EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

domingo, 4 de julho de 2010

PALAVRA FIANDEIRA - 35


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PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
ANO 1 - Nº 35 - 04 DE JULHO/2010

NESTA EDIÇÃO:
ELSA GILLARI
DIRETAMENTE DE ARGENTINA

ENTREVISTADA POR
ROCÍO L' AMAR (CHILE)
"Considero que a pintura não deve ser apenas um objeto decorativo." 
Elsa Gillari


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ARTE CONCEITUAL, POESIA E PINTURA, ELSA GILLARI

Realização: ROCÍO L' AMAR


Discurso pictórico

A pintura que quer ser pintura e que não quer ser outra coisa, que não quer ser mais que isso: pintura, nos expressa sua vontade em uma linguagem ardente, em uma linguagem imaginativa, voluntariamente poética, isto é, uma dicção espiritual perfeita. Logo a pintura que não quer ser mais que uma linguagem imaginativa plástica, uma dicção, um dizer algo ou um dizer de algo. O que nos disse e do que nos fala? Que é isso? O que seja, que quer nos dizer, se sua vontade imaginativa trata, sinceramente, de expressar, de dizer, ou nos dizer algo? E como disse-nos?
Porém isto não nos deve confundir, porque, às vezes, de onde menos se pensa, que é donde menos parece que se pensa, costuma saltar a pintura verdadeira, e não saltar em troca, donde mais se a quer ou se a pensa. Por isso, há na pintura a simulação da simulação e os simuladores dos simuladores.
Não é fácil diferenciar claramente até onde um pintor simula, imaginativamente, não uma representação, que é vontade sua da píntura, senão uma representação imaginativa, que é a representação da vontade de outro pintor que lhe há precedido, como costuma simular, sem sabê-lo, a vontade da pintura expressamente manifestada em outro, porque os pintores, como os músicos e os poetas, não somente verificam a imitação da natureza por simulação ou representação imaginativa ou por invenção e criação verdadeira de imagens, mas que também se imitam as pinturas ou as pinturas, ou as poesias às poesias, ou as músicas às músicas, distinguindo-se nestas simulações uma graduação que é a de simuladores de simuladores ou simuladores de inventos.
Entre os primeiros, dificilmente encontraremos algum pintor autêntico. Entre os segundos, encontraremos constantemente muito mais do que poderíamos imaginar.
Sendo assim, aparecem movimentos artísticos, obras gráficas online, tendências que decoram, ambientam espaços com pinturas, desenhos excepcionais em diferentes estilos. E dentro deste fenômeno irrompe a arte conceitual, a pintura conceitual, e/a pintor (a) conceitual.


Arte Conceitual

A arte conceitual, também conhecida como ideia art, é um movimento artístico no qual as ideias dentro de uma obra são um elemento mais importante que o objeto ou o sentido pelo que a obra tenha sido criada. A ideia da obra prevalece sobre seus aspectos formais, e em muitos casos a ideia é a obra em si mesma, ficando a resolução final da obra como menor suporte.

A arte conceitual como movimento emergiu à metade dos anos sessenta, em parte como uma reação contra o formalismo que havia sido articulado pelo influente crítico Clement Greenberg. Todavia, desde as década de 1910 e 1920 o trabalho do artista francês Marcel Duchamp (principal artista) serviria como precursor , com seus trabalhos chamados ready-mades daria aos artista conceituais as primeiras ideias de boras baseadas em conceitos e realizados com objetos de uso comum.
Os precursores imediatos da arte conceitual podem ser buscados no ressurgir das vanguardas após a II Guerra mundial, em uma completa série de intercâmbios culturais entre Europa, EEUU e Japão. Duas figuras destacam como mananciais de novas ideias: o antes mencionado Marcel Duchamp (que imigrou aos EEUU durante a I Guerra mundial) e o compositor estadounidense praticante do budismo zen John Cage. Entretanto, foi nos limites da pintura, onde se concentraram as atividades vanguardistas. Nos EEUU, Robert Rauschenberg e Jasper Johns transformaram a pintura com objetos cotidianos e eventos fortuítos, e questionaram sua situação privilegiada como um objeto especial. No Japão, as obras baseadas na performance do grupo Gutai ampliaram o informalismo e action painting até trasformá-los em atos rituaisde agitação. Na França e Itália, Yves Klein y Piero Manzoni respectivamente desenvolveram práticas vanguardistas paralelas nas quais realizaram o conteúdo ideal da experiência artística a partir de sua concepção alternativa do significado metafísico do monocromo. Em cada passo, a ampliação até a destruição da idéia da pintura despertou um interesse pelo efêmero e o imaterial que prefigurou a "arte conceitual" com consciência de sua própria identidade subsequente.

A arte conceitual emprega habitualmente materiais como a fotografia, mapas e vídeos. Em ocasiões se reduz a um conjunto de instruções documentando como criar uma obra, porém sem chegar a criá-la realmente, a idéia após a arte é mais importante que o artefato em si.

Deste conceito surgiram formas artísticas como fluxus e o mail art.


Surrealismo - Simbolismo - Arte Conceitual

"Os símbolos, nos disse Elsa Gillari, são a linguagem que utilizo para expressar meu mundo interior, são os esboços, são o antes da obra, é essa a ideia que se compõe de vários instantes. Aparece então o símbolo como primeira imagem mental da temática a construir. Não compreendo o significado e permito que navegue até o exterior materializando-se em um ponto referente a desenvolver, ademais não questiono conteúdo nem cor, simplesmente habilito o símbolo para que se expresse em toda a sua dimensão, este geralmente se manifesta em um estado de neutralidade, sendo os eixos da mesmo que transmitem mensagens aplicadas a uma completa cosmovisão. As obras nunca estão terminadas, porque se retroalimentam entre si e são como partes de uma totalidade expressiva. Esta busca infinita e constante gera um tipo de indeterminação criativa. Assim o espírito percebe objetos e emite conceito que plasmo em expressão artística. O simples é a maneira espontânea da artisticidade e a razão não participa, já que contaminaria o conceito."



Linguagem: Papel e Tela.


Elza Gillari está entregue à busca de uma linguagem para a sua poesia, e em sua capacidade expressiva e criativa também para as artes plásticas, ambos inseridos nos cânones estéticos da modernidade. Um espaço escritural criado para a poesia e um espaço pictórico criado para a pintura. Provavelmente, o cerne ou a essência mais substancial seja evidenciar que o fio condutor é a visão, interrogação, experimentação do próprio ser e o ser das coisas e o mundo como uma forma de existência.

Geram-se assim imagens em uma realidade sensível. A poesia assume a busca do absoluto e a pintura atrai o resplandecer do mundo em movimento. Do mesmo modo, a transformação de formas, em uma ou outra.
A cor/luz -na pintura- e a sensação de cor/luz -na poesia - é um elemento que sobrevive em ambas obras artísticas para a estética simbolista porque abarca diversos ou múltiplos significados à hora de mergulhar/buscar/encontrar o tempo íntimo, a hora impapável desta criadora.
Estimulante, sugestiva, chamativa, multi-facetada, são algumas das qualificações que me ocorrem mencionar para a vida e o imaginário de Elsa Gillari.

Assim mesmo, cabe assinalar - ao referir-me aos poemas - que a falante tenta encher o vazio e dar-lhe um novo conteúdo a sua existência, através da capacidade intuitiva e visionária atuando como proveta do inconsciente poético, isto é, assume e aprofunda o processo da escritura, em constante fazer e desfazer formas, atmosfera, leis de gravitações, universos, linhas, pontos, vibrações...

Sonhos construídos ao bordo de certas folhas que sabem sorrir, disse Vicente Huidobro, no poema Altazor. E eu agregaria, apesar de, o homem e a mulher, devam assumir todos os encargos e dores do destino humano.

"és tão especial.../ incólume/ mas não posso adaptar-me/ a teu mundo/ de lagos azuis/ fadas e duendes/ verdes pastagens/ doçuras de mel/ não posso.../ perdi a inocência/.../ és.../ deliciosamente especial/ (me escreves poemas)/ e eu tão ingrata..." (do poema (im) possível e uma imagem em fotomanipulação digital de Elsa Gillari)

Esse apogeu do mágico...

Os pintores e poetas têm em conta as harmonias dos tons que conseguem dar unidade cromática à pintura e unidade sintática ao poema. E a luz é fator determinante no conjunto de ambas composição, serve para criar e conformar o espaço, maior ou menor iluminação incidirá de distintas maneiras no objeto/receptor/espectador, luz compositiva e luz conceitual tem como finalidade a potência da mensagem.
O conteúdo da forma ou a forma dos conteúdos lhe pertence a cada criador, considerando - isso sim- que detrás há uma ideia, um conceito, tanto em poesia como em pintura, sem perder de vista ambos os produtos. E Elsa Gillari sabe muito bem onde está, e aonde quer chegar, tanto no conceitual como formalmente.

Essa belíssima teatralização

Em termos metafóricos se poderia ver a loucura como uma espécie de pensamento desajustado, que não encaixa com o oficial. Porém, é um tema escabroso, porque os loucos não são metáforas nem bandeiras políticas, mas gente que passa mal.
Entretanto, me interessa deixa claro que, tanto a poetas como pintos, lhes atribuem certa loucura. Obviamente, não o que significa culturalmente, não esse mundo dos loucos, ainda há pintores, poetas, artistas que estão encerrados e sofrendo em êxtase em seu território escuro.

Qualquer um que veja duas ou três pinturas de Elsa Gillari e leia seus poemas ao pé de essas obras, verá que está diante de uma louquinha com nome e sobrenome, conectada com o seu redor, isto é, a naturalidade, a originalidade, a pureza, a autonomia...

Sem dúvida, seu divino entusiasmo, razão pela qual a temos convidado de Argentina a ampliar seu território metafórico nesta PALAVRA FIANDEIRA.



1. Pude visualizar que você tem uma postura anti-pintura em suas obras. Tem consciência disso?


- Considero que a pintura não deve ser apenas um objeto decorativo. Deve transmitir mensagens que gerem abertura mental e novas consciências. Que o espectador se encontre identificado nela em um ou vários aspectos e se produza nele uma mudança. Minha pintura é surrealista, simbolista e conceitual - quando utilizo a razão são conceituais, especialmente em arte digital -. Surgem-me imagens ao modo de fotografias em seguida a um processo de gestação em meu interior do qual não sou consciente. Quando aparecem é o momento de pintar sem esboço prévio já que contaminaria a imagem. Tive dois períodos, que só poderia pintar sob angústia, e chorando diante da tela com emoções devia liberar e assim poder sublimar. Mais que um desfrute, era uma tortura, estava totalmente envolvida. Porém ao terminá-la conseguia ter paz. Supostamente, são as mais mobilizam o espectador. Minha postura anti- pintura não é premeditada. Simplesmente que ao ter formação em oficinas "não estou academizada". Adquiri a técnica, porém não perdi minha autenticidade nem estou estruturada. Se pode ver que em minhas pinturas o primeiro plano parece flutuar no ar por não fundi-lo com o fundo como pede a academia. Rompo com os cânones da velha escola, buscando uma visão fresca, nova e espontânea.

3.Que pretende você contar através de sua arte conceitual, considerando que o espectador recolhe imagens, ideias, um objeto ou algo similar?


A ideia é traduzir o ser humano atual em toda sua dimensão, basicamente, sob um conceito bio-psico-social deixando vestígios destes tempos atuais. Hoje, não existe a censura na arte, o artista se expressa livremente. Percebo uma humanidade consumista, poderes políticos corruptos, corpos siliconados como modelo de beleza artificial, se deve ser jovem e belo discriminando ao ancião, fonte de sabedoria. A pobreza e a desnutrição infantil. A globalização, que gerou miséria e desemprego a tal ponto, que chegamos a uma crise econômica mundial. Uma instalação na qual trabalhei dois anos é " Humano Ser-Ser-Ser Humano", composta de traços fragmentados sobre modelo vivo, deixando a impressão dos corpos na que chamo Neo-Escultura.
Também o avanço da cibernética que se impôs na sociedade modificando-a notavelmente. Aqui surge minha instalação Cibervínculo.
Sinto uma profunda admiração pela arte conceitual de Marcel Duchamp, Man Ray, e outros precursores do movimento, que gestaram ao estilo Dadá "arte-anti-arte" com o qual me identifico plenamente, já que a ideia prima sobre o objeto suporte, é o sentido que a criou. Surge o Ready-Made. Digamos que me fundamento na ideia ou conceito que logo transformo em objeto visual, por exemplo, minha obra "A Globalização".
Em arte conceitual é muito importante o título da obra, já que passa a completar o conceito, forma parte da ideia dando maior compreensão ao objeto.


3. A rigor, você nos mostrou suas pintura em um tempo não muito distante em uma rede social literária, e logo, talvez um ano, a temos visto excursionar em poesia e narrativa. Qual foi o seu motivo fundamental para ir completando as dita artes, e qual é sua aposta hoje em dia, que lhe diz sua razão?

Escrevia em uma linguagem plástica e em associação livre como outra forma de expressão e investigação artística, componentes filosóficos e conceitos. Vários desses textos os incorporei a algumas pinturas unificando texto e cor. Fiz uma série. Porém, sentia uma falta, não me sentia completa em minha expressão, necessitava uma nova forma de manifestar-me literariamente. Incorporei-me à rede literária mostrando minhas obras visuais já que a pintura também é poesia, tem texto. Com o tempo, de tanto ler , de tanto ler diariamente narrativas, poesias e poemas me animei a escrever começando com poemas, seguindo com narrativa e prosa poética. Quanto mais escrevia, mais desaparecia essa falta que sentia. Acreditava ser só artista visual desconhecendo que também tinha talento a desenvolver para as letras. No princípio, observava minhas pinturas, e expressava uma leitura sobre elas com poemas, completando-as já que as via inconclusas. Isso tornei hábito e ainda o faço. Às vezes acontece o inverso: um poema me inspirou e logo crio a imagem unificando-as. Não estão dissociados caneta e pincel, e podem considerar-se complementos.

Continuando, aposto aprendendo e aperfeiçoando minhas letras sem me exigir, me permito fluir como em minhas outras expressões artísticas em absoluta liberdade, sem ajustar-me à Academia.

Sou criativa, não apenas artista visual e digital. Permito-me todo tipo de criatividade no momento que surge, como acontece com a minha pena. Nunca assisti a uma oficina literária, minhas letras brotam e se concretizam em seu estado puro.

4. Que ideias ou conflitos consegue consigo mesma, se os que a perturbam para salvar-se um uma tela ou papel, porque é evidente que ambas artes constituem uma questão para resolver?

Sou mais emotiva que racional, em mim predomina a emoção. Ninguém está livre de conflitos, alguns os resolvemos e outros não. O moto que me leva a criar é meu inconsciente, onde anelam minha emoções, conflitos, frustrações, alegrias e tristezas do passado ou presente situações que me motivaram ou me estão motivando, sejam boas ou más, e necessitam manifestar-se previamente a gestação em meu interior em nível inconsciente em um processo criativo. Em minha poesia predomina a lírica. Constantemente me questiono a existência, o motivo da vida, a evolução ou involução do ser humano. Ainda que em meus textos nem sempre escrevo o que acontece em mim. Tomo histórias emprestadas, leio ao outro, uso a imaginação, porém sempre, sem exceção, existe um mínimo componente parecido que me pertence e, se exterioriza em uma pulsão inconsciente que não percebo no momento. Tomo consciência às vezes pelos comentários. O que me causa conflito é a morte. Temo pela morte de meus seres queridos e a minha própria. Isso faz com que minha obra seja dramática, ainda em ajuda a ser otimista, positiva e possuir sentido de humor. Por isso sublimo traduzindo ou escrevendo. Libero em parte ou em sua totalidade minha zona conflitiva. Tampouco estou
embalada nas letras, às vezes necessito rir-me com a poesia ou conto e assumo temáticas divertidas.

5. Pessoalmente, vejo que sua poesia é analítica, do ponto de vista da decomposição dos objetos tal como sua pintura, assim mesmo sintética, se a comparamos com a ruptura da sintaxe porém ambos casos se resgatam em cenas interiores. Poderia ser figurativa?

Sou demasiada analítica. Começo por um todo até chegar à síntese. Pulo o objetivo ou sujeito até chegar a sua essência. Daí que minha poesia é sintética e resgato somente o essencial sem enfeitá-la, às vezes sem estar sujeita ao ritmo, porém sim a imagem e sentimentos. Algumas vezes sou figurativa, muito concreta. Especialmente em meus poemas sociais onde denuncio e protesto. Com respeito à pintura, componho tal como a síntese, a mensagem que desejo transmitir brincando com as cores frias e cálida, os contrapondo para destacar a minha ideia, algumas parecem figurativas, porém não o são. De fato, nunca pinto natureza morta ou paisagens, mas sim retratos. Não estou enquadrada, sou multi-facetada.

6. Que pintura lhe causou impacto, e quem é seu autor (a)?
Tenho visitado e visito museus e galerias de arte, onde encontrei pinturas e esculturas que produziram em mim um forte impacto por sua temática ou composição. Por outro lado, o estar diante de "As Meninas" de Diego Velázquez, ou cometer a infração de tocar "Os Girassóis" de Van Gogh, "O Beijo" e "O Pensador" de Rodin, "Mulher na escada" de Duchamp e uma longa lista de pinturas e esculturas que me é difícil eleger uma em especial. Um forte impacto me produziu a exposição de Vangelis, já que todas suas obras têm a vibração e a cor da música tal qual a sente esse artista genial, conseguindo pinceladas musicais, especialmente sua pintura "O Anjo", todas suas pintura têm seu selo de músico e grego, fiquei fascinada com sua obra pictórica, "Mulher Golpeada", uma pintura que me impressionou, criação de um colega amigo Fabián Vastasimon, a qual adquiri, visto que tanto em impactou.


7. Desfragmentaremos a poesia. Com que ossos ficaria você? E que poeta é sua referência a tal ponto que o tenha tomado como modelo?


Sim, a quebraremos."literalmente em ossos", e fico com a coluna vertebral. Se bem que eu seja sintética, respeito basicamente um começo, desenvolvimento e final que deve ter todo texto poético ou narrativo. Dou minha importância ao desfecho. Não tomei como referência a nenhum poeta, não tenho modelos adquiridos de outros, creio que tenha sido por haver lido a tantos escritores e poetas, porém sabemos que inconscientemente copiamos sempre algo de quem admiramos. Tenho influências de André Breton. Admiro a Mario Benedetti.


8 . Você se expressa através de figuras humanas, fragmentadas ou mutiladas muitas vezes, utilizando inusitados materiais. Seria acaso um impulso de abstração das qualidades essenciais dos membros do corpo humano, ou simplesmente é uma ideia abstrata a construção mental disso?

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Os corpos fragmentados são as Neo-culturas conceituais. Não são corpos mutilados. Faço uma leitura rápida diante do modelo vivo nu, lhe peço que faça diferentes movimentos até encontrar a pose que busco, o fragmento de seu corpo com sentido estético, plástico e se possível, com movimento. O primeiro passo é a ideia, o conceito que me leva a buscar o corpo que necessito. Por exemplo, "Siliconas" necessitava um modelo que tinha os seios com silicone. Tracei os seios e parte do tronco, se seguisse com outras partes do corpo sairia do contexto dispersando-se a ideia de expressar unicamente a beleza anti-natural, produto da cirurgia plástica.

9. O que atrai a sua atenção?
Todo o novo para mim, donde acho que posso aprender. Sou ávida de conhecimentos. É meu alimento.
10. Que lugar ocupa em você a espiritualidade?
Ocupa um primeiro plano. Creio na reencarnação. Na elevação espiritual através de diferentes vidas. Trato de evoluir constantemente no plano espiritual. Não é nada fácil subir as escadas imaginárias da evolução. Sou um ser espiritual por natureza, com marcante sensibilidade e uma percepção extra-sensorial generalizada. Consigo evoluir só em sintonia com o amor. Minha condição de humana com meus defeitos, falências e erros não me permitem subir até aprendera lição. Oriento-me pela "Lei Universal" que diz "Não faças ao outro aquilo que não gostarias que fizesse com você". Somos mente, corpo e espírito. Mantenho-me no atemporal do espírito. Controlo meu ego para não cair na soberba e egocentrismo, tentando ser o mais humanamente humilde.
11. Você guarda imagens para o quadro ainda não pintado, esse que o artista sonha em pintar algum dia?
Como mulher, criei a minha melhor obra, que é meu filho. Como artista, não me propus a criar uma determinada obra. Sim, me propus seguir crescendo, sem atar-me a metas, a futuro, visto que me sentiria pressionada por mim mesma e o único que conseguiria seria bloquear-me. Considero que a melhor obra se cria trabalhando e evoluindo na arte com perseverança e disciplina, ainda que apesar disso muitas vezes não se consiga. Porém, o talento e o ser criativo pode dar surpresas, e a melhor obra surge no momento menos pensado. Não me preocupa se morro sem haver criado minha melhor obra artística. Para mim a arte é um meio e não um fim.
12. Os poetas buscam o sentido da vida. Que diria você aos leitores de PALAVRA FIANDEIRA, sabendo que a maioria dos acompanhantes são poetas?...
Como bem disse, questiono o sentido da vida. Nietzsche falou do poder do homem sobre o homem. O poeta tem o poder da palavra, o poder do homem sobre o homem, porém não no sentido que disse Nietzsche, mas com a palavra. O mundo não olha para o poeta, porém o poeta se espelha no mundo. Diria que sigam olhando ao mundo e escrevendo sobre ele, falta bastante por dizer.



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BIOGRAFIA


Nasci sob o signo de Sagitário, fogo e paixão. Filha de italianos emigrantes que depois da segunda guerra mundial chegaram aqui em Buenos Aires, onde nasci. Aprendi a falar a sua língua desde as minhas primeiras palavras, visto que a falavam em casa. Tenho dois irmãos varões, uma maior e outro menor que eu. Tive uma infância feliz, criada em um ambiente de valores humanos e morais. De conceito de família. Passava muito tempo com minha avó materna, que me mimava. Era a sua única neta mulher e preferida. Tudo me agradava. Meu tio me ensinava Geografia e Mitologia grega e romana. Devia estudar todos os países do mundo e suas respectivas capitais, especialmente depois me cobrando em provas. Comecei a ter interesse por viajar pelo mundo.Vivíamos num bairro não muito povoado, com ruas de terras, quase campo. Quando fomos viver nele, tinha três anos. Dessa forma, cresci em contato com a natureza, até que foi sendo povoado. Minha mãe, além dos afazeres domésticos e nos criar, ainda se dedicava à costura fina. De tanto olhar, com ela aprendi a costura.Cursei a escola primária e secundária em colégios de freiras, estreitas e castradoras, das quais não guardo boas recordações. Sempre me destaquei em desenho e pintura. Aos doze anos desenhei em grafite a "Mona Lisa" e a diretora se apoderou do desenho, emoldurando-o e o colocando na diretoria em exibição, sentindo eu que me havia roubado minha obra prima. Ainda se encontra lá. Algumas companheiras me pediam que lhes fizesse as atividades artísticas. Conclui a escola secundária recebendo o bacharelado em colégio estatal misto, muito feliz por não sentir mais a opressão da aberrante disciplina das freiras. Estudei Inglês no colégio Cambridge e o aperfeiçoei no Dante Alighiere o Italiano, sendo que minha família falava o dialeto de seu povo. Desde menininha aprendi a desenhar copiando especialmente os desenhos de Walt Disney, aos que pintava com lápis de cor. Também copiava rostos e corpos de revistas, construções em perspectivas, natureza morta, estudando luzes e sombras, como alçar planos e dar volume com grafites. Aprendi minhas primeiras técnicas na escola, sendo a matéria de Artes a que mais me apaixonava, e obtinha as melhores notas. Em segundo plano, Geografia e Línguas. Aos cinco anos vi pela primeira vez um avião de perto e me apaixonei pelos aviões. Aos quinze, disse aos meus pais que queria ser "piloto". Disseram-me que não, por "ser mulher", além de não poderem financiar a minha carreira. Quando terminei o bacharelado, consegui um trabalho numa empresa de táxi aéreo durante três anos no aeroporto de Cabotaje. Logo passei a trabalhar nas aerolineas argentinas no mesmo aeroporto, no setor tráfico, onde a minha função era recepcionar aos passageiros, antes de viajarem e outras funções diversas. A empresa nos outorgava o benefício de passagens grátis por todo o mundo, o que me permitiu conhecer bastante países, especialmente Grécia, Itália, Nova York. Também trabalhei em uma agência de viagens, conseguindo obter a licença de "Idônea em Turismo". Casei-me com um piloto e engenheiro de voo, meu atual esposo, com quem tive um filho, que está estudando a carreira de piloto, visto que parece que lhe transmitimos a nossa paixão pelos aviões. Prossegui viajando e conhecendo novos países e visitando os famosos museus, como o Louvre, o Museu do Prado, Orsay, o de Augusto Rodin, e outros, assim como galerias de arte. Viajar tanto me permitiu adquirir cultura e conhecer diferentes etnias. Minha formação artística era de oficinas. Comecei a assistir de muito jovenzinha, aperfeiçoando-me quando adulta ao começar a assistir à oficina do Professor Angel Borissoff, que me ensinou todas as técnicas, principalmente o estudo do modelo vivo feminino e masculino. Possuo o privilégio de ter boa memória visual. Registro imagens que não esqueço para logo traduzi-las. Estudei três anos "Humor Gráfico", aprendendo especialmente caricaturas e estudando os grandes cartunistas. Paralelamente assistia no mesmo Instituto à oficina de desenho e pintura artística, o que me complicava demais, visto que as técnicas gráficas são opostas. Seguia sendo copista, porém já de mestres da arte, além de fazer desenhos do natural ou fotografias. No terceiro ano de assistir à oficina de José Marchi, deixei de copiar e criar a partir de mim, gerando minha própria linguagem e expressando-me em diferentes estilos aprendidos, que chamo o meu primeiro período na pintura. Li e leio bastante, principalmente aos grandes mestres da arte, que marcaram estilos e tendências. Sou seletiva nas leituras. Prefiro as que me ensinam, que me deixam conhecimentos salutares. Meu pai era músico, tocava "o bombardino (Instrumento de vento), que ainda o tenho e o conservo como uma relíquia, e suas partituras junto a uma foto em sépia, com seu uniforme que usava quando tocava na banda de seu povoado natal. Quando chegou à Argentina, seguiu por um tempo visto que seu trabalho não lhe permitia ter tempo livre para a sua vocação. Transmitiu-me o amor pela música. Estudei música tocando o saxofone. Sempre me caracterizei por minha avidez de conhecimento, por aprender e experimentar, ainda hoje. Sou mais emocional que racional, mas quando devo tomar decisões o faço racionalmente. Possuo uma sensibilidade muito marcante e uma percepção extra-sensorial generalizada. Como também crio arte conceitual escrevia textos em uma linguagem plástica expressando conceitos antes de conceber a obra. Também, escrita em associação livre conseguindo liberar conflitos que elaborava extraídos do inconsciente, como faziam os primeiros surrealistas. Em 1203 e 1204 estudei exclusivamente arte conceitual , especialmente a Marcel Duchamp. Visitei três vezes a mostra Dadá, que foi exposta no museu Malba reunidas as grandes obras dessa corrente artística. Foi o tempo em que trabalhei na instalação composta por dezesseis esculturas e foto-colagens. Porém sentia um vazio em mim que não chegava a definir, como se as artes visuais não me completassem, sentia uma falta. Inscrevi-me numa rede social ao final de 2008 como artista visual. Lia diariamente os variados temas que publicavam meus colegas e assim me animei e comecei a escrever. Neste período tenho quatro contos e noventa poemas. Postei um poema acompanhado de uma obra visual ou digital relacionando-se entre si. A obra vem a mim, não a busco. Experimento e investigo. Não posso esboçar. Vou direto ao suporte ou ao word. Surgem -me imagens mentais como fotografias que logo traduzo na tela ou outro suporte. Vou gestando a obra a nível insconsciente até que apareça a imagem. Sublimo na pintura e na escrita. o expressar-me através das letras faz com que já não sinta a falta, o vazio que antes sentia. Na adolescência escrevia poesia que todavia sentia. Criar arte digital me relaxa. Trabalho apenas com Photoshop e desfruto fazê-lo além de ser um desafio. Também tenho desfrutado por ser uma nova experiência quando criei uma instalação de escultura, conceituais, em moldes sobre modelos vivos, corpos fragmentados , que falam da ausência, da presença ao fazêr-lhes uma leitura de seu frente e verso, as quais chamo de Neo-Esculturas. Trabalhei com isso dois anos. O ser criativa me permite infinidade de expressões sem questionar-me o porquê nem se as venderei. amo a arte em toda a sua expressão.



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BUSCANDO A BELEZA



…………………………………….
.

O espelho seguia intacto por milagre. Resistia estoicamente aos golpes.
.
…………………………………….


seu suave e elegante pescoço de cisne havia se transformado

em um triângulo isósceles



e os sulcos em seu rosto falavam sobre o passar dos anos

além...


suas pálpebras caiam cobrindo a quarta parte dos olhos
.
……………………………………
.

(demonstrada a teoria física sobre a lei e a gravidade)
.
…………………………………….


A chamavam "Adelaide das tetas caídas"
.
……………………………………..
.
O espelho foi reposto... (já não resistiu)
.
…………………………………..
.

Siliconebotoxlipoaspiraçãolevantamentobisturi

Agora a chamam BARBIE!
.
*Fotomanipulación digital Net Art - Elsa Gillari

 


PARANORMAL

esse ser...........................luminoso
assediado por sub-mundos

arbitrários e sinistros
onde moram
escuras entidades
sedentas e famintas de luz

com suas garras o devoram
E-NER-GE- TI-CA-MEN-TE
até que...
seus neurônios
em disfunção...
rebusquem o equilíbrio
e conquistem batalhas
loucura? .................Não!
paranormal!
extra-sensorial!
"É sua natureza"
árduo padecer de espírito elevado
e resplandecer iridescente
que deslumbra as
negras áureas extraviadas
sob baixas dimensões austrais
que famélicas inquietam e devoram
para nutrir-se................................................porém
voltem a expirar em sua melancólica densidade
por que...

“É sua natureza”


*Fotomanipulação digital (Net Art) - Elsa Gillari


.
SOU OUTONO
Recolho-me em meu lar com chaminé
(em meus gélidos invernos)
……………………………………………………….
Incenso, resina e sândalo
junto a luminosas velas brancas
em meu templo...
(medito)

ainda possuo sonhos, conservo-me calma
(importante)
gorjeios do ninho de
minha velha árvore ancestral ( já)
calma
ainda que permaneçam alguns espinhos
e
desenho imagens celestes

deixando invisíveis vestígios
…………………………..
finquei raízes
……………………….....
a ave Fênix ressurgiu
uma vez mais
entre as cinzas

*Arte digital (netart) - Elsa Gillari
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ENTREVISTA REALIZADA POR ROCÍO L' AMAR

Rocío L' Amar: poeta, escritora, jornalista, ativista cultural, 
realiza intenso trabalho de divulgação cultural.
É correspondente e colaboradora de PALAVRA FIANDEIRA no Chile.

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Tradução para o Português:
MARCIANO VASQUES
(Escritor e fundador de PALAVRA FIANDEIRA)

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5 comentários:

  1. Hola Marciano: Maravillosa esta entrevista que ha hecho Rocio L´Amar a esta escritora y poetisa, ELSA GILLARI.
    Por lo que he leido de ella tiene una gran sensibilidad, espiritualidad y su imaginación la deja ver en sus cuadros.
    He estado leyendo esta entrada punto por punto.
    Estoy contenta de que deis a conocer a mujeres importantes dentro de las Bellas Artes.

    Un abrazo desde Valencia, Montserrat

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  2. gracias, amado Marciano, Elsa va a estar feliz de leerse en portugués... te quiero, Ro

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  3. Gracias Marciano por la traducción al portugués, lo entendí perfectamente. Un honor para mí, estar en este blog.

    Un cálido abrazo

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  5. gracias Montserrat, por los elogios que a mí me tocan... eres hermosa y divina, besos desde Chile, Ro

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