pintura atual, assim como as cenas de rua de Santa Maria, cidade que me adotou e eu amo tanto.

9. O que pensa sobre o verso de Milton Nascimento: "Todo artista tem que ir aonde o povo está". Ou o "Povo tem que ir aonde o artista está"?
Esse lema é verdadeiro, o artista tem que ir aonde o povo está! No Rio de Janeiro, fiquei por quase seis anos ininterruptos, expondo na feira de Ipanema, antiga Feira Hippie, local que recebe visitantes de todo o país e do exterior. Nos dias atuais, a vida agitada não permite que as pessoas visitem museus, galerias com tanta frequência, mas através da internet, esses acessos são possíveis dentro das próprias residências. Além disso, exposições, workshops e  demonstrações de técnicas são realizadas em shoppings, bancos, locais públicos e de grande circulação de pessoas. Isso propicia a um número maior de apreciadores o convívio direto com a arte.


10. Aos doze anos já recebia encomendas para desenhar. Conte-nos sobre isso.
- Sempre gostei de desenhar, mas o lado lúdico foi substituído pelo prático. Sempre que alguém precisava de um trabalho em que o desenho fosse necessário, era uma encomenda certa. Recebia em troca material de desenho ou o que as pessoas achassem justo como forma de pagamento. Por isso, me especializei em retratos de D. Pedro I, Tiradentes, Duque de Caxias para trabalhos escolares de alunos que queriam impressionar ou pais zelosos pelos trabalhos dos filhos. Os parentes solicitavam retratos a grafite, como o do meu tio Raul , f eito quando eu tinha apenas 12 anos e até hoje está em bom estado.

11. Como foi a sua convivência com os impressionistas no Rio de Janeiro, o que representou esse momento em sua vida e para a sua obra?
- Minha formação foi acadêmica e pela Escola Nacional de Belas Artes, UFRJ passaram muitos artistas de diversas tendências: expressionistas, pop, surrealistas, seguidores do suprematismo, enfim, modernistas e contemporâneos. Mas o que mais me influenciou e me encantou foi o estilo impressionista de Eliseu Visconti, Henrique Cavalleiro e Antônio Parreiras. A nova figuração passou por perto, mas a luz e a cor desses artistas me aproximaram da Sociedade Brasileira de Belas Artes, onde esse estilo era muito executado por artistas frequentadores do prédio na Lapa. Na Feira de Ipanema conheci artistas importantes e com alguns convivi mesmo sem que tenha frequentado o atelier desses mestres do pincel. Mas foi na pintura de um espanhol que eu me baseei para seguir nessa linha de trabalho: Joaquim Sorolla, e muitos artistas cariocas também se identificaram com a beleza de suas marinhas e a luz ofuscante dos tecidos brancos das figuras ao sol. A conjunção de luz, cor e movimento norteia meu trabalho há mais de vinte anos.

12. É verdade que em Copacabana conseguiu produzir três mil quadros? Fale, por gentileza, dessa produção, desse período, dessa vertiginosa alegria de pintar;
- Morava em Copacabana e produzia incessantemente pinturas a óleo e aquarelas por encomendas e o mercado de arte era efervescente na década de 80. Em 1981 pintei para a Bolsa de Valores do Rio, um lote de 500 aquarelas para serem dadas em um Congresso da Revista Bolsa. Também criei e pintei os figurinos, alegorias, adereços e carros para uma escola de samba do Rio em 1983. Pintava por mês uma série de 100 telas que entregava aos marchands que vendiam em leilões de arte. Trabalhava dia e noite, contabilizei mais de cinco mil quadros nesses 30 anos de trabalho. Em 1979 ganhei o primeiro prêmio e desde então não parei mais. Claro que o volume de produção não significa qualidade, mas aprender a usar as tintas e os pincéis com destreza foi um dos resultados de tanta produção.

13. Consta que você participa ativamente da vida cultural em Santa Maria, onde vive. Poderia nos pincelar como ocorre essa participação?

- Sou participante ativa da vida cultural de Santa Maria. Além da AAPSM, que já citei anteriormente, integro o Conselho Municipal de Cultura, Fórum das Entidades Culturais, e participo de eventos ligados às artes plásticas, como exposições temáticas em locais públicos, como Base Aérea e Câmara de Vereadores, cursos, workshops, feiras e congressos. Na UFSM ministro cursos extracurriculares em Congressos de design e participo de diversas promoções da entidade. Juntamente com meus alunos levamos o nome de Santa Maria a outras localidades, como Porto Alegre e Montevidéo, com diversas exposições e participações em salões e publicações sobre arte. Atualmente participo de dois programas de debates na rádio Antena 1, com dois grupos e assuntos diversos.

Com a artista plástica Ziza Mezzomo


Com amigos numa exposição de sua autoria
14. Aproveite, e trace-nos um panorama da vida cultural em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

Pintando na praça

- Cidade Cultura, tem  Cursos de Artes, Arquitetura, Desenho Industrial, Música, etc em diversas entidades acadêmicas Federal e Particulares. 
 Museu de Arte além de muitos outros museus específicos de cada área.
 Conta com várias universidades particulares além da Federal.
 Na área de Música temos vários festivais, orquestra sinfônica, corais, bandas de rock, bandas marciais e muitos cantores líricos e populares, além do Nativismo que  é a referência em festivais regionais.
 Além do Curso de Teatro, 
 Várias salas de cinema com lançamentos semanais e concomitantes com as capitais e outros palcos em clubes e escolas para apresentações artísticas, além de palcos ao ar livre em praças e parques. Há também uma Feira do Livro anual com inúmeros lançamentos.
 Nas artes plásticas temos uma produção universitária e dos artistas locais que somam um número expressivo de produtores visuais divididos em vários grupos.      Exposições itinerantes,  mostras anuais, e uma Casa de Cultura que abriga diversas instituições culturais.

15. Estudou na Espanha, onde fez Pós- Graduação. Poderia nos revelar a sua vivência neste período, de que maneira enriqueceu a sua alma artística, além, claro, da aquisição cultural pelo curso?
- Fiz uma pós graduação em convênio da Universidade Federal do Rio de Janeiro com a Escola de Turismo de Baleares, em Palma de Mallorca. A pesquisa foi feita sobre a Influência moura na arte espanhola e a história da arte espanhola até os dias atuais. Foi enriquecedor e produtivo porque além dos livros e anotações de historiadores, pude ver cada etapa do estudo no local, o que ajudou a memorizar e aprofundar os conhecimentos. Além disso, vivenciar a cultura do país é muito bom.

16. Já pensou em realizar algum projeto na área de animação digital, ou coisa assim? Como vê a influência da tecnologia nos fazeres artísticos e de que forma isso poderá modificar os parâmetros estéticos no futuro?
- Nessa área não tive nenhum interesse, isso demandaria muito tempo e eu deixaria outras atividades que considero prioritárias. Mas acompanho a arte contemporânea e há muitos anos vem se destacando o uso desenfreado da ferramenta digital, modificando parcialmente a estética, principalmente nas mostras como Bienais, Documenta, entre outras. Acredito que a arte pura jamais deixará de ter seu espaço, principalmente na ótica de curadores importantes dessas mostras, que ao invés de serem consumidores daquilo que ajudam a divulgar, ostentam em suas coleções, peças de valor indubitável de artistas do pincel, como Francis Bacon e Sorolla.

17. Todos os seus quadros encerram, cada um, uma beleza e às vezes alguns enigmas, revele-nos algo sobre o quadro JUSTIÇA.

JUSTIÇA

- É um tema interessante por levar a idéia de uma deusa que representa a Justiça por ter se sentado ao lado de Zeus e aconselhado nas suas decisões e banquetes. Deusa Themis, apaixona muitos artistas, mas interessa aos profissionais do direito, por isso faço muitas obras encomendadas. Na internet aparece um quadro baseado no Palácio da Justiça de Brasília que foi reproduzido em vários sites de Portugal, Rússia, Itália, Brasil e Oriente. Muitos deram os devidos créditos, mas se tornou domínio público e eu me orgulho cada vez que vejo mais um desses sites e blogs com minha obra, que é uma releitura bidimensional de uma outra em três dimensões.

18. Algo encantador é a predominância de guarda-chuvas, de chuva, de paisagens luminosas com chuvas em sua produção; com esse motivo produziu quadros de extraordinária beleza e rara luminosidade. De onde vem, qual a origem, quando surgiu esse gosto por esse tema?

ÍNDIOS
- O gosto vem do simples fato de ser pictórico. É uma cena bonita, gosto dos reflexos, da água, da composição e do aconchego e proteção do guarda - chuva. Alguns arriscam hipóteses de que eu deva ter tido algumas perdas, mas é muito objetivo, devo ter perdido alguns guarda- chuvas...

19. A poesia procura se expressar de diversas formas. No seu caso, através da pintura, pois algumas de suas telas têm uma extraordinária força poética, que atinge em cheio os olhos do coração. Já se sentiu poeta?
- Seria um desprestígio aos poetas... mas me sinto meio poeta quando consigo em uma única pincelada um efeito mágico e perturbador! Às vezes a veia poética nos alcança, mas a rima é um efeito plástico, uma cor vibrante ou uma luz tênue acompanhada da sombra azulada da manhã que conseguimos imprimir no branco da tela. Me senti poeta quando pintei uma cena do cotidiano carregada de lirismo como a Cinelândia no Rio com seus ambulantes e pessoas que se misturaram em uma pintura leve, monocromática e com uma luz que insistiu em destacar um ponto áureo, que era o indivíduo em questão colocado em posição estratégica para essa finalidade: ser prioridade ao olhar do observador.

20. Fale-nos da sua infância, pois se é na infância que a poesia brota, seja no reflexo do sol no verde de uma folha, na clorofila iluminada pela manhã orvalhada, é de se acreditar que na sua infância, em algum momento, alguma cor ou algo tenha despertado ou criado a artista que viria a se tornar, pois a arte não é só a técnica, mas também a alma exposta. Quando surgiu a artista Marília Chartune?
José Cândido de Carvalho escreveu para o Jornal "O Fluminense" de Niterói:
..." é que a moça Marilia nasceu para pintar como o vento para ventar e o rio para correr... não precisa de apresentação de ninguém... nem do Papa nem do Rei. É só chegar e dizer: -Veja esse azul que tirei do céu no verão passado! Estará apresentada...divinamente apresentada!"
Esse trecho do texto publicado na sua coluna define o que eu sempre fiz. Iniciei um curso de Engenharia Civil na Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, mas abandonei para seguir meu rumo traçado desde a infância. Herdei de meu pai, um exímio desenhista e pintor de paisagens que nunca me saíram da lembrança, mas se perderam nas mudanças, o gosto pela arte. De minha mãe, herdei a coragem e a energia para o trabalho, além de que ela sempre me colocou frente ao compromisso de executar essa tarefa. Os dois são minhas referências, inteligentes e sempre dispostos, meu pai com 91 anos e minha mãe com 83 ainda trabalham, adoram ler, passear e conviver com as pessoas. Então a cor, o reflexo, a manhã orvalhada como a que se referiu na pergunta podem estar representados na minha infância pelos meus pais que me abriram os olhos para a luz, exposição da alma e acreditar que toda aptidão tem que ser acompanhada da técnica e do trabalho para que se transforme em produto.

21; Um de seus motivos de poesia e mel é o quadro "Grávida". Como surgiu a sua inspiração para essa obra?


Grávida II
- Foi encomenda de uma aluna que estava grávida, se tornaria mãe solteira de um filho com nome de arcanjo que nasceu prematuramente. Me sensibilizei com a dor e o amor dela pelo filho, inclusive pela incerteza de que o filho sobreviveria. Mesmo assim ela quis presentear o médico que foi solidário e amigo com uma tela minha. A inspiração foi passada por ela.

22. Fale, por favor, um pouco sobre a arte contemporânea. Como anda a produção atual? Certamente acompanha. Poderia citar alguns artistas, cujo trabalho a encanta?
- A arte contemporânea é uma linguagem usada pelo artista para explicar a própria linguagem. às vezes efêmera, não é de fácil consumo, mas quem disse que não é arte? Pode ser bi, tridimensional ou holográfica, mas é acompanhada quase sempre de um memorial descritivo como a arte conceitual e ninguém precisa entender. No Brasil poderia citar alguns pintores contemporâneos de grande aceitação e valorização no mercado: Geração 80, grupo formado no Parque Lage lançou Daniel Senise, Leonilson, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, etc

23. Remetendo-a à nona pergunta, o que deveria ser feito para que o povo, o grande público, tivesse mais acesso à arte?
- Educação na infância para que a prática de consumo de artes plásticas, música, dança, teatro fosse mais difundida e séria, deixando de ser apenas no sentido lúdico e apreciativo, mas no sentido cultural e de preservação das tradições de toda a comunidade a que pertencemos.
Arte menos elitista, principalmente nas classes intelectuais e acadêmicas que se trancam em seus espaços físicos e não interagem com a sociedade.
Manifestações multidisciplinares com as várias formas de divulgação: Literatura, publicidade, música, dança, performance com várias linguagens

24. Essa pergunta faz parte do estatuto de PALAVRA FIANDEIRA: O que é para Marília Chartune a felicidade?

- Felicidade para muitos é uma bênção, mas para mim é uma conquista...

25. Deixe a sua mensagem para os leitores de PALAVRA FIANDEIRA.

Para apreciar a arte não se deixe levar pelo "gosto-não gosto". Duvide da crítica de "plantão", ninguém tem autoridade para decidir o que você vai querer ver, ouvir, fruir ou se arrepiar de emoção. Arte é empatia, prazer, atração, ou simplesmente cultura... tire suas próprias conclusões!!!

Marília Chartune Teixeira 
Põr do sol em Santa Maria - Rio Grande do Sul
Arte de Alexandre Frasson Domingues em Papel de Parede 

Trecho da Primeira Quadra da Dr. Bozano em outono chuvoso
Óleo sobre Tela 1,00x0,70 - Enfoque para o movimento e a luz

3 comentários:

  1. UM PASSEIO MARILIANO SOBRE TUDO...
    A ARTE DA ARTISTA E DA MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA COMO UM TODO, ONDE O TEU OLHAR CRÍTICO-CONSTRUTIVO ENGLOBA MAIS QUE O SER ARTISTA, MAS O DOM DE FAZER ARTISTAS, DE INCENTIVAR OUTROS COM TALENTOS ADORMECIDOS OU NEM CONHECIDOS POR ELES PRÓPRIOS.
    A VANTAGEM DA INTEGRIDADE DO TEU PENSAR É LÚDICA A PARTIR DO MOMENTO QUE ADMITE QUE TUDOTE INFLUENCIA MAS NEM TUDO TE AGRADA COMPLETAMENTE, E AÍ ENTRA A VANTAGEM DE SABER SER SELETIVA COM O QUE ESCOLHES.
    INDO MAIS ADIANTE, PERCEBE-SE UM TOQUE DA MAGIA DAQUELE MITOLÓGICO PIGMALEÃO, QUE CONSEGUIA DE FORMA SENSÍVEL, PENETRAR E TRANSFORMAR TUDO.
    ESTA CARACTERÍSTICA VEM ACOMPANHADA DA TUA PORÇÃO MINEIRA DE FAZER AS COISAS, COM CALMA, COM OBJETIVIDADE, MAS SEMPRE MUITO TRANQUILA NOS RESULTADOS BUSCADOS.
    O QUE A GENTE DEPREENDE DA ENTREVISTA É QUE CONSEGUISTE CARACTERIZAR TUDO O QUE ENVOLVE A TUA INSPIRAÇÃO, A TUA CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO E PRINCIPALMENTE A INTEGRALIDADE DO TEU TRABALHO, COMO MESTRA DOS TEUS ALUNOS, INCENTIVANDO-OS A SEREM MAIS QUE SIMPLESMENTE AMADORES, E O TEU PRÓPRIO TRABALHO COMO MEIO DE EXPRESSAR-SE.
    QUANDO TE ENVOLVES EM PROJETOS, SEJAM QUAIS FOREM AS CAUSAS, OU TEMAS, CARREGAS TODOS NO TEU ENTORNO COMO FORMA DE CRESCER E FAZER A ARTE COMO UM TODO.
    PERCEBE-SE AINDA QUE NEM TUDO ESTÁ FEITO NA TUA INTENÇÃO, QUE TENS VÔOS AINDA NÃO ALÇADOS, E QUE ESTÁS MATURANDO IDÉIAS NOVAS ASSOCIANDO ARTES PLÁSTICAS, LITERATURA, VIDA, SERES HUMANOS PEQUENOS E GRANDES.
    ACREDITO QUE NO FINAL DESTE PRESENTE QUE RECEBESTE DA PALAVRA FIANDEIRA, VAI NASCER UM NOVO PROJETO, JÁ EMBRIONÁRIO PELO QUE SE PODE PERCEBER: ILUSTRAR UM LIVRO, PARA CRIANÇAS OU PARA ADULTOS, OU TAMBÉM ADULTOS QUE NÃO ESQUECERAM QUE FORAM CRIANÇAS.
    CONHECENDO TUA ATITUDE PERANTE A ARTE COMO UM TODO, DIRIA QUE MARILIA CHARTUNE É AGORA AINDA MAIS HIPERATIVA QUE QUANDO CRIANÇA, OU QUANDO COMEÇOU A FAZER ARTE, BASTA OLHAR O CONJUNTO DA OBRA E A GENTE VAI SENTINDO QUE AS UDANÇAS OCORRIDAS FORAM TODAS NO SENTIDO DA CRIAÇÃO GLOBAL DO SER HUMANO CHAMADO MARILIA CHARTUNE, A ARTISTA ENGLOBOU A MULHER, E A MULHER TRANSFORMOU A ARTISTA INTRÍNSECA NO SER HUMANO.
    PARABÉNS LILINHA, A ENTREVISTA FICOU IRRETOCÁVEL. POR ENQUANTO É ISSO, VEJAMOS A PRÓXIMA REALIZAÇÃO.

    Martha Moro da Rocha

    Marth@/)

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  2. Se possível gostaria de comprar o quadro "Justiça".

    Poderia me passar o contato da artista ou pedir para que ela entre em contato?

    Respondo no e-mail raphaelsouzadealmeida@gmail.com.

    Att.

    Raphael.

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  3. Chartune é pura técnica,poesia e talento. Parabéns, Marciano, por trazer à luz essa preciosidade.

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