PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DE LITERATURA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
ANO 3 — Nº 67
EDIÇÃO DE ABRIL
18 de ABRIL de 2012
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ABRIL: MÊS DA LITERATURA INFANTIL
ILUSTRAÇÃO DE BELMONTE
Por motivo de força maior, a edição de PALAVRA FIANDEIRA do dia 18 de abril foi antecipada para hoje. Os compromissos me impedem de manter a periodicidade da publicação, mas brevemente ela retornará em sua periodicidade mensal.
Esta edição reúne a escritora Regina Sormani, que colabora com um artigo, a poetisa Nil Medeiros, que apresenta um conto, a escritora Paula Laranjeira, que nos oferta um belo texto.
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Fotografia de JOTA ENE (Portugal)
Literatura Infantil no Brasil
- Autor importante e esquecido
- Autor importante e esquecido
Thales Castanho de Andrade nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo a 15 de setembro de 1890. Diplomou-se professor normalista, foi professor de História do Brasil. História Geral e de outras disciplinas do hoje Instituto de Educação Sud Menucci. Thales, grande professor, sabia como interessar os alunos. Ensinava que o essencial era a interpretação histórica. Os alunos deveriam refazer os caminhos percorridos pelos personagens, levantando os cenários da época, as condições políticas, o cenário econômico, em resumo, uma visão global dos acontecimentos. Vários alunos seus fizeram depoimentos sobre as aulas do grande mestre, afirmando que jamais, em suas aulas, tiveram que responder a questionários chatos, ou decorar datas como papagaios. O mestre afirmava que datas miúdas só serviam para empanturrar a cabeça. Dizia também que, na História, o importante é o fato marcante, o momento histórico. A carreira de Thales no magistério foi brilhante, tendo lecionado na Escola de Comércio Cristovão Colombo e no Colégio Piracicabano. Elaborou um método de alfabetização que foi adotado com sucesso pelo governo mexicano. Em dois anos, foram educados um milhão e meio de analfabetos.
Literatura Infantil: Thales ou Lobato?
A Filha da Floresta
Thales publicou, em 1919, editado pelo Jornal de Piracicaba, um conto interessante que visava incentivar nos pequenos leitores o amor pela natureza. João Chiarini, o maior estudioso da obra de Thales considera o autor “o primeiro ecólogo brasileiro”. Na história “A Filha da Floresta” há fadas, anões, palácios, tudo isso alinhado de forma espirituosa e inteligente. Esse livro deu início à discussão na Academia Paulista de Letras, por ocasião de uma homenagem feita a Thales de Andrade, na qual se questionou o seguinte: Seria Thales, ou Monteiro Lobato, o verdadeiro iniciador da literatura infantil no Brasil? O acadêmico Francisco Marins, outro grande escritor brasileiro, falou sobre a edição da “Filha da Floresta”, demonstrando que esta, foi anterior à publicação de “Narizinho Arrebitado” de Lobato, que é de 1921. Marins relembrou também, que a Editora Melhoramentos reeditou a “Filha da Floresta” no mesmo ano de 1921. Francisco Marins, que atualmente está chegando aos 90 anos, é autor de “Clarão na Serra”, “O grotão do café amarelo”, “Expedição aos Martírios”, “E a porteira bateu”... entre tantos outros.
Saudade
Na opinião de Sud Menucci, “Saudade”, outro grande sucesso de Thales, é um romance juvenil encantador. Conta a história de uma criança que saiu da fazenda onde nasceu para ir morar na cidade e que, tempos depois, retorna ao campo. Ele diz que do ponto de vista literário, “Saudade”, tem uma linguagem cheia de graça e espontaneidade, dotada de sóbria elegância. Vários trechos dessa história foram dramatizados. Um exemplo é “O casamento de Nhô Lau”, um dos personagens principais da história, cujo texto, em forma de libreto, faz parte da Academia Piracicabana de Letras. João Chiarini diz ainda: - “Para escrever “Saudade”, Thales não buscou a mitologia greco-romana nem as carochinhas do mundo. Seu universo foi o nacional popular brasileiro”. “Saudade” foi editada dezenas de vezes, contribuindo para a formação de gerações de leitores. Foi, durante muito tempo, o livro mais adotado para leitura, nas nossas escolas. Foi publicado pela primeira vez pelo governo, em Pocai, no estado de São Paulo, em 1919, num total de 15.000 exemplares. No total, seus livros atingiram uma tiragem de 2 milhões de exemplares. ( Arroyo, 1988, p.191) Na opinião de Leo Vaz, “ O autor tem a intuição exata da psicologia infantil, sabe ser criança entre as crianças...” Thales Castanho de Andrade, por todos os motivos citados, é por muitos estudiosos, considerado o criador do gênero infanto-juvenil da Literatura Brasileira.
Outras obras: Ler Brincando; Vida na Roça; Na Oficina; O irmão Café; Trabalho; Alegria; Espelho; Milho. Contos: El Rei Dom Sapo, Bem-Te-Vi feiticeiro; A Bruxa Branca; Capitão Feliz e vários outros.
Pesquisa bibliográfica: Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba e Hemeroteca (Thales Castanho de Andrade)
Regina Sormani – escritora de livros infanto-juvenis
Foto de Regina Sormani
SONHOS DE MENINA EM AZUL CELESTE
Voava feito borboleta. Recriava sua morada de sonhos nos vãos da fantasia.
Desde muito cedo aprendeu que nos sonhos, tudo se pode ter e fazer.E sempre que podia(praticamente o tempo todo),ela viajava. Deixava-se levar por asas de borboletas. Flutuava em seus pensamentos azuis.
Menina ainda viu pequenos sonhos ficarem para trás.Criança sonhadora,observou o colorido do mundo,as vezes,tornar-se cinza. Mas guardou num canto de sua memória esses dias nublados. Deixou o cinza e buscou o azul celeste que havia em sua alma pequenina.
Formigas, pirilampos, borboletas... Todos faziam parte de suas histórias.
Vagalumes em noites escuras lhe sorriam escandalosamente. Chamando, convidando a menina para a roda, a ciranda encantada.
Lua cheia.
Céu de estrelas.
Chuva fina na estrada de pedras e poeira.
Dias de intenso azul. De céu anil pontilhado de “pipocas branquinhas”.
Dias em que a menina surgia. Emergia!
A rodopiar pelos cantos do seu vasto mundo azul.
Feliz...
NIL MEDEIROS
de Adriana Fonseca
de Nil Medeiros
NASCI ESCRITOR
Nasci como todas as crianças: um escritor, e dos bons.
No início bastava um espaço amplo no qual pudesse inserir via imaginário muitos elementos constitutivos de algum espaço desejado: uma casa, um escritório, um consultório, um programa de TV ou qualquer outro; se tivesse com quem brincar era mais fácil, bastaria decidir que personagens existiriam e distribuí-los entre os amigos, depois definir o que estariam vestidos, como seriam e o que diriam. Se não houvesse um amigo para partilhar o processo criativo, então nasciam personagens produzidos para satisfazer nossas intenções e necessidades sem que houvesse conflito. Assim aprendi a técnica da descrição.
Em outros momentos, sentado ao lado de um amigo ou algum adulto disposto a ouvir, narrava meus feitos: na maioria das vezes era um amazona destemida que viajava por reinos longínquos lutando com monstros; outras vezes era uma rainha poderosa que cuidava de um grande reino e tinha uma linda filha; também relatava histórias tristes baseada em fatos reais e outras alegres. E assim fui aprendendo a narrar.
Mas a melhor parte era quando pegava aqueles livros que ficavam na estante. Eu ainda não tinha sido alfabetizada, mas certamente já sabia ler. Todos ficavam admirandos com minhas leituras. Nos livros não existiam muitas figuras, e as que existiam não eram muito coloridas, às vezes eram de uma única cor, mas, mesmo assim, meu pequeno dedo ia percorrendo aquelas letras indecifráveis e as histórias iam nascendo: narrativa, personagens, espaço, enredo... Tudo tão bem articulado que até parecia estar verdadeiramente escrito ali. Li muitos livros, assim, nesse imaginar... Com isso fortaleci minha capacidade criativa.
Quando fui para a escola foi muito estranho, eu tive que desaprender a ler, pois a professora vivia me dizendo que eu não estava lendo, que aquilo que eu narrava não estava escrito no livro. Fiquei muito triste. Posteriormente entendi e, finalmente, aprendi ler como se deve. Depois disso, voltei a ler aqueles velhos livros da estante e para minha surpresa, as histórias eram bem diferentes daquelas que eu lia quando não tinha desaprendido e aprendido a ler. Confesso que senti falta de algumas. Mas gostei de outras.
Há muito tempo deixei a minha infância. Não me tornei um escritor, desses que escrevem livros, mas ainda sou autor de muitas histórias. Conto aos meus netos, as minhas proezas da infância, relato o assassinato do meu caderninho de histórias que sangrou demasiadamente com a tinta vermelha de uma caneta sob meus escritos a lápis, falo de meus namoricos e o encontro mágico com o amor com o avô deles, falo da infância de seus pais, e encho a alma de meus pequenos aos contar-lhes como preparava doces e quitutes.
Nasci escritor, me tornei bom leitor, e hoje, para ser uma avó que fica guardada na memória dos netos, me sento numa cadeira e novamente escritor, apresento muitos mundos aos meus pequenos novos leitores. Outras horas, combinamos todos os elementos da narrativa. Vamos escrevendo juntos...Creiam-me, não há nada mais bonito do que ver o sorriso de um pequeno escritor ao apresentar a avó suas criações narrativas. Minha alma se encanta como se estivesse diante de um livro encantado.
Mas existe muitos escritores que morrem na infância, e o pior, morre o escritor e o leitor juntos porque não houve e não há incentivo, e cada vez mais as novas gerações perdem a capacidade de narrar suas experiências, suas vivências e seus mundo imaginários. E infelizmente, cada vez mais as crianças-escritoras não cumprem sua sina.
Paula Ivony Laranjeira
PALAVRA FIANDEIRA
Publicação virtual fundada pelo escritor Marciano Vasques
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Os textos dos convidados, que ainda não chegaram, serão publicados em próximas edições.
ABRIL DE 2012
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Paula Laranjeira
Nil Medeiros
Regina Sormani
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