PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL
ANO 3 — Nº71
23 JUNHO 2012
SUELI GONÇALVES
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AUTOR: Roberto Machado Alves
1.Quem
é Sueli Gonçalves?
Eu
me considero uma pessoa feliz, cercada de carinho da família e dos
amigos, apaixonada pela vida e realizada na profissão.
Sou
formada pela Faculdade de Ciências Humanas e Letras da Universidade
de São Paulo, com habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas
Brasileira e Portuguesa.
Ser
professora era o meu sonho desde menina. Reunia as minhas bonecas e
ficava ensinando para elas o que havia aprendido na escola durante o
dia. Com 10 anos alfabetizei uma amiguinha de 7! Apesar dessa minha
vocação para o magistério, demorou para eu ingressar na profissão,
pois, logo me casei e tive três filhas; então, trabalhava, na
época, por meio período, no Banco do Brasil; depois, ia correndo
para casa para cuidar das meninas.
Em
1996, finalmente, eu me vi assinando a posse como professora eventual
de uma escola da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Chorei de
emoção! Era o sorriso de Deus para mim, naquele momento único,
coroando uma espera de vinte anos!
Exerci
a regência de sala de aula durante 10 anos e, desde 2006, trabalho
na Diretoria de Educação Penha, pela expansão do Projeto
Academia Estudantil de Letras – AEL, que nasceu de uma ideia que
tive para, basicamente, desenvolver o gosto dos alunos pela leitura e
pela literatura, explorando, dessa última, sua função
humanizadora; investir na necessidade urgente da convivência
pacífica na sociedade, começando pela escola e pela família; e de
promover a autoestima dos alunos como fator determinante de sucesso
na escola e na própria vida.
2.Fundou
um projeto
encantador na
Educação
Municipal de
São Paulo.
Um sonho
que virou
realidade, a
AEL. Pode
contar ao
leitor da
Fiandeira o
que é
a AEL?
E como
nasceu esse
projeto?
É
uma Academia de Letras - assim como a ABL - com as devidas adaptações
para o público estudantil. Funciona assim: os alunos escolhem um
autor da literatura para representar na AEL. Fazem pesquisas e
realizam seminários nas escolas sobre os seus amigos literários.
Assistem a palestras de poetas, escritores e artistas convidados.
Permanecem no Projeto durante o tempo que desejarem; geralmente não
se ausentam antes de saírem da escola, ao término de seus cursos.
Os mais experientes vão, pouco a pouco, assumindo a titularidade das
cadeiras pretendidas. Outros, mais novos, das séries precedentes,
também são preparados, como membros correspondentes ou suplentes,
para assumir a vacância da titularidade, quando os primeiros saem,
ficando, assim, garantida a continuidade do processo, de forma
organizada e eficiente. Frequentam aulas de literatura (focadas no
lúdico) e de teatro, ambas no contraturno
escolar, isto é, fora do horário
regular das aulas. Não é obrigatório participar do Projeto AEL e
não há exigência de qualquer pré-requisito para o ingresso dos
alunos; é um projeto de inclusão, portanto. Os alunos acadêmicos
participam, ainda, de saídas culturais, solenidades de fundação de
novas academias, festas anuais de posse, homenagens aos patronos das
academias e mostras de teatro, onde eles mesmos encenam obras primas
e primorosas da literatura de todos os tempos e de todos os lugares.
Por fim, os alunos são os protagonistas do Projeto, sentem isso,
vivenciam isso de fato, e por isso gostam de participar.
A
AEL nasceu embaixo dos eucaliptos da EMEF Padre Antônio Vieira, em
2005, onde ficávamos, doze alunos e eu, conversando sobre autores,
livros e poesias. As ideias fluíram naturalmente e, quando
percebemos, estava tudo ali à nossa frente, prontinho para realizar.
AEL Nelson Albissú
3.E
a ALP?
O que
é?
É
a Academia de Letras dos Professores, fundada há quase quatro anos,
contando atualmente com 101 professores, que já tomaram posse de
suas cadeiras literárias e outros em processo de formação.
A
ALP foi a melhor maneira que encontrei para explicar aos professores
o que era a Academia Estudantil de Letras e como funcionava.
Vivenciando
a experiência dos alunos ficou fácil entender o que eles faziam e o
que sentiam, pois, a dinâmica é exatamente a mesma nos dois
Projetos.
As
emoções se repetem com a mesma intensidade, porque, em contato com
a Arte, especialmente com a Literatura e nas questões humanas, todos
se igualam: não existem mais adultos e crianças ou jovens; nem
professores nem alunos.
Trigésimo encontro da ALP
4.Como
é emocionante
e lindo
a festa
de posse
ou de
aniversário de
uma Academia
Estudantil de
Letras!, como
a Festa
Anual de
Posse e
Quinto
Aniversário da
AEL Cecília
Meireles. Fale,
por gentileza,
aos leitores,
da emoção
que sente,
e o
que isso
de fato
em sua
vida representa.
Eu
me sinto, despretensiosamente, uma mãezona
de todas as Academias, as quais amo igualmente, como uma verdadeira
mãe mesmo, com uma porção de filhos.
Como
é maravilhoso vivenciar esses momentos solenes! Não tem como não
me render à emoção e chegar às lágrimas em todas as vezes!
Faz
tempo que a AEL virou para mim PAIXÃO! Por ela eu choro, eu rio, eu
luto, eu vivo! Coloca-se na minha vida ao lado de tudo o que mais
prezo. Deve ser como é um livro para os seus autores...
Festa de posse na AEL Cecília Meireles
5.Recentemente,
uma nova festa, na posse da AEL Guimarães Rosa. Você comparece
nessas festas? Está sempre presente?
Nossa
programação anual é bastante intensa: cada escola realiza os
seminários internos, mensalmente; as festas anuais de posse e a
mostra de teatro; além de recebermos convites para participação em
eventos extras.
Recentemente
assistimos às Festas de Posse da AEL Padre Antônio Vieira, AEL
Cecília Meireles e AEL Guimarães Rosa, que primaram pelo capricho,
dedicação e protagonismo – uma mais linda do que a outra!
Neste
mês realizaremos mais quatro eventos com essa configuração. Ainda
faltarão doze, que serão realizados até o início do mês de
agosto. Depois virá a mostra de teatro desse ano, com adaptações
de obras literárias para o palco.
É
motivo de muita alegria poder participar de todas as atividades
relacionadas com a AEL. Às vezes acontece uma coincidência de datas
e só assim deixo de participar de uma ou de outra, mas fico
absurdamente inconformada com essa situação.
AEL Mário Quintana
6.Fiquei
muito feliz ao ver o nome de um grande amigo meu, o Nelson Albissú,
numa Academia Estudantil de Letras. Isso resgata algo precioso. Nome
de escritores, poetas, educadores, artistas, em escolas. Seu projeto
se torna ainda mais importante, visto que a escola é o lugar da
palavra, e sobretudo, da palavra poética. Poderia nos falar sobre
isso?
Nelson Albissú é escritor e diretor teatral,
residente em Mogi das Cruzes
residente em Mogi das Cruzes
As
próprias escolas escolhem os patronos de suas academias, ainda na
fase de implantação. No rol das cadeiras literárias, uma – a de
número 1 - dará nome à própria AEL.
No
ano passado, o escritor Nelson Albissú foi escolhido como patrono
da cadeira número 1 , quando foi fundada, na EMEB Walter de Almeida
Monteiro, em Poá, no bairro de Calmon Viana, a AEL que recebeu o
seu nome.
O
querido escritor tinha já uma história carinhosa com a escola: ele
a visitava frequentemente, realizava palestras e contava histórias,
encantando os pequenos com sua criatividade e com os seus livros.
A
Academia Estudantil de Letras promove o estreitamento dos vínculos
entre os escritores e a escola, convidando-os para os seminários
internos, tornando possível um diálogo muito interessante, onde os
alunos os percebem como pessoas parecidas com eles, acessíveis e
humanas, além de muito especiais no trato com a palavra. Não
raramente, eles se entusiasmam e acabam escolhendo-os como amigos
literários, para representar na AEL, a partir de um encontro desses.
7.Participa
da Rede
Social..., e
o Facebook,
por exemplo,
é uma
espantosa
revolução no
modo como
a humanidade
se comunica;
Como vê
a era
tecnológica, que
está se
tornando a
cada dia
mais presente
na vida
dos jovens?
Ela poderia
reverter a
sua condição
original de
substituta da
era humanista?
Como vê
essa
possibilidade?
Acredita que
a Educação
poderia
contribuir para
que a
Era Tecnológica
seja, digamos,
humanista, ou
isso já
ocorre?
Participo
da Rede Social, principalmente do FaceBook. Admiro e aprovo toda essa
evolução tecnológica, embora reconheça a necessidade de saber
usufruir de seus benefícios com cautela e responsabilidade.
A
Educação – sempre ela – deve permear todas as intenções e
ações, para que prevaleça o humano sempre e, claro, também nesse
importante contexto
8.Sueli, para idealizar e desenvolver um projeto como esse, da AEL, certamente tem um amor intenso pelos livros. Como foi a sua infância? Tem algum livro, alguma obra, que considera que possa ter influenciado de alguma forma o rumo da sua vida?
Ah!
Eu tenho um amor intenso pelos livros, sim! Se alguém esquecer um
livro na minha mesa de trabalho, eu vou levá-lo pra casa, lê-lo da
primeira à última página, e devolvê-lo só no dia seguinte ao
lugar de origem, como se nada tivesse acontecido...Coisa feia!
Tinha
uma Biblioteca perto da minha casa, quando eu era criança. Eu
chegava da escola e corria para lá. Lia, lia, lia... com o objetivo
de aprender a escrever... Eu queria escrever como José de Alencar!
Li todos os livros dele antes de completar 15 anos! Achava lindo usar
metáforas nas redações, mas eu nem sabia o que eram metáforas...
Eu
também queria inventar histórias para serem representadas no
teatro, que eu improvisava com a ajuda do meu pai, no quintal da
minha casa, e ensaiava com todos os meus amigos que quisessem
participar. A primeira história que escrevi foi: “O Príncipe do
Papagaio Verde”(até hoje não entendi bem esse “do” no
título...)
Meu
pai gostava de reunir os filhos e minha mãe ao redor da mesa da
cozinha, para “cantarmos” histórias de cordel. Havia um ritmo a
obedecer. Ninguém suportava ficar mais de dez minutos naquela mesa,
mas eu adorava!!! O cordel que mais me apaixonou foi “Pavão
Misterioso”.
Na
adolescência, eu me apaixonei pelo poeta J.G.de Araújo Jorge , que
na Faculdade - fiquei sabendo – não era tão bom assim, segundo a
crítica literária! Desilusão! Mas que ele sabia falar do que eu
sentia como ninguém, sabia! Só perdia pra mim mesma quando eu
comecei a escrever os meus primeiros poemas de amor...
Ah!
Se tivesse na minha escola uma AEL, eu e meia dúzia de amigas, que
ficávamos declamando numa sala de aula vazia, na hora do recreio,
iríamos adorar!
9.É
uma pessoa amorosa e muito querida. Acredita no ideal de uma Educação
onde o afeto seja o orientação, na qual, na alfabetização, a
Literatura Infantil seja protagonista?
É
exatamente nisso em que eu acredito! Não acredito em nada que seja
diferente dessa premissa!
Tenho
assistido a verdadeiros milagres na AEL!
Uma
vez participei de um curso nomeado “Pedagogia da Afetividade” e
me encontrei nessa filosofia, embora, acredite que não haja uma
receita a seguir; tudo depende muito mais da nossa intuição e do
nosso amor sincero.
10.Conhece
o livro
SERAFIN DE
POETAS? Como
vê crianças
escrevendo
poesias numa
época de
tanta velocidade?
SERAFIN
DE POETAS é uma dessas inspirações que nos arrebata de repente,
como educadores, e, penso, tenha acontecido assim com o grande amigo
e escritor, Marciano Vasques.
O
livro é lindo, incrível mesmo! O título, a capa, tudo perfeito! Eu
o li por várias vezes seguidas!
Crianças
pequenas e jovens, debruçados sobre algum caderno, ou talvez uma
folha em branco, em determinado momento, escrevendo versos, dando
vazão às emoções, sem pressa, com a ordem interna de sentir
apenas...
Para
mim, são como anjos, serafins mesmo, desenhando formas bonitas nas
nuvens...
11.Pretende,
assim que tiver condições (tempo, etc) viajar para divulgar em
outros municípios, ou até estados, esse seu lindo trabalho, que
deveria ser implantado no Brasil inteiro?
Aprendi
com uma amiga querida que não podemos aprisionar uma ideia e que, se
ela dá certo, precisamos difundi-la, ampliá-la, divulgá-la, sem
egoísmos ou vaidades.
Então,
eu sempre me coloco à disposição de quem queira conhecer melhor o
Projeto, ensinando o passo a passo de sua execução, zelando,
somente, para que ele seja sempre utilizado para servir à Educação,
puramente, conservando a sua essência e propósitos.
Nasceu
a AEL Poeta Antônio Francisco, em Apodi, no Rio Grande do Norte, sem
eu me deslocar para lá, conversando pela Internet com a professora
interessada. Até hoje nos relacionamos pelo Facebook e acompanho
daqui o desenvolvimento dessa AEL, que persiste já por alguns anos,
revelando talentos literários e alimentando os sonhos de crianças,
jovens e professores, como acontece aqui.
12.Deixe a sua mensagem final. Qual é a sua Palavra Fiandeira?
Agradeço
pela oportunidade de responder a esta entrevista. Coloquei o meu
coração em cada palavra. Espero que tenha dignificado humildemente
este maravilhoso blog, criado pelo Marciano Vasques.
A
minha PALAVRA FIANDEIRA é ACREDITAR! Ela é capaz de tecer TUDO o
que sonhamos!!!
AEL Luís Fernando
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PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de Literatura e Artes,
fundada pelo escritor Marciano Vasques
PUBLICAÇÃO SEMANAL, AOS SÁBADOS
EDIÇÃO 71 — SUELI GONÇALVES
EDIÇÃO 23 JUNHO 2012
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O trabalho da Sueli é inspirado, e merece ampliação, visitação, apreço e imitação. Parabéns, Marciano, por trazê-la à luz, pois ela é merecedora de muitas palmas. Aliás, a Veja São Paulo, traz na edição de 26 de dezembro de 2012 uma nota simpática sobre ela e mais 9 empreendedores sociais dessa nossa Sampalândia. Estou muito feliz por tudo isso.
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