EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 121







Nossa vida não teria sentido se passássemos por ela sem deixar nossa marca! 

As vozes da periferia me embalam...


PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA VIRTUAL DE LITERATURA E ARTES
Publicação digital de Literatura e Artes
Edições semanais
Sábado,  22 de Junho de 2013

Edição 121

CIDA SANTOS




1.Quem é Cida Ferrari?
Prefiro que você pergunte quem é Cida Santos. Eu explico: acrescentei o Ferrari por conta própria, porque queria homenagear minha mãezinha que escorregou para o outro lado no ano 2000 e, a partir daí, comecei a pesquisar sobre a Arvore Genealógica da Família Ferrari. Já encontrei mais de 3000 pessoas que são descendentes da Família dela e, ainda pretendo escrever um Livro sobre a linda história dos Ferrari. Utilizando-me desse sobrenome, o facebook acabou sendo uma fonte preciosa; cada vez que eu encontro um Ferrari, vou compilando dados e vou montando o esqueleto desse livro. Quem sabe, um dia, ele fica pronto e a gente possa editá-lo!  Nasci em Laranjal Paulista, tenho 57 anos, sou Assistente Social. 




2.A conheci quando do lançamento do livro sobre a história da Zona Leste. Poderia nos falar sobre essa sua experiência? Como foi o processo de construção do livro “Zona Leste Fazendo História”?
Lembro-me muito bem de você num dos lançamentos do Zona Leste Fazendo História! Bem, o meu primeiro livro Zona Leste Meu Amor, nasceu por conseqüência do meu trabalho na Eletropaulo. Atendendo aos programas sociais da Empresa, eu atuava nas favelas,  ocupações e cortiços de toda a Zona Leste (I e II) e no dia-a-dia, fui criando vínculos com grandes lideranças comunitárias, como: Elgito Boaventura da Favela Primeiro de Outubro em Guaianazes, o Grande Messias da Favela do Jardim Robru, o Santo, a Neusona e o Padre Ticão de Ermelino Matarazzo, “Seu Espíndola da Favela Vila Prudente, Carmelita da Favela Haia do Carrão, enfim, grandes líderes que eram capazes de dar a vida pelas suas comunidades e que, na realidade foram agentes de transformação dos espaços que escolheram para viver. Esse vínculo com essas pessoas maravilhosas cresceu de tal forma, que elas se tornaram muito importantes pra mim, aí resolvi homenageá-las num livro. Naquela época, creio que não havia qualquer livro semelhante, que contasse, com simplicidade, aquelas histórias tão lindas. Eu precisava documentar tudo, para que ficasse na memória das pessoas, que esses heróis anônimos lutaram bravamente para que o povo tivesse o “seu cantinho”. Aí nasceu o Zona Leste Meu Amor! Nunca tive a pretensão de ser escritora! Gostei da idéia do primeiro e surgiu a idéia do segundo, aliás, quem deu o nome para o segundo livro, foi minha amiga Ana Maria Martins! O Zona Leste Fazendo História, foi um resumo da história da Zona Leste, porque ela é muito grande e cada bairro dá uma história. Hoje, já existem alguns livros sobre os nossos bairros e eu fico muito feliz. Sou admiradora e  defensora da ZL e tudo o que se produz aqui é sempre da melhor qualidade!  




  



3.Vive numa cidade do interior, Laranjal, mas demonstra não ter perdido o vínculo com a Região de São Miguel Paulista, sua capela, seus cantadores. Que fatos contribuíram para o fortalecimento dessa ligação/paixão?
No momento, estou de volta na ZL, minha casa continua aqui em AE Carvalho! Laranjal Paulista é a Cidade em que nasci  mas, com 11 anos de idade, mudamos para a Zona Leste e foi aqui que passei o resto da minha infância, minha adolescência, aliás, uma adolescência maravilhosa, estudei na Escola Dom Pedro em São Miguel Paulista, tive o privilégio de estudar lá, na época, a melhor escola pública que havia em toda a região. Lembro-me com orgulho que tínhamos algumas matérias escolares que se tornaram a base da minha educação: radicais gregos, artes dramáticas, francês, música, religião e etc....eu duvido que hoje alguém tenha esse privilégio! Continuei os estudos (colegial) na Escola Castro Alves na Avenida São Miguel e depois cursei Serviço Social na Unicid que, na época, chamava-se Faculdade da Zona Leste. Enfim, toda a minha formação foi aqui na ZL. Já no ano 2000, eu estava aposentada pela Eletropaulo e, com o falecimento de minha mãe, fui morar em Laranjal Paulista para tomar conta de meu pai. Lá chegando, recebi um convite muito especial do então prefeito, para ocupar o cargo de Secretária Municipal de Assistência Social, o que me deu muito orgulho e, naquele cargo, permaneci durante nove anos. Em razão de mudança de gestão, acabei sendo convidada a assumir o mesmo cargo no Município de Conchas (terra da minha mãe) e por lá fiquei durante três anos. Agora, no início de 2013, retornei à Zona Leste e estou descansando um pouco. A ZL exerce um fascínio sobre mim, aqui eu me sinto em casa, perto de amigos queridos que eu admiro tanto!   
 


4.Aprecia poesia e está em sintonia com os poetas emergentes e as vozes da periferia. Poderia nos traçar um panorama dos produtores de poesia, resgatando assim, brevemente, a própria história da Poesia na periferia de São Paulo?
Como assistente social, a periferia sempre foi e sempre será o “lugar” onde eu necessito estar! A riqueza cultural, a simplicidade, o modo simples de ver a vida, essa coisa de “lutar” por direitos, por dignidade, por cidadania, a gente só consegue ver e sentir na periferia! Aqui, o “humano” fala mais alto! As vozes da periferia me embalam, nossos poetas e escritores, falam a nossa linguagem, tipo: um pé no chão e outro nas nuvens, afinal, não podemos deixar de sonhar!
   
5.Teve alguma ligação com o MPA (Movimento Popular de Arte)? Como conheceu/encontrou Akira Yamasaki? Conheceu Raberuan?
O Compadre Akira Yamasaki, por incrível que pareça, eu só vim a conhecer pessoalmente em 2013, mas já lia os seus poemas e acompanhava sua trajetória a muitos anos! O Raberuan era um artista adorado por um amigo meu chamado Cacá de Oliveira, que era o Diretor da Casa de Cultura Chico Mendes. Eu não o conheci, mas também acompanhava sua trajetória a muito tempo! Não tive ligação com o MPA, mas sempre acompanhei com admiração a trajetória desses meninos.

Akira Yamasaki


Raberuan

6.Certa vez aconteceu um fato curioso comigo; eu estava com uma camiseta na qual tinha uma arara, e uma mensagem de preservação da natureza. Estava numa manifestação, e uma política, que foi vereadora, etc , pediu que eu fosse retirado do local, pois estava ali como provocador, visto que ela havia confundido a ave de minha camiseta com um tucano. Você tem um belo casal de tucanos em seu quintal, não é? O que nos diria sobre a urgência de se cuidar da natureza atualmente?
A natureza está pedindo socorro! O Homem não tem muito compromisso com ela atualmente! É preciso falar aos pequeninos, na escola, para que, pelo menos eles, respeitem a natureza! A proteção à natureza, a meu ver, não passa por “partidos verdes” ; basta apenas, que no dia-a-dia, o “homem” perceba a importância dela!  



7.Tem uma forte ligação com o melhor da Poesia, e transita de Drummond a Chico. Como vê a necessidade da poesia em nossa contemporaneidade? Ela é de fato necessária?
A Poesia me comove, desperta “sentimento”, aguça aquilo que, no momento, estava lá no âmago e, de repente, vem à tona....impossível viver sem a poesia! Ela é necessária, de fato; sem ela, a vida passa a ser como um alimento sem tempero, insípido, ausente de atrativos! A poesia é vital pra mim!


Poeta Drummond

8.É, obviamente, uma historiadora com acentuada inclinação literária&poética. Tem algum projeto nesse sentido que pode revelar para a FIANDEIRA?
Como eu disse, no início da entrevista, quero escrever o terceiro livro, contando a história da Família Ferrari. A pesquisa está semi-concluída, faltando apenas alguns detalhes.

9.Está sintonizada com o seu tempo, naturalmente: Rede Social, Internet, e participa de um intercâmbio cultural. Diante disso, e das transformações promovidas pela tecnologia, acredita no fim da era do livro de papel?
Impossível não aderir à tecnologia, mas o prazer de ler um livro de papel, não tem preço!

10.Recentes acontecimentos no país sinalizam que o modelo de partidos políticos e governos discrepantes da realidade, porém usuários de populismo, etc, esgotou-se. Dentro dessa circunstância, acredita que as artes e a literatura possam de alguma forma participar exercendo o seu papel orientador entre os povos?
Os Partidos Políticos estão falidos hoje! Creio, firmemente, que as artes e a literatura revolucionarão o mundo ainda! 

11. Caetano cantou que “A Vida é Amiga da Arte”... e Nilton cantou “Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Podemos dizer que nem sempre a vida é amiga do artista, ou que o povo também tem de ir aonde o artista está?
O artista de periferia luta pela vida e pela arte. É uma luta que parece sem fim, mas ele não desiste jamais. Onde há um artista de periferia, com certeza, o povo estará presente! 

12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Em primeiro lugar, quero agradecer pela honra de participar da Palavra Fiandeira e da minha grande admiração pelo seu trabalho, amigo Marciano Vasques.
A palavra de ordem é: Viver é maravilhoso! Principalmente quando deixamos um pouco de nós em todos os lugares e no coração das pessoas! Nossa vida não teria sentido se passássemos por ela sem deixar nossa marca!  Neruda, um dos meus prediletos disse: “ a multidão tem sido para mim a lição de minha vida. Posso chegar a ela com a inerente timidez do poeta, com o temor do tímido, mas ___uma vez em seu seio ___sinto-me transfigurado. Sou parte da maioria essencial, sou mais uma folha da grande árvore humana”!   





PALAVRA FIANDEIRA
PUBLICAÇÃO DIGITAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
ANO 4 —EDIÇÃO 120 — CIDA SANTOS
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques




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