EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 6 de março de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 19



  
PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
ANO1 - Nº 19 - 08 DE MARÇO DE 2010

Rocío L´Amar
CHILE
"no sé cuándo podré escribirte"

NESTA EDIÇÃO:

OITO MULHERES

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OITO MULHERES

Tendo como referência uma pergunta geradora, oito mulheres teceram palavras para a edição de PALAVRA FIANDEIRA – Dia Internacional da Mulher. Com vocês, elas!


1. ¿Cómo ve la participación de la mujer en la literatura contemporánea o las artes? ¿Cuál es su contribución a la cultura de la gente?

1. Como você vê a participação da mulher contemporânea na Literatura ou nas artes? Qual a sua contribuição para a cultura dos povos?
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GLÓRIA KIRINUS



Dois grandes blocos do conhecimento e da vida fazem parte do meu cotidiano profissional. Um deles é relacionado à educação e outro é relacionado às artes, em especial à Literatura. E as leituras e reflexões  sobre o atual e o cotidiano, no universo da Pós-modernidade, levam minha atenção tanto à Educação como à Literatura.
Diante do convite para responder esta pergunta, meu olhar ficou mais aguçado para observar a mulher da minha época. Não faltaram oportunidades para vê-la em congressos, na universidade, no comércio, na política, na rua. Prestei atenção também no homem que a acompanha e também procurei na prosa e na poesia quem me falasse da mulher. E como os poetas falam dela em todas os tempos e espaços literários!
Temos nas artes e na literatura grandes exemplos do olhar masculino sobre a mulher analisada, observada, desejada e principalmente formada pelo imaginário masculino. A mulher escreveu pouco sobre o homem e pouco se sabe do corpo masculino. Mas o homem tem em relação à mulher as mais variadas metáforas. Ora somos infantas brancas, frias e pálidas; santas e puras. Ou somos quadros vistas como pinturas eternamente sorridentes. De repente viramos rosas, lírios perfumadas; ou enfeites e adornos. também fomos pombas, folhas, palmeiras, flores e ainda frutas.
Outras vezes o homem não quer vê-la nem nua nem vestida e declara seu medo abertamente. Temos a mulher devoradora, a mulher aranha, a mulher serpente. Mario de Andrade tem um ensaio muito interessante sobre amor e medo onde descreve o medo que o homem sente pela mulher. Vejam como, numa outra época, Vinícius de Moraes ilustra este temor: “Que eu não posso mais, ai/ que esta mulher/ me devora/ que eu quero fugir/ quero a minha/ mãezinha, quero/o colo de nossa Senhora//
Entre medos e assédios o homem cataloga e divide a mulher e também vive o conflito de suas divisões e se debate entre a mulher santa ou a pecadora, entre Venus e Maria. A escrita da mulher ainda é tímida, ainda ocupa um espaço menor nas editoras,  mas quando ela acontece intimida. Como não perder o prumo diante do susto de sua escrita? À grande e milenar fiandeira de histórias renasce em cada texto e que não lhe falte linho, papel ou um bom teclado para maiores atrevimentos na escrita e nas inéditas costuras da vida. 

GLÓRIA KIRINUS
Autora de Literatura Infanto-Juvenil e livros teóricos e Professora de Didática UFPR



MICHELLE BEHAR



A mulher sempre teve uma sensibilidade diferente à do homem. Ela tem um sexto sentido, um alcance a intuição e a um lado espiritual que ela alcança com mais facilidade. E a arte, como expressão dos sentimentos, encontra na mulher o mais alto grau de expressão. Com a sociedade moderna, que não exige mais da mulher só um papel doméstico, ela tem conseguido cada vez mais se colocar nesse mundo artístico cultural.
Minha contribuição tem sido tentar colocar esses sentimentos na arte, sentimentos que tenho recebido em forma de intuição e que as vezes trazem consigo ensinamentos não só culturais mas espirituais também. E assim a razão passa a aprender com o sentimento, que em minha opinião é como deveria ser. E espero logo poder publicar essa experiência onde as singelas linhas poéticas são ilustradas com pinturas e gravuras.

MICHELLE BEHAR
Artista Plástica


MONTSERRAT 
ESPANHA


La mujer es muy importante en el mundo de las letras y las Bellas Artes.
Pero, hasta hace no muchos años no estuvo reconocida. En Cataluña tenemos el caso de la escritora Catalina Albert, que tuvo que firmar sus libros con el seudónimo de Victor Catalá, ya que a las mujeres se las tenía muy marginadas.
Uno de sus libros más conocidos fue Solitud.
En el mundo de la Pintura, admiro a Frida Kahlo, pintora mejicana  quien a pesar de su minusvalia, fue una mujer valiente y luchadora, que nos regaló su arte.
Actualmente hay varias escritoras  a las que admiro y leo.
Las mujeres han tenido que realizar un esfuerzo, a veces soportar burlas e humillaciones para llegar a ser escuchadas..


A mulher é muito importante no mundo das letras e das Belas Artes.  Porém, até alguns anos atrás , não foi reconhecida. Em Cataluña, temos o caso da escritora Catalina Albert, que teve que assinar seus livros com o pseudônimo de Victor Catalá, já que às mulheres eram muito marginalizadas.
Um de seus livros mais conhecidos foi Solitud.
No mundo da pintura, admiro a Frida Kahlo, pintora mexicana, que, apesar de sua deficiência, foi uma mulher valente e lutadora, que nos presenteou com sua arte.
Atualmente, há várias escritoras que admiro e leio,
As mulheres tiveram que realizar um esforço, às vezes, que suportar piadas e humilhações para serem ouvidas.


MONTSERRAT  LLAGOSTERA VILARÓ
Blogueira e lutadora pelos direitos humanos


CARMEN EZEQUIEL
PORTUGAL


 Ao longo dos séculos que a mulher tem adquirido o seu espaço no seio de uma sociedade meramente hominizada, em que a transformação do animal em homem deu lugar de destaque a este género, como se único fosse e de uma omnipotente presença se tratasse.
Durante séculos, que várias "estrelas" brilharam neste mundo, não só da literatura e das artes, como em todas as outras áreas, em que as mulheres têm vindo a conquistaram um papel principal. Muito sofreram para nos dar a "liberdade" que hoje temos...
Disso ninguém questiona...disto qualquer pessoa sabe e reconhece.
Convém relembrar mulheres como Ana de Castro Osório, Sigrid Undset, Maria Lamas, Maria Antonietta Macciochi, Teresa Claramunt, Lutgarda Guimarães de Caires, Angelina Vidal, Beatriz de Luna, D. Maria I, Albertina Paraíso, Simone de Beauvoir, Francisca Wood, Florbela Espanca, Rosa Lobato Faria, Sophia de Mello Breyner,... entre milhares de outras.
Foram elas que permitiram à mulher de hoje questionar-se sobre a sua acção; manifestar-se; opinar; alertar; actuar;... com toda a sua sensiblidade, emotividade, inteligência, sensatez e timidez, próprias do seu estado de Ser. Hoje é muito mais fácil Ser Mulher e muito mais "acertado" pertencer e participar nas diferentes áreas desta nossa tão frágil sociedade.
É com estas mulheres que aprendo; retirando delas, das suas histórias de vida, das suas façanhas e das suas palavras; para continuar o trabalho que elas começaram.


CARMEN EZEQUIEL 
Poeta, articulista, colaboradora  da Revista PALAVRA FIANDEIRA 


ALINA PERLMAN


O Dia Internacional da Mulher coloca em foco sua capacidade, seu valor, seus direitos, suas necessidades, suas carências, suas conquistas.
O Dia Internacional da Mulher é uma vitrine. Traz à luz a realidade. A de que em muitas culturas e camadas da sociedade a mulher ainda é subjugada, sofre, é destratada, sacrificada, desrespeitada, violentada de várias formas.
A mulher que se destaca em qualquer área tem o dever, a responsabilidade, de usar de todas as armas de que dispõe para amainar, ajudar a transformar esta triste realidade. De um lado mostra ao mundo que ela conquistou seu espaço, de outro trabalha para abrir espaços e aumentar as possibilidades de outras mulheres. 
A voz da mulher na literatura é uma arma poderosa. Informa, critica, envolve, aponta, indica caminhos. Cutuca, emociona, persegue, traz para perto, faz sonhar, modifica, aplaca a dor. Acarinha, cuida, protege, expõe. Sutilmente. Ferozmente. 
Procuro, dentro da literatura para crianças e jovens, marcar meu espaço. E me fazer ouvir.

ALINA PERLMAN
Escritora, autora de Literatura Infantil



REGINA SORMANI




 Pensando a respeito do universo feminino, temos que considerar que as mulheres só começaram a estudar em meados do século 19, aqui na capital, amparadas pela legislação. Até então, eram preparadas desde cedo para as funções de mãe e esposa. Devo acrescentar que em muitos casos, esses papéis predominam até os dias de hoje. A partir da década de cinquenta, o comportamento feminino veio se modificando e, nós, mulheres, conquistamos novos espaços. Entretanto, continuamos acumulando tarefas e jornadas. De uma forma ou de outra, a mulher sempre contribuiu, batalhou por um mundo melhor, com sua sensibilidade e bom senso, mas, falando de mulheres notáveis, ligadas à Literatura quero lembrar das escritoras que ocuparam cadeira na ABL, tais como: Rachel de Queiróz, Lygia Fagundes Telles, Zélia Gattai e Nélida Pinõn, esta que foi a primeira mulher a presidir a ABL. Ainda na área da Literatura é necessário citar a maravilhosa autora de livros infantis Tatiana Belinky, primeira personalidade a ser homenageada pela AEILIJ SP, no ano de 2007, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Mulheres que se destacaram nas Artes Plásticas foram várias. Dentre elas, posso citar: Tarsila do Amaral e Anita Malfatti que participaram do Movimento Modernista e cujas obras podem ser encontradas no MAM, aqui em São Paulo e no exterior. Maria Bonomi, gravadora, tem trabalhos primorosos expostos em galerias particulares e também no MASP. Outro segmento que vem sendo conquistado pelo talento feminino é a ilustração. Enfim, vamos caminhando, superando obstáculos e seguindo em frente.

REGINA SORMANI
Escritora, autora de Literatura Infantil, Pedagoga e coordenadora da AEILIJ- SP


JÉSSICA LIMA


Essencial. Não dá para pensar em literatura ou em qualquer outro modo de arte sem a presença feminina. Em tudo que faz, vemos a delicadeza e a força tão próprias da mulher. E aí está a diferença.

Na literatura, por exemplo, encontramos Cecília Meireles com sua poesia feminina e estilo próprio. Outro grande exemplo é a escritora Clarice Lispector, que tão profundamente escrevia sobre amores, paixões, desilusões e o vazio da alma que se devia a um mundo onde dizia que "as pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas e vivem com charlatanismo". Lispector conforta muitos corações. Quantas mulheres não se viram descritas nas páginas de seus livros?

Assim como a literatura, a arte também conta com grandes nomes, como Anita Malfatti que foi responsável pelo primeiro marco da renovação das artes plásticas no Brasil, e Tarsila do Amaral que, junto com Malfatti, participou desta renovação, mostrando em suas obras questões do país em vários aspectos, dentre eles, o social.

Também há a música, e aqui vale destacar Elis Regina, grande voz que marcou a música popular brasileira. Saindo do âmbito nacional, não posso deixar de citar a mulher que inspirou o nome do meu blog: Edith Piaf. A cantora e atriz francesa emocionou muitas plateias e é exemplo de sensibilidade e coragem. E por aí segue a participação da mulher na cultura.

A mulher é um dos maiores símbolos de determinação que há. E é por isso que existe um dia só delas. Afinal, a mulher sempre esteve na luta para quebrar os muitos preconceitos e ganhar seu espaço, tanto na cultura, onde ela enriquece, ensina e constrói, quanto em lutas sociais em busca de um mundo melhor e mais justo.

JÉSSICA LIMA
Publicitária, autora do blog "Publicidade em Rosa"
(www.publicidadeemrosa.blogspot.com).



MARÍLIA CHARTUNE



Nas artes e na literatura, a participação feminina em toda a história foi gradativamente aumentando com o passar dos anos e somente no século XIX é que alcançou notoriedade, chegando até os dias atuais com semelhança e número em  qualidade com a produção masculina. Importante lembrar que a mulher sempre exerceu seu pendor artístico e literário, mas foi mantida à margem por ter seu trabalho tido como hobby  ou ocupação doméstica. A escritora existencialista Simone de Beauvoir e a escultora Camile Claudel viveram algum tempo à sombra de Sartre e Rodin, respectivamente, até que a devida importância lhes fosse atribuída.
Como artista plástica, reconheço que não é fácil conquistar espaço num mundo em que o tempo disponível para a produção é o que resta de atividades domésticas, como a maternidade e o casamento, diferente da situação na atividade masculina. Na literatura, a mulher traduz em palavras sentimento e praticidade, cultura e religiosidade, de Clarice Lispector a J. K. Rowling, de Lia Luft a Stephenie Meyer: tantas gerações se encantam e sonham em suas páginas . Nas artes plásticas, na música, dança, teatro e cinema, mulheres têm conquistado admiradores em todo o mundo. A artista plástica Beatriz Milhazes conquistou o título de artista brasileira viva mais valorizada no exterior, em leilões, e tem influenciado jovens artistas em todo o Brasil. Márcia Haydeé, no ballet de Sttutgard, Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de melhor atriz estrangeira, Sonia Braga, Gisele Bündchen, além de tantas outras que se destacam em suas atividades, são formadoras de opinião. Enfim, a mulher contemporânea ocupa, pela sua persistência e capacidade, o espaço merecido no cenário cultural.

MARIA CHARTUNE TEIXEIRA
Artista Plástica

Um comentário:

  1. Mulher, quem és tu?
    És mãe, filha, amiga, neta e irmã.
    Mãe de um mundo inteiro que do teu ventre pariu...
    (vejam o resto do poema no meu blogue renataoblie.blogspot.com)
    Um dia da Mulher maravilhoso!

    Beijocas gorduchas

    Carmen Ezequiel

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