PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA LITERÁRIA
REVISTA DIGITAL DE LITERATURA
ANO 2- Nº 49 -25/DEZEMBRO/2010
EDIÇÃO
NATAL
Igreja da Penha - Foto: Danilo Vasques
Montserrat quando criança
GUAÍRA - Maria José Amaral
PIETÁ - Obra de Marília Chartune
Cartão de Regina Sormani e Marchi
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Marília Chartune Teixeira
O NATAL NO MUNDO DA ARTE
O Natal passou a ser celebrado no dia 25 de dezembro depois do ano de 313 DC, quando o imperador romano Constantino que após um sonho em que lhe apareceu uma cruz com os dizeres “com este sinal vencerás”. Venceu a batalha de maxêncio colocando o sinal de uma cruz nos escudos, e assim deixou de combater e matar cristãos. Os cristãos daquela época passaram a conviver com o poder do Império Romano que tinha muitos deuses, e um deles era o Deus Sol, que era celebrado no dia 25 de dezembro no solstício. Era uma festa pagã muito arraigada no povo e nos costumes do império Romano. As autoridades da igreja daquele tempo propuseram ao imperador Constantino e depois ao Imperador Teodósio a colocar neste dia a celebração do nascimento de Cristo que é a luz do mundo(is 9, 1 -10) o que foi aceito, e aos poucos foi esquecido o Deus sol e entrou no seu lugar Jesus que através dos séculos chegou até nós, houve assim a cristianização de uma festa pagã.
Grandes mestres da pintura idealizaram a cena da “Natividade” em obras emblemáticas que são copiadas e reproduzidas em cartões e papéis de presente. O espanhol Murilo, os italianos Giorgione, Piero De La Francesca, Michelangelo, Leonardo da Vinci e Raphael Sanzio, entre tantos outros, representaram as cenas da Anunciação, Adoração dos Pastores e os Reis magos, assim como a Maternidade estampada no semblante sereno de Maria, mãe de Jesus.
Desde os anos 330 DC, na arte Bizantina, a Natividade é tema de pintores assim como no pré Renascimento com retábulos e afrescos. O Renascimento e Barroco foram os períodos férteis da religiosidade na arte com a humanização, perspectiva e volume até que a Arte Moderna e Contemporânea quebraram o vínculo com a Igreja e a forma pré concebida com muita criatividade.
O Catolicismo cultua o Nascimento de Jesus segundo as Escrituras e o Mundo Ocidental criou o calendário baseado no “Anno Domini” respeitado pela Organização das Nações Unidas e União Postal Universal. Mas o que realmente importa é que esse tema, tanto para escritores, músicos ou artistas é infinito com muitas formas e versões a explorar e a festa é comemorada por cristãos e não-cristãos em todo o ocidente.
Essas informações são insignificantes diante da grandeza dessa maior data cristã em que se comemora o Nascimento de Jesus.Hoje, porém estamos constatando uma paganização do Natal e parece-nos que a maior preocupação é com o que se vai comer e beber e o consumismo. Um tal de Papai Noel inventado em uma propaganda da coca-cola nos anos 30 está tomando o lugar do aniversariante Jesus. Símbolos Natalinos muito utilizados em decorações para a festa são muitas vezes sem identificação com a fé e em algumas composições surgem doces, renas, duendes e até mesmo o Papai Noel, cuja verdadeira identidade se atribui a Santo Nicolau. A fantasia que se criou está intimamente ligada ao consumo e festividades na intenção de reunir amigos e familiares para troca de presentes, cartões com mensagens de Boas Festas, às vezes a despeito da religiosidade. Mas de alguma forma, o milagre natalino cria um certo efeito renovador e um clima de solidariedade, fé e esperança!
Marília Chartune Teixeira
Artista Plástica
Santa Maria - RS
Edson Gabriel Garcia
MEMÓRIAS DE UM PAPAI NOEL
Que fique bem claro: eu não sou jornalista. Gosto muito, é verdade, de escrever, mas daí a me considerar um jornalista vai uma distância imensa. Apesar disso, todas as vezes que o Fernando do jornal A VOZ DA COMARCA me chama para rabiscar algumas idéias e publicá-las, eu atendo imediatamente.
Não foi diferente dessa vez, quando ele me pediu que fizesse uma entrevista com o Zé do Bucho, o sujeito que mais vezes se vestiu de Papai Noel na cidade. O Zé preparava sua aposentadoria e este seria seu último natal noelino. Além da homenagem, a entrevista poderia registrar as memórias de muitos de nós.
Encantado com o convite, aceitei na hora. Acertamos a data de entrega do material, marquei o dia da entrevista com o Zé do Bucho, preparei o roteiro das perguntas... e lá fui eu conversar com ele.
Conversamos durante umas duas horas e o roteiro de perguntas que eu havia preparado serviu muito pouco. Eu até já sabia disso. Uma vez tinha lido num desses manuais de redação, que uma boa entrevista acontece mesmo sem roteiro. Se a conversa é boa, se o assunto é interessante, a própria entrevista dita o rumo e o roteiro. Gravei toda a conversa e anotei muita coisa. O relato a seguir é apenas uma parte muito pequena do que conversamos e anotei. É apenas o que cabe no jornal. O resto, guardei comigo, nas fitas, nas anotações, na lembrança. Mantive o relato em primeira pessoa, como se o próprio Papai Noel estivesse conversando com o leitor. Talvez assim pudesse passar um pouco mais de emoção.
“Eu não nasci Papai Noel. Eu me tornei Papai Noel, por acaso, e depois por vontade própria e prazer. A primeira vez que me chamaram para ser Papai Noel eu achei estranho, mas topei. Embora fosse novo, a barriga em volta da cintura já ia grande e a barba, que sempre usei para esconder uma cicatriz no rosto, ameaçava a presença de fios brancos. O convite veio do provedor da Santa Casa, o único hospital da região, recém inaugurado, parecendo um jeito novo de tornar menos penoso o dia de natal das crianças hospitalizadas. Um tanto desengonçado na roupa larga feita de cetim vermelho e com a barba de algodão branco, vivi minha primeira experiência como Papai Noel. Os olhos enfraquecidos das crianças adoentadas encheram-se de brilho e vivacidade com a minha presença. Elas deram pouca atenção aos brinquedos recebidos. Não porque fossem coisinhas mixurucas, que eram mesmo, mas talvez porque o presente que quisessem ganhar, verdadeiramente, era a sua saúde de volta. E me pediam isso com os olhos, com a mão estendida, com o sorriso. Naquele dia aprendi, para sempre, que o maior presente de natal que uma pessoa pode receber é a sua saúde.
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Também me lembro de uma vez, uns dois ou três anos depois, de uma véspera de natal, eu vestido com a mesma roupagem, na Casa da Criança. Moravam nessa creche umas dez ou doze crianças sem família, acolhidas pelo Padre Miguel, o religioso mais dinâmico e empreendedor que passou por nós. Uma semana antes do natal eu passei por lá, devidamente paramentado de Papai Noel, e recebi das mãos das crianças uma cartinha com o seu pedido. O presente mais pedido foi “uma família”. Eu li carta por carta, mesmo sabendo que não poderia atender o seu pedido. Quando voltei, acho que sofri mais do que as crianças. Sabia do seu segredo, do seu pedido e sabia que não podia atendê-las. Inventava uma alegria para distribuir os presentes doados e tentava dar a minha cota para a felicidade delas. Hoje, muitas dessas crianças são adultos e tentam construir uma família que nunca tiveram. Quando nos encontramos, trocamos um sorriso ligeiro, cúmplices desses segredos dos tempos da infância triste.
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Eu me acostumei tanto à personagem do bom velhinho que passei a aceitar qualquer convite, qualquer proposta e oferta. Não podia mais viver sem a fantasia do Papai Noel. Queria porque queria viver a alegria da felicidade passageira do natal com crianças. Durante um bom tempo da minha vida, tive a sensação de que o único tempo que importava era os dias de dezembro, quando eu saía da personagem Zé do Bucho e vivia a verdade do Papai Noel. Os outros trezentos e tantos dias do ano eram apenas figurantes, preparação para viver o Papai Noel. Eu contava dia por dia a espera do natal, o reinado breve de Papai Noel e a alegria das crianças.
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Aos poucos, no entanto, esse Papai Noel senhor dos olhares carinhosos, dono da alegria pura e conhecedor de todos os segredos e desejos íntimos das crianças foi desaparecendo. Foi sendo substituído por um Papai Noel profissional, de sorriso falso, de paciência curta. Gente que entrava na roupa vermelha sem brilho por poucas horas, em troca de pagamento minguado. Pior ainda: seu comportamento era movido pelo interesse de quem o contratava, do dono da loja, do patrão, do político. E em vez de lidar com a alegria das crianças, sua tarefa principal passou a ser outra, chamar a atenção dos pais, potenciais consumidores das mercadorias anunciadas. Aceitei alguns desses trabalhos. Tentava sobreviver, buscava resgatar o prazer de viver o Papai Noel e encontrar, mesmo que disfarçado de vendedor, crianças alegres, olhares curiosos, emoções soltas. Precisava trocar essa energia com as crianças, pois pensava que só nós sabíamos da importância do Papai Noel em sua vida.
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Os tempos mudaram muito. Uns dizem que para melhor; outros dizem que tudo piorou. O Papai Noel invadiu a televisão e o computador, trocou o silêncio da noite pelo barulho da porta da loja. As cartas das crianças foram substituídas por recados mais práticos e diretos. O sonho com o presente desejado foi trocado pelo brinquedo antecipado e anunciado na tevê.
Não há mais espaço para um velho e autêntico Papai Noel como eu.”
Entreguei a matéria para o Fernando. Foi publicada como eu escrevi. Logo chegou o tempo do natal e fiquei sabendo que o Zé do Bucho vestiu-se de Papai Noel, por conta própria, pela última vez. Gastou toda sua economia da caderneta de poupança comprando presentes para crianças. Visitou as duas creches e o bairro mais pobre da cidade distribuindo os presentes. Gastou toda sua poupança, mas deve ter acumulado energia para tocar adiante sua vida, pensei comigo.
Edson Gabriel Garcia
Escritor
Carmen Ezequiel
SOMBRAS COMUNS E O NĀTĀLIS
…uma reflexão
…uma entrevista
…um pedido
Por Carmen Ezequiel, em exclusivo para o PALAVRA FIANDEIRA
Ainda se lembra da razão do Natal?
Aquele Natal que foi completamente consumido pelo consumismo louco do presentear objetos físicos em prol do verdadeiro espírito natalício?
Em Sombras Comuns, nesta edição especial, evidencia-se o sentido do dar e a razão pela qual as famílias se unem nesta data; encontra-se o Natal e o entrevistaremos; e, no final, faz-se um pedido ao Menino.
…uma reflexão
Muitos são os símbolos (o presépio, a árvore, o pai natal, os presentes no sapatinho, as luzes, a missa do galo, a ceia e o bacalhau, …), que fazem do Natal aquilo que é, e a simbologia; quer seja vista por uns como fazendo parte desse espírito, quer seja desacreditada por outros; existe, entendendo-a, cada um, à sua maneira.
O NATAL? A própria palavra é carregada de significado (como todas as outras), designa nascimento, sendo isso que se celebra: o nascimento do menino (Jesus ou não, porque quem não acredita em Jesus Cristo ou é agnóstico (não religioso ou não católico), certamente não celebrará esta data. Mas, é certo que quem celebra acredita? Ou, não? Nesta nota, evito recorrer à crença o que inevitavelmente lhe está subjacente e que é motivo pelo qual se enaltece o mesmo.)
Ainda assim, tenta-se fazer uma abordagem meramente conscienciosa em que SER é motivo bastante para a data em si.
Evidenciando o nascimento de uma qualquer criança, o que é natural e comum em quase todo o lugar, é a celebração desse dia. Os pais, as famílias e os amigos comemoram, ficam felizes e são ofertados presentes pela nova vida. Desse ajuntamento vive-se na alegria, no entusiasmo, em união e na paz. Esta é uma analogia eficaz, mesmo se o dia celebrado seja ou não esse, mesmo se os ícones sejam cultos excessivamente valorizados, mesmo que somente nessa data se lembre que o dar ou doar é um milagre do amor entre os homens.
Toda a pessoa tem, dentro de si, a capacidade de amar e de dar, quer seja com um carinho, um abraço, um gesto ou um sorriso, um agasalho ou um alimento. Cada um deles pode fazer a diferença, mesmo que ínfima, em alguém… alimentando o corpo, aquecendo a mente e dando alegria. É isto que representa o Natal.
Ainda se lembra do conto de Charles Dickens, “A Christmas Carol” (O fantasma do Natal passado)? Se no século XIX a sociedade de consumo já era criticada, parece-me que continua a existir esta ganância do ter com uma intensidade e fervor cada vez maiores.
Será que neste Natal nos recordaremos deste conto? Será que agradeceremos pelo que temos e mais importante, pelo que somos?
…uma entrevista
O Natal… perguntas e respostas.
Carmen Ezequiel (PALAVRA FIANDEIRA) – Qual é o sentido de se celebrar o Natal?
Natal – Quando era criança o Natal representava muito para mim. Era o momento em que a família se reunia para celebrar o nascimento do Menino Jesus.
Nos tempos que correm… cada vez mais se constata que essa razão deixou de ser importante na nossa sociedade e a festa da família perdeu o sentido festivo que tinha, dando lugar a inúmeras preocupações e acções pouco ou nada festivas: o consumismo desenfreado, a preocupação e o sentimento de obrigação em comprar presentes porque “parece mal” não dar…
Faz todo o sentido em celebrar o Natal se o adequássemos aos tempos e às necessidades de hoje, sentindo a vontade de ajudar quem precisa, de modo a que todos os indivíduos possam ter um Natal digno: comida, roupa, carinho… é tão importante que todos contribuam….
(há sempre uma estrela que brilha mais forte e que te ilumina o caminho
… é necessário acreditar sempre)
CE – Porque se oferecem presentes?
N – Na sociedade actual, os presentes representam algo de palpável e são o reflexo da mesma. Algo representativo seria uma mão cheia de beijinhos e abraços, o primeiro passo para um mundo melhor.
(um beijinho e um abraço para ti também)
CE – O que é cantar ao Menino? E, que Menino é esse?
N – Referimo-nos ao Menino Jesus e “Cantar ao Menino” é dar graças do seu nascimento, trazendo desse modo muita alegria a todos os crentes.
(Curiosidade do Natal de Elvas (Alto Alentejo) Ainda hoje em noites de Natal, é frequente escutar no silêncio das ruas, o som das roncas, como memória dos tempos, ressoando cavas e roucas, a acompanhar o compasso lento, dos cantares dos homens, que embuçados nos seus capotes, arrostam o frio da invernia para reverenciar o Menino Deus. Solenes, vão cuspindo na mão, para lubrificar a pele, como também fazem para empunhar a enxada e cantam coisas belas e ingénuas que o coração lhes dita.)
CE – Quem é o Pai Natal? E, porque não há uma Mãe Natal?
N – Sem rodeios nem teorias, respondo a esta pergunta da forma mais sincera possível. A meu ver, o pai natal é retratado como um senhor com ar envelhecido, com grandes barbas brancas e que usa umas vestimentas vermelhas e brancas e um barrete das mesmas cores. Pelos visto, este senhor é tão imortal ou intemporal como Deus. Nasceu para passar um ano inteiro a trabalhar, para no dia 25 de Dezembro de todos os anos entregar prendas a todas as pessoas do mundo especialmente às criancinhas. Partilha ainda com Deus o poder da omnipresença, pois agora consegue estar em todos os centros comerciais do nosso país (e do mundo inteiro), a tirar fotos com as criancinhas e, como estamos em tempos de crise ainda se faz pagar bem por isso! Não querendo ser demasiado reducionista nesta resposta, a minha forma de ver a imagem do pai natal é meramente consumista e comercial. O fato de não existir mãe natal, não sei se existe ou não, mas duvido que um senhor com esta idade e com tanto trabalho, consiga organizar a sua vida sem uma mulher, eu penso que ela existe, encontra-se é nos bastidores a fazer com que o pai natal consiga continuar a existir.
(é esta a ironia do Natal: personificar a sua magia e dar-lhe um nome)
CE – Um símbolo natalício para cada uma das palavras seguintes.
Nascimento = alegria
Amor = nascimento
União = paz
Paz = bondade
Alegria = amor
Bondade = amor
Porque tudo está em si mesmo, e só depois, o menino Jesus, a sagrada família, a vaca, a ovelha, a pinha, os reis magos, as oferendas, a mirra, a estrela, a empada, as fatias douradas, o peru, a árvore, etc.
CE – Que mensagem deveria ser sinónimo de Natal?
N – “Há mais felicidade em dar do que há em receber” (Actos dos Apóstolos, 20:35)
Cliché ou não, esta é a mais significativa mensagem de Natal, dar sem esperar receber em troca. Todos nós já experimentamos a sensação, mas se fosse assim tão fácil, o mundo seria muito diferente.
(é fácil dar, o difícil é não receber)
No fundo o que permanece é a família, o amor, o carinho e a amizade… o bem que provocamos no outro.
Porque o que é sorrir sem que ninguém olhe; o que é rir sem que ninguém oiça; o que é olhar sem nada para ver; o que é sentir sem vida para abraçar?
O que importa é sermos o outro com os nossos olhos e dizermos o que se sente no momento.
É aqui que agradeço aos meus colegas e amigos, pela reflexão e partilha sobre o tema, quer tenha sido fácil ou difícil para uns, estranho ou irónico para outros, mas que pela importância que cada um deles representa para mim relevo. À Isabel, ao Rúben, à Mónica; ao Luís, à Sónia e ao Duarte e a todos os outros que nos acompanham.
Um FELIZ NATAL com carinho.
…um pedido
Pedido… a um Natal verdadeiro…
Este ano pelo Natal não quero receber nenhuma prenda especial. Não quero ser dona de um materialismo ao acaso e forçado, para se trocar pela consoada.
Não quero ser mais uma a reencaminhar postais e ou imagens de Natal, acumuladas nas caixas de correio, frias e perdidas num mundo virtual.
Quero antes tolerância!
Para poder chegar ao fim de cada dia e agradecer vivamente a minha vida!
Para ter a capacidade de saber perdoar aqueles que, diariamente, me julgam pela diferença.
Para não mais ser dona de um pessimismo louco, tresloucado e contagiante que irradia das pessoas que tudo têm.
Para poder desfrutar dos outros e do amor deles, enquanto coexistirmos e não depois…
Para poder ser melhor e dormir feliz.
Aqui, fala-se de tudo e de nada.
De tudo o que somos.
De nada que ninguém é.
Bem-haja e um SANTO e FELIZ NATAL!
Carmen Ezequiel
Escritora - PORTUGAL
Angela Leite de Souza
Angela Leite em autógrafos de livro de sua autoria
PRESENTE DE NATAL
Era dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Perto de cinco horas da tarde. Papai lia uma revista, sentado na poltrona de sempre. Mamãe, no cabeleireiro, com minhas irmãs. Da cozinha chegava o perfume delicioso de peru assando e eu, sem nada para fazer, comecei a saborear aquela ceia em pensamento. Ficava sempre assim, ansioso para que a noite viesse depressa, com as gostosuras e as surpresas de todos os anos.
A campainha tocou. Fui atender.
- Pai, tem uma mulher aí na porta, com um barrigão de todo tamanho. Está pedindo um auxílio, diz que qualquer coisa serve. Vamos dar ou não?
Papai fez uma cara de aborrecimento, tirou os óculos devagar, levantou-se com mais preguiça ainda. Mas falou:
- Acho que devemos, né, Henrique? Afinal, hoje é um dia próprio pra essas coisas...
Foi até a sala, já com a carteira na mão. Eu ia rente a ele.
Acho que quando viu a moça - tão magrinha, no final da gravidez, mal vestida, olhar triste - tudo isso mexeu com o coração dele. O meu também tinha ficado pequenininho ao pensar na situação dela comparada com a nossa.
A dona falou sem jeito:
- O doutor me desculpa, eu num queria aperrear o senhor não. É que eu tô com tanta fome...e assim desse jeito (apontou para a grande saliência no vestido) a gente num arruma serviço.
Papai olhou pra mim, como se não soubesse o quê fazer. Henrique, disse ele afinal, vê o quê que temos de comida pra dar a ela.
Nós dois sabíamos que havia o suficiente para alimentar umas trinta pessoas ã vontade. O cheiro que vinha lá de dentro confirmava isso. Entra, falei, vamos preparar um prato pra você.
Maria comeu por dois, ou até mais. Quando estava acabando, chegaram minhas irmãs e mamãe, tiveram pena dela, arranjaram uma roupa larga, tomou banho, ficou com outra cara. Dorme aqui hoje, disseram. Ela ficou. E também ganhou um presente que inventaram na última hora - um vidro de perfume, ou um talco, não me lembro direito.
Deitamos tarde e só fui acordar ao meio-dia. Estranhei o som que vinha do fundo da casa. Corri até lá e dei com mamãe e Fernanda curvadas sobre a cama, no quarto de despejo, que já foi de empregada. Maria estava lá, com um menino deitado ao seu lado, começando a mamar.
Então era o choro dele que tinha escutado!
Hoje faz um ano que Jesus Henrique nasceu. Maria continua morando com a gente. Ela ajuda mamãe em tudo e nós costumamos dizer que foi um presente que caiu do céu no último Natal. Mas ela acha que não, que foi o contrário:
- Se ocês num fosse tão bons, onde é que estaria agora com o meu menino?
Angela Leite de Souza
Escritora
Montserrat
Montserrat quando menina
UNA NIÑA DETRÁS DE UNA VENTANITA
Tranquilita respiro y aspiro y voy paseando por mi pensamiento retrocediendo en el tiempo, hasta que llego a una calle del Barrio de Gracia, situada en Barcelona.
Detrás de una ventanita de cristal trasparente está una niña de unos siete años.
Yo la saludo, ¿Como te llamas?
ella- Montserrat
yo- Te llamas como yo, que casualidad.
ella- ¿Quieres entrar en mi casa?
yo- l Claro que si!.
A medida que voy entrando a través de la planta baja, voy reconociendo todos los muebles y todas las estancias de la casa que vivi hasta los 21 años, cuando me casé.
Luego va buscar a una señora, a un señor y a un niño de unos 14 años.
ella -Amiga te presento a mis padres y a mi hermano-
yo- ¡Carmaba, pero si también son los míos!.Déjame que los abrace.
ella- Ahora te voy a enseñar el Pesebre que con cuanto amor a construido papá
yo- ¡Oh que bonito!
ella -Sabes he visto como lo construia en el taller, moldeando las montañas con sacos y yeso y luego las ha pintado.
yo-Y no le falta detalle,¡ que manos que tiene.!
ella -Mira, mira, si hasta se puede pasa del día a la noche con este interruptor.
yo-¡Oh y tiene luna y estrellas!
ella-Y los pastorcitos alrededor de una olla y el angel anuncándoles la buenanueva; los tres reyes magos, la mujer que lava en el rio.
yo-¿Pero sabes lo que más me gusta amiguita?.
ella- No.
yo-Pues lo que más me gusta es el Nacimiento.La cueva. San José y la Virgen, al lado del Niño mirándolo con amor. y detrás el buey y la mula dándoles calor.
yo (mirando al padre)- Gracias papá por estas ilusiones y amor con que construias el Pesebre.
ella (abrazándome y dandome un beso)-Gracias por venir en mi busca, ya ves¡que manos tenía papá!.
Poco a poco vuelvo al presente, sentada en mi ordenador he ido escribiendo este encuentro con mi niña interior.
Montserrat - ESPANHA
Cronista
Danilo Vasques
O TESOURO DE PROBO
(um conto de Natal por Danilo Vasques)
O pequeno Probo não continha os dentes, ria alto e corria pela sala. Aos seis anos de idade, recém-completados, ele ganhara a sua primeira caixa de bombons. Era véspera de Natal e o menino sentia-se recompensado por ter vencido a batalha escolar: havia conseguido boas notas e conquistado com mérito o seu primeiro ano. Rasgou com delicadeza o plástico protetor e demorou-se a pinçar um embrulho de chocolate. Por fim, escolheu o menor, dourado. Abriu-o com cuidado e viu o doce coberto por um creme branco riscado por tiras pretas. Em sua boca desmanchavam-se as palavras encanto e alegria.
Juvento, seu único irmão, quatorze anos, observava a cena escondido à sombra do sofá defronte. Quando Probo fechou a mordida, o veloz e mais alto correu até ele e num assalto encaixou a caixa sob o arco de seu braço direito. Probo ficou furioso, gritou e correu atrás do adolescente que se desvincilhava com longas passadas e saltos. O pequeno não aguentou e derramou-se em um choro longo e estridente. Temendo a fúria dos pais, Juvento sumiu porta afora e os chocolates encontraram o chão da sala.
Probo crispou as sobrancelhas por seu rastro e curvou-se sobre os doces espalhados. Ouviu as vozes dos pais que conversavam na cozinha e teve fé que não viriam ao seu encontro, sentiu-se só e passou a recolher os bombons. Num rompante, inquietou-se a pensar que seu irmão provavelmente voltaria a lhe tomar o presente. O menino precisava driblá-lo.
Zanzava pela sala irresoluto até que um brilho se fez aos seus olhos: o quarto de sua mãe era o esconderijo perfeito, certamente o tesouro estaria seguro ali. Já no aposento dos pais, acocorou-se atrás da cama para descansar e espiar a guarita improvisada. Comeu com vagar um chocolate em forma de coelho e experimentou algumas bolinhas coloridas enquanto imaginava um local para guardar seus pertences.
Eis que a ideia surgiu clara e precisa: esconderia os bombons dentro do grande bolso de bordas brancas da roupa vermelha de Papai Noel deitada sobre a cama. Como a caixa não caberia inteira, seria necessário abandoná-la. Armazenou os chocolates dentro da roupa mágica e, sacrifício ímpar, rasgou a caixa de papelão antes de encestá-la no lixo da cozinha à tentativa de evitar qualquer chamariz.
O menino foi para seu quarto e ficou pensando na roupa que tanto figurava em sua imaginação. Probo tinha quatro anos quando a viu pela primeira vez sobre a mesma cama. Na ocasião, também véspera natalina, ficou assustado e ansioso por encontrar o seu dono até que seus pais logo o acalmaram ao contarem que ele não estava lá.
Explicaram eles, em contraponto ao irmão que insistiu em alardear que essa história de Papai Noel era tolice, que a viagem que seu ídolo empregava aos finais de ano era longa, tormentosa e causava enorme desgaste. Contaram que quando o velho barbudo chegava ao Brasil costumava ficar tonto com o carlozão dos trópicos, pois vivia sob o frio de um Polo Norte distante e nevado. Comumente, o suor escorria por sua testa e embaçava seus óculos, seu traje sujava de carvão dos desembarques e, exausto, precisava de um canto para se revigorar. Probo entendeu que a roupa só estava ali por conta de um favor que seus pais faziam durante todos os Natais: guardavam a danada para quando Noel chegasse cansado. Ele, que era amigo da família, teria assim a chance de tomar um banho gelado — para diminuir o calor — e vestir seu uniforme limpo e passado.
Probo nunca avistara o viajante de chaminés chegar com suas roupas comuns, tampouco já ouvira o barulho do chuveiro de seu banho, somente o encontrava já no correr da noite de Natal, quando ele aparecia subitamente sustentando um montante de presentes que gentilmente depositava aos pés da árvore de luzinhas. Cada embrulho trazia um nome.
O garoto julgava que sua passagem era demasiada breve, que ele poderia eventualmente ficar para ceiar ou ouvir as canções da televisão. A cena era conhecida: após depositar os pacotes em silêncio e cumprimentar a todos com sorrisos, Noel seguia rapidamente para a porta, pronunciava um garboso "Feliz Natal!" e desaparecia ao cruzar a porta evitando qualquer interpelação.
A noite engrossou e o sono tomou os olhinhos de Probo que adormeceu em seu quarto. O menino estava sentado sobre uma bola de futebol observando ao longe grandes baleias saltando feito golfinhos em arcos de quinze metros. Quando elas reencontravam as águas, explosões de fagulhas coloridas tingiam o horizonte. Entre os lampejos, um homenzarrão grisalho destacou-se voando de braços abertos e estendendo as mangas de seu traje escarlate ao desenho de um gigante pássaro.
A ave rubra que cortava as nuvens em picos e mergulhos se aproximou de Probo e o deixou à sombra do abraço de suas asas. O menino quis gritar mas sentiu mãos humanas segurarem seus pulsos e conduzirem seu corpo para cima. Ambos flutuavam.
Quando nas alturas, os dois passaram a flanar ladeados com mãos dadas sobre o chão de nuvens. O pequeno reconheceu o velho que lhe acompanhava e sorriu para ele. Em seguida, curvou o pescoço para baixo e notou que as nuvens começavam a se dissipar sob seus pés. Não teve tempo de qualquer reação, passou a cair velozmente e o apavoro tomou-lhe a garganta. Acordou e viu a mãe que entrava pela porta do quarto. Abraçaram-se e o filho sentiu-se calmo com suas palavras: "Papai Noel se atrasou mas já vai chegar"
Mão dada à mãe, Probo foi conduzido até a sala. Reviu Juvento sentado próximo à árvore e surpreendeu-se com o sorriso que o irmão lhe ofertou. Seu pai não estava, a mãe comentou que ele havia saído para cumprimentar os vizinhos. Em segundos, uma figura conhecida invadiu a sala carregando alguns poucos pacotes de laços.
Três minutos postos, presentes sob a árvore, sorrisos trocados e Papai Noel estava a cruzar a porta. Antes de sair, voltou os olhos — os quais Probo julgou fundos e cansados — para o coletivo e emendou o esperado e caloroso "Feliz Natal!". Ao puxar a porta às costas, o visitante expôs um fragmento de verdade que o menino não deixara de notar: Probo reconheceu o relógio de pulso do seu pai.
O calor da sala e as vozes dos familiares não detiveram seu pensamento. Alguma coisa lhe faltava. Ademais, Probo recordou os chocolates escondidos no bolso da fantasia. Precipitou-se até a porta, ignorou os apelos da mãe para que ficasse e encontrou uma rua sem vultos. Contudo, o instinto fisgou seus olhos e o fez voltar-se para a esquerda. Reconheceu seu pai mal refugiado atrás de um arbusto, sem gorro, rosto liso e trajado de espanto.
O menino, tomado por um contragolpe interno, correu e reencontrou a casa. Na sala, investiu dois socos no braço direito de Juvento. A mãe ensaiou separá-los quando o adolescente derrubou com facilidade Probo que ficou preso sob seu corpo e não conseguiu desviar do ataque de cócegas. Riram juntos até ficarem ombreados entre gargalhadas.
Segundos depois, Probo levantou-se, escapou das novas investidas do irmão e correu até seu pai que permanecia parado sob o batente da porta. Abraçaram-se longamente. O pequeno deixou de sorrir e pôs-se em silêncio, enquanto Juvento e sua mãe os observavam. Eles sabiam que alguma coisa em Probo havia partido e que uma nova jornada se iniciava.
DANILO VASQUES
Jornalista
MEDITAÇÃO NATALINA
Chegou o Natal, com o brilho de suas luzes, o colorido dos enfeites nas arvoriznhas, as toalhas rendadas sobre a mesa para os ágapes comemorativos.
Com o Natal, vem a euforia de novas roupas, o preparo das iguarias, a corrida à lojas para as compras dos presentes. Cartões, e-mails, telefonemas, beijos, abraços... A expectativa do ano que se aproxima, quiça com boas surpresas e esperanças...
O décimo-terceiro vibrando na mão, os anúncios com mil novidades aos nossos olhos, muitos desejos satisfeitos... e alguma tristeza, também, dos que não poderão ter o prêmio do regalo esperado, dos que não conseguirão festejar o Natal a seu gosto. Natal é Natal, porém, e haverá sempre um copo de vinho, uma guloseima, um bolo, um assado cheiroso...
Tivemos um ano agitado, com mudanças na política, disputas pelo poder, greves...guerras... Parece que, com tantos acontecimentos, os dias correram mais depressa. Ou seríamos nós que passamos mais depressa pelo ano? Cheios de ocupações, compromissos, prazos, e de olhos atentos no extrato bancário? Preocupados com as compras, os pagamentos, sobrecarregados com o "ter" e, talvez, pouco pensando no "ser"?
O fim do ano nos leva à meditação. Muitos fazem um "balanço" do que se passou - para ver se mais ganharam em dinheiro , em prestígio, em fama. Ou se devem porfiar mais , correr mais no ano que se aproxima para lá chegar...
Convém, na época natalina, rever sentimentos, atitudes; apagar rancores, sermos mais benevolentes com o próximo. Mesmo com relação àquele que nos ofendeu, nos magoou. E pedir então a Deus para que se torne uma pessoa melhor, que tenha uma noção mais clara de sua missão aqui na Terra. Sim, porque não viemos a este planeta para nada...
O homem é o único ser da natureza que tem o dom do raciocínio, da palavra. Pois usemos o verbo para amenizar situações, levar palavras afetuosas aos nossos familiares, aos nossos amigos, e até àqueles que não conhecemos. É plantando aqui e acolá que fazemos vicejar as flores...
Seja, pois, este Natal um período também de recolhimento, de prece a Deus para que se compadeça da humanidade em sua infinita misericórdia . O arquiteto do universo tem todos os motivos para estar descontente com Seus filhos. Basta ver o que fizemos dos Seus rios, Seus mares, Suas florestas; dos animais que Ele criou, do ar que respiramos . O homem nega a Deus todas as horas, destruindo Sua obra, pela ganância, pela incompetência, pelo ódio. O homem se tornou muito egoísta.
Mas nunca é tarde para voltarmos atrás, somar bons pensamentos, principalmente pela paz; fazer uma egrégora que abranja o mundo inteiro. A paz é a base do progresso. Sem paz não se vive, não se vai para a frente, não se constrói.
Estamos todos muito abalados, principalmente com as últimas ocorrências. É preciso que haja mais amor no coração das criaturas. Só através do amor conquistamos a Paz. Sem esquecer que a Paz deve começar dentro de nós, no pensamento limpo de rancor. A paz deve ter início em nossa própria casa, junto aos entes mais próximos. Deve alcançar os que nos cercam, os que trabalham conosco, os que, de alguma forma, dependem de nós. E nós também dependemos de todos!
Às vezes é preciso parar um pouco para pensar. Não só nas coisas práticas da vida. Mesmo porque essas coisas ficam, e o que levaremos no instante da partida será apenas o que tivermos feito nesse curto período sobre a Terra. Correr menos, e nos prepararmos mais. O tempo não espera. Quando nascemos já começamos a partir. Por isso, é bom vivermos com paz na consciência, porque nunca sabemos o dia de amanhã.
O Natal chegou. É uma época em que estamos sempre muito preocupados em receber. Mas há também um outro grande prazer, que é o de DAR. Principalmente o de dar de si, de que muitos não se lembram.
A propósito, há uma crônica de AMADO NERVO — Juan Crisóstomo Ruiz de Nervo, o "Bardo do México" (nascido em 27.8.1870 e falecido em 24.5.1919), muito oportuna para esta época natalina. E que se intitula, justamente, "DAR". Ei-la, na tradução do nosso genial GUILHERME DE ALMEIDA:
"Todo homem que te procura, vem pedir-te alguma coisa: o rico enfadado, a amenidade da tua conversa; o pobre, o teu dinheiro; o triste, um consolo; o fraco, um estímulo; o que luta, um auxilio moral.
Todo homem, que te procura, certamente, vem pedir-te alguma coisa.
E tu ousas impacientar-te. E tu ousas pensar! Que melancolia! Infeliz!
A lei oculta, que misteriosamente reparte as excelências, houve por bem, outorgar-te o privilégio dos privilégios, o bem dos bens, a prerrogativas das prerrogativas: dar.
Tu podes dar!
Em todas as horas que o dia tem, tu dás, ainda que seja um sorriso, ainda que seja um aperto de mão, ainda que seja uma palavra de ânimo.
Em todas as horas que o dia tem, tu te pareces com Ele, que não é senão perpétua doação, dádiva perpétua.
Deverias cair de joelhos ante o Pai e dizer-lhe:
Graças te dou porque posso dar, ó meu Pai! Nunca mais passará pelo meu semblante a sombra de uma impaciência!
Em verdade, em verdade te digo que mais vale dar que receber!
MARIA THEREZA CAVALHEIRO
MARIA THEREZA CAVALHEIRO
Escritora
Jéssica Lima
Luzes
Manoel, menino do interior. Seus oito anos o desenhavam com uma estatura menor àquela que deveria ter. Canelas finas, Manoel adora mascar chiclete. Seu pai é sapateiro, e sua mãe lava e passa roupas para fora.
A época que o menino mais gosta acabara de chegar: O Natal. Todo ano, Manoel escrevia, com ajuda de sua mãe, uma carta ao Papai Noel. Manoel é menino esforçado, gosta de ir à escola.
*
O ano decorreu com dificuldades para família de Manoel. O dinheiro suado garantia a comida e as contas. Com muito esforço, fizeram uma festinha de aniversário para celebrar o oitavo ano do filho único, em março.
*
Dezembro nascia com as luzes da cidadela a piscar. O garoto ficava encantado com a beleza do Natal. Sem dúvidas, era a época que mais gostava.
Como era de costume, após terminar a carta com o pedido natalino, a mãe a levaria aos correios. O Pólo Norte encontrava-se perto dali. O menino Manoel queria pedalar uma bicicleta.
A ceia na casa de Manoel costumava reunir toda a família - tios, primos, avós... Jantavam após a missa do galo, celebrada na igreja da pracinha. Família religiosa a de Manoel.
“Talvez o Papai Noel não traga sua bicicleta, querido”, disse a mãe em meio aos protestos do filho de que foi um bom menino e não haveria motivos para isso acontecer.
A verdade é que os pais de Manoel não podiam comprar a bicicleta naquele momento. “Final de ano é sempre mais apertado”, lamentava o pai que já havia comprado um carrinho de brinquedo. A mãe explicou que nem sempre o Papai Noel pode presentear com aquilo que as crianças pedem. Com os olhos cheios d’água, o menino disse que seus amigos já haviam recebido aquilo que pediram. E que o Papai Noel deu mais de um presente a cada um deles.
Era sabido que os amigos do menino Manoel não passavam as dificuldades do garoto. Manoel era de família simples do interior do Nordeste. Manoel era amigo do filho do prefeito e do filho do dono do hotel. Manoel não podia ter os mesmos brinquedos que eles, não podia tomar sorvete todos os dias, nem comprar uma roupa nova a cada aniversário da cidade.
*
Na noite da véspera, Manoel não foi à missa. Seus pais estavam preocupados. Manoel não podia estar com seus amigos. O filho do prefeito foi passar as festas com a mãe na capital, e o filho do hoteleiro ajudava os pais com a festa do hotel.
“Ele deve estar chateado por causa da bicicleta”, deduziu o pai. “Deixe-o sozinho. Logo ele aparece”.
Manoel andava sem rumo pelas ruas, pensando que não ganharia a bicicleta do bom velhinho. “Mas eu fui um bom menino!”.
A mãe, no caminho de volta da missa, encontrou seu garoto sentado na guia duma calçada, perto de casa. Preferiu deixá-lo com seus pensamentos.
O relógio apontou 00h00. Todos se abraçavam na casa de Manoel. Cinco minutos depois, o menino adentrou a sala, observando em sua família a união e o companheirismo.
Abaixo do pinheiro iluminado estava o carrinho que o Papai Noel, assim compreendido por Manoel, deixara para ele. E o pai prometeu presenteá-lo com uma bicicleta em seu aniversário logo breve. O menino chorou e disse que não precisava se preocupar com isso. E que Papai Noel lembrou-se dele, e isso era o que mais importava.
Todos confraternizaram numa celebração de alegria e amor. Ali, naquele momento, o menino Manoel entendeu o verdadeiro significado do Natal.
Jéssica Lima
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Maria José Amaral
REFAZ-SE A VIDA, É NATAL
É natal novamente, parece que Cristo renasce, sempre em tudo, menos em nós mesmos. Por isso neste natal vamos nos portar como filhos de Deus, vamos renascer também, vamos ressurgir por debaixo de todo egoísmo, materialismo e vamos voltar a ser aquela criança feliz renascida na simplicidade, na gratidão e na certeza de que Deus nosso Pai, há de nos dar o presente que mais desejamos. Seja amor, felicidade, bens, saúde, mas não esqueçamos de pedir um coração novo, que nos ensine a perdoar todas as pessoas que nos foram tiranas, todas as palavras afiadas, que dissemos, ou ouvimos, todas as falhas, todas as dores e realmente renascer, outra vez... É natal, é tempo de recomeçar.
É natal, mais que alimentar o corpo guloso com fartas ceias, vamos nutrir nossa alma, vamos nutrir nosso intelecto, vamos nutrir nosso coração, nos fartar de alegria e virar as costas para todas as coisas ruins que nos aconteceram. Se fizermos um balanço veremos que Deus em nenhum momento nos abandonou, ele pode não ter nos dado tudo o que achávamos que precisávamos, mas com certeza ele nos deu o necessário...
Vamos caminhar pelas ruas, olhar para o céu, quantas pessoas passaram o ano inteiro sem olhar para o céu, sem ver uma estrela, sem observar o espetáculo maravilhoso do sol que toda tarde parece se deitar no leito de nosso grandioso rio, que pena, tantas pessoas não viram esse espetáculo. Algumas não tiveram tempo, outras não se deram tempo, outras só olharam para o próprio nariz ou para o próprio bolso e perderam um grandioso espetáculo, que nada lhes custaria, a não ser a alegria de ver Deus se manifestando na natureza...
Vamos remexer em nosso guarda-roupas e retirar dele os excessos, quantas pessoas precisam , exatamente do que esta nos sobrando...
Vamos nos lembrar de quem nos fez feliz, dar um grande abraço e ver nessa pessoa, o Cristo que renasceu e veio nos trazer uma mensagem de bondade...
Vamos olhar nos olhos de quem nos fez chorar e reconhecer nele uma lição valiosa, são nos piores momentos que aprendemos as melhores lições...
É natal tempo de renascer, de arrancar a velha máscara, de podar o velho coração e semear algo novo em prol de um mundo mais humano. É tempo do filho de Deus renascer, renasça, dê vida ao melhor que existe em ti mesmo e o mundo será melhor, muito melhor...
MARIA JOSÉ AMARAL
Poeta - Curitiba - PR
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PALAVRA FIANDEIRA EDIÇÃO DE NATAL
organização e edição: MARCIANO VASQUES
excelentes reflexiones y relatos en esta nueva edición de Palavra Fiandeira... felicito a los creadores, en especial a Marciano Vasques por difundir la palabra escrita en la revista,
ResponderExcluirbss, Ro
Hola Marciano:
ResponderExcluirObrigada por su atención al publicar mi relato.
Feliz 2011.
PAZ, SALUD, AMOR Y ARMONIA, le deseo de todo corazón.
Un abrazo para Ud. y su familia, Montserrat
Neste dia e, aqui, todos revivemos a nossa criança interior e a mostramos ao mundo.
ResponderExcluirFelicidades a todos e um ano que se avizinha maravilhosamente sereno.
Beijo com carinho
Carmen Ezequiel
Gostei muito da edição de Natal. Cada autor trouxe o mesmo tema de uma forma diferente, o que tornou a postagem muito rica.
ResponderExcluirParabéns e Feliz Ano Novo a todos.
Abraços.