EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

terça-feira, 12 de abril de 2011

PALAVRA FIANDEIRA — 60

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PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
12/ABRIL/2011
Ano 2 — Nº 60
EDIÇÃO 60
APRESENTA:
MARCO HAURÉLIO 
GALOPANDO O CAVALO PENSAMENTO
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Entrevista concedida a Marciano Vasques

1. Quem é Marco Haurélio?

— Marco Haurélio é poeta, editor e pesquisador da cultura popular brasileira. Dedica-se mais à literatura de cordel, mas, também, escreve ensaios e obras hauridas da tradição oral do Brasil.

2. Lançou seu livro "Meus Romances de Cordel", na Livraria Cortez, em 9 de Abril. Como foi esse lançamento? Conte aos nossos leitores sobre as personalidades que compareceram ao evento, sobre o significado para você, a alegria do contato com os leitores e amigos...

 Rouxinol de Rinaré e Assis Ângelo na Livraria Cortez

— Além de você, lá estiveram poetas cordelistas, como João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Moreira de Acopiara, Pedro Monteiro, Assis Coimbra, Klévisson Viana, Carlos Alberto Fernandes, Josué de Nazaré, Cleusa Santo, Cacá Lopes, Costa Senna, Dunga e Rouxinol do Nazaré, o grande pesquisador do cangaço, Antônio Amaury, acompanhado do filho Carlos Elydio, o jornalista Assis Ângelo. Lá estiveram, ainda, a xilógrafa Nireuda Longobardi e o pesquisador do cordel Aderaldo Luciano. E escritores de outras searas, a exemplo de Mustafa Yazbek, JeosaFá, Susana Ventura, meu parceiro José Santos, também cordelista, e Roniwalter Jatobá, os ilustradores Maurício Negro e Severino Ramos e os músicos Aldy Carvalho e Ibys Maceioh. Mais os editores José Cortez, nosso anfitrião, Gustavo Tuna (Global), Rosa Zuccherato (Nova Alexandria), e Antônio Daniel Abreu (Landy), dos produtores culturais Clóvis Arruda e Antônio Clementin. E muito mais gente boa...

3. O termo Literatura de Cordel sempre está associado ao de Cultura Popular. Poderia nos falar sobre a origem e o significado dessa ligação "histórica"?
 Da obra de Marco Haurélio

— O cordel nasce e se desenvolve no meio folk, não como atividade editorial, mas como entretenimento. Mas não é literatura folclórica, pois sua autoria é conhecida. No começo, foi estudado por folcloristas, como Sílvio Romero, Gustavo Barroso, Rodrigues de Carvalho e Luís da Câmara Cascudo. Os críticos e historiadores literários mantinham distância do cordel, e só faziam referência a ele quando algum folheto servia de substrato a um texto “erudito”. A ligação histórica do cordel com a cultura popular existe, de fato, pois, a exemplo de Shakespeare, Rabelais, Cervantes, Goethe, Guimarães Rosa, os bons bebem da fonte da tradição. Leandro Gomes de Barros, por exemplo, pegou os romances do chamado ciclo do boi, ampliou, acrescentou novos elementos e escreveu a História do Boi Misterioso. João Martins de Athayde fez o mesmo com a História do Valente Vilela, um romance trágico do sertão nordestino, que narra as aventuras de um cangaceiro que abandona as armas e busca a redenção. O tema foi reaproveitado por Guimarães Rosa em A Hora e a Vez de Augusto Matraga.


Câmara Cascudo, grande pesquisador da cultura popular no Brasil

4. A validação, a autenticidade da Literatura de Cordel ocorre também a partir de alguns clichês. Poderia exemplificar isso, por favor?

— É verdade. Há quem diga que, para ser cordel, é preciso que o folheto venha embrulhado por uma xilogravura e contenha erros gráficos. Há quem confunda cordel com a poesia matuta, na qual o autor deforma o idioma para extrair um efeito humorístico ou pitoresco. Marlyse Meyer foi quem desmanchou esse engodo. Se a primeira afirmação fosse verdadeira, teríamos que riscar do rol dos cordelistas nomes como Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, José Camelo, entre outros, que utilizavam como imagens de capa clichês de cartões postais e de artistas de cinema, além de desenhos feitos sob encomenda. Quanto à confusão do cordel com a poesia matuta, ela se dá mais a partir da exposição midiática de Patativa do Assaré, que foi um grande poeta matuto, mas, quando escrevia cordéis, era mediano. Alguns pesquisadores, por comodismo, acabaram acondicionando vários gêneros no mesmo balaio do que definiram como poesia popular.

5. Conte-nos sobre o seu livro "Meus Romances de Cordel", lançado pela Editora Global. No que consiste a obra?

— Meus Romances de Cordel é um livro que reúne sete títulos, escritos entre 1987 e 2007, portanto, em vinte anos de labuta poética. O primeiro, O Herói da Montanha Negra, traz elementos da mitologia grega misturados com ingredientes do gibi A Espada Selvagem de Conan. Presepadas de Chicó e Astúcias de João Grilo traz o herói picaresco que saiu do cordel para protagonizar a peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. História da Moura Torta e História de Belisfronte, o Filho do Pescador são baseiam-se em contos populares narrados por minha avó, Luzia Josefina. A Briga do Major Ramiro com o Diabo traz uma lenda sertaneja, também narrada por minha avó, e é sobre um combate entre meu bisavô e o capeta. Os Três Conselhos Sagrados é um conto exemplar, que recolhi em Brumado, Bahia. Acrescentei elementos místicos à história e ambientei-a no contexto da migração nordestina a São Paulo. 

 
Autografando seu livro para o Senhor Cortez

6. Uma das mais lindas riquezas encontrei em seu livro. "Galopando o Cavalo Pensamento"... Fale dessa obra literária, que é parte integrante de "Meus romances de cordel". 

 Ilustração do artista Luciano Tasso para o livro de Marco Haurélio


— É justamente o último poema do livro. E não é, na acepção da palavra, um romance. Traz, porém, referências ao universo mítico dos romances heroicos e de encantamento. Foi classificado por Arievaldo Viana, grande poeta cearense, como galope soberano, por alusão à obra Apocalipse Agalopado, de Zé Ramalho. Foi composto em décimas de dez sílabas poéticas (martelos), a princípio sem preocupação com a lógica, deixando fluir o inconsciente, o que chamo de a dança dos símbolos.

7. Desde muito cedo teve contato com a literatura de cordel. Deixe aos leitores essa história de amizade que nasceu...

— Nasci num lugar chamado Ponta da Serra, no pé da Serra Geral, a uns sete quilômetros de Igaporã, sertão da Bahia. Lá, assisti a reisados, queimas de Judas e vi os cantadores das estradas, sem viola e sem pompa.
Ao lado da casa de meu pai ficava a da minha avó, já apresentada aos leitores, uma das pessoas mais inteligentes que conheci, espécie de porta-voz de civilizações há muito defuntas. Ela cantava os velhos romances ibéricos e narrava histórias de Trancoso, que eu, passados tantos anos, aos poucos, vou adaptando para o cordel. Eu me admirava de sua memória prodigiosa. Aos sete anos eu sabia de cor pelo menos três romances de cordel.

8. Uma das figuras mais respeitada nesse universo é você. A gente sente isso no ar. Então, ninguém melhor para nos apresentar alguns escritores e poetas da Literatura de Cordel.

Escritor  Roniwalter Jatobá no lançamento do livro 
"Meus romances de Cordel"


— Bem, quando a gente aponta nomes, corre sempre o risco de ser injusto. Mas, vamos lá. Dos mestres do passado, entre tantos, tenho especial predileção por Leandro Gomes de Barros, José Camelo de Melo Resende, Francisco das Chagas batista, Zé Duda, José Pacheco, Delarme Monteiro, Manoel D’Almeida Filho, Joaquim Batista de Sena, Severino Borges, Antônio Teodoro, Caetano Cosme da Silva, Minelvino Francisco Silva. Há, ainda, em atividade os veteranos Lucas Evangelista, José João dos Santos, o Mestre Azulão, João Firmino Cabral, O grande Antônio Alves da Silva, Zé Barbosa. Dentre os autores de minha geração, fica difícil selecionar alguns a título de exemplo, mas os que citei acima, que estavam presentes ao lançamento, representam, e muito bem, o cordel na atualidade.

9. Acredita que essas formas populares do fazer literário, como a trova e a literatura de cordel, sofram preconceitos de alguma elite cultural?

— O cordel sempre foi visto como literatura menor por alguns pernósticos que jamais conseguiram uma décima parte de leitores que um bom cordelista possui. Daí a ranger de dentes e as declarações preconceituosas espalhadas, inclusive, pelas páginas da internet. Quando um pseudo-intelectual discrimina o gênero, está discriminando na verdade o público-alvo. Nos últimos tempos, com a adoção do cordel em programas de governo e nas salas de aula, uma parte da chamada “elite cultural” tem babado fel na direção dos autores, cobrando, inclusive, um certificado de autenticidade daqueles que, há muito tempo, deixaram o sertão.

10. Já escreveu sobre o encontro da literatura de cordel com a tecnologia? Estamos, pois, entrando numa nova era. Parece evidente que a era tecnológica irá substituir a humanista. Como A Literatura de Cordel sobreviverá nessa nova circunstância? E sabe se já tem algum cordel falando desse encontro?

— O cordel mais modernoso que fiz foi A Chegada do Diabo no Big Brother. Klévisson Viana, com muita perspicácia, escreveu um folheto chamado O Cangaceiro do Futuro e o Jumento Espacial, no qual o cangaceiro em questão é um clone de Lampião. Bráulio Tavares, num artigo excelente, analisa o futuro do cordel e, ao fazê-lo, analisa ainda o futuro do próprio jornalismo. Está publicado no blog Mundo Fantasmo:

Imagino que no ano 2050 o Poeta Repórter será um cara jovem, articulado, bem informado, com um saite onde ele comentará em versos os principais acontecimentos. Um saite como o do jornalista Ricardo Noblat, em Brasília. No auge do escândalo do mensalão, o saite de Noblat (cuja cobertura dos fatos, e opinião sobre eles, todo mundo queria saber) chegou a ter dezenas de milhares de acessos por dia. Noblat conhece cordel (tenho em meus arquivos um artigo seu dos anos 1970). Esse repórter do ano 2050 será um Noblat que sabe fazer versos na hora, com um olho no Plantão do Jornal Nacional e outro no teclado, onde batuca as sextilhas à medida que as informações se sucedem.

No Brasil inteiro, em lan-houses, residência, escolas públicas, a rapaziada jovem acessará o saite desse Poeta Repórter do Futuro sempre que precisar de um comentário mordaz e agudo sobre o que está acontecendo – e um comentário em versos, que é o diferencial do cordel. Um poeta talentoso e rápido poderá fazer folhetos eletrônicos em tempo real, sem papel, sem tinta. Uma futura encarnação muito bem vinda, e, quem sabe, inevitável.”

11. Aprecia a Literatura Infantil? Sobretudo a Poesia Infantil? Considera que seja valorizada tal como deveria, inclusive no universo educacional? Poderia a Poesia Infantil, atuar, por exemplo, como protagonista num processo de alfabetização da criança?

— Claro. Gosto de literatura, independente dos rótulos. Li uma adaptação de as Viagens de Gulliver aos nove anos. Nessa época já havia lido quase todos os grandes romances de cordel até então escritos. Depois saltei para Dumas, Júlio Verne, Monteiro Lobato e os grandes épicos. Incluam-se os gibis. E o cordel lado a lado. Na época de professor, ainda na Bahia, trabalhei com os grandes autores “infantis” ao mesmo tempo em que apresentava o cordel aos alunos. Sem hierarquia, como deve ser.
Acho que a poesia, especialmente a que chamamos mnemônica, tem um papel fundamental nos primeiros anos de escola. Das quadras populares aos poemas autorais. E todo grande poeta, - passando por Vinicius, Cecília Meireles, Chico Buarque, Mário Quintana, José Paulo Paes, Manoel Bandeira etc. – já dedicou um ou mais poemas às crianças. Você é um exemplo disso, como o foi o grande Elias José. Como é o José Santos, que também prestigiou o lançamento do Meus Romances na Cortez.
 Mário Quintana também escreveu para crianças

12. O que foi o "Pelotão Cultural" que invadiu a Praça da Sé?

— O pelotão cultural foi uma “invenção” de Assis Ângelo, uma espécie de contrapondo à estupidez reinante, especialmente na mídia. Em 3 de março de 2007, comemoram-se os 60 anos da canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. O pelotão cultural, naquele contexto, foi representado por artistas de diferentes campos que renderam homenagens ao Rei do Baião. Eu criei, na ocasião, um mote decassílabo, que foi glosado por cordelistas e repentistas e reunido num livreto de cordel: “Foi voando nas asas da Asa Branca/ Que Gonzaga escreveu a sua história”. Escrevi três estrofes a partir do referido mote, entre elas esta:

Dos acordes de um grande brasileiro,
Um intérprete da alma de seu povo,
Sai um canto que sempre será novo,
Amoroso, sincero, alvissareiro.
Entre os hinos do seu cancioneiro,
O que fala duma ave migratória
Conferiu a Luiz eterna glória
Para além desta vida que se estanca.
Foi voando nas asas da Asa Branca
Que Gonzaga escreveu a sua história.”


13. Repentista, cantador, e autor de Literatura de Cordel, representam uma coisa só?

— Não. Repentista é repentista e cordelista é cordelista. Às vezes o repentista pode ser repentista, mas não é regra. Já o termo “cantador” é muito genérico. Xangai e Elomar são cantadores, mas não são repentistas. Alguns repentistas gostam de ser chamados “cantadores”. Há um livro famoso, Cantadores, de Leonardo Mota, sobre a poesia popular do sertão cearense. Luiz Gonzaga também era um legítimo cantador. Quanto ao cordelista, também é chamado poeta de bancada ou de gabinete. Com a visibilidade que o cordel ganhou nos últimos anos, alguns repentistas passaram a escrever folhetos. Há casos bem sucedidos em relação a estes cordelistas bissextos e outros bisonhos. Mas é preciso, para o bem do cordel e do repente, acabar essa confusão.

14. Você é uma pessoa atenciosa, simples, e guarda uma, digamos assim, humildade. São elementos naturais em sua personalidade, mas, de qualquer modo, considera tais atributos como essenciais para qualquer autor?

— Obrigado, Marciano. Você me fez parecer melhor do que sou. Acho que não se pode cobrar do autor um comportamento exemplar. Sou contra qualquer tipo de imposição. Rimbaud, por exemplo, era um poeta maravilhoso e um ser humano detestável. No cordel, temos o exemplo de Athayde, que, apesar de ser um grande poeta, não se furtou – sem trocadilhos – a assinar como sua parte importante da obra de outros autores, entre eles o seu grande inspirador, Leandro Gomes de Barros. Por outro lado, há a lei da reação. Quem semeia vento colhe tempestade, como diz a letra de uma famosa canção caipira.

15. Remetendo-o á pergunta 8, está sempre cercado por personalidades artísticas e literárias do universo da produção e da difusão da literatura de cordel. São mais do que autores, são missionários, se posso assim me expressar. Figuras como o jornalista Assis Ângelo, Cacá Lopes, Klévisson Viana, Rouxinol do Rinaré, e outros. Como foi granjeando esse arco de amizades?

— Em 2005 fui convidado por Gregório Nicoló, diretor da editora Luzeiro, de São Paulo, para assumir o editorial. Além de relançar clássicos que, há tempos, estavam fora de catálogo, eu fiz questão de publicar autores, conhecidos ou não, da atualidade. Todos se tornaram, ou já eram, meus amigos. Quanto ao Klévisson, ele dirige a Tupynanquim, de Fortaleza, e, além de cordelista, é ilustrador. Já ilustrou três livros meus: A Megera Domada, de que falamos, O Conde de Monte Cristo, que sairá em breve, e Traquinagens de João Grilo.

16. O encontro entre a cultura erudita, ou clássica, e a popular, na qual se insere a Literatura de Cordel, está presente em algumas adaptações. Uma delas: A Megera Domada, de William Shakespeare. Pode nos contar, especialmente, sobre essa obra? Como se originou tal projeto?


— A coleção Clássicos em Cordel foi idealizada por Nelson dos Reis, fundador da editora Nova Alexandria, infelizmente já falecido. Veio dele o convite para que eu coordenasse a coleção. Na época eu havia adaptado O Conde de Monte Cristo, mas achei que A Megera Domada era, naquele momento, o texto mais adequado. Eu estava muito afinado com os cordéis, digamos, humorísticos e sempre quis adaptar um texto de Shakespeare. O clímax da peça original, para mim, é o diálogo cheio de palavras de duplo sentido travado entre Catarina e Petruchio. Infelizmente, os trocadilhos eram todos intraduzíveis. O que fiz? Primeiro Petruchio virou Petrúquio. Depois acrescentei algumas tiradas próprias do humor nordestino.

Recentemente, a minha versão de A Megera Domada, sob direção de Ivano Lima, foi encenada no teatro Ruth Escobar. Eu, até então, não sabia que o texto era tão engraçado.


17. Seu livro "Meus Romances de Cordel" merece e precisa estar em todas as Salas de Leitura das escolas municipais e também dos CEUs, espero que isso realmente aconteça. Falando nisso, autores de literatura de cordel têm divulgado entre os alunos essa forma literária?

— Sim. Há anos autores como Costa Senna, Cacá Lopes, Moreira de Acopiara, João Gomes de Sá, também professor, e, mais recentemente, Varneci Nascimento, Cleusa Santo, Pedro Monteiro, Josué Gonçalves, Paulo Barja etc., tem levado o cordel às salas de aula. Franklin Maxado já fazia isso na década de 1970. Em Salvador, Antônio Barreto, professor e cordelista, faz uso da poesia popular na sala de aula, com resultados, até onde sei, auspiciosos. Arievaldo Viana, no Ceará, criou o projeto, transformado em  Acorda Cordel na sala de Aula. O PNBE e os programas estaduais também têm investido na aquisição de cordéis infantis e juvenis.

18. O que é "Caravana do Cordel"?

— Se você perguntar, separadamente, para cada um dos membros da Caravana, o que ela significa, nenhuma das respostas coincidirá. O que é muito bom, pois mostra a diversidade dos membros do grupo, apesar de todos se ligarem a ela por um objetivo comum: semear o cordel na Pauliceia. Para mim, Caravana do Cordel, mais do que um grupo ou um movimento, é um conceito. E, por isso, eu ainda não sei o que é a Caravana do Cordel. Só sei que ela se propõe a levar o mundo do cordel para todo o mundo.

19. Foi um dos representantes do Brasil, no Encontro Internacional de Poetas, ocorrido em Assunción, Paraguai, em 2010 . Pode nos falar desse evento?

— O evento fazia parte das comemorações do Bicentenário da República do Paraguai e reuniu poetas de vários países. Estive ao lado da professora Edilene Matos e do também cordelista Antônio Barreto, de que falei há pouco. Fomos convidados pela Embaixada do Brasil naquele país.

20. Além da Banca Central da Praça da Sé, poderia nos indicar outros pontos de venda e divulgação da Literatura de Cordel, em Sampa?

— Na própria editora Luzeiro (www.editoraluzeiro.com.br) ou nos seguintes espaços:

1. Banca Praça Ramos (centro)
2. Banca Pato (Praça da Sé)
3. Banca DPX (Praça Ramos de Azevedo)
4. Banca das Apostilas (Pátio do Colégio, ao lado da Praça da Sé)
5. Banca São Bento (Rua Barão de Itapetininga, Centro)
6. Banca Viaduto do Chá (Centro)
7. Banca Deus é Luz do Meu Caminho (Estação Guilhermina Esperança do Metrô)
8. Banca Corredor Praça Dom José Gaspar, 106
9. Banca São Francisco (Viaduto do Chá)
10. Banca JC (Rua Fortuna de Minas, Jd. Santa Maria)
11. Banca Maktub (Largo da Concórdia, Brás)
12. Banca General Carneiro (altura do nº. 167, Centro)
13. Banca Emília (Praça Dom José Gaspar, Av. São Luís, Centro)
14. Banca Viana (Largo da Concórdia, ao lado da estação de trem do Brás)
15. Banca Dom José Gaspar (Centro)
16. Banca Antônio Prado (Praça Antônio Prado, Centro)
17. Banca Guilhermina Esperança (Metrô Guilhermina Esperança)
18. Banca Barão (Barão de Itapetininga, República)
19. Banca Mário de Andrade (Centro, ao lado da Praça dom José Gaspar)
20. Sebo José de Alencar (Rua Quintino Bocaiuva, 285, Centro)


21. Estive em seu lançamento, na Livraria Cortez, e considero que tenha sido um dos mais bonitos momentos de minha carreira literária: ter tido a oportunidade de participar desse encontro que enriqueceu a minha vida. Retornei para casa feliz. Espero que me convide para outros eventos assim. Falando nisso, já tem algum programado ou no pensamento?

— Obrigado de novo, Marciano Vasques. Fiquei muito feliz com sua presença e, agora, estou embevecido com esta revelação. Bem, em agosto, já está programado o lançamento do livro Contos e Fábulas do Nosso Folclore, pela Nova Alexandria. Trata-se de uma antologia de contos populares recolhidos, em sua maior parte, no sertão da Bahia.

22. Pergunta clássica em PALAVRA FIANDEIRA: O que é para Marco Haurélio a felicidade?
 Obras de Marco Haurélio
Klevisson Viana em Xilogravura
O artista assina a capa de "As Três Folhas da Serpente"


Imagem de "A Moça que Namorou com o Bode", de Klévisson Viana

— Não sei. Mas escrevi um poema, do qual a estrofe abaixo, pode não conter a definição do que é a felicidade, mas mostra o que não é a infelicidade. Chama-se “Arrependimento”:

Do que fiz não me arrependo,
Tudo, tudo refaria.
Refaria com mais riso,
Mais raiva, mais rebeldia,
Reocupando o espaço,
Repassando, passo a passo,
Os passos que dei um dia.



23. Questão já meio ultrapassada, mas ainda insisto um pouco nela. O livro de papel resistirá ao avanço tecnológico e ao livro digital? Ou seja, o livro de papel sobreviverá?

— Não há como prever. Então, vai minha opinião pessoal: sim, resistirá; e, se não resistir, ficamos com a profecia de Zé Ramalho, na música Digitado em Poesia:

Nessa época de luta
Muito trabalho espera
O povo da nova era
Impera nessa labuta
E vendo nessa disputa
O mundo em harmonia
A vida traz alegria
E projetado eu lhe juro
Que estarei pelo futuro
Digitado em poesia



24. Não apenas a Literatura de Cordel, mas também a poesia infantil e outras formas literárias: Considera que o governo tem investido de forma suficiente ou adequada? O que mais poderia ser feito, além da compra de livros, para que a literatura possa de fato chegar com toda força ao jovem estudante?

—Tem havido, sim, investimentos do governo nas três esferas. Porém, nos municípios do interior, especialmente os pequenos, às vezes, a verba da educação é desviada para contratações de atrações musicais de gosto duvidoso.

25. O que poderia nos dizer sobre uma nova atração anunciada pela Globo, chamada "Cordel Encantado"? Contribuirá para a divulgação da Literatura de Cordel?

— Assisti à estreia (dia 11) e, pelo que pude constatar, é um amontoado de clichês e estereótipos. O sotaque dos protagonistas beira o patético. Deu saudades de Roque Santeiro. Não duvido que trará, por algum tempo, mais visibilidade. E só.

26. Tem alguma pergunta que gostaria que PALAVRA FIANDEIRA tivesse feito e que faltou?

— De jeito maneira! As perguntas acertaram na mosca. Espero que as respostas possam estar no mesmo nível.

27. Que mensagem e que PALAVRA FIANDEIRA, isto é, que palavras deixaria aos nossos leitores?

Que a Palavra Fiandeira,
Traçada com linhas de ouro,
Mostre ao povo este tesouro
Da cultura brasileira,
Do qual eu levo a bandeira,
Combatendo todo mal.
Agora chego ao final
Dessa conversa gostosa,
Tratamos na nossa prosa
Do Cordel Atemporal.

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PALAVRA FIANDEIRA
  Revista Literária Digital fundada pelo 
escritor 
Marciano Vasques

Marciano Vasques, fundador de PALAVRA FIANDEIRA
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6 comentários:

  1. Adoreiiiii. Eu tinha conversado com ele também. Mas conversa pespontada ou fiada é coisa que dá "pano para manga". São sempre olhares diferentes...é há muito o que dizer...bjs

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  2. Oi, Marciano.

    Foram duas grandes entrevistas em apenas uma semana. Para o Pesponteando e, agora, para o Palavra Fiandeira.

    Gostei muito de vê-lo no lançamento. E, certamente o reecontrarei em outras veredas.

    Abração.

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  3. Eis que, depois muito ouvir falar de Marco Haurélio via Costa Senna e Cacá Lopes, tenho o imenso prazer de conhecê-lo nesse "inquérito" substancioso prporcionado por Marciano Vasques. Obrigado a ambos pela interatividade.

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  4. Ótima entrevista e ótimo espaço para difundir ideias!
    Parabéns Marco Haurélio e Marciano Vasques.

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  5. Sem dúvida nenhuma é um trabalho que merece admiração e respeito.
    Parabéns Marco Haurélio, pela sempre presente SOFIA! Parabéns Marciano Vasques!

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  6. Sem dúvida nenhuma é um trabalho que merece admiração e respeito.
    Parabéns Marco Haurélio, pela sempre presente SOFIA! Parabéns Marciano Vasques!

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