PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL
ANO 3 — Nº72
30 JUNHO 2012
MARILZA CONCEIÇÃO
1.Quem
é
Marilza
Conceição?
Curitibana,
empreendedora
e
otimista.
Pedagoga
de
formação,
penso
em
poesia
por
acreditar
que
faz
diferença
no
olhar
e
na
maneira
de
mediar
a
aprendizagem
dos
conteúdos.
Compositora,
penso
a
música
nos
ritmos
que
trago
matrizados
nos
ouvidos,
da
minha
infância
da
década
de
1960.
Contadora
de
histórias,
imagino-as
para
dedicar
a
tantas
crianças.
Um
cacoete
que
trago
da
época
em
que
eu
as
inventava
diariamente
para
meus
irmãos,
os
ajudantes
que
enxugavam
a
louça
do
almoço
para
mim.
Invento
personagens
para
falar
do
que
vai
no
coração
humano
e
invariavelmente
alguém
diz:
como
foi
que
você
adivinhou
que
era
isso
que
eu
sentia?
Sonhadora,
quero
viver
em
estado
de
viagem,
pelos
livros
e
pelos
ares,
que
é
uma
maneira
boa
de
imitar
os
pássaros
e
ver
tudo
formiguinha.
Nos
anos
de
2009
e
2010,
trabalhei
na
Secretaria
Municipal
de
Educação
de
Curitiba
e
criei
o
curso
Para
Gostar
de
Literatura,
com
o
qual
capacitei
cinco
turmas
de
professores
para
a
prática
de
literatura
no
ensino
fundamental,
infantil
e
para
a
EJA.
Foram
encontros
que
marcaram
a
prática
de
professores,
que
relatam
suas
experiências
depois
do
curso
e
perguntam
quando
vai
ter
outro.
Sou
o
resultado
de
tudo
o
que
já
li,
aprendi
na
convivência
com
os
outros
e
do
que
presto
atenção
e
aprendo
porque
gosto
e
me
faz
feliz.
2.Poderia
nos
contar
quais
as
sensações
e
a
importância
em
sua
carreira
literária,
das
visitas
às
escolas?
A
sensação
é
boa,
porque
piso
num
solo
conhecido.
Vou
pra
escola
desde
bem
pequena.
Filha
de
professora,
fui
passeadeira
enquanto
circulava
com
liberdade
por
todo
canto,
pois
não
tinha
idade
para
ser
matriculada.
E
nestas
idas
e
vindas,
eu
via
e
ouvia
as
aulas,
portanto
também
aprendia.
Até
que
um
dia
eu
cometi
a
leitura
de
uma
palavra
num
livro
e
me
enquadraram
como
aluna
ouvinte.
Então
acabou
a
liberdade
de
fazer
o
que
eu
bem
entendia:
dormir
no
sofá
da
sala
da
diretora,
comer
sopa
antes
de
todo
mundo
no
refeitório
e
folhear
todos
os
livros
que
eu
queria
na
biblioteca
da
escola.
É
com
um
pouco
deste
gostinho
que
entro
nas
escolas,
carregada
destas
sensações
da
infância,
como
se
voltasse
no
tempo
e
vou
de
encontro
ao
que
me
perguntam
as
crianças
como
um
eco
do
que
eu
também
perguntava.
Apesar
da
tecnologia
e
das
mudanças
sociais,
sinto
que
as
crianças
repetem
hoje
as
sensações
da
infância
que
tive.
A
importância
na
carreira
literária
das
visitas,
é
a
de
saber
pela
indagação
dos
leitores
que
meu
livro
foi
lido
por
crianças
e
adultos
e
conversar
com
todos
,
saber
o
que
sentiram
e
o
que
o
texto
evocou
na
sua
memória
e
no
seu
sentimento.
E
eles
perguntam
porque
eu
escrevi,
no
que
me
inspirei,
quanto
tempo
levou
para
concluir.
Quando
relato
sobre
minha
experiência
leitora
e
a
vontade
de
escrever
que
veio
depois,
vejo
olhinhos
brilhando
e
concordando.
Mas
são
meus
pés,
que
conhecem
bem
o
chão
da
escola,
que
me
levam
portão
adentro,
com
a
prática
de
trinta
e
três
anos
de
magistério
que
carrego
comigo,
o
olhar
curioso
e
a
vontade
de
aprender,
que
nem
criança!
3.Já
aconteceu
de
reencontrar
alunos
alguns
anos
depois
numa
visita
escolar
como
autora?
Pode
nos
relatar
essa
experiência?
Encontrei
alunos
que
hoje
são
pais
de
família.
Um
deles
funcionário
de
um
banco,
outro
empresário.
Eu
não
os
reconheci,
naturalmente,
mas
eles
falaram
comigo
sorridentes
e
me
chamaram
pelo
meu
nome.
Mas
o
encontro
mais
gratificante
foi
com
uma
aluna,
que
hoje
é
pedagoga
e
me
contou
que
foi
por
minha
influência
que
escolheu
sua
profissão.
Disse
que
queria
ser
professora
como
eu.
Nestes
encontros
percebi
que,
de
todos
os
conteúdos
que
lecionei,
o
que
ficou
marcado
na
memória
dos
estudantes
foram
os
momentos
vividos
nos
ensaios
e
encenações
de
peças
teatrais,
nas
produções
musicais
e
nas
contações
de
histórias.
A
literatura
fala
mais
alto.
4.Geralmente,
está
rodeada
de
crianças.
Isso
certamente
é
uma
emoção
especial.
O
que
diria
aos
leitores
de
PALAVRA
FIANDEIRA
sobre
esses
momentos
tão
intensamente
por
você
vividos,
especialmente
entre
os
pequenos?
Primeiro
vem
o
convite,
às
vezes
por
telefone,
outras
por
email,
que
eu
respondo
logo
com
alguma
pergunta,
algo
que
suscita
uma
resposta.
A
professora
lê
meu
email
e
as
crianças
mandam
a
nova
mensagem.
Então
prometo
levar-lhes
uma
novidade
no
dia
do
nosso
encontro.
A
professora
faz
o
trabalho
pedagógico
apresentando-os
aos
meus
livros
e
eles
preparam
o
ambiente
e
as
perguntas
para
me
receber.
Da
minha
parte,
preparo-me
com
uma
boa
dose
de
alegria.
E
arranjo
a
surpresa
prometida,
quer
seja
uma
nova
história
exclusivamente
para
eles
ou
uma
canção
para
homenageá-los.
Ficamos
nos
namorando
dias
e
dias
até
chegar
o
momento
tão
esperado
do
encontro.
Eles
são
tão
esperados
por
mim
quanto
eu
por
eles.
Em
todos
os
encontros,
sinto-me
gratificada.
5.Fale-nos,
por
favor,
sobre
o
livro "Balé
da
Chuva".
Ilustração do livro BALÉ DA CHUVA
É
um
livro
abençoado
que
me
traz
alegrias,
sempre.
Já
encontrei
crianças
com
o
mesmo
medo
da
personagem
Nana
e
adultos
que
levaram
este
medo
pela
vida
afora
e
relatam
que
se
tivessem
convivido
com
uma
mãe
como
a
de
Nana,
o
medo
teria
ido
embora
para
sempre.
O
Balé
da
Chuva
fala
igualmente
de
amor,
pois
só
o
amor
dissipa
o
medo.
Todos
os
nossos
medos.
Alessandra Tozi, ilustradora do livro "BALÉ DA CHUVA"
6.Participou
de
vários
eventos
literários
e
culturais,
como
a
Feira
do
Livro
de
Porto
Alegre,
seminários
e
congressos.
Qual
a
importância
que
atribui
na
carreira
de
um
autor
a
participação
em
eventos
assim?
Os
contatos
são
a
principal
objetivo
nos
eventos
culturais.
Ao
aprendizado
para
a
capacitação
e
troca
de
experiências,
segue-se
o
momento
informal
no
restaurante,
onde
o
encontro
para
falar
de
preferências
e
da
vida
pessoal.
Eu
gosto
de
grupos
e
da
sensação
de
pertencimento,
porque
acredito
num
mundo
com
ações
feitas
em
parcerias.
Por
isso
procuro
realizar
projetos
com
as
pessoas.
É
a
maneira
que
encontro
idéias
novas
e
renovo
as
das
pessoas.
Acredito
que
o
mundo
melhor
começa
dentro
da
gente
e
se
partilharmos
nossas
idéias
na
nossa
casa,
no
condomínio,
no
bairro,
na
cidade,
fortaleceremos
valores
importantes
para
a
vida
com
uma
onda
de
criatividade
e
paz.
Uma contadora de histórias
7.Participou
do
XVI
CICLO
DE
ESTUDOS
SOBRE
O
IMAGINÁRIO—CONGRESSO
INTERNACIONAL.
Poderia
nos
resumir
o
que
foi
exatamente
esse
evento,
a
partir
de
sua
abordagem?
Em
Recife,
eu
queria
participar
de
todos
os
seminários,
fóruns,
conferências,
mas
não
pude
me
transformar
em
duas
ou
mais.
Com
o
tema:
O
Imaginário
e
as
Dinâmicas
do
Segredo,
o
congresso
reuniu
pessoas
do
mundo
todo.
Foram
homenageados
Gilbert
Durand
e
Ariano
Suassuna.
Você
já
percebeu
como
somos
rodeados
de
segredos?
O
segredo
é
muito
mais
revelado
no
imaginário:
vou
te
contar
um
segredo!
Será
que
podemos
erradicar
tantos
segredos
da
nossa
vida?
Senhas
,
cifras,
códigos...
A
imaginação
precisa
de
memória,
diz
Gastón
Bachelard,
o
Filósofo
do
Imaginário.
O
filósofo
francês
Michel
Mafessoli
proferiu
a
conferência
de
abertura.
Em
seu
discurso
disse
que
“a
memória
não
é
somente
para
conservar
o
passado.
A
imaginação
intervém
e
transforma
as
imagens
da
memória.
Quanto
mais
se
vai
ao
passado,
mais
se
transforma
os
fatos
em
míticos.
É
por
meio
disso
que
a
infância
transforma
a
memória
em
imaginação”;
”...o
segredo
é
o
que
a
gente
imagina
como
escondido”
Participei
de
práticas
pedagógicas
para
a
educação,
de
trabalhos
corporais
de
arteterapia,
assisti
a
seminários
de
teatro,
psicologia,
enfermagem,
africanidade
e
questões
de
gênero.
Embora
meu
interesse
girasse
em
torno
das
outras
áreas,
priorizei
aos
eventos
sobre
a
perspectiva
do
segredo
na
criação
literária.
Assisti
a
um
seminário
sobre
a
obra
de
Clarice
Lispector
e
ao
fórum:
Tecendo
fios
de
segredo
nos
contos
de
Marina
Colassanti.
Assisti
a
um
seminário
onde
Glória
Kirinus
falou
sobre
a
narrativa
ficcional
de
seduzir
o
leitor
como
Sherazade
seduzia,
num
espaço
ficcional
entre
o
narrador
e
o
leitor,
que
acredita
naquilo
que
está
lendo.
Infância
com
Bachelard,
um
seminário
com
Ana
Cristina
César
que
abordou
a
importância
do
espaço
de
sozinhêz,
em
contraste
com
a
criança
de
hoje
,
cheia
de
atividades.
Admirei
a
conferência
de
Carlos
Clamonte
Carreto,
de
Portugal,
que
falou
sobre
o
encontro
com
as
fadas,
que
é
sempre
nos
rios,
na
floresta,
nos
espaços
à
margem
da
sociedade.
Resumindo:
o
segredo
é
ditado
pelo
feminino.
Sherazade seduzia contando histórias
8.
A
conversa
com
crianças
é
inspiradora?
Que
fatos
contribuíram
para
a
sua
aproximação
e
envolvimento
com
a
Literatura
Infantil?
Considera
essa
modalidade
literária
uma
leitura
só
para
crianças?
A
conversa
com
crianças
é
sempre
inspiradora
principalmente
para
mim.
Mas
vejo
que
as
inspira
também,
pois
encontro
objetos
de
arte,
teatro
e
literatura,
construídos
a
partir
do
meu
texto,
o
que
muito
me
gratifica.
Os
fatos
que
contribuíram
para
minha
aproximação
e
envolvimento
com
a
literatura
infantil
remetem
à
infância
onde
tive
uma
professora
agente
de
leitura
da
biblioteca,
sensível
e
incentivadora
de
leitura
e
também
meus
pais
leitores.
O
estímulo
pelo
exemplo
foi
excelente.
Esta
modalidade
de
conversas
com
estudantes
acontece
com
as
diversas
faixas
etárias
desde
a
educação
infantil,
o
ensino
fundamental
e
a
EJA,
pois
para
cada
público
a
leitura
de
O
Balé
da
Chuva
tem
seus
significados.
9.
A
casa
dorme
e
uma
menina
acorda
durante
a
alta
noite.
Chove:
Assim
começa
o
seu
livro,
que
mescla
o
encantamento
da
poesia
com
a
Mitologia.
Esse
livro
já
foi
encenado?
Caso
sim,
conte-nos
de
sua
emoção
diante
do
acontecimento.
Este
livro
foi
encenado
por
estudantes
do
ensino
fundamental
numa
escola
e
por
crianças
da
educação
infantil
em
outra.
Foram
momentos
em
que
a
emoção
me
deixou
sem
palavras.
Fiquei
dias
lembrando
e
contando
para
as
pessoas
destes
momentos
tão
significativos
para
mim
e
os
registrei
no
meu
blog.
10.
Aprecia
muito
estar
com
os
amigos,
com
as
pessoas.
Isso
a
deixa
muito
feliz.
Diante
disso,
como
vê
o
avanço
da
realidade
virtual,
e
como
se
focaliza
diante
das
Redes
Sociais,
um
fenômeno
que
instaura
uma
nova
era
na
comunicação
entre
os
humanos?
Ter
uma
página
é
tudo
que
uma
pessoa
precisava
para
comunicar-se.
E
eu
gosto
da
praticidade
de
estar
a
um
clik
de
distância
das
pessoas.
Alimento
meu
blog
com
os
assuntos
profissionais
e
tenho
uma
página
virtual,
que
é
um
mural
para
as
novidades
do
cotidiano,
onde
converso
com
as
pessoas
que
reencontro.
Quando
são
amigos
de
longa
data,
o
reencontro
é
uma
festa
virtual,
cheia
de
alegrias
e
rememorações.
É
também
onde
encontro
as
pessoas
que
acabei
de
conhecer
num
evento
e
se
tornam
amigos
num
clic
.
Isso
é
estimulante.
A escritora com amigos
11.
Tem
algum
projeto
que
já
pode
revelar
ao
público?
Estou
escrevendo
para
publicar,
que
é
o
que
o
autor
almeja,
que
suas
histórias
criem
asas
e
voem
para
todos
os
lugares.
Pretendo
continuar
os
encontros
com
leitores
de
todas
as
idades
para
trocar
idéias
sobre
leitura
e
escrita.
Até
2013
estou
coordenando
a
Regional
do
Paraná
da
AEILIJ
-
Associação
de
Escritores
e
Ilustradores
de
Literatura
Infantil
e
Juvenil,
onde
pretendo
continuar
o
trabalho
de
divulgação
da
nossa
associação
com
promoção
de
nossos
profissionais
em
ações
com
literatura
e
arte
envolvendo
a
comunidade.
12.
Além
de
contadora
de
histórias,
poeta,
escritora,
aprecia
teatro
e
participa
de
diversas
atividades,
como
uma
autêntica
ativista
cultural.
Como
mensagem
final,
que
palavras
deixaria
aos
nossos
leitores?
É
fundamental
ler
para
ter
repertório
e
dar
conta
de
expressar
os
sentimentos
com
os
quais
nos
deparamos
no
cotidiano
e
que
nos
invadem
a
alma.
Palavras
servem
para
compormos
a
descrição
do
que
para
nós
é
belo,
é
alegre,
feio,
triste,
dá
saudade,
fala
do
amor
e
do
desamor.
Sentimentos
expressados
pela
palavra
que
é
a
linguagem
que
nos
humaniza
e
nos
facilita
a
relação
com
tudo
o
que
existe
no
universo.
E
a
poesia
sintetiza
a
linguagem.
Muitos
beijos.
________________________________________________
PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de Literatura e Artes,
fundada pelo escritor Marciano Vasques
PUBLICAÇÃO SEMANAL, AOS SÁBADOS
EDIÇÃO 72 — MARILZA CONCEIÇÃO
EDIÇÃO 30 JUNHO 2012
__________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário