REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL
Publicação digital de Literatura e Artes
EDIÇÃO 108
ANO 4 —Nº108 —22 MARÇO 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
KLÉVISSON VIANA
1.Quem é Klévisson Viana?
—Sou um
artista popular, nascido na zona rural do Estado do Ceará, filho de um
agricultor e de uma dona de casa, criado escutando Luiz Gonzaga, Jackson do
Pandeiro, Trio Nordestino e também os cantadores, cordelistas, declamadores e vaqueiros
aboiadores.
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2. Já teve uma de suas obras de cordel adaptada pela Rede Globo. Pode
nos contar sobre isso?
—“A
QUENGA E O DELEGADO”, adaptado em 2001 para Série Brava Gente, com um grande
elenco, tendo nos papeis principais Ana Paula Arósio e Ernani Moraes.
3.Uma obra colossal é Os Miseráveis, agora na versão musical fazendo
sucesso na telona. Fale, por gentileza, da sua adaptação de “Os Miseráveis”
para o cordel.
—“OS
MISERÁVEIS EM CORDEL”, lançado pela Editora Nova Alexandria, foi o primeiro
título da coleção Clássicos em Cordel, coordenada pelo grande poeta e parceiro
Marco Haurélio. Em 2010 o livro foi selecionado para o PNBE – Programa Nacional
da Biblioteca Escolar e ficou conhecido em todo o Brasil. Adaptei, também, com
grande sucesso “Dom Quixote” publicado pela Editora Manolle e “Os três
mosqueteiros” publicado pela editora portuguesa Leya.
4.”A história completa de Lampião e Maria Bonita” é uma de suas
obras, em parceira com Rinaré, (Rouxinol é o Fiandeiro 74). O título é
fascinantemente curioso, afinal, tantas histórias já se contaram... Conte-nos,
um pouco desse livro.
—Rouxinol trabalhou na minha Tupynanquim Editora por quase sete anos, e somos
parceiros de muitas outras obras. Mas em “A HISTÓRIA COMPLETA DE LAMPIÃO E
MARIA BONITA” procuramos ser extremamente fieis a história do cangaço, pois os
textos escritos anteriormente em cordel sobre Lampião e Maria Bonita não tinham
tanto rigor com a pesquisa. É um trabalho com diversas reedições, que desde que
foi lançado em 2001, nunca deixou de ser reeditado.
Rouxinol, parceria com Klévisson
4. Carta de um jumento a Jô Soares, um
de seus cordéis, me deixou amplamente curioso: Será que o Jô Soares deixou o
jumento falar? Ou nada tem a ver o assunto do cordel?
— Fui entrevistado
no programa do Jô Soares, e apresentei trechos desse folheto que agradou muito
a platéia. A obra é escrita em parceria com meu irmão, o também poeta,
Arievaldo Viana. O folheto surgiu a partir de uma notícia que Jô divulgou em
seu programa em que um jumento só estaria custando R$ 1,00 no Nordeste. Diante
da grande contribuição que o jegue deu para o desenvolvimento do Brasil, e em
especial da Região Nordeste, considerei a notícia por demais ofensiva, daí
então o jegue adquiriu voz e escreveu uma missiva ao grande apresentador, pedindo
que ele se retratasse e divulgasse a verdadeira importância do jumento para o País.
5. Você é compositor, quadrinista, ilustrador, xilogravador, e
compositor. Essa multiplicidade de talentos encontra um ponto de convergência?
Isto é: sua arte, em si, é totalmente voltada para a divulgação da cultura
nordestina, por exemplo? Fale ao leitor da Fiandeira um pouco sobre isso.
— Gosto
de cantar as coisas do Brasil e principalmente do Nordeste, porque creio que
esse é meu diferencial. Posso abordar qualquer temática, de qualquer parte do
planeta, mas sei que o espaço que domino com mais categoria é a cultura da
minha região. Então uso linguagens diversas para expressar minhas idéias e as
coisas que acredito.
Klévisson: Aula espetáculo
6. O cordel está firme e parece que nunca esteve tanto, em sua
produção, com muita gente talentosa, alguns com produção transbordante e
fincando na pesquisa e na divulgação, caso de Marco Haurélio, que se consagra
como um nome imperdível no universo do cordel. Assim sendo, pode nos traçar um
breve panorama dos produtores contemporâneos de cordel?
—Desses
poetas que hoje ocupam lugares de destaque na Literatura de Cordel
contemporânea, uma boa parte deles foram lançados por mim. Rouxinol do Rinaré,
Evaristo Geraldo da Silva, Antônio Queiroz de França, Francisco Paiva Neves,
Serra Azul, Julie Anne Oliveira, Ivonete Morais e muitos e muitos outros,
provavelmente não teriam desenvolvido suas obras se não fosse o ponta-pé
inicial que dei em investi meu dinheiro e meu talento na divulgação e difusão
de suas obras. É certo que também me beneficiei disso, mas o que difere meu
trabalho dos demais, é que sempre vi o cordel como uma empresa. E acho que a
cultura deve procurar se desenvolver por conta própria, não ficar apenas
esperando por subsídios públicos. É difícil um poeta de renome, na área da
Literatura de Cordel, que não tenha sido publicado por mim, pelo menos uma vez.
Da velha geração publiquei muito Mestre Azulão, João Firmino Cabral, Gonçalo
Ferreira da Silva, Manoel Monteiro, João Lucas Evangelista, Bule-Bule, Antônio
Américo de Medeiros, Antônio Alves da Silva, José Costa Leite, Zé Barbosa e
muitos outros.
Marco Haurélio: Fiandeiro 60
7. João Grilo e Pedro Malasartes contracenam
e são os protagonistas de um conto de Anderson, revisitado por Marco Haurélio,
e ilustrado por você. Como vê a Literatura Clássica Infantil, os contos
maravilhosos, para a criança de hoje?
—O cordel é uma arte irmã dos contos populares. Acho extremamente
importante esse papel que os cordelistas procuram ter desde os primórdios dessa
literatura de manter viva essa chama dos contos populares, que são historias
eternas e universais. E Marco Haurélio, meu parceiro em vários, trabalhos é um
mestre da nova geração.
Encontros
8. Você é também um proponente do Cordel em Sala de Aula? Num traçado
geral, em que medida essa modalidade popular de literatura pode contribuir com
a Educação de nossos Jovens?
— A Educação no Brasil, no Nordeste em especial, tem uma dívida
imensurável com a Literatura de Cordel. Milhares de Nordestinos aprenderam a
ler através da Literatura de Cordel. É uma linguagem de fácil compreensão, onde
os recursos da métrica e da rima emprestam ao texto toda uma graciosidade e
ludicidade que nenhum outro gênero literário consegue. Sem contar que o cordel
goza de uma credibilidade que nenhum outro meio de comunicação experimenta,
visto que representa a opinião do povo e é escrito do povo para o povo.
Diferentemente dos grandes jornais e as grandes emissoras de televisão que
sempre representam o interesse de um grupo ou de uma elite econômica.
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9. Dizem que El Cid andou pelo Brasil, e também as sereias gregas, e
tudo é um entrelaçamento infinito na cultura das vozes dos povos do mundo. O
cordel é um dos propagadores dessa corrente que entrelaça culturas?
— El Cid – O Campeador, não é um personagem muito frequente na
Literatura de Cordel Brasileira, mas outros nomes lendários como Roberto da
Normandia (Roberto do Diabo), João de Calais, Imperatriz Porcina, Carlos Magno
e os 12 pares de França e a Donzela Teodora são personagens europeus
extremamente queridos e explorados em nossa literatura popular.
Carlos Magno ©
10. Dirige uma editora chamada
Tupynanquim. Pode nos falar sobre ela, por favor?
— A Tupynnquim surgiu em 1995, inicialmente para produzir
livros para UNICEF e revistas e jornais para diversas instituições. O interesse
na Literatura de Cordel, enquanto produto editorial, só surgiu no inicio de
1999. Joseph Luyten, pesquisador holandês radicado no Brasil, teve uma grande
influencia sobre isso. O cordel sempre fez parte da minha vida, mas foi através
de Joseph, pesquisador da Literatura de Cordel, que descobri que precisava
fazer algo urgente, pois o cordel não estava morto, mas com certeza estava na
UTI.
Quando começamos muitos dos grandes poetas sobreviviam
editando seus livrinhos precariamente em fotocopiadoras. Pequenas tiragens que
não circulavam e não garantia a permanência dessa literatura. Durante o período
dessa crise, que teve inicio em meados da década de setenta, os poetas se viram
forçados apenas a publicar os folhetinhos de oito páginas, de gracejo ou de
notícia. E o supra-sumo da Literatura de Cordel, que são os romances, as
histórias de maior fôlego, que mostra todo o engenho do poeta criador, estavam
praticamente extintas.
As novas gerações que iam surgindo não tinha contato e nem
interesse de escrever romances para não publicar. Acho que uma das maiores
contribuições do meu trabalho à frente da Tupynanquim Editora foi resgatar o
romance de cordel. Publicamos cerca de 800 obras de mais de uma centena de
poetas, veteranos e novatos. Dando um grande impulso para que a Literatura de
Cordel chegasse aos nossos dias demonstrando tanto vigor. Ademais coordenei o
Ponto de Cultura Cordel com a Corda Toda, onde levamos dezenas de oficinas de
cordel, teatro e gravura para milhares de alunos da rede pública de Fortaleza.
Joseph Luyten —in Memória ©
11. É membro da Academia Brasileira de Literatura de
Cordel? Qual a importância de se participar de uma entidade literária? O que
faz uma Academia de Literatura de Cordel?
—Sou sócio-fundador e atual presidente da AESTROFE –
Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará,
coordenamos a Praça do Cordel na Bienal Internacional do Livro do Ceará, o
espaço mais democrático do Brasil para acolher o cordel. Realizamos em 2012 a I
FEIRA BRASILEIRA DO CORDEL e agora em 2013 estamos nos preparando para realizar
a segunda edição dessa feira, no mês de julho próximo, que se Deus quiser será
um imenso sucesso. A importância de uma instituição como a ABLC – Academia
Brasileira de Cordel é significativa. Pois todo trabalho que projeta nossos
poetas e nossa literatura é para nós uma empreitada valorosa. Não resta a menor
dúvida, que fazer parte do quadro de acadêmicos da ABLC é acima de tudo o
reconhecimento merecido a um operário da arte que dedicou boa parte da sua vida
a promover esse gênero literário.
12. Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA
FIANDEIRA?
—Minha palavra final é de agradecimento pelo espaço para
falar das coisas que faço e gosto de fazer. E dizer aos leitores que minhas
palavras FIANDEIRAS são:
Na mala do cordelista,
A que todos têm alcance,
O folheto é baratinho
E não é caro o romance.
Pois esse mundo encantado,
Vem sendo muito estudado
No globo terrestre inteiro...
Estude, fique instruído,
Pois o mundo está contido
Na mala do folheteiro!
@@@@
Klévisson Viana ©
PALAVRA FIANDEIRA
ANO 4 —Edição 108
Edição Klévisson Viana
Publicação digital de Artes e Literatura
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
Depois de tanto ouvir falar de você, prazer em conhecê-lo, Klévisson!
ResponderExcluirMais uma esclarecedora entrevista com um dos grandes agitadores culturais do Ceará e uma das maiores vozes da literatura de cordel.
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