PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA LITERÁRIA
Publicação digital de Literatura e Artes
ANO 4 —Nº98 — 12 Janeiro 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
FRANCISCO XAVIER
___________________________________
Francisco Xavier é médico e poeta
______________________________________________________
1.Quem
é Francisco Xavier?
Nasci
no semi-árido piauiense em 1966.
O meu
umbigo foi enterrado aos pés do mourão da porteira do curral e
minha alma ficou a guardá-lo.
Aos
10 anos cheguei em São Paulo. Cidade que me deu todas as
oportunidades e hospeda-me nos últimos 36 anos.
2.O
que é a “Casa da Farinha”?
A
casa de farinha é o local de trabalho das famílias do sertão
nordestino. É onde fazemos a farinha de mandioca com o maior teor de
felicidade do mundo. Por isso batizei este meu sonho. É um espaço
dedicado a culinária, música, literatura e objetos sertanejos. É
um local ainda em formação mas, muito querido e visitado.
Bloco do baião, na CASA DA FARINHA, em São Miguel Paulista
©
3.Seus
poemas curtos são belos e profundos, de uma delicadeza brilhante.
Pode nos falar sobre esse seu fazer poético?
Sempre escrevi utilizando poucas palavras, tentando carregá-las com
a minha simplicidade, humor e meu amor pela natureza. Gosto de
brincar que faço poemas de leitura involuntária. É só passar o
olho e já leu. Comigo não se perde tempo.
4.Pode,
por gentileza, dizer aos leitores da Fiandeira, o que, para você,
representou um artista como Raberuan na afirmação da arte musical
de nossa região e para a nossa contemporaneidade?
Não
conheci o Raberuan pessoalmente. No período áureo de sua produção
eu estava imerso no meu trabalho. Após a sua morte em 2011, conheci
vários artistas que me apresentaram a sua obra. Entre eles o Akira
Yamasaki, Escobar Franelas, Sacha Arcanjo, Fabio Lima, Silvio Kono
entre outros. Fiquei surpreso com a comoção e a admiração que
todos tinham por ele. Hoje sei que a sua obra floresce vigorosa nas
novas gerações e mantém profundas raízes no coração dos seus
contemporâneos.
5.Sua
expressão artística e sua presença é de fato uma simbologia viva
do fazer artístico popular. Como vê a questão da arte enquanto
produto no sistema capitalista? A arte é também apenas uma
mercadoria? A produção em série tem o poder de interferir na
sensibilidade do Ser?
No
sistema em que vivemos não há muitas formas de levarmos a arte para as
pessoas se não a transformarmos em um produto. Veja o que é feito
com a música, a literatura, cinema, design etc. Acho que a produção
em série de obras de pouca qualidade pode deteriorar o bom gosto,
por isso penso que a educação é a saída para que possamos separar
a arte do lixo.
6.O
que é o projeto Ronaldo Ferro?
O
projeto Ronaldo Ferro está começando agora. É uma ação conjunta
de um grupo de amigos liderados pelo Akira Yamasaki, que pretende
documentar a obra deste compositor, músico e cantor excepcional que
neste ano completa 50 anos e, não tem o seu trabalho registrado.
Programamos diversos shows e saraus de poesia na Casa de Farinha para
arrecadarmos fundos para o lançamento desse trabalho.
7.Esteve
em meu lançamento de “O Voo de Pégaso”, e tirou belas fotos,
com esmero tal, que aqui pergunto: tem paixão pela arte da
fotografia?
Sou
fotografo amador. Gosto de documentar os momentos especiais dos meus
amigos.
Sou
apaixonado pela possibilidade de expressar-me utilizando imagens.
Francisco Xavier©
8.Esteve
também no lançamento do livro de Akira, poeta que amo, que tem em
sua bagagem o brilho da sinceridade, e da humildade no seu mais
correto sentido, que é ser imune ao próprio brilho. Esse momento de
encontros numa noite de lançamento de livro, o que é para você?
O
lançamento de um trabalho literário, devido todas as suas
dificuldades, sempre merece uma festa. O contato do leitor com o
escritor, o encontro com os amigos e com pessoas que curtem a mesma
arte é pura magia.
Lançamento do livro do Akira
9.Pergunta
batida, porém, para muitos, ainda em sua força plena: teremos o fim
do livro de papel?
Não
acredito que o livro esteja morrendo. Mas, acho que se tornará um
objeto de arte. Somente o que realmente for bom vai ser impresso em
livro, o resto vai pelos canais mais baratos e rápidos: os meios
eletrônicos.
10.Temos
CASA AZUL DA LITERATURA, temos CASA AMARELA, e temos a sua casa, pois
nota-se por ela um apego, um amor em você. Qual é a sua casa?
A
minha casa é a fazenda onde fui criado, chama-se Ciências. É lá
que vou pessoalmente ou em espírito para aliviar tensões e
angustias. É lá que na minha memória vivem as pessoas que eu amei
e continuo amando mesmo depois de perdê-las.
Sarau na Casa Amarela
11.Que
brinde nos deixaria com um de seus poemas?
Eu,
grito
Deserção
e sangue
Foi o
meu parto.
Na
dor, nasci
Grito
feito.
Pelas
gretas,
Nu em
pelo,
Numa
carreira cega
Ganhei
a caatinga.
Quebrei
galhos.
Seco,
pulei tocos,
Espantei
os bichos
Almas
e quebrantos.
Mas,
na distância
Fui
ficando fraco.
Incompreensível,
Sem
volta, um vão.
Agora,
oco no mundo
Sou
saudade e silêncio
No
colo mouco
Da
solidão.
12.Deixe
aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Preserve
o amor.
Se
preciso:
-flor!
PALAVRA FIANDEIRA
Ano IV
Publicação digital semanal
Literatura e Artes
Edições aos sábados
Edição 98— 12 Janeiro 2013
Edição FRANCISCO XAVIER
Todas as imagens ©
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
Muito bom reconhecer e acolher mais um pouco de Xavier, poeta em tudo o que toca e faz.
ResponderExcluir