"Penso
numa escola da alegria, da leitura, da arte, da magia, seja com giz,
carvão ou caneta digital, mas que seja acima de tudo, humana em seu
sentido mais poético e fraterno."
(Arnaldo Junior)
PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL
Publicação digital de Literatura e Artes
EDIÇÃO 106
ANO 4 —Nº106 — 09 MARÇO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
ARNALDO JUNIOR
1.Quem
é Arnaldo Júnior?
Arnaldo
Junior é um professor de História que ainda acredita no poder
transformador da Educação por que acredita no ser humano. Gosta de
música, de poesia e adora desenhar. É filho de pai tipógrafo (seu
Arnaldo) de mãe que lhe mostrou as primeira letras em um
“compunidor” e de mãe contadora de histórias (dona Jair) que o
apresentou ao mundo da fantasia. Casado com a professora Maria
Conceição, é pai de Arnaldo Neto, também professor de história e
de Potyra Koema que lhe deu de presente uma neta maravilhosa, Ana
Júlia.
©
2.Dizem
que “versos de pé quebrado” promovem longas caminhadas. Seu
mundo é um universo, mas a pergunta aqui vai ao professor de
História. O Brasil mudou muito nos últimos poucos tempos, mas “com
a história na mão”, ainda acredita, como educador, na retomada de
um protagonismo que seja orientado para a consciência? Ou, em outros
dizeres: não importa a disciplina, mas a Educação Poética,
humanista, ainda é urgente?
Não
vejo outro caminho para a Educação que não passe pela emoção,
pela beleza, pela poesia. Uma Educação que seja ética e estética.
Não creio numa educação para o trabalho apenas, mas numa educação
para a felicidade da descoberta, para a libertação da alma, uma
educação que ilumine os olhos e ouvidos, que descubra a magia
contida em cada nova palavra, em cada gesto, em cada página.
Educação, leitura, literatura, escrita. Curiosidade, partilha,
solidariedade. É assim que eu vejo a Educação e é o que me mantém
a prumo, a despeito dos ventos contrários que são muitos e
incessantes.
Preocupação com a educação na sua arte e na arte dos amigos
2a.Fanzine
muito me remete também ao Movimento Literário Alternativo, que tive
o privilégio de participar. Porém, poderia nos falar de “Boca de
Porco” —Qual a proposta original, como era feito, etc?
Boca
de Porco surgiu em uma tarde de domingo no inicio dos naos 90, quando
encontrei Alexandre Corona Peixoto, o Xandão, poeta, agitador
cultural e grande parceiro. Juntamo-nos ao José L. da Silva
(Jabá), um dos maiores cartunistas que eu conheço e a Astrogildo
Camilo Júnior, um dos melhores ilustradores que pude conhecer. Aí
foram um, dois, três e quatro números, sempre embalados pela trilha
sonora da banda Calígula. O Boca apresentou muita gente boa tanto
nas artes visuais como na poesia, como Valdir Ramos, Paulo Jasiel,
Ana Lúcia Jardim, Lelo, Francisco Gimenes, Renato Andrade e Cordeiro
de Sá, entre outros, fazendo a cena noventa em Ribeirão Preto.
Renato Andrade © (Renato Andrade—Fiandeira Edição 99)
3.Colocar
seus traços a serviço dos movimentos sociais contempla uma história
de vida por caminhos expressivos da arte. Conte à Fiandeira, por
gentileza, como se deu esse seu engajamento, (para se usar uma
palavra referencial), como se deu esse envolvimento de seus traços
na luta social.
Quando
adolescente, conheci Vladmir Lage, Orlando Capacle, Edmar Prandini e
Beto Cangussu. Com eles me juntei ao grupo de jovens trabalhadores da
Igreja São Pedro Apóstolo, no Ipiranga. A partir daí foram anos
militando nas oposições sindicais, nas Pastorais, nos Conselhos
Tutelares, depois vieram os Centros e Diretórios Acadêmicos e
muitos outros amigos como Vanderlei Caixe Filho e Leandro Alcazar. E
eu sempre desenhando boletins, panfletos, cartilhas, jornais, etc.
Todo este envolvimento contribuiu muito para a minha formação
humanística e para minha escolha profissional, tempos depois. Como
professor, continuei desenhando e escrevendo, produzindo meu próprio
material em mimeógrafo ou em fotocópias, utilizando essa ferramenta
fantástica que é o desenho, o quadrinho para levar conhecimento e
reflexão aos meus alunos. E o faço ainda hoje.
Entusiasta, envolvido com as lutas sociais, artista e professor
4.Vi
que é um apaixonado pela HQ. Poderia nos expôr basicamente sua
produção e sua trajetória nesse universo originalmente de nanquim?
Comecei
aos treze anos publicando tirinhas no Jornal "O Diário".
Depois trabalhei um tempo no jornal "Diário de Notícias"
fazendo cartuns e tiras sobre esportes. Publiquei nas revistas
alternativas como a Minaz e a Geraes, ambas de Ribeirão Preto.
Publiquei duas coletâneas de quadrinhos e cartuns, "O Broom!"
e "Quadrim". Editei dois números de um fanzine que eu
fazia sozinho chamado Microhumor e depois desapareci. Ressurgi com o
Boca de Porco e tornei a sumir de novo. Fui lecionar e escrever meus
versos. Reapareci a pouco tempo atrás com o "Chico, Chiquinha e
Chicão" e com a "História Popular do Brasil em
Quadrinhos" que está em seu primeiro volume e com outros dois
já no prelo.
5.Anda
na HQ, figuras como Jayme Cortez, criador de “Zodiako”, e outros
autores de um período de explosiva criatividade no Brasil, talvez
merecessem uma espécie de Fundação, um local que abrigasse essas
páginas. Existe no Brasil alguma entidade assim, que preserve a
nossa produção nacional de Quadrinhos?
Não
tenho muita informação sobre o destino das obras destes grandes
mestres, mas me parece que o Mauricio de Souza pensa em fazer algo
assim. Jayme Cortez, por exemplo, era diretor de arte dos estúdios
da MSP quando nos deixou. Vi alguma coisa na imprensa recentemente
sobre outro grande artista, Claudio Seto, mas não sei como estão
essas iniciativas. Pode ser até que já exista sim algum tipo de
museu, fundação ou algo parecido. Se não estou enganado parece
existir sim um instituto em Manaus, na Amazônia. Li alguma coisa
sobre este instituto dia desses.
A arte de Jayme Cortez
Claudio Seto, um dos mestres.
©
6.Nossa
aproximação se deu através do André Luís Oliveira. O encontro de
vocês ocorreu na Educação ou nas Artes?
Nas
artes, no facebook, nos amigos em comum, na educação...André é de
uma sensibilidade ímpar. Daquelas pessoas apaixonantes capazes de se
tornarem velhos amigos em poucos minutos e que te fazem, sem pedir,
atravessar o mundo com eles de olhos fechados, agradecido. Parece
exagero, mas quem conhece o André sabe que não.
Com André Luís. (André Luís = Fiandeira edição 70)
©
7.O
que é “A Falecida”?
A
Falecida é irmã do Boca de Porco, fanzine ribeirãopretano do
saudoso Zé Luis e do Ângelo Davanço e que de vez em quando aparece
de novo, mais viva do que nunca. Dia 22 foi lançado o número treze.
Ângelo também é uma pessoa fascinante. Jornalista, blogueiro,
botafoguense e pai da Clarinha. Tem um texto pra lá de muito bom.
8.É
um múltiplo artista num universo de múltiplas linguagens dentro da
arte dos traços e das cores, e também professor, o que mais
engrandece a condição de artista, visto o diário exercício da
profissão numa realidade de tantas oferendas de dificuldades... que
toque fiandeiro nos poderia aqui deixar como sugestão para que a
Escola Pública se torne uma referência em nossas terras nunca
dantes...?
Tenho
visto muita coisa nova sendo apresentada como chaves que abrem as
portas do futuro da educação, como lousas digitais, tablets, ipads
e outras maravilhas tecnológicas e acho tudo isso muito bacana, mas
não consigo deixar de pensar em Chaplin quando diz que "mais do
que máquinas, precisamos de humanidade". A escola precisa se
modernizar sim, as tecnologias estão aí para serem utilizadas, mas
oque realmente precisa mudar nas escolas é o seu propósito. Volto a
insistir numa Educação que se faça lúdica, mas sem perder seu
caráter científico em seu sentido pleno que é a busca do
conhecimento, mas que este conhecimento seja usado como ponte entre
os pares aqui, ali, acolá. Penso numa escola da alegria, da leitura,
da arte, da magia, seja com giz, carvão ou caneta digital, mas que
seja acima de tudo, humana em seu sentido mais poético e fraterno.
Chaplin
9.É
de uma riqueza tal a sua produção e seu envolvimento com a Arte, a
Educação e as coisas essenciais de nossa realidade social, que
espero que a Fiandeira possa contemplar pelo menos uma parte com suas
poucas perguntas. Mas, aqui, poderia nos comentar um de seus cartuns
ou HQ que possa ter causado uma alegria em especial pela sua criação
e nos expôr o motivo?
Várias
produções minhas me deixaram muito feliz ou me trouxeram alguma
história significativa, mas de tudo o que eu fiz, penso agora como
muito significativo o livro de tirinhas "Chico, Chiquinha &
Chicão", por conta de sua temática, a coleção na qual estou
trabalhando que é a 'História Popular do Brasil" por
apresentar os trabalhadores, homens simples como principais
personagens dessa história e o livro '” Panela Amarela", por
seu apelo social, mas o que mais me encanta agora é o livro-CD "Um
Canto e Meio" com poesias e canções de educação ambiental
que fiz com meu amigo irmãozão Evandro Navarro, músico, poeta e
militante ecológico, uma das pessoas mais especiais que eu já
conheci. Este livro no qual faço também as ilustrações, tem me
tocado pela sua beleza, por sua temática e, sobretudo, por sua
urgência. Espero que em breve, muito breve, ele esteja publicado,
nem que seja na raça, independente, como tudo o que até agora fiz.
Evandro Navarro: Músico e parceria ©
10.Fale,
por favor de “Ribeirão Preto em Quadrinhos”...E também da
Biblioteca especial que abriga essa e outras raridades e documentos
sobre as cidades vizinhas...e naturalmente do selo RPHQ...
O
projeto Ribeirão Preto em Quadrinhos, assim como o selo RPHQ é uma
ideia fantástica desse cra genial e generoso que é o Cordeiro de
Sá. Ele reuniu uma tribo imensa de roteiristas, desenhistas,
ilustradores, grafiteiros e afins, para produzirem histórias em
quadrinhos tendo como tema a cidade de Ribeirão Preto e já está
indo para o terceiro número. Quanto Plataforma Verri, é um trabalho
hercúleo que pretende reunir e digitalizar as produções literárias
locais que falem da história da cidade e de outras cidades da
região, tudo isso feito por um homem apenas, o Dr. Verri o qual tive
o honroso prazer de conhecer no lançamento d'A Falecida.
11.Aprecia
a Literatura Infantil? Já ilustrou alguma obra nessa modalidade
literária? Considera a Literatura Infantil importante num processo
de alfabetização da criança para o mundo? Literatura Infantil pode
de alguma forma beneficiar a consciência de algum adulto?
Os
livros que mais gosto de ler são os de literatura infantil, porque
têm que ser obrigatoriamente verdadeiros. Criança é um público
muito exigente. Minha formação literária se deu pelos livros que
minha mãe lia na cabeceira da cama e pelas adaptações dos contos
infantis do Braguinha, que me fizeram apaixonar pela rima. Minha
maior produção está voltada para a literatura infantil, não em
quantidade, mas em significância. Ilustrei o livro "O menino e
a nuvem" de Evandro Navarro, o livro "A pequena e esperta
Cutia", de Squilaci Junior e lancei recentemente "Algumas
Palavrinhas", só de poesias infantís e as histórias "O
palhaço que era triste" e "A Panela Amarela",
contadas em versos, escritas e ilustradas por mim. Estou agora
ilustrando o livro "A viagem de Cauê" e "A lagartixa
Natasha". Breve estarão por aí, nas mãos da gurizada.
Braguinha (in memória) ©
Disquinhos da saudade
12.Deixe
aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Uma
palavra? Prefiro pensar num alfabeto: um alfabeto diferente, um
ALFABETO SOLIDÁRIO que sirva para, por meio das palavras tantas,
reencontrar no homem, o menino.
PALAVRA FIANDEIRA
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Edição ARNALDO JUNIOR
PALAVRA FIANDEIRA — ANO 4
Fundada e editada pelo escritor:
Marciano Vasques
Marciano Vasques
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