o nosso brilho depende do nosso sol interior.
Não há tecnologia no mundo que possa substituir o homem em essência.
PALAVRA FIANDEIRA
ARTES, EDUCAÇÃO E LITERATURA
Publicação digital semanal
Divulgação cultural
ANO 4 —Edição 136
05 OUTUBRO 2013
NANÁ MARTINS
1.Quem
é Naná Martins?
Essa
pergunta não é muito fácil de responder... mas, vamos lá. A Naná
é danada de agitada. Saltitante, sorridente, cabeça no mundo da
lua, gosta de bicho, planta e gente. Rabisca e risca. Risca e rabisca
até escrevinhar palavras que possam encantar desde agora e sempre. É
escritora, pedagoga, contadora de histórias, mãe, esposa, poetisa,
servidora pública federal, conselheira da Federação Indígena
Brasileira, membro da AEILIJ, tudo isso e mais, não necessariamente
nessa ordem.
2.Lançou
recentemente um livro com citações indígenas. Fale, por favor,
dessa obra. A que se refere? Como surgiu a ideia?
Pedzeré,
linhas e cores
foi editado pela Ed. FTD. e ganhou belíssimas ilustrações de
Maurício Negro que usou e abusou de técnicas de ilustração como a
monotipia que é um tipo de pintura por impressão. O conto trata do
mito da pintura corporal indígena em essência. Fala de aventura, de
descobertas e do amor entre uma serpente, a Jibóia Arco-Iris e uma
indígena, a Pedzeré.
As
citações em indígena estão em língua Xavante. E tudo começou
quando conheci o indígena xavante, Saturnino Wapotowe, hoje um
grande amigo, em uma das atividades que desenvolvia no Rio de
Janeiro. Tive a grata oportunidade de apoiar a aldeia de Saturnino e
passado certo tempo, recebi a belíssima notícia de que a anciã
deles havia sonhado comigo. O sonho mostrou uma pedzeré, que na
língua xavante quer dizer mulher de cabelos longos meio gente, meio
peixe. E a anciã mandou dizer: “Diga à Naná o seu nome Xavante”.
Ganhei um nome, uma identidade indígena: Pedzeré. O sonho da anciã
veio acompanhado de outro. Uma bela noite fui dormir. Ainda era Naná.
Olhei pela janela do quarto e vi um lindo sanhaço de coqueiro… e
adormeci. No dia seguinte, ouvindo os pássaros e sentindo a brisa
suave da manhã, observei uma bela indígena de cabelos longos que
cantarolava uma canção celebrando a força do sol, da terra e da
água. E assim nasceu um conto, com carinho, como um presente cheio
de amor e história, que representa a delicadeza dos nossos povos
indígenas.
Reprodução de convite de lançamento
2.Como
foi a sua participação no 15º Salão FNLIJ do Livro para Crianças
e Jovens ?
Foi
uma grata oportunidade conversar com os leitores e perceber o quanto
temos para dividir. O retorno das crianças e adultos presentes foi
maravilhoso. Uma realização como escritora. Falar de sua própria
obra, contar momentos de criação até a sua finalização, contar
histórias, ser aceita e querida pelo publico foi sensacional.
3.Participa
de uma Associação de Escritores e Ilustradores. Como é participar
de uma entidade que defende os interesses dos autores?
É
uma responsabilidade muito grande e desafiadora. Afinal, a AEILIJ
iniciou suas atividades em 1998 e tem como propósito representar
escritores e ilustradores com a finalidade de estimular esses
profissionais, e seguir em defesa dos interesses e direitos de ambos.
Hoje a AEILIJ conta com mais de 400 associados e sua diretoria
trabalha voluntariamente em prol da categoria e da Literatura Infanto
Juvenil. Desde sua criação foram estabelecidas diversas parcerias
importantes com diversos órgãos públicos, instituições, feiras
de livros, fundações e empresas que se dedicam ao incentivo da
leitura. E é com esse espírito que tenho a satisfação de
participar dessa associação.
4.Como
você se interessou pela Literatura Infantil? A partir de qual
momento e por quais circunstâncias ela se tornou norteadora de sua
produção?
Venho
de uma família grande e tenho quatro irmãos. Tivemos a grata
oportunidade de ter pais que sempre nos incentivaram à leitura desde
criança. Como sou a segunda filha adotei a missão de ler histórias
para os mais novos. Mais tarde, já na qualidade de mãe fiquei
encantadíssima com a riqueza do universo infantil. Na verdade, o
redescobri. Comecei a cantar cantigas de roda para minha filha e a
contar diversas histórias tradicionais. Um dia, em uma de nossas
férias, fomos passear e vivenciamos várias experiências
diferentes. Percebi que essas experiências poderiam ser passadas
adiante em forma de histórias para serem contadas mais e mais vezes.
Então, escrevi três livros para a minha Aninha e por fim, decidi
publicar com o apoio da família e amigos. São eles Pé de Lata, Vai
e Vem, e Carrinho de Caixa.
O nascimento de uma carreira
5.Seu
poema intitulado “Brilhinhos” é contemplativo da beleza da vida
em seu esplendor. Como ele nasceu? Tem uma inspiração mais
particular?
Brilhinhos
é um encanto. O poema nasceu em uma noite estrelada. Eu e minha
filha olhávamos a imensidão do céu e nesse momento pude contar a
ela algumas coisas sobre a vida. Lembro-me de ter dito que, assim
como as estrelas vistas da terra cada um de nós tem seu brilho e
esse brilho é o reflexo de tudo aquilo que fazemos. Então, o nosso
brilho depende do nosso sol interior. E tudo isso é um presente. E
no coro de: “publica, publica”; publiquei o poema no formato de
mini livro e foi um sucesso.
Com criança em evento literário
6.Do
que trata seu livro “Carrinho de Caixa”? Pode adiantar algo para
os leitores da FIANDEIRA?
Carrinho
de Caixa é um livro muito engraçado. Alguém por um acaso já ouviu
uma história que lhe pareceu uma baita lorota? Bem, nesse livro tem
uma chuva diferente e é tudo verdade, posso garantir. Tem uma turma
de crianças bacana que se diverte com tudo. Tem história de vô e
vó para ninguém botar defeito. Além, disso o leitor ri e aprende
um monte de coisas legais. Até fazer brinquedo.
7.Com
o surgimento do e-book , gostaria que comentasse algo sobre o tão
propalado fim da era do livro de papel.
Acho
que o e-book veio para complementar as possibilidades de leitura.
Vejo como mais uma oferta ao leitor. É mais um formato para
degustação literária. Afinal, quem gosta mesmo de ler é traça de
livro impresso ou devorador de e-readers. Particularmente, leio nos
dois formatos. Mas, não abro mão de um bom papiro. Sabe aquela
coisa de cheiro de livro? É isso. Não creio mesmo que o e-book
tenha essa missão de acabar com o livro de papel.
8)Além
de políticas equivocadas, que outros fatores causam dificuldades
para os autores de Literatura no Brasil?
Acredito
que uma das grandes dificuldades está na definição de como se
comporta o mercado editorial. Vejo muitos textos maravilhosos de
amigos escritores (os meus também, claro, mas esses são os amigos
que elogiam rs) que não viram livro, não são publicados. Quem
perde com isso? Sem dúvida, o público em geral, que não tem a
oportunidade de ler autores belíssimos com suas histórias
fantásticas. Autores brasileiros cheios de paixão pelo que fazem.
Afinal, tem que se perceber o mercado... que acaba por ser um grande
e misterioso romance; drama talvez.
9.Tem
um livro que possa ter sido marcante em sua infância?
Posso
citar dois? Amei ler “Poliana” de Eleanor Porter. Esse diz
muito do meu jeito de ver as coisas. E o outro que foi bem
interessante foi “O cadáver ouve rádio” de Marcos Rey.
Obra na infância de Naná Martins
10.
Definitivamente, Literatura Infantil é só para crianças?
De
jeito nenhum. Literatura infantil é excelente para adultos também.
É própria para toda e qualquer idade. Há várias formas de extrair
pontos interessantes de textos infantis. Há várias leituras de um
mesmo texto. Atualmente, as empresas contratam contadores de
histórias para trabalhar várias vertentes em gestão de recursos
humanos e o repertório em grande escala é de contos infantis.
11.Como
define a necessidade de se ter o contador de histórias e o poeta em
nossas contemporâneas cidades regidas pela época da tecnologia?
Essas
são figuras eternas e imprescindíveis. É como num ritual. Não há
como não se ter o replicador de palavras. O contador de histórias
ou o poeta são seres místicos com o dom do encantamento. Eles são
responsáveis por tocar a alma. Para tocar naquele cantinho escondido
de cada um. Para embalar, encantar, chocar e estremecer lá dentro.
Não há tecnologia no mundo que possa substituir o homem em
essência.
12.Deixe
aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Fio
palavras sentada em beira de porta com cadeira de balanço e, nas
mãos, agulha com linha dourada para que essas, as palavras, sejam
sempre bem vindas.
Fio
palavras que viajam e chegam de muito longe. Do meio do mundo das
histórias. Palavras que emocionam e que fazem transbordar. Fio
sentimento. Aquela coisa que a gente sente no meio do peito e que
fora do livro apenas pensa; mas, não fala. No silêncio, escreve.
Fio
pensamentos, segredos, aventuras, tudo que leitores, grandes e
pequenos, se abastecem.
Meu
carinho especial a todos vocês, leitores da Palavra Fiandeira, e ao
querido Marciano Vasques, fiandeiro de primeira.
Minha
PALAVRA FIANDEIRA? Histórias.
Fio palavras sentada em beira de porta com cadeira de balanço
e, nas mãos, agulha com linha dourada para que essas, as palavras,
sejam sempre bem vindas.
PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de Artes, Educação e Literatura
ANO 4 —136
NANÁ MARTINS
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
Todas as imagens ©
Obrigada pelo carinho, amigo! : ) Mil beijocas!
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