Nossa vida não teria sentido se passássemos por ela sem deixar nossa marca!
As vozes da periferia me embalam...
PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA VIRTUAL DE LITERATURA E ARTES
Publicação digital de Literatura e Artes
Edições semanais
Sábado, 22 de Junho de 2013
Edição 121
CIDA SANTOS
1.Quem é Cida Ferrari?
Prefiro
que você pergunte quem é Cida Santos.
Eu explico: acrescentei o Ferrari por conta própria, porque queria homenagear
minha mãezinha que escorregou para o outro lado no ano 2000 e, a partir daí,
comecei a pesquisar sobre a Arvore Genealógica da Família Ferrari. Já encontrei
mais de 3000 pessoas que são descendentes da Família dela e, ainda pretendo
escrever um Livro sobre a linda história dos Ferrari. Utilizando-me desse
sobrenome, o facebook acabou sendo uma fonte preciosa; cada vez que eu encontro
um Ferrari, vou compilando dados e vou montando o esqueleto desse livro. Quem
sabe, um dia, ele fica pronto e a gente possa editá-lo! Nasci em Laranjal Paulista, tenho 57 anos,
sou Assistente Social.
2.A
conheci quando do lançamento do livro sobre a história da Zona Leste. Poderia
nos falar sobre essa sua experiência? Como foi o processo de construção do
livro “Zona Leste Fazendo História”?
Lembro-me
muito bem de você num dos lançamentos do Zona
Leste Fazendo História! Bem, o meu primeiro livro Zona Leste Meu Amor, nasceu por conseqüência do meu trabalho na
Eletropaulo. Atendendo aos programas sociais da Empresa, eu atuava nas
favelas, ocupações e cortiços de toda a
Zona Leste (I e II) e no dia-a-dia, fui criando vínculos com grandes lideranças
comunitárias, como: Elgito Boaventura da Favela Primeiro de Outubro em
Guaianazes, o Grande Messias da Favela do Jardim Robru, o Santo, a Neusona e o
Padre Ticão de Ermelino Matarazzo, “Seu Espíndola da Favela Vila Prudente,
Carmelita da Favela Haia do Carrão, enfim, grandes líderes que eram capazes de
dar a vida pelas suas comunidades e que, na realidade foram agentes de
transformação dos espaços que escolheram para viver. Esse vínculo com essas
pessoas maravilhosas cresceu de tal forma, que elas se tornaram muito
importantes pra mim, aí resolvi homenageá-las num livro. Naquela época, creio
que não havia qualquer livro semelhante, que contasse, com simplicidade,
aquelas histórias tão lindas. Eu precisava documentar tudo, para que ficasse na
memória das pessoas, que esses heróis anônimos lutaram bravamente para que o
povo tivesse o “seu cantinho”. Aí nasceu o Zona Leste Meu Amor! Nunca tive a
pretensão de ser escritora! Gostei da idéia do primeiro e surgiu a idéia do
segundo, aliás, quem deu o nome para o segundo livro, foi minha amiga Ana Maria
Martins! O Zona Leste Fazendo História, foi um resumo da história da Zona
Leste, porque ela é muito grande e cada bairro dá uma história. Hoje, já
existem alguns livros sobre os nossos bairros e eu fico muito feliz. Sou
admiradora e defensora da ZL e tudo o
que se produz aqui é sempre da melhor qualidade!
3.Vive
numa cidade do interior, Laranjal, mas demonstra não ter perdido o vínculo com
a Região de São Miguel Paulista, sua capela, seus cantadores. Que fatos
contribuíram para o fortalecimento dessa ligação/paixão?
No
momento, estou de volta na ZL, minha casa continua aqui em AE Carvalho!
Laranjal Paulista é a Cidade em que nasci
mas, com 11 anos de idade, mudamos para a Zona Leste e foi aqui que passei
o resto da minha infância, minha adolescência, aliás, uma adolescência
maravilhosa, estudei na Escola Dom Pedro em São Miguel Paulista, tive o
privilégio de estudar lá, na época, a melhor escola pública que havia em toda a
região. Lembro-me com orgulho que tínhamos algumas matérias escolares que se
tornaram a base da minha educação: radicais gregos, artes dramáticas, francês,
música, religião e etc....eu duvido que hoje alguém tenha esse privilégio!
Continuei os estudos (colegial) na Escola Castro Alves na Avenida São Miguel e
depois cursei Serviço Social na Unicid que, na época, chamava-se Faculdade da
Zona Leste. Enfim, toda a minha formação foi aqui na ZL. Já no ano 2000, eu
estava aposentada pela Eletropaulo e, com o falecimento de minha mãe, fui morar
em Laranjal Paulista para tomar conta de meu pai. Lá chegando, recebi um
convite muito especial do então prefeito, para ocupar o cargo de Secretária
Municipal de Assistência Social, o que me deu muito orgulho e, naquele cargo,
permaneci durante nove anos. Em razão de mudança de gestão, acabei sendo
convidada a assumir o mesmo cargo no Município de Conchas (terra da minha mãe)
e por lá fiquei durante três anos. Agora, no início de 2013, retornei à Zona
Leste e estou descansando um pouco. A ZL exerce um fascínio sobre mim, aqui eu
me sinto em casa, perto de amigos queridos que eu admiro tanto!
4.Aprecia
poesia e está em sintonia com os poetas emergentes e as vozes da periferia.
Poderia nos traçar um panorama dos produtores de poesia, resgatando assim, brevemente,
a própria história da Poesia na periferia de São Paulo?
Como
assistente social, a periferia sempre foi e sempre será o “lugar” onde eu
necessito estar! A riqueza cultural, a simplicidade, o modo simples de ver a
vida, essa coisa de “lutar” por direitos, por dignidade, por cidadania, a gente
só consegue ver e sentir na periferia! Aqui, o “humano” fala mais alto! As
vozes da periferia me embalam, nossos poetas e escritores, falam a nossa
linguagem, tipo: um pé no chão e outro nas nuvens, afinal, não podemos deixar
de sonhar!
5.Teve
alguma ligação com o MPA (Movimento Popular de Arte)? Como conheceu/encontrou
Akira Yamasaki? Conheceu Raberuan?
O
Compadre Akira Yamasaki, por incrível que pareça, eu só vim a conhecer
pessoalmente em 2013, mas já lia os seus poemas e acompanhava sua trajetória a
muitos anos! O Raberuan era um artista adorado por um amigo meu chamado Cacá de
Oliveira, que era o Diretor da Casa de Cultura Chico Mendes. Eu não o conheci,
mas também acompanhava sua trajetória a muito tempo! Não tive ligação com o
MPA, mas sempre acompanhei com admiração a trajetória desses meninos.
Akira Yamasaki
Raberuan
6.Certa
vez aconteceu um fato curioso comigo; eu estava com uma camiseta na qual tinha
uma arara, e uma mensagem de preservação da natureza. Estava numa manifestação,
e uma política, que foi vereadora, etc , pediu que eu fosse retirado do local,
pois estava ali como provocador, visto que ela havia confundido a ave de minha
camiseta com um tucano. Você tem um belo casal de tucanos em seu quintal, não
é? O que nos diria sobre a urgência de se cuidar da natureza atualmente?
A
natureza está pedindo socorro! O Homem não tem muito compromisso com ela
atualmente! É preciso falar aos pequeninos, na escola, para que, pelo menos
eles, respeitem a natureza! A proteção à natureza, a meu ver, não passa por
“partidos verdes” ; basta apenas, que no dia-a-dia, o “homem” perceba a
importância dela!
7.Tem
uma forte ligação com o melhor da Poesia, e transita de Drummond a Chico. Como
vê a necessidade da poesia em nossa contemporaneidade? Ela é de fato
necessária?
A
Poesia me comove, desperta “sentimento”, aguça aquilo que, no momento, estava
lá no âmago e, de repente, vem à tona....impossível viver sem a poesia! Ela é
necessária, de fato; sem ela, a vida passa a ser como um alimento sem tempero,
insípido, ausente de atrativos! A poesia é vital pra mim!
Poeta Drummond
8.É,
obviamente, uma historiadora com acentuada inclinação literária&poética.
Tem algum projeto nesse sentido que pode revelar para a FIANDEIRA?
Como eu
disse, no início da entrevista, quero escrever o terceiro livro, contando a
história da Família Ferrari. A pesquisa está semi-concluída, faltando apenas
alguns detalhes.
9.Está
sintonizada com o seu tempo, naturalmente: Rede Social, Internet, e participa
de um intercâmbio cultural. Diante disso, e das transformações promovidas pela
tecnologia, acredita no fim da era do livro de papel?
Impossível
não aderir à tecnologia, mas o prazer de ler um livro de papel, não tem preço!
10.Recentes
acontecimentos no país sinalizam que o modelo de partidos políticos e governos
discrepantes da realidade, porém usuários de populismo, etc, esgotou-se. Dentro
dessa circunstância, acredita que as artes e a literatura possam de alguma
forma participar exercendo o seu papel orientador entre os povos?
Os
Partidos Políticos estão falidos hoje! Creio, firmemente, que as artes e a
literatura revolucionarão o mundo ainda!
11.
Caetano cantou que “A Vida é Amiga da Arte”... e Nilton cantou “Todo artista
tem de ir aonde o povo está”. Podemos dizer que nem sempre a vida é amiga do
artista, ou que o povo também tem de ir aonde o artista está?
O
artista de periferia luta pela vida e pela arte. É uma luta que parece sem fim,
mas ele não desiste jamais. Onde há um artista de periferia, com certeza, o
povo estará presente!
12.Deixe
aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Em
primeiro lugar, quero agradecer pela honra de participar da Palavra Fiandeira e
da minha grande admiração pelo seu trabalho, amigo Marciano Vasques.
A
palavra de ordem é: Viver é maravilhoso! Principalmente quando deixamos um
pouco de nós em todos os lugares e no coração das pessoas! Nossa vida não teria
sentido se passássemos por ela sem deixar nossa marca! Neruda, um dos meus prediletos disse: “ a
multidão tem sido para mim a lição de minha vida. Posso chegar a ela com a
inerente timidez do poeta, com o temor do tímido, mas ___uma vez em seu seio
___sinto-me transfigurado. Sou parte da maioria essencial, sou mais uma folha
da grande árvore humana”!
PALAVRA FIANDEIRA
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
ANO 4 —EDIÇÃO 120 — CIDA SANTOS
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
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