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PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
04/12/2011
ANO 3 — Nº 65
EDIÇÃO ESPECIAL DE NATAL
Fundada por Marciano Vasques
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Foto de Jeroni Galmés (Espanha)
Natal diante da torre Europa
Poeta e cordelista Marco Haurélio
Nil Medeiros —Poetisa
(Castanholas, amendoeiras)
(Obra de Marília Chartune)
Marília Chartune
(Flores do meu quintal)
Paula Laranjeira
(Azul)
Marli Giacomozzi —Poetisa
Arcos de Valderez (Autoria:Cecília V.Boas)
Cecília Villas Boas —Poetisa
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CRÔNICAS, CONTOS E POEMAS
A Estrela de Belém
Em algum lugar do passado, brilhou em mim a estrela de Belém. Todos os anos, quando se aproxima o Natal, as luzes e os perfumes desta época acordam imagens e sons antigos que viajam em minhas lembranças, carregadas de sentimentos.
Até parece que ainda vejo cada mãozinha dos meus irmãos armando, delicadamente, a singela árvore de natal feita de cabo de vassoura, coberta com um brilhante papel celofane verde, obra do meu habilidoso irmão mais velho; um deslumbramento só. Lembro da algazarra que fizemos ao abrir as caixas com os magníficos enfeites: bolas, sinos, anjinhos; motivo e horas de contemplação daquela menina de olhos extasiados. Mas, o belo e mágico momento foi recortar e colar os personagens coloridos do presépio: o lindo menino Jesus, os animais em volta da manjedoura, José e Maria e os misteriosos três reis magos, um anjo azul de asas enormes, segurando um faixa com os dizeres “Glória Excelssideo” (que não entendia na época).
Ainda posso ouvir a voz da querida mãe narrando à história do nascimento de um grandioso ser que tocaria o coração de todos os homens com sua generosidade e seu amor incondicional. Hoje,quando preparo e organizo minha árvore e a disposição do presépio, não posso deixar de pensar que meus filhos já não colocam mais os sapatinhos na janela à espera do Papai Noel; eles cresceram, (os sapatinhos) assim como os seus donos. Mas, ainda guardo comigo dois anjinhos daquela saudosa árvore, que há tantos e tantos anos, trazem, impregnados em suas peças, sentimentos e impressões dos meus caminhos e dos meus Natais; eles me transportam em suas asas para uma “Noite Feliz,”. Aquela noite de natal ainda vive na luz de uma estrela em algum lugar do passado, mas a estrela que até hoje busco no céu para iluminar meu Natal é a Estrela de Belém.
ANA COELI
MÃOS MÁGICAS
Esta aí são as mãos mágicas de minha mãe
pode acreditar são mágicas.
Esta aí sou eu com meus cabelos encaracolados. Foi assim que percebi que as mãos de minha mãe são mágicas, os cachos dos meus cabelos só ficam macios e brilhantes quando ela usa o creme e passa as mãos.
Olha que eu já tentei varias vezes usar o creme em meus cachos sozinha!, os meus cachos ficam iguaizinhos a um cacho de banana. Dá para imaginar, né?
Outra coisa muito importante que suas mãos mágicas realizam:
Quando prepara a refeição é incrível! Amassa os bolinhos com as mãos os enrola bem pequenos e coloca para assar, tcham! Tcham! ficam enormes macios e deliciosos.
Agora quando minha irmã mais velha tenta fazer os bolinhos, ficam muito parecidos com os meus bolinhos de lama. Até na cor são parecidos: pretinhos pretinhos ou queimadinhos queimadinhos.
Não duvido da mágica de suas mãos, são poderosas.
Certa vez eu levei um tremendo tombo. Os meus joelhos ficaram ralados, senti uma enorme dor, mas foi por pouco tempo. Minha mãe passou suas mãos mágicas bem de leve em meus joelhos machucados, pronto! A dor sumiu.
Tentei fazer o mesmo no dia em que o meu cachorro havia se machucado. Fiquei sem entender, passei minhas mãos na sua pata que estava machucada, quase levei uma mordida do Totó. Será que passei as mãos com muita força?
Quer saber o que mais que suas mãos mágicas conseguem fazer?
As vezes o papai chega do trabalho triste. Ela passa as mãos mágicas em seus cabelos ou segura em suas mãos, ai sim ela aperta com força e só o tempo de eu piscar os olhos o sorriso do papai aparece.
A nossa casa pode estar toda desarrumada, mas é o tempo de começar o meu programa predileto da TV, assim que termina “plim plim”, suas mãos mágicas conseguem fazer toda a arrumação. Nem uma fada é tão rápida .
Descobri algo importante da onde surgiu a magia que saem das mãos de minha mãe.
Ela apenas coloca carinho, afeto e dedicação, essas coisas se misturam e se transformam em amor.
Ah! Tem uma outra coisa que descobri: porque a mágica nunca acaba, é só dar um monte de beijos e abraços nela. Faça isso também com a sua mãe e verá sair uma porção de pó mágico estrelado e um monte de corações.
Lteresa Mendonça
Folclore não sai de moda.
É catira, cururu,
É frevo, samba-de-roda,
Baião e maracatu.
São noites mal-assombradas,
São aboios e toadas,
É lamparina e pilão.
É visagem e mau agouro,
É gibão, chapéu de couro
E debulha de feijão.
Moreira de Acopiara, cordelista cearense
A palavra folclore (em inglês folk-lore) foi empregada pela primeira vez em 22 de agosto de 1846. O arqueólogo inglês Willians Johns Thoms, em artigo endereçado à revista The Atheneum, assinado sob o pseudônimo Ambrose Merton, foi o pioneiro. O termo abrangia o que Thoms entendia por “antiguidades populares”: contos, lendas, provérbios, mitos, romances, crenças, rifões superstições etc. Nesse artigo, nota-se a preocupação com o desaparecimento das tradições populares face à modernização dos costumes. A mesma apreensão já havia levado dois filólogos alemães, os irmãos Jakob e Wilhelm Grimm, a coletarem histórias e lendas do povo de seu país, reunidas posteriormente no Kinder- und Hausmärchen (Contos da criança e do lar, 1812), a mais famosa coletânea de contos populares já feita.
No Brasil, a partir dos pioneiros Celso de Magalhães (1849-1879), Couto de Magalhães (1836-1898) e Silvio Romero (1851-1914)), pesquisadores das mais diversas áreas vêm dedicando tempo e envidando esforços na tentativa de entender as manifestações da cultura espontânea. Com Cantos populares do Brasil e Contos populares do Brasil, o sergipano Silvio Romero deu o impulso necessário à pesquisa do folclore, embora seu trabalho se detivesse mais na recolha de modalidades da literatura oral do que no estudo do material. A publicação do livro O folclore, por João Ribeiro, a partir de conferências realizadas na Biblioteca Nacional em 1913, é o marco inicial dos estudos sistemáticos do folclore brasileiro.
Bumba meu boi
O folclore, além da literatura oral, abrange as festas religiosas e profanas, os folguedos, as brincadeiras infantis, as danças tradicionais, o vestuário e a culinária. No rol entram, também, as superstições e os costumes. Às vezes, se fundem texto, dança e gestual. É o caso do bumba meu boi, que, além de folguedo, é um auto popular bastante difundido, ligado ao ciclo de festas natalinas. Sua popularidade deve-se à importância que teve a pecuária no processo de colonização do País. Confunde-se com o que estudiosos classificam como ciclo do gado, a ponto de apresentar familiaridades com o conto popular O vaqueiro que não mentia. No enredo deste, a honestidade de um vaqueiro é posta à prova quando uma moça bonita o instiga a matar o boi favorito do patrão, pois deseja comer um pedaço: língua, fígado ou coração.
A origem do bumba-meu-boi remonta à mitologia da Grécia Antiga: Dionísio Zagreu, filho de Zeus e Perséfone, por instigação de Hera, foi morto, despedaçado e devorado pelos titãs. Zagreu estava, no momento de sua morte, metamorfoseado em touro. O seu coração, no entanto, foi recolhido por Atena e, devorado por Sêmele, deu origem ao segundo Dionísio, o deus do vinho. O despedaçamento ritual sobreviveu no folguedo. No Nordeste brasileiro, região de maior fixação do tema, os pedaços do boi geralmente são distribuídos entre os conhecidos de quem veste a armação representando o animal.
Dois mitos brasileiros
Alguns mitos abrangem todo o território nacional, embora de região para região difiram nas características e atribuições (que podem ser benéficas e maléficas). O Saci, por exemplo, representado como um menino negro girando ou correndo numa só perna, com um cachimbo de barro e um gorro vermelho na cabeça, resulta da fusão de crenças de origem europeias e africanas. Da Europa, ele herdou o gorro (barrete), dos duendes. Antes disso, os indígenas acreditavam tratar-se de um curumim peludo e travesso. Segundo a crença popular, para alguém capturar o saci é preciso, primeiro, atirar uma peneira no redemoinho em que ele quase sempre se oculta. De posse do gorro, o captor, então, terá o maroto Saci às suas ordens.
Do Curupira, originalmente um ente medonho que impunha terror aos habitantes da floresta, deriva o Pai do mato, conhecido no sudoeste da Bahia como “um velho horroroso”, também coberto de pelos, barba densa e cabelos desgrenhados, “protegendo os animais dos abusos dos caçadores”. É mais alto que a árvore mais alta da floresta e persegue os caçadores que violam os tabus ligados à sua atividade. O dia de São Bartolomeu, 24 de agosto, por exemplo, é interdito à caça. Nesse dia aziago, acreditam os caçadores, “o diabo está solto”.
Saci versus Halloween
O dia 31 de outubro, quando se comemora nos Estados Unidos o Dia das Bruxas (ou Halloween), foi escolhido para se comemorar, por aqui, o Dia do Saci. A proposta visa a combater a exagerada influência do Halloween na cultura brasileira. Algumas escolas, no dia, promovem atividades às quais as crianças devem comparecer caracterizadas como bruxas. A resposta brasileira parece ter surtido efeito, pois chamou atenção para a figura do Saci que se tornou, informalmente, uma espécie de mascote do folclore brasileiro.
Folclore e educação
As escolas geralmente trabalham o tema apenas em agosto que, institucionalmente, é o mês do folclore. No entanto, a cultura popular está mais presente em nossas vidas do que supomos. Inconscientemente, ao fazermos um gesto de saudação, podemos estar repetindo um exemplo surgido há milênios. O folclore é, segundo o grande estudioso do tema no Brasil, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), “o milênio na contemporaneidade”.
Sem abrir mão da programação de agosto, outras atividades podem ser sugeridas. Desde a recolha de contos populares, lendas e adivinhas, até a encenação de autos tradicionais, a escola tem um papel fundamental na formação cultural dos seus alunos que fortalecerá, com a noção da consciência identitária, os alicerces da cidadania. As lendas de origem de uma comunidade, por exemplo, têm muito a dizer ao nosso povo. É o caso da cidade de Paratinga, na Bahia, cujo surgimento está diretamente ligado à religiosidade popular.
Localizada às margens do rio São Francisco, Paratinga já se chamou Santo Antônio do Urubu de Cima. Isto em 1718, quando deixou de ser arraial, passando a freguesia. A razão do nome incomum: uma imagem do santo português teria sido encontrada por um caçador num tronco de árvore. No galho “de cima”, a ave, de asas abertas, protegia o santo do calor do sol. No local, foi construída a capela onde o santo era venerado. A imagem teria sido deslocada para o santuário de Bom Jesus da Lapa – uma gruta transformada em igreja –, mas sempre retornava para o seu centro de devoção. Suas pegadas ficavam impressas na areia.
Lendas como a descrita acima podem ser recuperadas da memória popular a partir de um projeto pedagógico que valorize as manifestações tradicionais. O mesmo pode ser pensado em relação às quadras populares. Abaixo, alguns exemplos desta singela manifestação poética:
Amarrei o meu cavalo Amarrei às nove horas, Esperando o meu benzinho, Meu benzinho até agora.
Soltei meu cavalo n’água, Ele n’água se perdeu. Nesse mundo não existe Amor puro igual o meu.
Esta, que evoca o ciclo natalino, é de rara beleza:
Nossa Senhora com dor, São José foi buscar luz. São José não é chegado; Nasceu nosso Bom Jesus.
Do ciclo natalino, também, é o bendito Menino Deus pequenino, rezado defronte aos presépios (lapinhas):
— Menino Deus pequenino,
Cadê sua camisinha?
Esqueci lá na lapinha,
Na beira do capinzinho.
— Menino Deus pequenino,
Cadê seu botão de rosa?
Botão de rosa fechada,
Depois de aberta beijada.
— Menino Deus pequenino,
Cadê seu botão de ouro?
— Esqueci lá na lapinha,
Debaixo do meu tesouro.
Outro bendito, 25 de dezembro, também integra a festa solsticial abraçada pelo cristianismo:
Vinte e cinco de dezembro
Não se deita em colchão.
Menino Jesus nasceu
Entre as palhinhas e o chão.
Vinte e cinco de dezembro,
O relógio deu sinal
Que nasceu menino Deus,
Foi na noite de Natal.
Foi na noite de Natal,
Sua mãe teve alegria,
Pois nasceu Menino Deus,
Filho da Virgem Maria.
Foi na noite de Natal,
Sua mãe teve grande dor:
Menino Jesus nascido
Pra ser nosso redentor.
Entendamos, finalmente, o folclore dentro de um processo dinâmico: em constante evolução. A soma de todas as manifestações tradicionais, de nossas crenças mais arraigadas, vivas e cotidianas, é uma das possíveis definições para folclore.
E quem souber mais histórias que conte outra!...
MARCO HAURÉLIO
ESTANTE DE BONECAS
“Olha é o Papai Noel!Corre mãe, vamos ver de perto. Quero pedir meu presente de Natal!”
E lá se foi toda extasiada ante a possibilidade de receber um presente das mãos do Papai Noel.
A fila já estava enorme. Mães com crianças no colo. Pais também. E crianças. Nossa!A cidade toda estava ali naquela praça, naquele momento. O calor e a imensidão da fila complicavam mais. Ritinha fincou pé ali e não havia nada no mundo que a tirasse de lá. Não antes de falar com o Papai Noel.
Outras crianças já haviam recebido os seus. De olhos brilhando, saiam agarradas aos presentes como se fossem preciosos tesouros. E era!
Sorrisos abobalhados. Sorriam risos infantis.
Perto dela uma criança chora. Tem medo daquele senhor de barba branca que sorri o tempo todo. E que abraça e põe no colo pra conversar baixinho.
A mãe tenta explicar que ele é do bem. Um amigo. Um bom velhinho.
Outra crise de choro.
Ritinha só queria que chegasse logo a sua vez de estar com ele. O que será que irá ganhar?
Qualquer presente seria maravilhoso. Nunca ganhara nada mesmo.
Mas bem que poderia ser uma boneca. Daquelas que tem cabelos e que pode trocar a roupa.
Sempre quis ter uma. Sua “boneca” era um tijolinho, daqueles vermelhos, enrolava-o num pedaço de pano como se fosse um bebê. Fez um pequeno furo bem no centro para que ali pudesse colocar o que sobrara de uma antiga chupeta. E embalava-o cantando suaves melodias de ninar.
Quase meio dia. A fila ainda dava voltas em caracol. Várias crianças choravam em coro. Mães impacientes. Pais que já saiam e iam embora. Menos Ritinha.
Impassível no seu vestidinho de chita com detalhes de sianinha. Cabelos arrumados. Presos em dois cocos com laços do mesmo tecido do vestido.
Perfeito!No coração uma felicidade tão grande que Rita achou impossível existir outra igual.
Sorriu consigo mesma. Imaginou-se brincando com a boneca. Penteando os cabelos. Mostrando pras amigas a sua conquista. Seria maravilhoso!
E essa fila que não anda!
—Mãe, falta muito?
—Um pouco querida. Logo chega a sua vez.
Sentou no chão da praça em baixo do Flamboyant. Tava tão linda!
Dezembro tem essas maravilhosas surpresas. Flores na praça. Flamboyant mais parecendo árvore de Natal enfeitada com buquês vermelhos. E presente... Pela primeira vez, presente do Papai Noel.
Horas se passaram e Ritinha não reclamou, não se cansou. Esperaria o tempo que fosse preciso.
Mas ela não veio. Burburinho logo a sua frente. Já não faltava muito pra sua vez. Levantou-se num pulo e olhou com olhos cheios de perguntas.
—Mães!Gritava um dos organizadores da festa.
—Infelizmente todos os presentes não foram suficientes. Quem ainda não recebeu o seu pode continuar na fila. Irão receber balas e pipocas.
Rita sentiu a mão da mãe em suas costas suavemente. Olhou pra ela e viu uma tristeza tão grande que não suportou.
Desviou o olhar.
Respirou fundo buscando o ar que não queria sair.
Piscou para que as lágrimas não rolassem.
Levou a mão até a da sua mãe e disse num aperto: ”Não tem problema”!
Sua mãe não se conteve. Deixou que rolasse uma lágrima furtiva. Abaixou-se para ficar mais perto de Rita. E num abraço bem apertado olhou nos olhos dela e disse:
—Vou lhe dar todas as bonecas que eu conseguir fazer!
E fez!Várias. De cabelos negros. Loiros. De tamanhos diferentes. Todas de pano recheadas com algodão.
Mas, muito mais que algodão, elas eram recheadas de carinho, amor.
Rita passou a infância rodeada das mais lindas bonecas.
Aquela dos sonhos, já não importava mais. Ela tinha tantas outras.
Tinha uma estante de bonecas. Feitas por sua mãe. Presente de todos os Natais. Aniversários. Dia das crianças. Bonecas de uma vida inteira.
NIL MEDEIROS
NATAL DO CORAÇÃO
Pensar que o Natal é uma data em que se comemora “apenas”o nascimento de Jesus onde se renova a fé, é pura ilusão! É o marco do início do Cristianismo e pressupostamente de uma doutrina em que se prega a paz, solidariedade e amor ao próximo.
Muitos são os que divulgam o verdadeiro sentido desta data, mas sabe-se que se transformou em comércio e motivo para reunir em uma mesa farta famílias dispersas e trocar votos de boas festas. Mesmo assim, é uma data mágica em que o espírito natalino sobrevoa as mais ímpias almas e até os incrédulos se emocionam e esquecem suas dúvidas.
Neste ano de 2011, na cidade em que moro, Santa Maria, no Rio Grande do Sul, haverá uma festa inesquecível para muitos cidadãos e turistas, o “Natal do Coração, referência ao título que ostenta “Coração do Rio Grande”. Um projeto em transformar a cidade em um palco para se comemorar essa data, com uma decoração criativa e com recursos de baixo custo como a reciclagem de garrafas plásticas, criou um clima natalino nunca visto por aqui.
Sustentam-se teses e críticas de que isso tem um custo, mas tudo tem um custo!!! Acredito que o custo/benefício seja de proporções muito maiores: participação maciça de voluntários, melhorias ao meio ambiente com a retirada de circulação desse material não biodegradável e principalmente o efeito de magia que paira sobre a cidade.
O centro se tornou um ponto turístico, famílias inteiras posam para fotografia diante da enorme árvore de natal e dos anjos iluminados da avenida. É impressionante, uma cidade inteira se mobilizou desde o início para o recolhimento das garrafas até a conclusão dos trabalhos em um galpão sob a coordenação da esposa do prefeito e colaboradores.
No ano passado, um grupo de escultores construiu um presépio, mas como a pintura não se adequava a esse projeto, seria necessária uma nova cobertura de pigmentos. Fui convidada a executar essa pintura e com a participação dos escultores autores da obra, fizemos uma renovação que tem efeito barroco e valorizou ainda mais o conjunto escultórico. Além disso, artistas locais participaram de pinturas de cabeças dos anjos. Com a nossa participação estaremos juntos ao poder público para proporcionar aos corações dos santamarienses um pouco de fantasia
Natal é isso, renovar, reciclar idéias, planejar, confraternizar e principalmente levar um pouco de alegria e sonho aos que estão incrédulos e sem esperança!
(Composição em vermelho —Obra de Marilia Chartune)
MARILIA CHARTUNE TEIXEIRA
ARTISTA PLÁSTICA
Carta ao Papai Noel
Querido Papai Noel,
Meu Nome é Maria, tenho mais de dez anos, mas nem pergunte quantos, porque seria uma indelicadeza contra a alma feminina. O que importa, é que tenho sido uma boa menina, tirei boas notas na escola e na faculdade; ainda obedeço a mamãe e ao papai e eles também me obedecem direitinho, afinal já estão velhinhos e precisam dos meus cuidados; tenho rezando antes de dormir, mas ao me levantar, esqueço; não falo palavrões; tenho sido uma irmã, tia, cunhada e amiga bem boazinha também. Então, acho que posso pedir algo que seja tão precioso quanto minhas ações e atitudes.
Está preparado? Tem certeza? Olha, não vai ser unha de fome e recusar-se a atender este pedido, pois tem uma árvore enorme aqui, só esperando o presente. Uma árvore maior do que aquela que fica na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro e muito mais bonita do que aquela do Central Park, em Nova Iorque. Já pensou como seria frustrante não receber seu presente?!! Sei que muitas pessoas não recebem. Saiba, porém, que não sou qualquer pessoa, sou a Maria. Só para lembrar, não sou a Maria vai com as outras. Prefiro ir sozinha com um livro na mão.
Pois bem. Vamos logo ao assunto desta missiva. Sabe... o leitor? Imagino que já tenha ouvido falar dele. Aquele sujeito que nasce a revelia do escritor, mas sem o qual não faria sentido escrever. Aquele sujeito chatinho que passa horas com um livro na mão, lendo, lendo, lendo e transformando tudo em um mundo novo, em novas ideias. Penso o leitor como um autor que escreve em cima das palavras do “escrevedor”, “lembrador” e “imaginador” das histórias, dando a estas, significado. Uns escrevem de forma mais próxima do real, outros bem longe. Contudo, o importante é que escrevem. Além disso, tem leitores-escritores de todos os tipos: os que gostam de poesia, contos, crônicas, novelas, romances; os que gostam do realismo nas histórias, outros preferem o mundo fantástico inserido nas tramas do texto; há leitores que se dividem em tantas categorias que fica difícil elencá-los num molde qualquer. São uns fofos, não é mesmo?!!
Ah, os leitores...seria tão bom tê-los por aqui. Então resolvi pedir este ano a você, bom velhinho, que presenteie o mundo com muitos leitores, pois escritores e livros já existem muitos. Contudo, leitores, destes que leem e entendem, leem e comentam, leem e divulgam, leem pela mesma necessidade que se alimentam, ah, Papai Noel, estes já são bem poucos.
E se não for pedir demais, que eu seja uma dessas leitoras que nascerão neste natal, destas que ganharão livros ao invés de brinquedos, jogos eletrônicos, celulares, e tantas outras coisas que modernamente costuma-se ganhar. Tudo bem, não precisam ser somente livros, seria pedir demais. Entretanto, pelo menos um livro, só unzinho para que se tenha início uma bela estante cheia de livros lidos, livros marcados, com comentários ao lado, com frases grifadas, talvez até com a marquinha de uma lágrima caída, coisas de leitoras bobas, como eu, que costumam chorar durante uma boa leitura...Bem, Papai Noel. É isso! Olhe lá, muitos leitores, tá!
Ah, já ia me esquecendo: caso não encontre chaminés e lareiras pode entrar pela porta, elas estão sempre abertas à sua espera, mas também pode mandar pelos correios ou como prefere alguns, no caso de e-books, pode enviar pelo e-mail mesmo, pois sempre há um leitor para fazer o download.
Aguardo ansiosa, como uma criança, que ainda sou, a sua resposta na noite de Natal.
Beijos na sua bochecha rosada e abraços apertados, meu querido bom velhinho!
Com toda a esperança, Maria... aquela que não vai com as outras.
- Paula Ivony Laranjeira – Amante da literatura e blogueira*
A viagem
O dia tão desejado tinha chegado. Os meninos da turminha arco-íris combinaram fazer uma viagem de balão. Já tinham ouvido falar que era fantástico sobrevoar as casas e olhar as nuvens de mais perto.
Foi precisamente num sábado em Agosto, dia que se adivinhava quente, que o sonho se tornou realidade.
No sítio combinado, final da tarde, lá estavam os sete, cada um com uma camisola da cor do arco-íris. Era assim que se vestiam quando iam à aventura, três meninas e quatro meninos. Elas com saias de chita com flores coloridas, eles de calções com suspensórios. Era um grupo de amigos muito alegres e solidários, gostavam de se divertir, gargalhar, rebolar na relva mas também tinham um prazer enorme em ajudar quem mais necessitava.
Ora bem, depois de ouvirem atentamente as instruções de segurança, subiram um a um, acompanhados pelo João, o piloto. Curiosos, assistiram às regras para dar início à subida.
Questionaram o João:
– João, como é constituído o balão? É seguro??
Começavam a ficar com o coração um pouco descompassado, mas logo acalmaram com a explicação do perito:
- Ora bem, onde vocês entraram chama-se cesto, em cima está o balão e sobre o cesto está o queimador que aquece o ar dentro do balão permitindo que este fique mais leve e se desloque. Não se preocupem, vai correr tudo bem.
Dava-se assim início à viajem. O balão elevava-se lentamente, à mercê do vento e da natureza.
As crianças estavam absortas, o piloto sorria ao ver as carinhas de contemplação e o brilho de felicidade nos olhos de cada um. As casinhas eram cada vez mais pequenas, as nuvens cada vez mais próximas. O vento morno brincava com os seus cabelos, o azul do céu brindava-os, pintando um quadro, de rara beleza onde a emoção e a felicidade vestiam um tom verde esperança. Cada um do seu modo e em silêncio, desenhava histórias, imaginava cenários neste outro espaço afastado da terra onde costumavam brincar. Tão bom que era voar como os pássaros ou chegar mais próximo de Deus. Agora também eles podiam testemunhar esta agradável sensação.
Enquanto a aventura decorria, o sol começava a pôr-se, o céu deixava a pouco e pouco o tom azul dando lugar a um laranja forte.
O tempo passou num ápice e logo o balão fez a sua descida e a realidade voltava a estar presente na vida destas crianças. Saíram deslumbradas. Decidiram terminar o dia junto ao mar tomando sorvete e partilhando a aventura deste dia onírico.
CECÍLIA Villas Boas
EL CANARIO Y EL RATÓN DE CAMPO
(una historia de fidelidad y amor)
Para que te puedas contemplar en mis ojos, para que pueda yo contemplar los otros mundos en los tuyos, aun no sé cuál sería el precio. ¿Acaso contemplar el alma tuvo precio en algún punto de los tiempos?
Y tuve conciencia clara de que tanto en lo considerado más grande y en lo considerado minúsculo preexistía un motivo, de ser y para ser, en el maravilloso trayecto de cada Vida. Nada ni nadie perdió el tiempo en establecer unas reglas herméticas para distinguir qué era grande y qué era pequeño.
Los hechos de los que fui testigo, y parte en la sombra, todavía hoy al rememorarlos me estremecen, y sin que pueda llevarme a confusión me llenan de una inusitada alegría y esperanza, algo que va implícito en todo final ya que él mismo es germen de principio.
Desperté aún bajo la incipiente luz del alba intentando abrirse paso entre las contraventanas del dormitorio. Bajo las sábanas estiré todo el cuerpo: brazos, piernas, notando como la luz y la vida rebrotaban en cada célula, en cada fibra. El olor a tierra y hojas mojadas me hizo saber que el verano de aquel año quedaba atrás y que llegaba un otoño crudo con un marcado sabor a invierno.
Todavía con los sentidos embotados me enfundé en mi bata y anduve por el pasillo en dirección a la cocina. Mis sentidos de olfato y gusto perseguían a ciegas el primer café de la mañana.
Fuera de la casa noté cómo mis amigos, César y Duffy, correteaban a sabiendas de que ya me había levantado. Los perros, los animales en general, son los mejores amigos para un hombre solitario como el que yo era. Tras la puerta de la cocina me esperaba Héctor en su amplia jaula, era un canario de un amarillo pastel precioso. En más de una ocasión tuve la sensación en el aletear de sus plumas que eran de puro cristal, extrañas joyas para elevar su cuerpecillo hacia las alturas en pos de mundos y ciudades que nuestras mentes no pueden ver ni imaginar.
Seguro de la guardia que ejercían mis amigos alrededor de la casa, siempre dejaba las contraventanas de la cocina semiabiertas y así Héctor podía deleitarse, como lo hacen todas las aves, con las primeras luces del día. Era raro que aquella mañana no estuviera ya cantando, revoloteando y saltando en su casa colgando de un plateado brazo metálico. Abrí con natural cautela y sin hacer ruido, (hábito adquirido desde mi más tierna infancia para no molestar a nadie), me quedé parado, sin dar crédito a lo que mis ojos veían: a contraluz de la ventana y dentro de la jaula se recortaban dos formas juntas, hombro con hombro, cuerpecillo contra cuerpecillo, cabeza sobre cabeza. ¡Héctor tenía un acompañante! Junto a él, todavía durmiendo, había un ratoncillo gris de campo, podía distinguir perfectamente su larga y fina cola, sus orejillas como de papel. Me daban la espalda y no se habían percatado de mi presencia. No duró demasiado, ambos giraron sus cabezas en mi dirección, el ratoncillo corrió hacia el fondo redondeado, metió su cabeza por entre los barrotes y se deslizó por la barra del soporte de la jaula desapareciendo por uno de los agujeros del respiradero de seguridad del gas que daba directamente al jardín.
Héctor cantó, como si no hubiera pasado nada.
Mientras tenía la cafetera sobre el fuego, le pregunté, y cantó. Le cambié las hojas de periódico que tenía recortadas en forma circular a medida para el habitáculo, le cambié el agua y repuse la comida del comedero.
Dos cafés, desayuno, ducha y salir hacia el trabajo.
Por la tarde al regresar a casa me saludaron efusivos y cariñosos como siempre César y Duffy. En la cocina Héctor brincó varias reces en señal de bienvenida. El día transcurrió entre el salón y el estudio, el estudio y el salón. Antes del anochecer el aire se humedeció, los cielos se cargaron de nubes azuladas potentes, relampagueó, tronó y el cielo se convirtió en otro mar.
En las sucesivas mañanas fui extremando mi cautela y sigilo para entrar en la cocina, siempre estaban ahí los dos aún durmiendo y se repetía el mismo juego de la primera mañana, el ratoncillo fijaba en mi sus dos perlas negras, daba un brinco se deslizaba por la barra-brazo de la jaula y desaparecía por el mismo agujero del rincón. Así pasaron varios meses. Una mañana cercana a la Navidad Héctor estaba solo, le pregunté con una sonrisa “¿dónde anda tu amigo?”, no cantó para responder, me quedé preocupado. Al día siguiente, quizá más motivado que en otras ocasiones, me levanté incluso más temprano, pudiera serrr que el ratón gris hubiera decidido salir mucho antes de que yo le viera durmiendo con el canario. Pero no estaba, y de nuevo le pregunté por su amigo y sus correrías, pero Héctor no cantó. Una semana después encontré a Héctor, alas extendidas, tumbado en el suelo de la jaula, sus plumas brillaban bajo los primeros rayos de sol, abrí la portezuela para tocarle, pero no se movió, le coloqué entre mis manos, su cuerpecillo aún estaba caliente, le observé y comprobé que tenía una sola herida profunda en medio del pecho. No entendía nada. Desolado busqué una cajita de cartón, la forré con algodón, plegué sus alas, le tendí y encerré ahí. César y Duffy estuvieron todo el tiempo a mi lado mientras cavaba junto a un almendro y enterraba a nuestro amigo alado.
Durante varias semanas dejé la jaula en la cocina confiado en que el ratón regresaría a visitar a su amigo, pero jamás regresó.
Unos meses después cuando conté la historia al criador de canarios me dijo que son muy fieles a su pareja y que cuando ésta muere ellos mismos acaban con su vida picoteándose en el pecho. Entonces supe que había algo más que una simple amistad entre Héctor y el ratoncillo gris de campo. Lo más probable era que algún depredador hubiera acabado con la vida del ratón, Héctor esperó y esperó, hasta que supo que ya no regresaría y entonces acabó con su vida, su vida dejó de tener sentido, los perros y yo no éramos ya suficiente compañía para él.
Puede que mi relato os pueda entristecer, aquellas Navidades no fueron ni mejores ni peores que otras, ¿cuándo lo son para un lobo solitario?, pero sí tuvieron algo especial porque en ellas se concentraron el gran amor de dos pequeñas criaturas, un amor que por su final me entristeció en un principio, pero que me alegró por la gran lección que era, me enriqueció por el simple hecho de haber tenido el honor de ser testigo de su desarrollo y de su desenlace. Ahora no me queda más que imaginar que también habrá un cielo donde el ratón gris y Héctor vivirán correteando y volando su amor eterno. Me ofrecieron la lección de que en la brevedad de sus vidas vivieron la vastedad del Amor.
(Arte de Jeroni Mira Galmés, para o texto desta edição)
JERONÍ MIRA GALMÉS
PASSEIO DOS CAVALHEIROS
Ousadas estrelas aparecem no manto azul da noite. Sonolentas luzes repousam na paisagem do viaduto do Chá.
Poucas almas incomodam a cidade com seus passos apressados de retorno e desaparecem, engolidas pelos orifícios de concreto do metrô.
Estranho círculo de luz surge na instantânea profusão de cores circulares que se desfazem sobre a visão do shopping Light e do Teatro Municipal.
Numa das calçadas do viaduto passeia o solitário vulto despejado pelo círculo.
O homem de sobrancelhas densas e bigode raro olha ternamente para a cidade que não é a mesma. Relembra escolas de madeira, cartas que escrevia para crianças distantes e a sua emocionante aventura. Um feixe de luz despenca suavemente e diante dele surge outro homem, que se aproxima.
—Como vai? Ansiava pelo nosso encontro.
Tem início um fecundo diálogo entre os dois cavalheiros, de paletós desatualizados. Um discorre sobre a infância de dificuldades e as aventuras escolares, quando era zombado pelos colegas por causa da sua feiura e do jeito tímido e solitário.
O outro fala, consternado, do seu desgosto com a gente grande e da emoção ao ver pela primeira vez os queridos personagens impressos no papel.
Conferem que jamais foram distantes, embora um tenha sido dinamarquês e o outro tenha nascido e crescido na tímida Taubaté, onde em tarde ensolaradas, chuvas anunciadas em mormaços e trovoadas que ralhavam, brincava com toscos brinquedos de chuchu e sabugos, ou de emoções na biblioteca do avô se empoeirava
Reconforta-se com súbita felicidade ao reparar que continua no coração de infinitas crianças, que frequentemente viajam nas páginas do seu sítio, lambuzam-se com: a aritmética, a gramática, a história das invenções e a história do mundo, e crescem com sábios convencidos e velhinhas contadoras de histórias.
Poucas almas incomodam a cidade com seus passos apressados de retorno e desaparecem, engolidas pelos orifícios de concreto do metrô.
Estranho círculo de luz surge na instantânea profusão de cores circulares que se desfazem sobre a visão do shopping Light e do Teatro Municipal.
Numa das calçadas do viaduto passeia o solitário vulto despejado pelo círculo.
O homem de sobrancelhas densas e bigode raro olha ternamente para a cidade que não é a mesma. Relembra escolas de madeira, cartas que escrevia para crianças distantes e a sua emocionante aventura. Um feixe de luz despenca suavemente e diante dele surge outro homem, que se aproxima.
—Como vai? Ansiava pelo nosso encontro.
Tem início um fecundo diálogo entre os dois cavalheiros, de paletós desatualizados. Um discorre sobre a infância de dificuldades e as aventuras escolares, quando era zombado pelos colegas por causa da sua feiura e do jeito tímido e solitário.
O outro fala, consternado, do seu desgosto com a gente grande e da emoção ao ver pela primeira vez os queridos personagens impressos no papel.
Conferem que jamais foram distantes, embora um tenha sido dinamarquês e o outro tenha nascido e crescido na tímida Taubaté, onde em tarde ensolaradas, chuvas anunciadas em mormaços e trovoadas que ralhavam, brincava com toscos brinquedos de chuchu e sabugos, ou de emoções na biblioteca do avô se empoeirava
Reconforta-se com súbita felicidade ao reparar que continua no coração de infinitas crianças, que frequentemente viajam nas páginas do seu sítio, lambuzam-se com: a aritmética, a gramática, a história das invenções e a história do mundo, e crescem com sábios convencidos e velhinhas contadoras de histórias.
O da Dinamarca, também encharcado de felicidade, constata que o seu patinho feio e o seu soldadinho de chumbo continuam falando e levando mensagens de perseverança, persistência e sabedoria às crianças de um mundo sem fronteiras.
Um fiapo lunar de vento desfaz a lágrima disfarçada pelo homem de Taubaté, quando o outro afirma com leveza:
—A sua voz continua! Você continua falando através da sua boneca de pano. Um sorriso esboçado sela a concordância, mas a gentileza de amigos assim, reparte imediatamente o presente. E afirma:
—O senhor, meu caro, é o patinho, e continua com a sua voz a ensinar as crianças de todos os credos, raças e lugares, e idades, que não devemos ter nenhum tipo de preconceito no coração.
O diálogo é interrompido quando o passeio atinge a calçada da Biblioteca de Mario de Andrade, o poeta patrono da cidade. A luz que os acompanhava começa a se dissolver, lentamente desvanecendo-se.
Prometendo novos encontros, na luzificante agonia eles se vão, O de Taubaté explica o mistério dos reencontros.
—Sempre que nessa noite do ano, pelo menos uma criança com insônia abre um livro meu, vou tomando forma e na primeira página lida, inicio o meu passeio e enquanto pelo menos uma criança permanecer acordada lendo, estarei caminhando pelas ladeiras e calçadas desta capital.
—O mesmo se dá comigo!— conta o dinamarquês.
Os cavalheiros se despedem. Afinal as duas últimas crianças fecharam os livros e adormeceram. Talvez uma estivesse lendo O Patinho e a outra, A Menina do Nariz. Como saber?
Quem tem a felicidade de reparar o círculo de luz e cores se desfazendo em nódoas não pode imaginar o que de fato acontece. Talvez possa: afinal a imaginação não é propriedade apenas das crianças.
Um fiapo lunar de vento desfaz a lágrima disfarçada pelo homem de Taubaté, quando o outro afirma com leveza:
—A sua voz continua! Você continua falando através da sua boneca de pano. Um sorriso esboçado sela a concordância, mas a gentileza de amigos assim, reparte imediatamente o presente. E afirma:
—O senhor, meu caro, é o patinho, e continua com a sua voz a ensinar as crianças de todos os credos, raças e lugares, e idades, que não devemos ter nenhum tipo de preconceito no coração.
O diálogo é interrompido quando o passeio atinge a calçada da Biblioteca de Mario de Andrade, o poeta patrono da cidade. A luz que os acompanhava começa a se dissolver, lentamente desvanecendo-se.
Prometendo novos encontros, na luzificante agonia eles se vão, O de Taubaté explica o mistério dos reencontros.
—Sempre que nessa noite do ano, pelo menos uma criança com insônia abre um livro meu, vou tomando forma e na primeira página lida, inicio o meu passeio e enquanto pelo menos uma criança permanecer acordada lendo, estarei caminhando pelas ladeiras e calçadas desta capital.
—O mesmo se dá comigo!— conta o dinamarquês.
Os cavalheiros se despedem. Afinal as duas últimas crianças fecharam os livros e adormeceram. Talvez uma estivesse lendo O Patinho e a outra, A Menina do Nariz. Como saber?
Quem tem a felicidade de reparar o círculo de luz e cores se desfazendo em nódoas não pode imaginar o que de fato acontece. Talvez possa: afinal a imaginação não é propriedade apenas das crianças.
MARCIANO VASQUES
SONHO
Na baía do sonhar
olhando o infinito azul do mar
vem o menino brincar
com conchas, algas, pedrinhas
constrói castelos de encantar.
Com o seu barquinho de papel
inventa viagens e embarcações
brinca com golfinhos e gaivotas
voa nas asas dos sonhos
faz-se ao mar das ilusões.
Deitado na areia branca da praia
olha o céu, inventa histórias nas nuvens
contempla estrelas a cintilar
este menino, sedento de colo
continua sonhando com canções de ninar.
CECÍLIA VILLAS BOAS
IMAGINO...
Imagino um mundo sem violência e sem maldades.
Imagino um mundo sem guerra e sem furias.
Imagino as pessoas sem medo de sair de casa e serem assaltadas
Imagino um mundo onde as pessoas saiam para passear e regressem
Imagino um mundo em que as casas possam ficar só ...
Imagino um mundo sem preconceitos e que se cumpra o direito de ir e vir.
Imagino a pobreza extinta...
Imagino todos com atendimento médico decente
Imagino a poluição fora do nosso dia a dia....
Imagino as famílias unidas, os casais se amando como no inicio do namoro.
Imagino as pessoas dialogando, sabendo conversar e não brigar
Imagino casais fiéis, sem traição e que a confiança um no outro seja parceira
Imagino a verdade sendo usada, não somente pregada
Imagino as pessoas dizendo o" eu te amo" para quem realmente amem.
Assim, ninguém iludiria ninguém...
Imagino a certeza do amanhã.
Ah se o mundo fosse como meu desejo
Imaginar não custa nada,
Imaginar nos faz sonhar, acreditar...
Acredite...imagine....realize...faça sua parte
Imagine e comece agora, hoje!
Imagino um mundo sem guerra e sem furias.
Imagino as pessoas sem medo de sair de casa e serem assaltadas
Imagino um mundo onde as pessoas saiam para passear e regressem
Imagino um mundo em que as casas possam ficar só ...
Imagino um mundo sem preconceitos e que se cumpra o direito de ir e vir.
Imagino a pobreza extinta...
Imagino todos com atendimento médico decente
Imagino a poluição fora do nosso dia a dia....
Imagino as famílias unidas, os casais se amando como no inicio do namoro.
Imagino as pessoas dialogando, sabendo conversar e não brigar
Imagino casais fiéis, sem traição e que a confiança um no outro seja parceira
Imagino a verdade sendo usada, não somente pregada
Imagino as pessoas dizendo o" eu te amo" para quem realmente amem.
Assim, ninguém iludiria ninguém...
Imagino a certeza do amanhã.
Ah se o mundo fosse como meu desejo
Imaginar não custa nada,
Imaginar nos faz sonhar, acreditar...
Acredite...imagine....realize...faça sua parte
Imagine e comece agora, hoje!
Marli Giacomozzi
Nada além de você...
Viver, ah... como é bom viver!
Como é bom acordar e ao amanhecer poder olhar pela janela
e ver o sol raiando.
Como é bom acordar e ao amanhecer poder olhar pela janela
e ver o sol raiando.
Será que damos o devido valor a esse mundo onde vivemos?
Um lugar que nos acolhe, onde nos sentimos bem?
Como é maravilhoso estarmos juntos aos que amamos e nos amam!
Quão maravilhoso é esse Deus que nos deu o mundo de presente!
Mas, me pergunto: porque tantas pessoas usam a violência em vez do diálogo?
Quão maravilhoso é esse Deus que nos deu o mundo de presente!
Mas, me pergunto: porque tantas pessoas usam a violência em vez do diálogo?
O roubo em vez do trabalho...
O ódio em vez da amizade, e do amor...
Por que existem tantas pessoas que querem ser melhores do que as outras?
Já pensou quantas oportunidades surgem em nossa vida todos os dias? Pois é...
A cada amanhecer elas estão ai, e com elas, uma nova oportunidade de fazer diferente.
Devíamos dar mais valor ao presente chamado vida,
porque a vida passa tão rápida.
Quando começamos a despertar temos 15 anos,
porque a vida passa tão rápida.
Quando começamos a despertar temos 15 anos,
Quando percebemos já temos 30
Quando acordamos já temos 80...
Quando acordamos já temos 80...
Quando vemos já está na hora de partir...
Nada é tão ou mais importante do que viver!
Nada é tão importante do que a nossa vida.
Nada é tão ou mais importante do que viver!
Nada é tão importante do que a nossa vida.
Nada é mais importante do que você...você...você... Acredite!
Por isso devemos despertar em cada manhã,
colocar um sorriso novo no rosto,
colocar um sorriso novo no rosto,
Não pensar no que os outros vão falar, pensar ...
Você é muito maior do que as palavras.
O mundo e sua história se resumem em você!
Então reescreva sua biografia hoje, seja sendo feliz!
MARLI GIACOMOZZI NASCIMENTO
Um (pequeno) conto para este natal
Para 24 de Dezembro de 2011
Consoada.
As pessoas começam a chegar…
O som da aparelhagem emite cânticos natalícios como o Jingle Bell, Holy Night e Merry Christmas.
A porta entreaberta convida a entrar… ainda mais porque o aroma que se sente no ar já nos faz levitar de sabor.
A mãe maria, sempre atarefada, desenha um sorriso e faz os seus olhos brilhar sempre que a ela nos dirigimos.
A avó também cá está! E, a prima Bijú! Neste natal voltamo-nos a encontrar! E a avó velhinha, tão querida e fofinha! Estima de pessoas maravilhosas!
Na sala de jantar, uma mesa repleta de tudo, onde se sentam quem já não está mas se sente; quem nos dá alegrias; os mais espontâneos, e os mais reservados; os que falam muito e os que pouco dizem; as gritarias e as rebeldias duma família, sã, vulgar… É a confraternização pura e a fraternidade inata destas reuniões. União e harmonia.
Por todo o lado se ouvem os anjos de júbilo, as luzes de quem nos alumia, o saber de saber quem nos dá amparo e faz crescer a sabedoria.
Das bocas das gentes ecoam palavras sinceras de renovação e reconhecimento.
Unidos, celebra-se uma causa… um verbo que reclama amor, que pode ser respeito, esperança, felicidade, bondade, fé, tenacidade e prosperidade.
Neste dia, na benevolência somos maiores e a paz que provocamos no mundo é uma invocação ao milagre da vida.
Mensagem de natal
Receita de natal
Música de natal
CARMEN EZEQUIEL
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Também identificada como Malmequer, é conhecida como Calêndula, pois, assim como a Margarida, é muito usada na brincadeira do "bem me quer, mal me quer", que teria sido criada na Idade Média e que consiste em arrancar, uma por uma, as pétalas da flor, questionando se o seu amor ainda lhe quer. A última pétala é a que vai indicar se a resposta é sim ou não.
Decididamente, eu e as calêndulas não interagimos, feitios!
JOTA NUNO (Jota Ene —Lisboa/Portugal)
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ESPECIALMENTE CONVIDADOS!
Ana Coeli —João Pessoa/Paraíba/Brasil (poetisa)
Lteresa Mendonça — Sampa/São Paulo (Atriz)
Marco Haurélio —Sampa/São Paulo (cordelista/escritor)
Marciano Vasques — Santos/São Paulo/Brasil (Casa Azul)
Nil Medeiros —Piranhas/Alagoas/Brasil (poetisa)
Marília Chartune — Santa Maria/Rio Grande do Sul/Brasil (artista plástica)
Cecília Villas Boas —Lisboa/Portugal (poetisa)
Jeroní Mira Galmés — Madrid/ Espanha (pintor/escritor)
Carmen Ezequiel — Lisboa/ Portugal (escritora/cronista)
Jota Nuno(Jota Ene) — Lisboa/Portugal (fotógrafo)
Marli Giácomozzi —Tatuí/São Paulo/Brasil (educadora/poetisa)
Paula Laranjeira —Salvador/Bahia/Brasil (escritora/poetisa)
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Foto de Paula Laranjeira
Foto de Jeroní Mira Galmés
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PALAVRA FIANDEIRA
Publicação fundada em Outubro de 2009
Pelo Escritor Marciano Vasques
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Muito obrigada Marciano Vasques, foi com muito prazer que recebi o convite para participar na Palavra Fiandeira, o que muito me honrou, especialmente nesta Edição de Natal, onde a magia paira no ar.
ResponderExcluirQue todos possamos ter um Santo Natal, cheio de Paz e Amor.
Um abraço
oa.s [Cecília V.Boas)
Parabéns aos autores!
ResponderExcluirDizer que estou feliz por fazer parte dessa maravilha é pouco!E eu nem sabia que seria capaz de escrever textos assim.Obrigada pela confiança depositada.Um abraço!
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