EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 13 de julho de 2013

PALAVRA FIANDEIRA — 124

Reprodução de convite de lançamento

1. Quem é Rogério Salgado?

Um cara que faz tudo que qualquer outra pessoa também faz, além de escrever poesia há 38 anos.

PALAVRA FIANDEIRA

REVISTA DE ARTES, EDUCAÇÃO E LITERATURA
PUBLICAÇÃO DIGITAL

EDIÇÃO 124 
SÁBADO (13/JULHO/2013)

ROGÉRIO SALGADO




2. Comemora três décadas de ARTE QUINTAL. Pode nos contar um pouco dessa história?

A revista Arte Quintal surgiu em março de 1983, portanto há 30 anos atrás. Quando minha mãe, a pianista Glória Salgado veio a falecer em 1980, eu vim morar em Belo Horizonte. Aqui comecei a me enturmar com vários poetas que ficavam na Praça Sete, tais como Evaldo Martins, Wilson Coelho, Juleba e outros. Em 1982 lancei meu primeiro livro “Tontinho” em edição independente. Daí que muito entusiasmado resolvi lançar minha própria revista. Na época, eu morava no bairro Planalto e havia conhecido um cara chamado Ecivaldo John, que hoje reside nos Estados Unidos da América e ele havia topado essa aventura. Depois conhecemos Virginia Reis, que atualmente exerce sua profissão de médica e fomos para as esquinas fazer pedágio pedindo ajuda, dando em troca a quem nos ajudasse, um poema. Fizemos também rifas e por fim, conseguimos alguns poucos anúncios e a revista saiu dia 13 de março de 1983 e tomou seu próprio rumo. Neste mesmo ano conheci o poeta Wagner Torres na Praça Sete, que seria uma pessoa importante para o processo da revista, tornando-se até hoje, meu irmão e melhor amigo. E Wagner então foi convidado por mim para fazer parte da revista. Aos poucos a revista foi ficando conhecida em todo o país e até no exterior, numa época em ainda não havia internet. Tínhamos uma estratégia na revista: colocávamos uma entrevista com alguém de renome com chamada na capa e por dentro acrescentávamos também vários artistas iniciantes e desconhecidos. Em 1984 a Arte Quintal tornou-se editora e passamos a publicar livros. Um fato era certo: na década de 80, todo escritor que vinha de outro estado e passava pela capital mineira, fazia uma visitinha a três lugares sagrados para eles: o jornal Estado de Minas, o Suplemento Literário de Minas Gerais e a Revista Arte-Quintal. Em 1992, quando veio o Plano Collor e começamos a passar dificuldades. Vários artistas mineiros fizeram shows e lançamentos de livros pra tentar reerguer a editora, mas foi muito difícil e fechamos as portas, restando apenas o que deixamos para a história da cultura mineira e nacional.

Capa ARTE QUINTAL

3. Participou ativamente do Movimento Literário Alternativo na segunda metade da década de 80. Que lembranças considera marcantes dessa sua experiência? O que representou em sua vida ter feito parte desse movimento?

As lembranças que muito me marcaram foram às noitadas em que saíamos à noite vendendo nos bares da capital mineira, a revista Arte Quintal e nossos livros independentes. Esse movimento representou muito para mim como experiência para tornar-me mais humano. Geralmente, na maioria das vezes o artista tem uma postura ridícula de ser arrogante e se achar Deus. Com as vendas de mão em mão, aprendi muito a humildade, já que dependíamos de que as pessoas comprassem nossos livros nas mesas de boteco.
Foto: Breno Pataro ©

4. Num depoimento no Belô Poético, de Belo Horizonte, declarou que o mais importante é ser um Humano melhor. O que é o Belô Poético? E considerando que, entre outras coisas, a televisão deixou as pessoas menos generosas, o que seria, no seu entendimento, necessário para que o Ser humano seja aperfeiçoado?

O poeta na maioria das vezes é um cara egoísta, que trabalha a vida inteira para receber boas críticas sobre a sua obra e para receber aplausos, ver seu nome na imprensa, etc., alimentando assim seu ego. Acho que os poetas que buscam apenas essas duas coisas poderão sim, tornarem-se grandes poetas e darem sua contribuição para a literatura brasileira, mas não estarão efetivamente dando uma contribuição para a construção de um mundo melhor. Eu, em meu humilde entendimento, cheguei à conclusão que o mais importante é ser um grande Ser Humano, fazer algo pelo seu próximo e tentar construir um mundo mais humano para todos. Depois, aí sim, quem sabe possamos ser grandes poetas.
O Belô Poético é um Encontro Nacional de Poesia, realizado há nove anos, sem apoio oficial e tendo como os maiores apoiadores, os próprios poetas. No Belô Poético não existem estrelas acesas e nem apagadas, aqui todos são iguais merecendo o mesmo respeito quando participam desse Encontro.
Acho que a televisão deixou sim, algumas pessoas menos generosas e outras não. Depende da personalidade de cada um.
Para que o ser humano seja aperfeiçoado, basta que ele entre para dentro de si mesmo, se descubra como ser humano e pense em tudo aquilo eu disse anteriormente para se tornar um grande ser humano.

Psiu Poético!

5. Vê alguma semelhança ou algum indício do Movimento Literário Alternativo na Rede Social ou na Internet em si?

Não, não vejo semelhança. Cada movimento teve a sua época. A diferença é que com a internet, hoje as coisas são muito mais fáceis.

6. Acredita no fim da era do livro de papel? Vê romantismo na defesa do formato tradicional do livro (de papel)? O que pensa sobre essa questão?

Não acredito no fim da era do livro de papel. O livro tradicional sempre terá seu lugar para quem gosta de uma boa leitura, deitado no sofá da sala de estar. Não vejo romantismo na defesa do formato tradicional do livro de papel, vejo sim, consciência. Penso que a defesa ou não do livro tradicional é uma questão pessoal de cada um. Eu, por exemplo, não entro nessa luta porque sei que com todas as modernidades da internet, o livro tradicional sempre continuará existindo.



7. Tem mais de duas dezenas de livros publicados. Pode nos comentar sobre a sua trajetória literária? Qual seu primeiro livro? Tem preferência pelo gênero Poesia? Ou trafega em diversos gêneros?

Minha trajetória literária começou ainda em Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro. Influenciado por minha mãe, a pianista Glória Salgado eu descobri a poesia, tornei-me letrista musical e participei de diversos festivais de músicas em minha terra natal e no interior do estado. Depois, quando vim para Belo Horizonte publiquei meu primeiro livro “Tontinho”, um conto de apenas 20 páginas em 1982 e não parei mais. Primeiro vendia livros de mão em mão nos bares, hoje, além de ir a escolas e ser convidado para vários eventos nacionais, não deixo de vender meus livros em oficinas mecânicas, açougues, padarias e outros lugares, vivendo exclusivamente de poesia. Já escrevi uns poucos livros de contos, um romance, peças teatrais, mas descobri que sou um poeta metido a escrever outras coisas e daí, decidi abdicar dos outros gêneros e me tornar essencialmente um poeta.


Glória Salgado, pianista, mãe do poeta

8. Gostaria que falasse sobre uma pessoa muito querida, que nos deixou: Zanoto.

Zanoto foi simplesmente o maior divulgador cultural desse país, um cara que abria as portas de sua coluna “Diversos Caminhos”, no jornal Correio do Sul de Varginha\MG, para todos os poetas, iniciantes ou não. Conheci Zanoto pessoalmente. Ele era um poço de humildade, um ser humano incrível, desses raros seres humanos que podemos encontrar nesse mundo. Tá fazendo uma falta muito grande para todos nós.


ZANOTO no 1ºBelô Poético/2005



"Tá fazendo uma falta muito grande para todos nós!"
—Rogério Salgado, in PALAVRA FIANDEIRA 124 (13/julho/2013)


9.“SaiS” é uma de suas obras. Poderia, gentilmente, expor ao leitor da FIANDEIRA, algo sobre esse livro?

Sou uma pessoa conhecida como um cara polêmico, talvez por eu ter a qualidade de ser sincero e muitas vezes magoar as pessoas. O poeta Aroldo Pereira, criador do Psiu Poético – Salão Nacional de Poesia de Montes Claros\MG costuma brincar comigo chamando-me de “Rogério e seus sais”. Depois que escrevi o livro “Poemas” em 2010, comemorando meus 35 anos de carreira poética, observei que muitos poetas não me consideravam muito por eu não escrever poemas concretos, visuais e tantas outras fórmulas em que meia dúzia de críticos gostam, aplaudem, mas o público leitor em geral, não entende. Eu tinha escrito ao longo da vida, vários poemas nessa linha e que ficaram engavetados. Quando fui lançar o livro “SaiS”, inspirado na frase do Aroldo, resolvi dividi-lo em duas partes: a primeira feita de poemas normais, como os que sempre escrevi a vida inteira e dos quais muito me orgulho de tê-los escrito e dediquei essa primeira parte aos leitores. A segunda parte eu publiquei esses poemas visuais e concretos e dediquei aos críticos. Precisa dizer mais alguma coisa?

Lançamento de SaiS


10. Uma das dificuldades para o escoamento da Poesia é o hábito já antigo de grupos fechados, nos quais um poeta de fora não é citado jamais, algo que provavelmente ocorre nas artes, de um modo geral. Isso o perturba de algum modo, ou não existe tal coisa?

Sempre existirão grupos fechados tal como você diz acima. Eu não me preocupo com isso não. Cada um é dono de sua consciência e eu procuro apenas fazer a minha parte. Trabalho com todos sem discriminação, tendo preferência por trabalhar com o poeta iniciante, porque acho o poeta consagrado, na maioria das vezes, pelo seu estrelismo, um grande porre. Recebo todos de braços abertos por enxergar que todos são seres humanos como eu. No Belô Poético temos por norma, tratar todos iguais, sem tapetes vermelhos. Tanto o poeta de renome internacional, como o desconhecido, nesse Encontro é recebido com o mesmo abraço.

© créditos ao autor da foto

11. Tem algum projeto literário sobre o qual possa revelar algo aqui na FIANDEIRA?
Não, não tenho nada ainda programado. Quem sabe, no futuro?
Virgilene Araújo
Com Wagner Torres e amigo(Divino Soares)

AMIGOS DO AUTOR
12. Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?

Minha mensagem final é que possamos buscar a essência de sermos cada vez mais, Humanos, antes de sermos qualquer outra coisa e minha palavra final é: AMOR.




Foto: Virgilene Araújo ©

PALAVRA FIANDEIRA

Publicação Literária Digital

Ano 4 —Edições semanais, aos sábados

EDIÇÃO ROGÉRIO SALGADO
PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques


2 comentários:

  1. Gostei muito de conhecer pormenores tanto da vida quanto da obra do Rogério, um poeta que me tem dado muita força. Achei ótima a entrevista, marcante pela firmeza de propósitos e sinceridade do autor. Uma entrevista que dá o que pensar. Parabéns à entrevistadora e ao entrevistado. Aliás, acho que é a primeira vez que vejo fotos do Rogério. Saudações, Ricardo Alfaya, Rio de Janeiro-RJ.

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