EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PALAVRA FIANDEIRA 87




PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA

Publicação digital de Literatura e Artes

ANO 3 —Nº87 — 13/OUTUBRO/2012
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

NESTA EDIÇÃO:

RONALDO CAGIANO


créditos das fotos: direitos reservados

1.Quem é Ronaldo Cagiano?
Um homem comum, que elegeu a palavra para comunicar suas angústias e perplexidades e adotou um velho axioma de Kafka, como farol: "Tudo que não é literatura me aborrece."

2.Seu novo livro,“Moenda de Silêncios”, escrito em parceria, já está no ar. Poderia nos falar algo sobre ele?
O livro nasceu de um desafio que nos impusemos: como escrever a quatro mãos. Escrito por volta de 1998, não tínhamos a intenção de publicá-lo. Mas essa parceria numa escrita colaborativa foi se revelando algo instigante, porém a obra hibernou durante esses anos todos em nossos arquivos. Ano passado, resolvemos inscrevê-lo no ProAC, tendo sido contemplado com a verba de publicação. Na verdade, a novela era para ser uma obra juvenil, porém sofreu tantas metamorfoses ao longo desse tempo, tantas correções, ajustes, modificações e adaptação à realidade contemporânea, que a linguagem tornou-se adulta, porém mantendo a leveza. É uma história sobre os desafios na selva de pedra de dois jovens que saem do interior para aventurar-se na moenda urbana da cidade grande. É também uma celebração da amizade e um texto sobre as inquietações individuais e os problemas contemporâneos.
Em Argentina e Uruguai

3.Participou recentemente de um projeto chamado “Quinta Poética”. Conte aos leitores da Fiandeira um pouco sobre esse evento.
Esse projeto desenvolvido há alguns anos pelo escritor José Geraldo Neres e apoio da Escrituras Editora e Casa das Rosas é um formidável espaço para a divulgação da poesia contemporânea. Num país em que se dá pouco espaço à poesia, criou-se uma agenda permanente, que tem possibilitado dar vez e voz a muitos autores, entre veteranos e novos, entre desconhecidos e consagrados. Mais que isso: é a democratização do espaço a todas as vertentes estéticas. Tenho acompanhado esse trabalho e percebido que a poesia ali ganhou seu status, instância que tem permitido conhecer poetas de diversas regiões do País, apesar da negligência e do silêncio da mídia.
Aroldo Pereira; Donizete Galvão; Gilberto Nable
4.”Dicionário de Pequenas Solidões”é o título de uma de suas obras. É um livro de fragmentos de prosa? Uma obra de Poesia? De verbetes da alma? Diga-nos, por gentileza, o que o leitor poderá encontrar nesse seu livro?
É um volume de contos publicado em 2006 pela Ed. Língua Geral, do Rio. Reúne contos curtos, médios e longos, incluindo textos narrativas de várias épocas, o que possibilita um panorama de meu processo criativo, com todas as suas deficiências e evoluções. Os contos têm como pano de fundo as questões que sempre me inquietam: a morte, a passagem do tempo, a insularidade do homem contemporâneo nesse mundo de coisificação e etiqueta, os conflitos e angústias existenciais de todos nós.


5.Você é mineiro. O que nos pode relatar sobre a sua infância em Minas e se ela está presente em alguma de suas obras.
Sem dúvida, Minas é a raiz primeira e ela se espraia por toda minha produção, a poética e a ficcional. Nasci em Cataguases, mas aos 18 anos fui para Brasília, lá passando 28 anos da minha vida. Vim para São Paulo em 2007 e daqui não pretendo sair. Diz um poeta mineiro, radicado em Brasília também, João Carlos Taveira: "Minas está em mim/ anterior ao verso." É uma verdade indissociável para mim. Embora tenha vivido grande parte em Brasília, tudo o que escrevo é ressonância de minhas experiências afetivas, geográficas, históricas. É algo ancestral. E da infância não nos divorciamos, como disse Drummond: ´"É o menino em nós/ ou fora de nós/ carregando o mito."

6.Foi convidado para o “Desconcertos na Paulista”. O que são esses desconcertos?

É uma pena que o projeto não teve sequência, mas era um espaço importante de discussão,criado pelo escritor Claudinei Vieira, que convidava mensalmente autores para discutir sua obra e conversar sobre literatura e processos criativos, numa perspectiva crítica e menos acadêmico, algo que coloca o escritor em interação com o público.

7.Há uma predominância de temas urbanos em sua literatura. Por qual motivo sua abordagem literária é tão presente na urbe?

Creio que não há uma única inclinação no meu trabalho, embora haja predominância daqueles temas que me são caros e desafiadores. Minha prosa e minha poesia comportam certo hibridismo, tanto falo de questões existenciais, quanto políticas; vou da crítica política e social ao enfrentamento de temas amorosos. Mas, essencialmente, os ambientes e cenários dizem respeito à vida urbana, porque minha experiência pessoal é ligada à cidade (seja a do interior ou a metrópole). Não conseguiria escrever sobre o universo campesino, a vida rural, a realidade regionalista do Nordeste, por exemplo (aliás, literatura de que gosto muito), porque não tive essas vivências, não saberia apreender essa realidade física e sensorial.
Com a família
8.Alguns de seus títulos são pura Poesia, como “O Sol nas Feridas” , “Concerto para Arranha-Céus”. Assim sendo, estamos diante de obras poéticas ou de narrativas documentais? Ou diante de uma mescla de sentires? Há uma confissão de vida nesse seu fazer literário?
Há uma fusão de ritmos, estilos, gêneros, modos de falar e escrever. Sempre tive familiaridade com a prosa poética e sou prosaico na poesia e poético na prosa. E tudo o que escre(vi)vemos é interpenetrado pela confissão, pelos detalhes autobiográficos, pela adiposição de experiências íntimas. Nenhuma literatura, creio eu, é isenta de um componente confessional, porque o que vivemos, vivemos e sentimos pega carona no que escrevemos.

9.Você organizou uma Antologia de Contos Brasiliense. Como se deu esse trabalho,e por que sentiu necessidade de realizá-lo?
Organizei mais duas antologias,além dessa: "Poetas mineiros em Brasília" (2001|) e "Todas as gerações - o conto brasiliense contemporâneo"(2006). Foi trabalhoso reunir contistas e poetas, mas valeu a pena tentar mapear a realidade ficcional da Capital da República. Quis fazer um registro, o mais próximo possível (e fiel) da realidade, resgatando importantes nomes da prosa candanga desde a fundação da cidade. Na primeira, incluí autores vivos e mortos. Na segunda, autores contemporâneos, aí entrando novas vozes, inclusive escritores jovens que ainda não haviam publicado em livro, mas vinham produzindo literatura de qualidade em revistas, suplementos, blogs, sites. A de poesia, foi a tentativa de homenagear Minas e reunir os bons poetas das Gerais que viviam na cidade.

10.Na 10ªBienal do Livro da Bahia, participou da “Praça do Cordel e Poesia”, nos diga, por favor, como foi esse evento, e como aconteceu a sua participação nele.
Convidado pelo poeta José Inácio Vieira de Melo, tive o prazer de compartilhar o palco com outros poetas e cordelistas, entre os quais Clodair Eduão e conheci outros excelentes representantes da poética oral. É importante essa interação de gêneros ser contemplada num evento daquela magnitude.
Amor: escritora Eltânia André
11.Quando nos conhecemos, você estava em Brasília, e havia a Revista “Literatura”,que agregava nomes como Nilto Maciel, e outros. Diga à Fiandeira sobre esse período e a importância dele em sua trajetória literária.

A revista foi uma iniciativa pioneira de Nilto Maciel, que durou mais de uma década e possibilitou o intercâmbio de muitos autores com os escritores de Brasília. Depois de mais de 30 anos vivendo lá, Nilto retornou à sua Fortaleza e a revista deixou de circular. Reconheço nela papel importante e decisivo na difusão não apenas da cena literária brasiliense, mas do resto do País e até do exterior, pois o editor, com sua capacidade de agregação, conseguiu conferiu grande visibilidade a esse trabalho e aproximou-nos de outras realidades estéticas.
NILTO MACIEL — Fundador da Revista LITERATURA

Encontros: Na Livraria Cultura

Com Roniwalter Jatobá

Na Livraria Martins Fontes
12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua Palavra Fiandeira?
Faço minha a palavra fiandeira de Fernando Pessoa: "A literatura, como toda arte, é a confissão de que a vida não basta."

O trabalho que você vem realizando, tanto como autor prestigiado que é, quanto pelo espaço fiandeiro dessa palavra sempre franqueada ao seu público leitor, é importante na confecção de uma literatura de qualidade, fiandeiro da necessidade de comunicar tantos mundos.



PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital semanal de Literatura e Artes
Edições aos sábados
Edição 87 — RONALDO CAGIANO
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques

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