EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PALAVRA FIANDEIRA — 57

PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA

REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
EDIÇÃO 57

ANO 2 — 25/FEVEREIRO/2011

NESTA EDIÇÃO:

ROCÍO L' AMAR
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ENTREVISTA ORIGINALMENTE CONCEDIDA A
ERNESTO R. DEL VALLE, PARA A REVISTA GUATINÍ



UMA CARÍCIA À PALAVRA DE ROCÍO L' AMAR


Ler Rocío L'Amar (Chile) é preparar-se para dar um valor novo às palavras. Sua indelicadeza — em bom sentido — nos termos gramaticais está localizada em toda longitude e amplitude de sua obra, obrigando-nos a estar alerta ao significado "exprofeso" que ela dá à palavra. Em geral, a leitura que convida, que estimula, tem seu valor retórico, é agradável ao ouvido e se acomoda ao nosso costume de vê-la sempre vestida do mesmo modo e forma. Agora, quando lemos, por exemplo, em:


CIGARRA (Fragmento)
não deixes de esfregar-me
e esse versinho é um vórtice um comboio que toca cedo
poderei ver as três sílabas de teu nome atravessando portas
a minha
tem
fachada de telhado tobogã deslizante
cada outono sorriu assim desapertando os resmungos
desmontando-me a ninfa minha nereida essa náiade
assovia
não canta
nem em árvores nem em cidade abaixo
as palavras resultam forasteiras
"ausentumbre" lhe dizem no meio de encruzilhadas
onde se vergam e giram indecentes raízes (...)

onde a poeta que é Rocío, se espraia de maneira sensual e erótica na imagem ausente do par permanecendo fixa em nossas mentes as imagens, metáforas e similares, de uma maneira estranha, distinta, e por demais nova e atípica. Exemplo.


* um comboio que toca cedo
* tem fachada de telhado tobogã deslizante
*assim desaparafusando o resmungo
*desmontando a ninfa minha nereuda
* "ausentumbre" lhe dizem em meio de encruzilhadas
*onde se vergam e giram indecentes raízes


1. Que poderia dizer aos Leitores de GUATINÍ/PALAVRA FIANDEIRA, sobre este estilo significativo de sua literatura?


Quando abri os olhos, naturalmente à literatura, no momento mesmo em que aprendi a decifrar os signos, li toda a biblioteca de meu pai, uma quantidade volumosa de livros. Então, comecei a existir como leitora. Entretanto, isso não me bastou, dada a sensibilidade ou inclinação que sentia que tenho pelas Letras, eu a chamo "defeito" em linguagem poética. Então, pus-me a escrever aos 9 anos.... e entre andanças e andanças, travessias, desvios, perambulando entre diferentes estilos, traçando pactos de amor com a "senhorita personalidade" (minha poesia, minha amante encantadora), nesses suores, fomos edificando esta linguagem que prende a atenção do leitor.
Em outras palavras, a poesia para mim é um jogo estético, isto é, priorizo a forma, imagens ou símbolos, o conceito... ele no tempo, ele na demarcação, ele no cativeiro, romper a inércia, transtornar, seduzir, corromper a linguagem (A sintaxe) é o segredo.


2. Além do formato papel, sua obra se encontra devidamente recolhida em CDs, outra parte se encontra espalhada pela Internet. Tem Rocío, gosto, ou, colocando de forma um pouco depreciativa, desinteresse, por um ou outro formato?

A verdade das coisas é que não sou uma poeta que se ancora em nenhum formato, todos me parecem esplêndidos, todos reluzem com luz própria para a única finalidade que temos, nós, os operários da palavra, que é difundir nossa literatura.


3. Em certa entrevista, realizada em 2008, publicada na Revista Periferia, você falou sobre a graça e desgraça do escritor, dizendo:


"  A graça do escritor é que está pleno de loucuras inteligentes.
A desgraça do escritor são certas decepções,
1. Em torno de sua criação.
2. O centralismo de seu país, com os quais polemiza."


Acredita, hoje, da mesma maneira, dois anos após, com relação as estas duas atitudes do escritor, tanto consigo mesmo como com a sociedade? Ou crê que, definitivamente, o escritor de hoje deixou de lado suas loucuras inteligentes, — como você chama, e se une a seu, digamos, povo, para saldarem juntos as diferentes contas sociais e espirituais que os atormentam e oprimem?

Sigo pensando igual.


Estas Loucuras Inteligentes me   tem respondido a entrevista.
O escritor, o poeta — o artista, em geral — sempre manteve-se sujeito a uma presença parcial, incompleta, no país que seja, rearticulando a noção de identidade e alienando-a de sua essência. Os conflitos socio-culturais, de acordo com às atividades humanas, organização social, ocupação de espaços, sexo, educação, etc, etc, possamos admitir, constroem a distância entre uns e outros. Usualmente o artista não é valorizado conforme à igualdade entre suas partes, porque primam interesses pessoais, também favoritismo que respondem a um conceito de ordem política.


3. Fazendo um pouco de História, na década de sessenta, e inclusive, em meados de setenta, muitos poetas deram sua vida por essa noção de identidade a qual você se refere; a juventude contemporânea ouve falar de Roque Dalton, Javier Heraud, e inclusive, de Víctor Jara, e tantos outros, sem precisar ao fundo, em seu interior, os valores humanos desta gente.


Falando dos avanços do nosso século, que lhe parece o surgimento do audio-livro? Seria o fim do livro impresso?



O audio-livro a mim parece um formato interessante pensando nas crianças pré-escolares, aquelas que ainda não sabem ler, inclusive mais, quando estão em seus berços, creio que é um apoio nesse sentido. Assim mesmo, não cansa a vista como o E-book, o livro digital, ainda que eu prefira, como disse meu filho, ler um livro em suporte papel e contar-lhe histórias.
Enquanto a desaparecer o livro impresso, penso que não. O mesmo se pensou sobre o livro digital, que acabaria com o livro no suporte papel.
Só haveremos de nos adaptar a esta nova alternativa que oferece a entrega de informação audível, legível, animado, não importa a forma, mas sim o conteúdo.


4. Muitos jovens escrevem suas obras para Internet. O auge literário havido, por meio de Fóruns, Revistas, etc, é realmente positivo para as letras de determinado país?


Desde o princípio até o fim somos e seremos o que somos e seremos. Internet é um espaço substancial no virtual, entretanto, nem todos são poetas nem escritores.


5. Precisamente, enriquece o desenvolvimento literário de cada país este desenvolvimento literário, esta publicação cibernética, ou a publicação em papel de seus livros?


O surgimento e proliferação de redes sociais literárias permite interagir em um espaço intrínseco e virtual a novatos e profissionais da palavra escrita, projetando suas obras até todas as latitudes do planeta sendo representantes de seus próprios países.
Sendo assim, de forma usual, se oferece, se procura e se consome. E é aqui onde aparecem os editores, cibernéticos à caça de primazia com fome de notoriedade, diga-se fama, que sustentem seus bolsos.
É um mercado onde circula de tudo com rótulos diferentes e qualidade literária.

6. Para terminar, querida Rocío, o que parece a você, no mundo brutal, politizado, delituoso, as palavras... Poesia, Amor e Solidariedade?


Por também estar preocupada com isso, é que ministro oficinas de literatura, para manter viva a chama da existência do "outro", e não seduzam às crianças condenando-as à desumanização. Poesia,Amor e Solidariedade são minhas bandeiras de luta.




Rocío L'Amar: Poeta, contadora de histórias, roteirista, gestora cultural, difusora e produtora cultural na Região de Bío Bío. Comentarista de livros nas ondas do rádio e nos espaços escritos. Fundadora e Presidente da Sociedade de Escritores de San Pedro de La Paz. Ex-Presidenta da Sociedade de Escritores de Chile — Filial Concepción. Fundadora e ex-presidenta da Associação de Escritores de Bío Bío. Criadora de Concursos Literários.
Tem publicado em formato Papel e CD. Administra 9 blogs de interesse literário na Internet, para mencionar alguns das múltiplas inquietações socio-culturais, trabalhos educativos e compromisso com a literatura através dos longos anos de gestão cultural e criação poética que vem realizando a partir de 1989, na Região de Bío Bío.


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Rocío L' Amar é também correspondente e colaboradora de PALAVRA FIANDEIRA no Chile.

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ERNESTO R. DEL VALLE



Ernesto R. del Valle.- Camagüey, Cuba.(Reside nos Estados Unidos).
Poeta e escritor, fundador da Brigada "Hnos Saíz". Publicou em diários e revistas de Cuba, Santo Domingo, Argentina e Espanha no Magazine Italiano Gente de Alfonsine Nov. 2010, Nro. 47. Seus poemas aparecem publicados em diversas antologias.
Recentemente obteve o prêmio de contos, no "1er Concurso de Relatos para el Estado de la Florida", auspiciado pelas edições "Vozes de Hoje" .
Tem publicado "Miércoles de Ceniza" — Quartas de Cinza — (Contos) Miami, Ed. Voces de Hoy 2010. É editor da Revista Guatiní.
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TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS
Marciano Vasques
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques

5 comentários:

  1. gracias hermanito, Marciano querido, amigo apreciado y afectuoso por hacer difusión de la entrevista en Palavra Fiandeira realizada por Ernesto y publicada en su revista Guatiní... cada día me siento más cerca de ti, casi como una portuguesa porque la amistad también concede esa gracia, esa simpatía, esa querencia,

    te quiero mucho, Rocío

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  2. Olá, Rocío
    A graça do leitor é que as loucuras inteligentes do escritor lhe permite suprir as desiluções em torno da sua própria criação e as carências político-sociais que o deprimem.
    Obrigada pelas palavras que me dás enquanto leitora.
    Também eu elevo as bandeiras da poesia, amor e solidariedade.
    Beijo com carinho
    Carmen Ezequiel

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  3. gracias Mitinha, ¡¡¡viva la poesía!!!...

    beijos desde Chile, Ro

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  4. Meu email para contato e entrevista : vasconcelloselmo@hotmail.com
    Meu blog de entrevistas : http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/
    Beijos & Flores

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  5. Bom dia amigo escritor Selmo. Gostei muito da entrevista que o Marciano Vasquez fez com você nesse blog. Mostra um grande escritor com todas suas qualidades humanas e culturais.
    Parabéns ao Marciano pela entrevista e parabéns ao entrevistado pelas respostas.
    abraços e saudações
    Hildebrando Pafundi, escritor e jornalista

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