EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 19 de janeiro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 99


Tela de Renato Andrade


PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA LITERÁRIA

Publicação digital de Literatura e Artes

ANO 4 —Nº99 — 19 Janeiro 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS

RENATO ANDRADE


Rafael Cautella ©


1 .Quem é Renato Andrade?
É um ilustrador, chargista, publicitário e artista plástico que gosta muito de desenhar e contar histórias através do traço.

2.Participou do Salão do Humor de Piracicaba. Pode, por gentileza, nos contar como foi essa experiência?
Foi uma experiência marcante pois tinha sido a primeira vez que havia mandado trabalhos e dos 3, 2 foram classificados. Fui para Piracicaba de ônibus (saído de Ribeirão Preto) cheguei muito cedo na cidade e resolvi conhecer o famoso rio. Na rua do porto conheci um senhor contador de causos e emendamos uma cervejinha na outra. Com 21 anos me achava imbatível e resolvi acompanhar o experiente piracicabano numa cachacinha. Resultado: cheguei no Teatro onde se realizava o Salão já devidamente cartunizado e me deparo com o Jaguar sorrindo em frente a uma charge minha. Coisas que ficam guardadas dentro da gente para sempre.
O famoso rio — André Luiz de Medeiros©
3.Falando em Salão do Humor, como está o humor hoje em nosso país? O humor gráfico, a ele me refiro.
Com a internet temos acesso imediato aos maiores artistas do Brasil e do mundo, coisa que antes era mais complicado. Em contrapartida essa grande oferta faz com que muitos trabalhos sem tanta qualidade ganhem visibilidade. O Brasil é riquíssimo em artistas gráficos de humor com uma tradição que vem de longe (a turma do Pasquim, Angeli, Glauco, Laerte, Adão, Alan Sieber...) e tem a nova geração que também está arrebentando, Dálcio,Jean, João Montanaro, enfim, temos talentos que ganham prêmios mundo afora em diversos salões.


4.Você é chargista. Pode nos dar uma panorâmica das diferenças básicas entre charge e cartum?
Charge está mais ligada a um acontecimento/fato do momento, geralmente ligado à política. A charge perde o fôlego e fica meio sem sentido com o passar do tempo. O cartum é atemporal, é aquela que funciona não importa quanto tempo passe. Na minha opinião o bom cartum dispensa palavras e é entendido em todas as línguas.


Publicada no jornal "A Cidade"
5.Já ilustrou meia dúzia de livros infantis. Conte, por favor, aos leitores da Fiandeira, sobre essa experiência, e como começou a sua parceria com o autor André Luís.
Conheço o André "só" a uns 30 anos e a amizade fraterna desaguou nestes "filhos" literários. Ilustrar livros é delicioso e o prazer que tenho em cada lançamento com aqueles olhinhos brilhantes aguardando um desenho não encontra paralelo. Nós (eu e o André) vivemos a paternidade meio tardiamente, nossos filhos tem a mesma idade praticamente mas sempre estivemos envolvidos com crianças e o início da parceria literária foi meio que natural e inadiável. Espero prosseguirmos nessa duplicidade artística por muitos e muitos livros.
Com André Luís de Oliveira
6.É também publicitário. Pode nos dizer algo sobre essa atividade? O que um publicitário mais precisa para exercer a sua profissão? Não em termos materiais me refiro.
Gosto muito de trabalhar nesta área. Principalmente porque quem me procura já sabe e conhece meu estilo: cor, humor e preferencialmente um traço que fuja do convencional.  O bom publicitário tem que gostar de música, cinema, literatura, desenho animado, programa de auditório, tv e principalmente gostar de conversar e ser viciado em gente.

7.Gosta de histórias em quadrinhos? Tem algum projeto ou sonho nesse sentido?
Gosto muito dos alternativos dos anos 60 (Crumb, Gilbert Shelton...) não sou muito chegado a super-heróis. Aqui em Ribeirão Preto nós temos um projeto muito bacana que é o RPHQ, organizado e idealizado pelo grande artista Cordeiro de Sá. Já colaborei nas duas primeiras edições e se permitirem estarei nas próximas.
Robert Crumb, citado por Renato Andrade.

8.Como vê essa modalidade de arte, a do grafiteiro, e como ela poderia contribuir para a renovação do olhar sobre a cidade?
Aprendi grafitar com Carlos Matuck que foi pioneiro junto com Alex Valauri no grafite brasileiro. Hoje está nos museus e galerias e os brasileiros são considerados como dos melhores do mundo. Em cidades cinzas como São Paulo são um respiro de criação em meio ao caos.

Painel de Carlos Matuck em livraria de Sampa
9.Já fez caricatura? Tal arte, a caricatura, tem, assim como a charge e o cartum, uma inconteste importância em dias de ditadura. O traço, isto é, a arte gráfica, assim as artes, em geral, podem contribuir com a abertura de consciência em momentos tenebrosos, sem perder a sua característica de ser arte em vez de panfleto? Há um discernimento de um limite entre as duas coisas?
Faço caricaturas e charges para o jornal "A CIDADE" aqui de ribeirão, aliás visitem o site do jornal www.jornalacidade.com.br. Faço caricaturas e charges desde 1982 e posso garantir que sempre existe a patrulha ideológica tentando monitorar o artista. Seja de direita ou de esquerda. Aliás, os militantes do PT tem se mostrado muito mais intolerantes e sem humor do que quando eram oposição.

10.Pelo fato de já ter ilustrado alguns livros infantis, considera que de alguma forma o ilustrador é também um autor da obra?
Acredito que sim pois a linguagem visual é de extrema importância nesse caso. O desenho conjuntamente ao texto "conversa" com a criança de maneira imediata.


11.Já participou de exposições coletivas. Sendo assim, considera que esses eventos são importantes na carreira de um artista plástico?
Já participei e é sempre muito prazeroso e enriquecedor. A troca de experiências e as novas amizades movem todos os artistas.
Obra de Renato Andrade
12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Agradeço ao Marciano Vasques e ao André Luís Oliveira por terem me proporcionado a oportunidade desse diálogo com os leitores do Palavra Fiandeira. Poder contar um pouco de minha história me aproxima daqueles que estão virando as páginas dos livros e por consequência justificando e nos dando a razão de criar e seguir a vida. Um grande abraço e muitíssimo obrigado pela atenção.
Canecas com artísticos  de Renato Andrade

Exposição de Renato Andrade —Jefferson Barcelos©

PALAVRA FIANDEIRA
Ano IV
Publicação digital semanal
Literatura e Artes
Edições aos sábados
Edição 99— 19 Janeiro 2013
Edição  RENATO ANDRADE
Todas as imagens ©

PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques




              

2 comentários:

  1. Ciano,

    Boa noite, meu gentil amigo.
    Estou aqui a ler e conhecer o Renato. Que incrível a arte desse homem, meu Deus! Felizes as crianças que podem ler uma obra do André com as ilustrações de Renato Andrade!
    A mim, não há o que dizer ser o melhor: tanto faz o artista plástico, o chargista, cartunista, ele é incrível!!!
    E agora é com você, Renato. Com sua licença, Ciano. Essas ilustrações nas canecas vou levar comigo para quando falar de você elas sejam a imagem que escolhi para ilustrar. Esse nosso querido amigo Marciano Vasques é mesmo perito em garimpar joias raras para essa PALAVRA FIANDEIRA...e você, Renato, é sem dúvida um DIAMANTE! Sem exageros.
    Amei conhecer sua obra, seus traços, seu estilo, porque nos aproximaram um pouquinho do seu acervo, que, pelo que se pode constatar, é imenso!
    Parabéns, Renato. Deus abençoe e ilumine sempre esse seu trabalho tão lindo.
    Graça Lacerda

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  2. Sempre muito boas as entrevistas do PF você tem muita sensibilidade para entrevistar coisa de quem ama a arte! Parabés ao Renato ri muito com a História da cachacinha de Piracicaba pois passei por uma situação parecida quando fui receber um Premio em Curitiba!

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