EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

PALAVRA FIANDEIRA — 75




PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DIGITAL LITERÁRIA
PUBLICAÇÃO SEMANAL DE LITERATURA E ARTES
EDIÇÃO SEMANAL 
ANO 3 — Nº75
21 JULHO 2012



CECÍLIA VILAS BOAS








Willem Haenraets
1.Quem é Cecília Vilas Boas?


Penso que todos os dias descobrimos um pouquinho de nós, mas daquilo que sei, posso partilhar. Nasci na aldeia de Paio Pires, distrito de Setúbal. Foi em Paio Pires que aprendi a ler e a escrever. Brinquei, cresci e fiz amizades. Estudei na escola Primária de Paio Pires, Preparatória Paulo da Gama, na Amora, Secundária Dr.José Afonso, nas Cavaquinhas. Aos 18 anos, fui trabalhar para Lisboa e passei a ser trabalhadora-estudante, durante vários anos consecutivos. Finalizei o complementar no Liceu de Camões, já em Lisboa, frequentei o curso de Direito na Universidade Internacional durante 3 anos, mas acabei por optar pela formação em secretariado. Sou secretária de administração numa empresa de Engenharia de Transportes. Sou casada e tenho dois filhos. Há um ano e meio criei o blog oceanoazul.sonhos onde comecei a escrever e a sentir o carinho e o apoio de todos aqueles que amavelmente têm passado por lá. Em Setembro de 2011 surgiu a hipótese de editar um livro. Depois de muito ponderar, permiti que as minhas palavras e aquilo que sou, em muito transmitido no que escrevo, se soltassem de mim. Descobri o gosto pela escrita e até hoje não parei.


2.Lançou recentemente o livro ÂMBAR E MEL: Conte-nos sobre essa sua obra.


Lancei Âmbar e Mel, no dia 17 de Dezembro de 2011. Âmbar e Mel, é um livro que fala essencialmente de sentimentos. Fala da natureza, de aromas, cores, sol, mar, fala de luar, de estrelas, fala do que é simples mas que nos toca de forma profunda e que muitas vezes esquecemos de contemplar nesta azafama diária. Fala também, de alguma forma de Deus, numa tentativa de encontro muito peculiar. Fala do sonho que, como escreveu o grande poeta António Gedeãoo sonho comanda a vida. No final do livro existe uma pequena homenagem à minha avó, em forma de um relembrar saudoso, pessoa que me marcou imenso e que foi muito importante na minha vida.


3.Agora, por gentileza, nos conte sobre o evento do lançamento: Como foi essa experiência, esse contato com o futuro leitor?


Beatriz Lousan — Violoncelo
(Lançamento de ÂMBAR E MEL, no Seixal)

O evento foi na livraria da Chiado Editora, em Lisboa. Senti um borboletar enorme no estômago, pois nunca tinha falado para uma plateia, a responsabilidade era enorme. Não fazia a menor ideia de como o livro iria ser recebido. Familiares, amigos, colegas de trabalho, muitos foram os presentes que fizeram o meu coração bater mais forte. Tive ao meu lado, na apresentação, dois grandes amigos, António Tapadinhas e José Luís Outono, que me deram imenso apoio para enfrentar a sala que estava repleta. Tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas que só conhecia virtualmente. Foi uma experiencia única e muito gratificante.

Lançamento de ÂMBAR E MEL
4.Além de poeta, escreve crônicas. Um de seus textos,Candura, é de uma beleza de encher os olhos. Conte aos leitores da FIANDEIRA se esse texto é autobiográfico, se o lugar existe mesmo, e como é a sua vivência com esses recantos.

Gosto muito de prosa. Candura é um dos meus textos preferidos. Aquele lugar, vive no meu ser. Existe uma vida, que me proporcionou momentos inesquecíveis em lugares semelhantes ao descrito. Os meus pais são do Alentejo (sul de Portugal) e durante a minha infância e até mesmo adolescência, recebi e respirei muito da candura e simplicidade daquela gente. É um prazer enorme, conseguir passar para palavras, o sentimento que ficou em mim. Quando volto aqueles lugares, bebo das recordações e guardo-as em mim


5.Seu blog é um oceano. Como a importância da blogosfera no mundo atualmente?

O meu blog é um oceano de mares onde navegam palavras lançadas pelos meus sentimentos. E tal como o mar, umas vezes calmo outras revolto, assim é a vida. É dela que escrevo, umas vezes com cor, outras vezes descolorida, outras onde a quietude invade e outras ainda onde o grito e a tristeza se fazem ouvir. Por lá navegam pessoas que merecem todo o meu respeito, carinho e atenção. De entre letras e palavras, nasceram sentimentos que me despertaram para outra realidade – o mundo da blogosfera - É muito gratificante poder ler e sentir, mesmo que virtualmente, a relação que se estabelece entre pessoas de várias fronteiras. Move-nos a partilha de culturas, a paixão pela poesia, pela imagem, pela música e tantos outros interesses comuns. A corrente que se gera é de tal forma intensa que, a par do nosso quotidiano, partilhamos sentimentos, vivências e parte do nosso mundo, com pessoas que não conhecemos. Apesar de serem relações virtuais, são intensas e fazem parte do nosso dia-a-dia. Foi neste palmilhar que me cruzei com imensas pessoas que escrevem de si aos outros, pessoas que gritam do mundo que nos rodeia, gente que nos toca a alma e não está dormente ao que se passa num mundo feito muitas vezes, egocêntrico e indiferente ao seu semelhante.




6.Percebe-se nitidamente a sua apreciação pela pintura, assim como por outras formas de arte. pintou alguma tela?

Gosto imenso de pintura. Pintar liberta sentimentos, estados de alma, é força, é cultura, é história, é testemunha dum povo. No fundo, a vida é uma paleta de cores que vai pintando, aqui e ali, a tela da vida que fica impressa no tempo, no tempo de cada um de nós.
Já pintei algumas coisas mas nunca aprendi a técnica. Pintava de vez em quando, antes de me ter dedicado, de alguma forma, à escrita. Pinturas muito simples, que só a família e alguns amigos conhecem, como estas duas…

Aldeia / Ericeira


Mas podemos pintar também, através das palavras. Em Âmbar e Mel, existe umatelaque se chama CORES
CORES (in Âmbar e Mel)
Quero pintar a tela da vida. Na paleta coloco as cores primárias. azul, amarelo e vermelho. Com elas pinto o céu, o imenso mar, o sol e as graciosas papoilas. misturo as c ores e obtenho o preto. Pinto dias cinzentos, frios onde a resignação reina e a desmotivação invade. mas a vida precisa de cor. Continuo com o meu pincel e misturo o amarelo com o azul, obtenho um verde natureza. Com ele, coloro plantas e florestas preencho de ar puro o universo. Com o amarelo e o vermelho pinto o por de sol, laranja intenso que afaga corações enternecidos e apaixonados. Com o azul e vermelho semeio violetas e distribuo aromas. abro a janela que dá para o jardim e deixo que a luz entre, sem ela as cores não existem. Permito que o branco pinte a tela. branco é luz, pureza, candura. Nos tons coloridos que se vão seguindo, pinto a alegria, o amor, a amizade. Pinto becos escuros de azul ciano, pinto a fome de verde esperança, pinto a fé e a humildade de branco, pinto o orgulho e o cinismo de preto para que não se reflictam ao mundo e sejam absorvidos pelas cores da bondade, da solidariedade, cores quentes e luminosas. Pinto o sonho de azul e com ele percorro a tela para que a humanidade nunca deixe de acreditar que é sonhando que a vida avança.



7.Aprecia a Literatura Infantil? O que pensa sobre essa modalidade literária?


Gosto imenso de literatura infantil. É aí, enquanto mundo mágico, que o sonho se alimenta. Dizer, em palavras simples, para que cheguem aos pequenos leitores, é uma arte preciosa, e essencial ao seu desenvolvimento. É magnífico podermos observar uma criança enquanto lê um livro, ou vermos o brilho dos seus olhos quando lhes contamos uma história, é algo contagiante e disso, Marciano Vasques, você sabe melhor que ninguém, como grande escritor que é, neste mundo das crianças. Não me posso esquecer que foi com o Rospo e com a Sapabela que você me conquistou como leitora, foi lendo as suas histórias que tive o prazer de o conhecer, e crescer muito, neste mundo que é a escrita.
Ainda a prepósito da literatura infantil, fui convidada para participar numa coletânea de contos infantis que se chama de A a ZZZZZZZZZZZ, da Editora Viera da Silva, com um conto de minha autoria, intitulado O Jardim dos Livros, a sair no final de Junho.

8.Seu poema SONHO...é de uma grandeza poética pura e delicada. Faz notar novamente a presença do mar em sua arte literária. Qual a origem ou os motivos que a levam a priorizar o mar em seu fazer poético?


O meu poemaSONHO foi escrito aquando do seu primeiro convite para participar na PALAVRA FIANDEIRA 65 de 2011. Reeditei o poema mas aparece muito idêntico ao anterior.
Adoro o mar. No meu imaginário existem baías lindas, de águas azuis, existem mares e sonhos de meninos. Existem barquinhos de papel, que no meu imaginário, não se desfazem na água, ao invés, transportam neles a esperança de um mundo melhor, o desejo da efetivação de sonhos, que todos temos, e que começam na infância, acompanhando-nos ao longo da vida. A imensidão do mar faz-me sentir a realidade de ser ínfima, mas ao mesmo tempo, permite-me a liberdade de sonhar.




SONHO


Na baía do sonhar
Olhando o infinito azul do mar
Vem o menino brincar
Com conchas, algas, pedrinhas
Constrói castelos de encantar.




Com o seu barquinho de papel
Inventa viagens e embarcações
Brinca com golfinhos e gaivotas
Voa nas asas dos sonhos
Navega no mar das ilusões.




Deitado nos verdes prados da montanha
Nos aromas que o vento traz ao passar
Olha o céu, escreve histórias nas nuvens


Contempla as estrelas a cintilar.




Este menino, sedento de colo
Continua embalando seu sonhar
Nos braços imaginados mas reconfortantes


Das prazerosas cantigas de ninar.







9.Pode nos contar resumidamente sobre o movimento poético em Portugal?


os que criticam porque se escreve muito, os que criticam que se edita tudo, outros ainda que criticam, e nada criam. efectivamente, um movimento poético enorme em Portugal, que penso ser positivo. Poderá ser questionada a originalidade e a qualidade do que se edita, mas esse julgamento cabe aos leitores ao fazerem a selecção daquilo que querem ler, mas é importante que haja oferta. São imensas as alternativas postas à disposição daqueles que estão interessados em divulgar o que escrevem. Encontramos pessoas que escrevem com muita qualidade e que de outra forma, nunca seriam conhecidos. O mesmo acontece na pintura, na fotografia, na musica e nas muitas formas de arte, em geral. Nem todos podem ser excelentes, o importante é que exista hipótese de criar e divulgar. Os sites, blogs, as revistas, os jornais, as redes sociais, são meios onde facilmente a divulgação se faz e nos a conhecer, em tempo útil, o que se passa em termos gerais. Do escrever ao editar nem sempre é um passo fácil de se dar.




10.Já pensa em alguma nova obra literária que possa revelar ao público enquanto projeto?


Sim, já tenho um novo projeto. Um outro livro de poesia, diferente de Âmbar e Mel. É um livro mais introspectivo, mais silencioso, com um eco que espero, chegue a vós.


11.Participou de uma antologia poética chamada “Antologia de Poesia Contemporânea”. Pode nos falar dessa antologia e por qual motivo considerou que deveria participar?


Participei na III Antologia de Poesia Contemporânea, que se chama “Entre o Sono e o Sonho” coordenada por Gonçalo Martins, com a chancela da Chiado Editora, lançada em Fevereiro passado.
Fui convidada pelo coordenador e achei que podia ser uma boa experiencia, a partilha de escrita de vários autores num só livro.
Mais recentemente, participei numa coletânea de contos intituladaContos do nosso Tempo, com a coordenação de Miguel Almeida, a convite da Editora Esfera do Caos. Nesta obra participo com dois contos intitulados A PEROLAe CARTAS DE AMOR. A sair brevemente.


12.Deixe aqui aos leitores a sua mensagem final. Qual é a sua Palavra Fiandeira?

A poesia é uma linguagem universal onde o eco da palavra é infindável. que levar as pessoas a questionarem o seu próprioeu, procurarem o seu caminho, encontrarem-se para se possam dar. assim se pode melhorar as relações entre os povos. A poesia é um veículo que nos permite evoluir espiritualmente. Crescer espiritualmente, é um trabalho árduo, diário, mas no qual devemos investir. Devemos tomar consciência de quão frágeis somos, de como a vida é efémera, e aproveitarmos essa consciência para praticar o bem no nosso dia a dia de modo a podermos olhar para o reflexo de nós, na vida terrena, e gostarmos daquilo que vemos, e daquilo que conseguimos dar de nós aos outros.
É urgente que se aprenda a valorizar o ser humano, é urgente que se aprenda a valorizar o que temos de melhor em nós, é urgente que se ouça a voz de Deus, no nosso silêncio.


* Os livros, são tesouros de meditação, reflexão e conhecimento. Têm cheiro, forma e magiacomprem livros!*



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                                 PALAVRA FIANDEIRA
Revista digital de Literatura e Artes
Publicação aos sábados
Edição 75 — Em 21 de Julho de 2012
Edição: Cecília Vilas Boas
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo Escritor
Marciano Vasques
Palavra Fiandeira é uma publicação semanal editada em São Paulo/Brasil
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7 comentários:

  1. É uma honra estar na Palavra Fiandeira desta semana, muito obrigada pelo convite e gentileza que sempre tem demonstrado para comigo.
    Um grande abraço Marciano Vasques.
    cecilia v.b.

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  2. Gosto da Cecília e há algum tempo acompanho seu trabalho no blog. O encantamento e a simplicidade dão o tom das suas poesias por onde navegamos sem cansar. É realmente um prazer conhecê-la um pouco mais. Obrigada.
    Um grande bj para ambos.

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  3. É um prazer ver que a Cecília foi a escolhida. Ela merece.

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  4. Caro Marciano,

    Boa noite! Gostaria de parabenizá-lo pela entrevista com a escritora Cecília Vilas Boas. Destaco que foi muito agradável conhecer informações referente ao trabalho desenvolvido, figurado já com a publicação de um livro e idealização de outro.

    Abraços,

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  5. Gostei muito da entrevista e saber mais da Cecília é fundamental pra entender a sensibilidade que exala de seus poemas.
    Obrigada pela oportunidade.
    um abraço

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  6. Agradeço muito as vossas palavras...
    Um grande bem haja.
    Cecília V.B.

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  7. Enhorabuena a Cecilia-Oceano Azul Sonhos. y a Marciano Vasques, por esta entrevista, que ilumina de cultura la blogosfera.
    Beijos, Montserrat

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