EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

domingo, 30 de maio de 2010

PALAVRA FIANDEIRA 30




PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
ANO 1- Nº 30 - 30 DE MAIO DE 2010

_____________________________________________________
 NESTA EDIÇÃO:

MARGOT DE CASTILLO MÜLLER

MEU DIREITO DE SER CHILENA!

ENTREVISTADA POR ROCÍO L' AMAR

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@



" MEU DIREITO DE SER CHILENA"

Chile, preferencialmente tem se identificado por ser um país com devoção católica. Por esta razão, falar de temas com a discriminação mapuche, o racismo em razão de gênero e origem étnicas sob a forma do menosprezo; a segregação à homossexuais e lésbicas; a indolência e intolerância da sociedade para com os deficientes físicos e intelectuais, e manifestamente os doentes (por exemplo: os infectados pelo vírus HIV); a discriminação por condição social; segregação de mulheres em empregos mal remunerados do setor de serviços (por exemplo: secretárias, conselheiras de casa, telefonistas, camareiras, vendedoras de lojas, babás, etc); a violência masculina, física e psicológica em alguns setores da população - contra mulheres,
crianças, anciãs; o mau tratos de animais, com em tempo pré-históricos, xenofobia e exploração no trabalho - em discriminação e preconceito - contra os imigrantes latino-americanos, que às vezes alcança até a segunda ou terceira geração de filhos destes; assédio sexual no âmbito do trabalho ou outros comportamentos baseados no sexo, que lastimam a dignidade da mulher e do homem; discriminação por motivos ou tendências religiosas; por idade; que prejudica aos maiores que frequentemente procuram trabalho; a roupa; as profissões ; orientações políticas diferentes; intimação e represália institucional e aleatória que os homens praticam contra mulheres as mulheres ao largo da história; genocídio, entre outros, aqui e agora, é para se estranhar, ainda que seja sabido que algumas destas formas de descriminação também ocorram na grande maioria dos países de América Latina. Entretanto, Chile, um país donde tudo parece inultrapassável, perfeito e maravilhoso, atribuindo-se ser os "jaguares de Latino
América, a potência econômica de América do Sul", - sem terremoto ou com terremoto- arroja resultados poucos alentadores de acordo com estudos sobre o tema, refletido em trabalhos constantes de organismos, estatais e particulares, cujos relatórios nos informam que ainda faltam muitos aspectos para legislar - e ainda falta muito caminho para percorrer.
Mas, felizmente, nem todos os chilenos exercem estes tipos de atos ou ações ou fatos. Há quem reconheça às outras pessoas no que elas sejam, discutem polemiza, dialoga em igualdade de condições, ainda que "Chile é um país extremamente diverso, - nos disse José Bengoa, Licenciado em Filosofia e Acadêmico da Escola de Antropologia de Universidade Acadêmica de Humanismo Cristão -, e portanto, sempre tem havido uma luta entra a diversidade e uma homogeneidade na cultura chilena, o que vem sendo reforçado enormemente com a televisão".
O fato é que, de igual forma se pratica a discriminação desde o interior do parnaso literário/ cultural chileno ou de elite se de mulheres se trata. Com as editoras ocorre a mesma coisa, por que na hora de decidir a quem publicar, são os homens quem levam vantagem. Com as feiras de livros acontece o mesmo, o número de textos exibidos é enormemente superior aos das mulheres, e na linha de antologias das obras das mulheres - no instante de selecionar - também atravessam diversas dificuldades. Por outra parte, a crítica literária, essa, a exigente, a do setor acadêmico masculino, não tem muito olhar, nem sequer como exercício prático, para traçar alguns rumos com respeito à obras de mulheres autodidatas, ( Tampouco os politicólogos, em seu discurso formal põem o dedo na ferida, donde se encontra infeccionada, especialmente e sanguinariamente e grosseiramente, a cultural. E sem perder de vista a discriminação por sexo, para deixar fora e marginalizar as mulheres, permitam-me um momento de ruído, não por que haveriam de notar obrigatoriamente este desacordo entre homens e mulheres, senão por que ambos - gêneros humanos- travam um papel decisivo na literatura contemporânea. As mulheres igualmente podem falar das mesmas coisas, como sujeito de direito e não como objeto.
Porém se de império se trata, a discriminação também tem se intensificado e supõe uma ameaça para a Língua Castelhana, ou o uso do idioma Castelhano ou espanhol. (considerando que há que ser bilingue até trilingue para ter certa notoriedade e aceder à informação e difusão nesta época).
Nesta análise prática que deriva da racionalidade, independente se me distancio ou me aproximo em minhas próprias opiniões, - segundo o tema em questão  todavia, ficamos a nos perguntar por que são discriminadas - em um ou outro sentido - pessoas de pele branca que têm os olhos ou o cabelo de uma outra cor, baseando-nos na premissa de que sejam imigrantes que se assentaram em locais rurais de Chile (zonas camponesas ou étnicas) em busca de paz, bem estar econômico, social e familiar.
Assim sendo, edificando ou subtraindo e exemplificando ao tema, tentaremos gerar consciência sobre este tipo de discriminação em particular, projetar um pensamento para a integração e tratar de remover esta monomania contra descendente de estrangeiros, contra Margot Del Castillo Müller, segunda geração no Chile de alemães/austríacos por parte materna, - colonos da zona de Porto Varas-. E extremeña/valenciana por parte do pai..
Residente em Mulchén há sete anos, Margot del Castillo é poeta, pintora, gestora cultural, presidenta do Centro Cultural Antumapu. Seu primeiro livro editado recebeu o título de "Chamana", obra que não conheço, e por isso não posso opinar. Mas foi o poema "Meu direito de Ser Chilena" que chamou a minha atenção, e minha atenção até aos imigrantes. Até às pessoas estrangeiras que são vítimas especialmente vulneráveis neste Chile, às vezes, discriminador.
Como resultado da pesquisa, encontrei-me com um poema, um acróstico sobre a discriminação, que de alguma forma põe o assunto em questão. É a visão de um poeta, Nelson Dion ( que previamente introduz este preâmbulo), "a discriminação é o recurso dos desprovidos de argumentos", e que quero com vocês compartilhar:
*ACRÓSTICO DISCRIMINACIÓN
Diferente me percebes, o noto no olhar
Injusta que refletem teus olhos e no gesto
Sombrio de teu rosto dizendo que incomodo
Com toda a soberba de quem não diz nada.
Reticente pensamento: mãos aflitas
Inclusive quando apagam, sociais, o funesto
Motor que regenera os ódios manifestos
Impressos na noite das bravatas.
Não busco tuas misérias, tampouco tua derrota,
Amarga sensação de vencer a uma alma rasgada
Com toda sua raiva fluindo torrencialmente.
Intensifique a tentativa de compreender as falácias primaveris.
Ocultas e em massa mais tarde nos exploram
Nublando a razão com vãs sem-razões.
Enfim, tratemos de encontrar as respostas com Margot del Castilllo:
1. De acordo com a sua raça branca, você é loira, de olhinhos coloridos - como se diz em Chile, alta, bonito corpo, etc, etc. Conte-nos em que lugar nasceu sem deixar de lado a sua genealogia, já que acreditamos que seja fundamental refletir explicitamente acerca da discriminação contra os imigrantes.
- Nasci em Vitória, (Oitava Região) dentro de um seio de família tradicional. Composta de pai filho de espanhol e mãe filha de alemães... Sou a maior de três. a ovelha negra, ou loira? E a mais questionada dos irmãos...
Minhas primeiras recordações são as rixas produzidas pelo idioma materno com minha avó paterna, dona Ana... e sim que era Dona. Tudo começava quando minha mãe falava em Alemão... Havia guerra...que eu não entendia, que seguramente estavam se tornando "mal". Enfim...Pela harmonia familiar minha mãe deixou de fazê-lo e perdemos a oportunidade do idioma. .. Havia uma batalha constante , sigilosa entre os ramos da família, se bem que não se dizia nada que alterasse os bons costumes, hoje tenho claro que para meus pais que não deve ter sido fácil, por isso emigraram até Parral... Somando-se em mudança a minha avó Ana (Calvário de minha doce mãe) quem se encontrava separada e em total abandono a viver conosco...para sempre..."literalmente".
Para mim, desde menina, foi claro que haviam "diferenças". Ser "loirinha" poderia ser vantajoso...Salvo que os alemães "São brutos", só servem para o trabalho...Os espanhóis são "frouxos", vivem para a festa... e nessas visitas ao campo, quando com a inocência de crianças queríamos jogar com os filhos do inquilino...recordo a voz escura que lhes gritava: Deixem em paz esses gringos de merda! Onde já se viu brincar com os "espiga de milho"?
Palavras marcantes quando se cresceu com a certeza de que somos iguais.
2. Biologicamente, nós, mulheres e homens, somos diferentes, porém todas as atribuições ao gênero são de origem cultural, incluindo a validação do controle de uns sobre os outros, isto é, do sexo forte (homens?) sobre o sexto frágil (mulheres?). Concretamente, de que maneira experimentou você esta subestimação - sexista - como neta de imigrantes, e a que prejuízos históricos e intolerância racial viu enfrentada na comunidade de Mulchén?
- Venho de um lugar onde o respeito e a igualdade eram importantes...Mesmos direitos, mesmas obrigações - sem distinção de sexos. Casei-me muito jovem e me deparei pela primeira vez com o "machismo", sem voz nem direitos. Rebelar-me custou-me o casamento...e me salvou a vida. Dois belos filhos me acompanharam na aventura de crescer.
A vida me levou a conhecer a quem hoje é meu companheiro e a radicar-me em Mulchén. Os primeiros anos eu os vivi no campo, afastada de tudo, dedicada a trabalhar na tarefa própria da atividade, e a meus filhos, que no novo enlace, eram três. Fui me inserindo na vida social dessa comunidade graças a Milena Gallegos e ao Centro Cultural Antumapu, que hoje presido...Ser mulher, loira, algo inteligente, e não muito feia, é um delito em uma sociedade patriarcal. Mas sim, se tem vocação de serviço (Chamado interesse político). Minha candidatura independente a ser prefeita (quixotada, sem dúvida) deixou-me em evidência. Fui acusada, pelas principais autoridades de minha comunidade, de fazer uso de documentação secreta do conselho, em uma campanha de desprestígio e de assassinato da imagem acusaram-me (também publicamente) de ser alcoólatra, meus esposo foi acusado pela fiscalização militar de um delito inexistente, o que o levou ao cárcere, incomunicável por 48 horas, apenas o amparo do recurso de uma advogado amigo (Na corte em Concepción) fez com que recobrasse a liberdade. Se bem que, depois de uma longa investigação, a fiscal do cargo foi exonerada e se pediram as desculpas correspondentes... Hoje sabemos que se tratava de uma espécie de amedrontamento... para que me retirasse. E o que dizer dos incontáveis roubos, e quebrações de vidro que teve que suportar o Centro Cultural nesses dias... Como anedota, lhe contarei que vivendo em Mulchén não existe nesta biblioteca meu livro "Chamana"... Foi negada a sua compra pelo senhor Prefeito. Em vista desses fatos, o temos doado gratuitamente à bibliotecas das escolas. Por parte da comunidade masculina, ( A maior parte dos votos que recebi foi de mulheres) puseram-me o apelido de "Bárbie" e puseram em dúvida a minha capacidade intelectual. Gritaram-me impropérios... Enfim...Até hoje é uma luta constante, não há espaço para nós. A grande maioria das mulheres permanece reclusa no lar. E a que se atreve, é chamada vulgarmente por um nome de quatro letras... Até para se conseguir um espaço para os nossos projetos se fazem pouco caso. Difícil tarefa temos. Só educando os jovens será diferente... Nessa tarefa estamos condenadas com todas as forças e empenho do coração.
3. Um dos relatórios da Anistia Internacional, reza, a propósito do interesse pelo direito anti-discriminatório, "Há que passar das palavras à ação"... Que proporia você para tornar efetiva a igualdade real no século XXI, entendendo que a igualdade em toda ordem das coisas é a chave social para fazer eficaz a proibição de discriminações por nacionalidade, raça, gênero, entre muitas outras...
- Há uma palavra chave...CULTURA...quando conhecemos nossos direitos podemos começar a exercê-los. Como mulheres temos a responsabilidade de erguer a voz, de denunciar, o silêncio nos faz cúmplices...
4. Você é "loira e inteligente", é poeta, é contadora de histórias, é pintora, é presidente e gestora cultural de Antumapu, tem direito a voto (risos), faz o amor ou faz amor (mais risos), é a "ovelha negra da sua família", é mãe, é avó, dança forró (baila purrún) ajuda na loja de seu esposo, abre as portas para que os amigos possam tomar uns aperitivos, se move em um povoado que não oferece muito glamour, navega pelo ciberspaço, a convidam a fazer leituras de uma massa... Qual das afirmações interessa a você destacar, e por que?
- (gargalhadas)... Creio que basicamente meu esforço diário por me manter em pé e ajudar aos outros, a fazer desta sociedade uma sociedade mais justa de direitos igualitários, e fazer de meu trabalho poético uma voz de denúncia e solidariedade.
5 - Sobre a poesia, que temas aborda? E qual é a origem e até onde apontam seus sonhos neste âmbito?
A verdade é que é bastante amplo...Escrevo poesia de ( e para) crianças, sociais, de gênero, denúncia, de amor, erótica...micro-textos, contos...Escrevo sobre a vida...Meus sonhos? Ser de alguma forma a voz dos que calam. Estou convencida que desde o momento que escrevemos e temos a honra de que nos leiam...deixa o texto de nos pertencer para converter-se na voz do leitor a partir da sua própria interpretação.
6. Partindo de uma perspectiva crítica, frente ao espelho cultural, que resgataria você da história oficial da literatura no Chile nos últimos 20 anos, e que foto tiraria do mesmo parnaso?
-Após um período escuro e doloroso de silêncio...renasce como a ave Fênix...ainda fica muito por fazer...muitíssimo, ensaiamos asas, acertando e errando...creio que falta um pouco de disância, um olhar até mais adiante, espaços para o povo de província, para os jovens...Milhares de talentos se perdem em meio à burocracia. O imposto do livro pendurado em nossos pescoços nos afoga, o controle que exercem as grandes editoras...o abandono de uma ajuda de custo, uma pensão para os escritores. Temos avançado, temos a obrigação de seguir.
7. Que importância tem para você os prêmios ou o reconhecimento literários?
O maior prêmio é a leitura de meus textos...Nunca ganhei um, assim que o ganhar (algum dia)... poderia contá-lo... A única coisa que me dificulta hoje é para o currículo...Fico alegre com os êxitos dos demais e me orgulham suas conquistas. São importante sim como um reconhecimento à qualidade
8. Justifica você essa ideologia indolente que oprime e mantém sem mais nem menos indigentes aos escritores /poetas por falta de uma lei de proteção social no Chile?
- Não, claro que não... A isso ( entre outras coisas) em referia ao dizer que ainda nos falta MUITO.
9. Visando a promoção da justiça sociocultural, liberdade de pensamento, direitos fundamentais, garantias à diversidade do humano, normas de convivência, abordagens, enfim...Sonhemos!...Você é presidenta do Chile, tem o poder de promover o bem estar geral da cultura, qual poeta ou escritor poria em seu governo como Ministro da Cultura?
- (gargalhadas)...Ainda que não me acredite...conheço uma mulher que todos a tem como ....inteligente, capaz e com muita "garra". Seu nome é Rocío L' Amar...A conhece?
BIOGRAFIA
Margot del Castillo, poeta e pintora Mulchenina, publica pela primeira vez sob os auspícios do Instituto Educacional Antumapu, o livro "CHAMANA"...Participou de três Feiras Nacionais do Livro. Organizou "Culturas na rua".
Realizou leituras em colégios da oitava Região. Tem dirigido oficinas, apresentações e leituras na cidade de Los Angeles e Concepción. Participou ativamente do Segundo Encontro de Escritores em Tarija Bolivia, sendo nomeada Embaixadora Universal da Cultura pela União Latino- Americana de escritores (ULATE), e pela União de Escritores e Artistas de Tarija. Atualmente preside o Centro Cultural Antumapu na comunidade de Mulchén.
MEU DIREITO DE SER CHILENA
Tento falar do direito
ancestral da terra,
do direito a preservar
a cultura...
o idioma...
a dignidade...
Dos direitos submetidos...
Dos direitos...
Direitos.
E de outros não tão direitos...
E de tanto e tanto escutar da luta,
Sinto-me discriminada...
Irei à greve
porque sou loiro,
porque meus avós
deixaram o suor e o sangue
nesta distante terra...
porque esqueceram até o idioma,
desgarrando as raízes
com suas costas curvadas
no Éden prometido...
E a princesa não quis a meu filho
dos olhos azuis
(Eu sim queria)
Me queima a palavra "huinca"
me pesa o coração...
e danço "choique purrum..."
e celebro o "huetripantu"
porque sou chilena...
nascida com a canela
aromatizada por araucárias...
batizada no rio...
irmãos no ventre
fértil da "pachamama"...
em três idiomas...
Que importa?
Se brota sangue vermelho
sem discriminar peles
morenas e brancas...
E nos dói por igual
a morte e a vida.
Direitos...
Quero o direito de igualdade
A crescer entre culturas
díspares e maravilhosas
porque mãe, terra, homem
significam o mesmo
não importa em que idioma se digam.
 
EU CONFESSO
Eu confesso diante do homem todo poderoso que tenho pecado muito
em pensamento, palavra, obra e omissão
Por minha culpa, minha culpa, minha grande culpa de ser mulher.
Por isso rogo a vocês,irmãos,
que intercedam por mim
até obter a sua aprovação.
E prometo diante deles, criadores das igrejas e a sociedade:
Nunca mais pensar.
Aceitar minha condição de SER discriminado.
Não optar por cargos públicos que comprometam seus domínios.
Fortalecer, gerar e formar seres à sua imagem e semelhança.
Atender com diligência e humildade as suas necessidades e desejos.
Obedecer, calar e negar-me agradecida ao direito de existir.
E confesso diante do homem todo poderoso
que seguirei pecando muito
em pensamento, palavra, obra e omissão.
Por minha culpa, minha culpa, minha grande culpa de ser mulher.
Por isso rogo às Marias sempre virgens,
às Madalenas arrependidas,
às mulheres de Lot convertidas em sal,
às meretrices, às Joanas D'Arc,
condenadas e exaltadas pelo homem em sua história
que nos unamos em protesto, negando-nos a ser
Endeusadas...
Castigadas...
Repudiadas…
Esquecidas...
Condenadas...
Silenciadas...
Não há culpa...Não há culpa...Sou mulher.
OLHOS AZUIS
Rosa, onde estás? Não aguento mais este gringo cuzão! Um dia destes vou matá-lo! ...Um cacarejo de galinhas respondia a cada grito...Detrás da cozinha a mulher se fazia de conta....(não vejo...não vejo.)... sabia da raiva do homem, da força de seus punhos...Temerosa cobriu o rosto com as mãos...E vocês, o que estão olhando? Acaso gostam? Claro! Se está quente ao meu gosto! Crês que eu não saiba?
Fechou os olhos... esperando...Um suspiro lhe saiu do peito ao escutar o estrondo...
Olhou pela ventanilha aliviada...O céu era azul... como os olhinhos do padrão.
MADRE
Mamãe, quero ir à minha casa...Quero minha casa! Mamãe!... Apertando-o contra seu peito,...ela sussurra baixinho...filhinho, o papai perdeu a chave, não podemos entrar...amanhã, amanhã voltaremos...não chores mais...entre soluços o vence o sono. Oculta a noite os hematomas...as lágrimas se fazem berço.
CAFÉ
Assim o sentiu, amargo, como uma patada mais... de tantas... e ficou na angústia, sem argumentos, afundando sombras.
Tens certeza? ...O silêncio ouvia a conversa repetida, a acidez de batimentos, o desespero. Certeza? O sabia havia meses... Primeiro soprava, uma agitação inconfundível...e o calendário negou sangue e as aureolas dos pés escureceram...Certeza? Certamente que não estava...É meu? Não, não é teu filho da puta, - murmurou no café enquanto se esfriava-...É do vizinho, de teu melhor amigo, dos milhares que separaram as suas pernas, dos que gozaram nelas, enquanto dormias de cócoras em sua cama...Que farás? ...Silenciosa tomou a xícara e sorveu o resto de café...Lá fora chovia...
**************************************************************************
Rocío L' Amar é poeta, 
ativista cultural, jornalista, escritora, 
correspondente e colaboradora de  PALAVRA FIANDEIRA no Chile
 Tradução do Espanhol: MARCIANO VASQUES
MARCIANO VASQUES é escritor e fundador de PALAVRA FIANDEIRA

9 comentários:

  1. Marciano, hermano, gracias una vez + por la traducción, ha quedado bellísima, intentaremos concursar en periodismo en tu país, sobre discriminación... la traducción nos servirá para comprender mejor esta entrevista,

    tqm, Ro

    ResponderExcluir
  2. A Margot Del Castillo felicito pela audácia e a coragem em se fazer ouvir neste mundo de injustiça.
    A Rocío L'Amar por nos manter alerta a estas questões sociais. (penso que daria efectivamente uma excelente ministra da cultura.
    Ao Marciano, por tudo.

    Beijo com carinho
    Carmen Ezequiel

    ResponderExcluir
  3. Mitinha, gracias, solo alzando la voz , denunciando con fuerza en nombre propio y el de tantos (as) lograremos el respeto y la igualdad mas allá del "derecho".
    Dudo que alguna ves ostente el cargo de "presidenta de la Nación" (jejejeje) pero si, Rocio sería la ministra de cultura que este país requiere.
    un abrazo
    Margot

    ResponderExcluir
  4. Margot,
    Uma vida fascinante, e uma palavra lúcida. A lucidez transborda em sua entrevista, que PALAVRA FIANDEIRA orgulha-se de ter apresentado, numa tradução dominical do trabalho realizado por Rocío no Chile.
    Eu que agradeço pela oportunidade de poder expor aos leitores a sua consciência de luta e de coragem. Parabéns e não perca jamais a força poética que move o seu coração. Um abraço de
    Marciano Vasques

    ResponderExcluir
  5. es todo un honor leer a Margot del Castillo, gracias por esta entrevista donde conocemos más de ella.

    Magaoliveira

    -haré un enlace en http://www.salamaga.com

    ResponderExcluir
  6. Sinceramente me ha encantado, aun sin haber podido entender algunas palabras, mis felcitaciones a Rocio y a Margot, una brazo a mabas.

    Nuria de espinosa

    ResponderExcluir
  7. Meus agradecimentos ao Sr. Marciano pela publicação do presente
    entrevista em seu blog e, assim, abrir a cultura latina em
    Português, eu também cumprimentar e abraçar esta mulher, cujo
    talento literário e jornalístico nos dá esta entrevista
    grande interesse para todos.

    Meu abraço e carinho para os dois.

    Ernesto R. del Valle
    Editor Guatiní Journal.
    http://delvalle-wwwrevistaliterariaguatini.blogspot.com

    ResponderExcluir