EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

PALAVRA FIANDEIRA — 56

PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA

EDIÇÃO 56
ANO 2- 21/FEVEREIRO/2011
NESTA EDIÇÃO:



NAOMY KURODA

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GALERIA 
NAOMY KURODA

Entrevista para Marciano Vasques
1. Quem é Naomy Kuroda?

— Esta pergunta passou a existir na minha vida há pouco tempo.
Não passava pela minha cabeça esta questão. Passei muitos anos fazendo o que se deve fazer, correndo atrás das coisas que se deve buscar de acordo com as fases da minha vida.
Nunca havia imaginado que existia a possibilidade de não me conhecer,. Não havia percebido que o auto-conhecimento era fundamental em nossas vidas e que isso era o grande segredo para alcançarmos a plenitude do "viver"e do ser feliz. Como poderíamos buscar a felicidade sem ao menos termos conhecimento de quem somos? Como ter consciência do que queremos e do que nos preenche a alma, sem antes entendermos quem realmente somos? Como podemos fazer parte da grande corrente da vida se não visualizarmos de que maneira podemos contribuir através da nossa existência ?
Embora tarde, felizmente esta pergunta passou a fazer parte da minha vida. Não é nada fácil este processo do auto-conhecimento, porém, hoje, posso responder, não exatamente com segurança, mas com cautela quem desconfio que seja a Naomy Kuroda.
Naomy Kuroda é uma mulher muito curiosa e apaixonada por tudo que faz o coração palpitar.
É uma pessoa que ao descobrir que uma das mãos servia para segurar um lápis e a outra o papel, ampliou o seu mundo com a possibilidade de construir um mundo de cores e vidas e percebeu que era exatamente isso que a fazia realmente feliz!
Naomy Kuroda é uma pessoa que tem uma grande admiração, respeito, gratidão e amor ao ser humano, principalmente à vida que proporciona o encontro com estas pessoas maravilhosas.

2. Que homens e mulheres, sentimento ou sensação vivencia quando ilustra um livro ou um texto?

— Na infância, cada vez que desenhava, transformava-me naquele personagem. Enquanto desenhava falava alto como se fosse o personagem, ora afinando a voz para personagens femininos e engrossando a voz para masculinos, era como viver muitas vidas imaginárias através deles. Hoje ao desenhar tenho outros prazeres.
Ao ilustrar um livro sinto a felicidade da conexão com os outros profissionais, o autor, o editor, transformar em imagens, cenas e personagens que uma outra pessoa imaginou e construiu.
Ao primeiro encontro com o texto sinto meu coração palpitar de curiosidade para saber o desafio que ele me proporcionará. Logo depois fico um pouco ansiosa se terei competência suficiente para concluí-la ao agrado de todos os envolvidos, porém relaxo, tento ser amiga de todos os personagens, ficar à vontade e então tudo se torna muito prazeroso. Ao concluir cada trabalho sinto a satisfação de ter feito o melhor, ter cumprido o prazo combinado e de ter participado de um processo de trabalho em equipe que se forma entre o autor, ilustrador e editor. Depois fica aquele desejo de que os leitores recebam com muito carinho um filho que soltamos no mundo. Ilustrar é uma delícia!

3. Como decifra a felicidade em sua vida?

— Por muito tempo tive a falsa sensação de que felicidade é um estado sólido e concreto que uma vez atingido seria inabalável. Por isso mesmo difícil de alcançá-la.
Hoje percebo que a vida é muito mais generosa que isso, a felicidade nos acaricia inúmeras vezes ao dia. Não é preciso esperar por ela. Ela está conosco quando abrimos os olhos ao despertar, ao sentir o meu travesseiro que me apoiou noite adentro, ao sentir a respiração e o calor da pessoa que dorme ao meu lado , ao comer as infinitas delícias que a natureza nos presenteia, ao receber um texto para ilustrar, ao desenhar, ao ensinar a desenhar, ao ver o sorriso lindo dos meus amados sobrinhos, ao receber beijos e abraços carinhosos de tantas pessoas que amo, ao receber um email de alunos e amigos que se encontram no outro lado do mundo... Se eu começar a enumerar, irei constatar que a cada dia a felicidade nos visita inúmeras vezes.
Mesmo naqueles dias que tudo parece estar perdido, a felicidade esta lá ao nosso lado nos apoiando. Eu acredito firmemente nisso!
4. Dedica-se à cozinha, aos prazeres e às delicias, aos aromas dos alimentos. Isso tem algo a ver com a sua infância?

— Já me dediquei muito mais à cozinha do que hoje, pois adoro comer! Sou muito curiosa e gulosa, muitas vezes a gula é muito maior que a minha fome. Quando viajo fico frustrada pois o meu estômago jamais alcança degustar todas as delícias oferecidas. Volto sem poder conhecer tantos sabores! Que desperdício!
Acredito que a gula está diretamente ligada á vontade de viver, de ter prazer de viver!
Penso que quem perde o interesse pelo alimento perde-se um pouco do entusiasmo pela vida!
Cozinhar realmente me remete à infância, às festas de família, o prazer de cozinhar e aprender com a minha mãe. Muitos pratos estão ligados aos momentos saudosos da vida. Lembro que sempre que eu prestava algum exame ou concurso minha mãe fazia pratos simples mas deliciosos como batata cozida com tomate e carne na panela de pressão para que eu não tivesse qualquer chance de um desarranjo na hora da prova. Ao me ver deliciando com os seus quitutes parecia sentir-se plena. Ela ficava sentada na minha frente contemplando a filha se deliciar. Era o amor sendo transmitido através de um prato que com certeza iria me fortalecer para enfrentar a vida. Tem aromas que até hoje sinto-os ao recordar. Bolos deliciosos que minha mãe fazia numa panela de bolo sobre a boca do fogão, pois o nosso forno não funcionava. Sempre acabava queimando um pouco na parte de baixo e isso tornava o aroma delicioso. Doces orientais de feijão "azuki" que minha mãe fazia eram únicos e sei que nunca mais poderei saboreá-las pois só ela conseguia preparar daquela forma, com todo empenho e amor. Ela deve estar fazendo estas delícias para todos que estão lá no Céu. Alimentos são essenciais nas nossas vidas assim como o amor!
5. Entre os infantis que ilustrou pode comentar sobre "O Dedal da Vovó"? 


— "O Dedal da Vovó" é o meu primogênito, o primeiro livro que ilustrei.
Quando descobri a arte da ilustração, me empenhei em me informar sobre todos os canais que levassem ao conhecimento mais aprofundado sobre esta arte.
Conheci a CELIJU- Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil. Escritores e ilustradores renomados de Literatura Infantil e Juvenil se reuniam na Biblioteca Monteiro Lobato (São Paulo) para estudos, palestras e reuniões. Eu, ainda era apenas uma curiosa e pretendente a me tornar uma ilustradora. Comecei a frequentar às reuniões muito timidamente, sentava no cantinho da sala, mas sempre na primeira fileira para não perder nada. Lá estavam Nelly Novaes Coelho, Lúcia Pimentel Góes, Eva Furnari, Camila Cerqueira César, Maria Heloísa Penteado, e tantos outros escritores e ilustradores respeitáveis. E eu um  peixinho totalmente fora d'água. Lúcia Pimentel Góes e a Camila Cerqueira César que eram uma das coordenadoras logo perceberam a minha presença e gentilmente vieram falar comigo e generosamente me inseriam ao grupo. Numa das nossas conversas a Lúcia percebendo a minha enorme vontade de ilustrar convidou-me para visitá-la na sua casa e lá me ofereceu um texto seu para que eu ilustrasse totalmente sem compromisso, se ficasse bom ela iria batalhar uma Editora. Quando mostrei o boneco do livro ela gostou e ofereceu ao Lino de Albergaria , Editor da FTD, na época e Cláudio Cuellar, Editor de Arte da FTD. Assim nasceu o livro "O Dedal da Vovó".
Hoje, sinto muita alegria quando meus alunos adultos se surpreendem ao descobrir que eu sou a Naomy Kuroda ilustradora deste livro que eles leram na infância e que segundo eles, gostavam muito.

6. Há uma suavidade, uma delicadeza, um frescor em sua arte que combina com a pessoa que demonstra ser em seus textos. Isso confere?

— Fico muito lisonjeada e feliz quando alguém me qualifica como uma pessoa delicada e suave. Ainda talvez por falta de auto-conhecimento nunca me defini assim.
Sempre tive a sensação de que sou uma pessoa rude, dura e batalhadora correndo atrás das coisas que me são importantes. Mas muitas pessoas me definem
como delicada e suave, realmente fazem um paralelo com a minha personalidade e os meus desenhos, então sinto que estas definições são reais pois os desenhos, assim como os meus textos, são as mais puras projeções da minha alma.

7. Também é professora de desenho. Como exerce essa função ou atividade?

— No início tive muito receio e medo se eu teria capacidade para orientar as pessoas a desenharem, afinal eu ainda tenho muitas incertezas e indagações a respeito disso.
Mas com muita surpresa percebi que ao fazê-lo brotam de dentro de nós tantos conhecimentos, tantas experiências guardadas em algum canto do nosso cérebro que por vezes havíamos esquecido que possuíamos, e ao ensiná-los tais conhecimentos e experiências se fazem teoria. Muitos alunos chegam com a preocupação de que desenhar é uma coisa de outro mundo com a sensação de que para saber desenhar teria que nascer com um dom especial. Mostro a eles que desenhar é saber olhar, observar a natureza, a vida, saber imaginar e se utilizar de algumas técnicas que facilitarão a desenhar. Assim eles terão a grata surpresa ao constatar que havia um desenhista dentro deles bastava acordá-los e com dedicação colocar em prática. Quando meus alunos finalizam um trabalho soltam um suspiro de satisfação e dizem que quase não conseguem acreditar que foram eles que desenharam. O sorriso que me dirigem nestes momentos é muito gratificante.

8. Costuma receber comentários de autores dos livros que ilustra?



— Sim, alguns, mas não é frequente, o que acho uma pena, eu gostaria que houvesse mais contato, embora eu não saiba precisar se isso seria benéfico ou não.
9. Já passou pela sua cabeça fazer um audiovisual, um desenho em curta metragem, ou algo assim?



— Olha, nunca havia pensado nisso mas através desta pergunta me deu uma vontade de acreditar que um dia isso possa ser possível!

10. Ilustrou pela FTD "A Raposa e as Uvas". Gosta de fábulas?  

— Fábulas são a nossa infância, penso que é uma forma encantadora de entrar em contato com grandes ensinamentos e com todas as sinuosidades da vida.
Talvez quando entramos em contato com as fábulas na infância não conseguimos visualizar completamente todos os recados que ela contem, no entanto, com certeza, em algum momento da vida iremos entender, a cada ocasião que enfrentarmos situações que nos remetem àquelas fábulas, iremos recordar, pois acredito que tais ensinamentos estarão bem incutidos dentro de nós.
11. Já ilustrou livros de Poemas infantis?

— Nunca, seria um desafio bastante interessante!
12. Qual a primeira obra que ilustrou?

— Como respondi na pergunta 5 foi o "O Dedal da Vovó". Já havia ilustrado alguns livros de livro didático de autores independentes, mas a primeira obra que ilustrei em esquema de Editora foi o "O Dedal da Vovó".


13. Também ilustrou um conto enigmático de Andersen, "A princesa e a ervilha". Como vê a importância dos contos clássicos na formação da criança hoje?


— Eu acredito que independentemente da época em que vivemos, da tecnologia que temos acesso, criança é sempre criança, portanto a necessidade básica da formação humana, cultural
é sempre igual. Clássicos são clássicos pois sobreviveram ao tempo, portanto eu creio que a necessidade e a importância deles serão sempre inabaláveis.

14. Como ilustradora, acompanha a produção cinematográfica
 dirigida ao público infantil?

— Sim, não só por ser ilustradora, mas por gostar muito. São lindos, sensíveis e muito prazerosos! Gostei muito de "UP- Altas Aventuras", "As aventuras de Azur e Asmar" e todos do Hayao Miyazaki, principalmente "O Castelo Encantado".


Imagem do filme UP - ALTAS AVENTURAS
15. Tem algum livro que poderia citar, cuja leitura possa de uma forma ou de outra ter influenciado o seu pensamento ou a sua vida?

— Muitos livros influenciam nossos pensamentos, até nossas ideologias. Um dos livros importantes na minha vida foi "Quando meu irmãozinho nasceu" de Walcyr Carrasco com ilustrações de Walter Ono. Até encontrar -me com este livro, dentro da minha ignorância, eu tinha a falsa sensação de que ilustração de um livro sempre deveriam ser desenhos realistas e acadêmicos. Quando encontrei este livro ilustrado graciosamente em traços livres, soltos apenas em preto e branco mas que ilustrava magníficamente a história, senti que havia encontrado tudo que eu sempre procurei como profissão. Outros livros foram bastante importantes na minha vida. "Metamorfose" de Franz Kafka, "O Capote" de Nicolai Gogol, livros de crônicas de Ruben Alves, "Dois irmãos" de Milton Hatoum, "Duas Vidas, dois destinos" de Katherine Paterson e tantos outros livros têm me ensinado sobre a vida.
Livro sempre é um presente para a nossa vida!

16. Poderia nos resumir o que é ou foi a ABRADEMI ? De que forma a sua vida ou carreira tem algo a ver?

— ABRADEMI — Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustração — foi o primeiro grupo de profissionais de Mangá(HQ japones) e Ilustração que conheci. Foi numa época em que nada sabia sobre profissionalização do desenho. Cheguei à primeira reunião para a formação da Associação ,crua, sem nenhum conhecimento da profissão mas muitos que lá estavam reunidos já eram profissionais.
Conheci alguns ilustradores que trabalhavam na Abril Cultural como desenhistas internos, e também muitos ilustradores free lancers que nestes encontros nos ensinavam "dicas" sobre materiais profissionais de desenho. Até então eu conhecia lápis-de cor, guache, aquarela e papel canson apenas escolares. Fui adquirindo aos poucos materiais profissionais que eles me orientavam e passei a finalizar meus desenhos de uma forma mais apresentável profissionalmente. Participei de algumas exposições organizadas por esta Associação, eventos realizados  na Sociedade Cultural Brasil Japão e no MASP Museu de Arte de São Paulo.
Foi um grupo de profissionais que muito me incentivaram para dar segmento à minha busca profissional.

17. Participa, é membro, de uma Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil. Poderia, por gentileza, expor brevemente qual é, para você, a importância de uma entidade assim para os autores?

— A profissão de Ilustrador é muito isolada pois quando somos free lancer, trabalhamos em casa, sozinhos e muitas vezes embora tenhamos alguns amigos ilustradores não temos muita dimensão de onde estamos inseridos. Quando somos membros de uma Associação assim, sentimos uma comunicação, obtemos a facilidade de informação, o calor de fazermos parte de uma classe, uma família e isso é muito bom.

18. Quais os maiores problemas enfrentados pelos artistas ilustradores no Brasil?

— Bem, para mim, o maior problema que sinto é a concentração da oferta de trabalho num período do ano. Temos época do ano em que ficamos em off e de repente chegam períodos que as ofertas de trabalho se intensificam impossibilitando aceitarmos todos os trabalhos oferecidos. O que é uma pena!

19. Ilustra Livros didáticos, infantis, etc, mas atua com a sua arte em outros "produtos"? Ou seja, já ilustrou capa de CDs, por exemplo, ou pensou sobre?

— No início da minha carreira ilustrei para tecelagens. Lembro que ia pegar trabalho (não tínhamos internet) numa zona industrial muito distante da minha casa. Fazia desenhos infantis para lençóis e toalhas infantis. Hoje tenho vontade de ilustrar para algum outro produto também, vamos pensar.

20. Tem opinião formada sobre o futuro do livro de papel? Ele resistirá ainda alguns séculos?

— Sou uma pessoa que gosto bastante de tecnologia e de novidades mas sinceramente eu ainda acho difícil que os livros de papel sejam totalmente substituídos por tablet ou algo assim.`
Pelo menos eu gostaria que os livros de papel resistissem por muitos séculos ainda.

21. Você tem um atelier? Ensina desenho para crianças?

— Não, não tenho atelier nem dou aulas de desenho para crianças. Preparo alunos num atelier de desenho artístico e alunos que vão prestar vestibular em Faculdades de Artes que passarão por provas de Conhecimentos específicos de desenho.

22. Há alguma ilustração de algum livro infantil que tenha lido quando crianças, que marcou a sua sensibilidade a ponto de segurar as imagens em sua memória?

— Sim, muitas imagens guardo-as na minha memória, a maioria são de livros de contos e lendas japoneses que minha mãe nos presenteava. Recordo que nelas era muito nítida a presença do bem e do mal na fisionomia dos personagens. Eram ilustrações alegres, coloridas e bastante ingênuas. Como não tínhamos uma situação financeira que poderíamos comprar quantos livros quiséssemos, quando ganhávamos livros, folheávamos incansavelmente por centenas de vezes.

23. Gostaria de falar algo sobre os desenhistas de Histórias em Quadrinhos no Brasil, visto que temos uma produção histórica fascinante, inclusive no "ramo" das histórias de terror?

— Na época que fazia parte da ABRADEMI conheci alguns desenhistas de HQ e observava que levavam uma carreira muito difícil, mas tinham muito amor pelo que faziam. Era uma batalha bastante difícil mas não desistiam jamais. Achava admirável e quase heróico a atitude destes desenhistas. Hoje vejo que HQ está bem mais difundido, mais aceito por várias Editoras inclusive o Mangá (HQ japonês).
É muito interessante como os conceitos mudam em alguns anos. Na minha época de adolescência, quando mostrava os Mangás para minhas amigas ocidentais elas estranhavam aqueles desenhos de personagens com olhos enormes cheio de estrelas e pernas super compridas. Hoje vejo que estes mesmos desenhos são muito aceitos pelos jovens.


24. Considera que a Literatura Infantil é apenas para crianças ou o leitor adulto também pode extrair algo da leitura de um livro infantil?



— Jamais eu diria que Literatura infantil é apenas para crianças, pois eu nunca me distanciei dela. Em todos os momentos da minha vida livros infantis fizeram parte, não apenas pela minha profissão, mas por que acredito que Literatura Infantil é a literatura mais poética, mais encantadora aproximação com a arte escrita. Acredito também que ninguém deixa de ser criança, talvez alguns até esqueçam como é ser criança, mas todos têm guardados dentro de si a alma da pureza infantil. Eu realmente acredito nisso.

25. Ainda há no "Brasil Intelectual" preconceito contra a literatura infantil, durante muito tempo considerada por muitos uma literatura menor?




— Eu penso que não devemos perder o nosso precioso tempo com pessoas que assim pensam pois tenho a certeza que quem está perdendo com tudo isso são eles.
Nós que adoramos e consideramos a Literatura Infantil como Literatura Maior é que estamos enriquecendo nossas vidas.

26. Quando, em que momento na sua vida ou na sua infância surgiu a certeza ou a impressão de que as cores e os traços fariam parte de sua vida?



— O desenho em si não consigo saber como foi que entrou na minha vida, pois até onde a minha memória consegue retroceder, talvez 4 anos (?), eu já rabiscava paredes, chão e qualquer coisa que possibilitasse riscar. A minha família sempre respirou arte, meu pai era fotógrafo profissional, tinha vontade de seguir a fotografia artística mas desistiu e optou pela fotografia comercial, opção de retorno financeiro mais seguro, segundo ele, para possibilitar a criação dos filhos. Minha mãe era uma artista em todos os aspectos: era retratista espetacular, pintora, escultora, poetisa na língua japonesa com algumas letras de música premiadas em concursos da colônia japonesa. Desenhar sempre foi incentivado assim como Literatura e a escrita. Quando criança eu e a minha irmã costumávamos escrever textos em língua japonesa e participávamos de concursos e em algumas nos saíamos muito bem. As cores entraram na minha vida quando minha mãe me ensinou a utilizar os pincéis e as tintas para ajudá-la a colorir fotografias para os clientes do meu pai. Eu acredito que tinha aproximadamente seis anos. Foi numa época em que não existiam fotografias coloridas então pintávamos sobre ela com uma espécie de tinta aquarela especial americana para fotografias. Os clientes ficavam muito satisfeitos. As cores e os traços sempre fizeram parte da minha vida e se Deus quiser sempre fará parte da minha trajetória!
27. Tem alguma pergunta que não foi feita que gostaria de fazer para Naomy Kuroda?

— Gostei bastante de todas as perguntas, foi muito interessante respondê-las me despertando para muitas coisas.
Todavia, irei acrescentar, a seguir, mais duas perguntas que eu gostaria de fazer para Naomy Kuroda.

28. O que provoca a sua inveja e admiração?

— Tenho inveja e admiração, estes dois sentimentos antagônicos por uma única coisa. "As pessoas que desde muito jovem sabem exatamente o que querem da vida ou na vida"!
Como disse no início da entrevista, passei muitos anos da minha vida sem perceber que podemos "escolher" se soubermos o que queremos.
Quando encontro jovens, já com a carreira escolhida, segundo a sua própria vontade e se dedicando de corpo e alma nela, tenho estes dois sentimentos. Tenho vontade de dizer a eles
o quanto são contemplados por isso. Na nossa vida temos várias alegrias, satisfações e prazeres mas vejo que a profissão, a realização profissional, não apenas o retorno financeiro, mas o prazer que a profissão nos fornece é uma das felicidades mais singulares e particulares que sentimos. É por isso que devemos tanto cuidar dela com muito carinho e amor.

29. O que ainda tem como meta aprender?


— Tenho ainda inúmeras coisas que preciso aprender: como nadar, andar de bicicleta..., mas o que eu tenho muita vontade de aprender é sobre a Música.
Adoro ir aos concertos musicais, mas sou totalmente leiga. Tenho como objetivo estudar sobre música clássica e óperas. Gostaria também de me empenhar em aprender a tocar um instrumento musical. Há alguns ano me dediquei em aprender a tocar órgão eletrônico, tocava até bem, mas acabei priorizando a ilustração pois as duas coisas requeriam muitas horas de dedicação.
Música, assim como o desenho, é a arte que me dá muito prazer!


30. Que palavras ou mensagem deixaria para os leitores de PALAVRA FIANDEIRA?

— Pelos anos que caminhei pela vida, até hoje, o que ficou muito claro para mim é que devemos lutar sempre para conseguirmos viver felizes e satisfeitos independentemente de bens materiais
e para isso devemos lutar, construir a nossa vida de uma forma que a nossa profissão não sirva apenas para ganhar o nosso sustento, mas para termos orgulho do que fazemos profissionalmente,
sermos felizes a cada produto que sai para o mundo através das nossas mãos. Passamos quase a metade do nosso dia trabalhando, seria muito triste passarmos tantas horas fazendo algo que não gostamos. Evidentemente, muitas vezes fica difícil conciliar o ganha pão com a nossa paixão, no início talvez até precisamos fazer concessões mas devemos sempre manter este objetivo em nossa mente e correr atrás.


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PALAVRA FIANDEIRA 
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA 
FUNDADA PELO ESCRITOR MARCIANO VASQUES
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Um comentário:

  1. Anônimo disse...O Selmo é uma das melhores almas vivas do mundo da web, um grande amigo, publica a todos, abre seu generoso coração e espaço, essa entrevista o revela como sempre foi e é, altruista, digno, transparente, extremanente aberto a novidadeiros e portentoso talento lítero-cultural no mundo da web. Sou mesmo fã dele. E do Marciano tb, claro. Sucesso. Abraços. Longa vida a todos. Silas Correa Leite
    www.artistasdeitarare.blogspot.com/

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