EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 7 de setembro de 2013

PALAVRA FIANDEIRA 132


Quando o mundo disser não
Vá em frente, creia, insista.


PALAVRA FIANDEIRA

Arte, Educação e Literatura
Publicação Digital Semanal

EDIÇÃO 112
Ano 4
Sábado, 7 de Setembro de 2013
VARNECI NASCIMENTO



1.Quem é Varneci Nascimento?
É ainda quase um jovem que nasceu há 35 anos na cidade de Banzaê na Bahia. Aliás na época Banzaê ainda não existia como cidade, pois pertencia a Ribeira do Pombal, e só veio se tornar cidade no fim da década de oitenta. Varneci cresceu na zona rural no contato com a terra, com a lida do campo, ouvindo histórias contadas pelo seu pai e isto foi aos poucos moldando a sua personalidade e aguçando o gosto pela cantoria de trabalho que era o que fazíamos no chamado batalhão (o equivalente ao mutirão). Com seu pai, um dois maiores improvisadores da região, começou ainda criança a fazer os primeiros improvisos, atividade que exerceu até quando morou com ele. Depois indo para outra cidade no intuito de estudar, como não tinha com quem cantar passou a escrever cordel. Além das cantorias feitas no batalhão papai lia cordel para nós em casa: Donzela Teodora, O cachorro dos mortos, Peleja do cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum entre outros. Isto me marcou profundamente e também criou em mim o gosto pelo cordel. Pelas rimas também que já comecei a ouvir ainda criança.



2.Visita escolas com a sua Literatura de Cordel. O que representa para você esse contato com a criançada?
Tenho visitado várias escolas e universidades não só em São Paulo, mas em boa parte deste Brasil levando o cordel para todas as pessoas que estão cada vez mais buscando conhecer esta que está consagrada como um gênero da literatura nacional. Encontro desde crianças aos alunos da EJA (Educação de jovens e adultos), bem como universitários dos mais variados cursos, desde mecânica e psicologia, a ciência da computação, por exemplo, e cada encontro é um momento único, marcante porque se for bem repassado, é impossível não se encantar com o cordel. As crianças ficam maravilhadas ao escutar a declamação de uma sextilha, quando entendem a rima. Estou cada vez mais convencido de que o cordel realmente tem muito a oferecer ao Brasil e não só a educação, porque o lugar do cordel não é só na escola, mas nela também deve está atuando.



3.O que é a Caravana de Cordel? Quando ela aconteceu pela primeira vez?
A Caravana do Cordel é um movimento de poetas cordelistas e outros artistas, que foi criado em São Paulo em 2009 para divulgar o cordel nesta imensa cidade e em qualquer lugar do Brasil. Este movimento criou raízes profundas para o cordel nesta cidade, possibilitando-a um engajamento ainda maior como arte, deste gênero literário, sem contar o respeito que o cordel adquiriu depois deste movimento, tanto entre a população que passou a conhecê-lo mais, quanto nas instâncias de poder e nas editoras que passaram a olhar esta composição poética de maneira diferente. Muito do que se tem de cordel hoje em São Paulo se deve a este movimento que continua como uma marca importante do cordel.




4.Já se apresentou no CENTRO CULTURAL VERGUEIRO. Pode nos contar sobre esse evento?
Apresentei-me a convite do poeta e cantor Costa Senna, que apresentou o sarau Bodega do Brasil neste lugar de manifestação da cultura paulistana. Foi um evento organizado para mostrar além da Bodega, as Estéticas da Periferia e no palco desfilou desde o aboio ao rep. A minha participação foi uma singela contribuição como tenho feito em todos os lugares aos quais sou chamado. Tinha neste local um público eclético além do já tradicional apreciador do cordel. Considero isto muito importante porque o cordel vai alcançando outras pessoas e a rede vai sendo tecida e acrescida cada vez mais.


Costa Senna


5.Qual ou quais as suas abordagens em sua Literatura de Cordel?
Considero-me um autor eclético porque navego desde o cordel bíblico (descrevendo personagens da Escritura Sagrada) a Iniciação sexual na zona rural, como é um título de uma de minhas obras. Trafego pelo drama como é o caso de O amigo e o suicídio ao riso de Um corno para cada dia do mês. Desde o romance A Besta do apocalipse e o amor de Agripino aos Dez mandamentos do preguiço. Da crítica social A morte e a justiça ao riso fácil provocado pelo Pergunta idiota, tolerância zero. Esses cordéis são publicados pela Editora Luzeiro. Para mim o cordel não está preso a nada, exceto as suas regras de composição. Nesta forma fixa de escrever pode se tratar de tudo, por isso percorro com tranquilidade os temas e polêmicas que acho necessário. Quem manda é a inspiração e a necessidade vital de escrever, afinal não fui eu quem escolhi o cordel, foi o cordel que me escolheu, porque a poesia é assim mesmo aflige todas as gerações.




6.O que é a Bodega do Brasil?
A Bodega do Brasil surgiu depois da Caravana do Cordel, não numa dissidência brigada e partida, mas é que os cantores queriam mais espaço para música e a Caravana nasceu com um propósito claro que o carro chefe seria o cordel, porque movimentos musicais São Paulo teve demais. Não que a música ou qualquer outra manifestação não tivesse espaço na Caravana, mas o cordel seria nosso príncipe. Depois de um certo tempo, o Costa Senna sentiu-se limitado porque embora ele seja cordelista, mas a grande atividade dele, Cacá Lopes, Aldy Carvalho entre outros é cantar. Daí porque o Costa Senna sentiu a necessidade de criar a Bodega e está aí fazendo história há alguns anos. É isto a Bodega do Brasil.

Encontros notáveis


7.Esteve no colégio Passionista. Conte, por gentileza, aos leitores da FIANDEIRA como foi o seu dia lá.
Minha ida ao Colégio Passionista está ligada a adoção do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas em cordel publicado pela Editora Nova Alexandria. Foi uma manhã encantadora com os alunos muito legais onde tiveram a oportunidade de me perguntar o que quisessem a respeito da obra ou não, do cordel de um modo geral. Esses encontros são sempre surpreendentes porque os jovens e adolescentes têm muito a nos ensinar, estimular a escrever. É também um deslumbramento para aqueles que não conhecem o cordel. Forma-se um conjunto de fatores onde todos saem ganhando e a poesia do cordel cada vez mais fortalecida porque os professores também se encantam e começam a divulgá-la e usá-la em sua bela profissão de educadores.


Visitar colégios: encontro com leitores e amigos


8.Escreveu BRANCA DE NEVE em Cordel. Como foi essa experiência de “traduzir” um clássico infantil para a modalidade cordel?
Foi uma experiência interessante e surpreendente para mim. Mandei um e-mail para Editora Panda Books propondo a publicação de um livro em cordel sobre meio ambiente e depois fui chamado para transpor a Branca de Neve e O Pequeno Polegar para a linguagem cordelística. Um desafio grandioso, mas ao mesmo tempo prazeroso, colocar esses contos infantis nessa moldura da poesia. É também desafiador, pois pela importância que esses clássicos infantis têm, é necessário um esforço hercúleo para se manter a originalidade, colocando novos aspectos sem que a história perca a sua essência.




9.Recebeu uma carta de Zélia Gattai com agradecimento por uma de suas obras. O que nos poderia contar sobre esse livro, que, obviamente, tem como tema Jorge Amado?
Quando Jorge Amado morreu estava eu aqui em São Paulo de férias da faculdade e pude ler alguns jornais e revistas a respeito do escritor baiano. Uma trazia uma biografia do ilustre romancista e a li com atenção. Depois comecei a rabiscar uns versos sobre o esposo de Zélia Gattai, mas a época sem nenhuma pretensão. Fiz algumas estrofes, depois pesquisei mais e terminei por fazer um cordel sobre o autor de Gabriela. Digitei e deixei guardado e numa ocasião resolvi mandar para a Secretaria de Governo do estado da Bahia. Para minha surpresa recebi uma proposta para publicar o texto, mas em uma quantidade limitada. Assim que a obra foi lançada enviei um exemplar para Zélia Gattai e para minha surpresa, recebi uma carta dela de agradecimento pela homenagem ao marido e com um elogio até exagerado, dizendo que era o primeiro cordel erudito que ela tinha lido. Certamente ela leu muito pouco cordel porque se tivesse lido O cachorro dos mortos, O pavão misterioso, Pedrinho e Julinha, jamais diria uma coisa dessas.
A biografia de Jorge Amado nunca mais foi relançada. Ano passado por conta do seu centenário tentei relançar, mas não achei uma editora que quisesse investir no projeto. Quem sabe um dia isto ainda aconteça.


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10.Tem mais de 200 livros publicados. São todos de Literatura de Cordel? Qual foi sua primeira publicação e em que circunstâncias essa primeira obra veio ao ar?
Não tenho 200 livros publicados e sim escritos. Publicados na verdade são 67. Tenho livros escritos que não são cordéis, mas ainda não foram lançados no mercado, quem sabe isto aconteça um dia. A primeira obra que publiquei chama-se Dom Mário Zanetta: pastor, amigo e irmão. É uma biografia contando a trajetória de um padre italiano que chegou ao Brasil e se tornou o terceiro bispo da diocese de Paulo Afonso – BA. No ano de 1998 trabalhava numa paróquia e conhecia o bispo que veio a falecer acometido pelo AVC. Escrevi a sua história, porém só publiquei em 2001. Em seguida a edição se esgotou e tive de fazer mais uma. Daí por diante não parei mais e até hoje vivo exclusivamente do que escrevo e do que falo. Lembrando que as minhas primeiras obras foram patrocinadas por mim ou por alguns amigos donos de lojas que arriscaram investir naquele meu projeto. Por isso você que está lendo essa entrevista se tiver um sonho não desista jamais, arrisque-se por ele.






11.Um de seus livros foi estudado na Alemanha. Conte-nos sobre isso, por favor.
Uma professora entrou em contato querendo estudar um folheto que escrevi quando ainda estava na faculdade intitulado O cangaço sustentado pelos coronéis. Forneci as informações que ela solicitou e depois disso nunca mais deu notícias. São essas poucas palavras que tenho a dizer sobre este ocorrido. A que resultado, a importância e as conclusões a que se chegou nunca tive acesso.


12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
Agradeço primeiramente ao Marciano Vasques pelo espaço e a você leitor por ter se ocupado em ler essa entrevista até aqui.
Caro leitor agradeço,
Sua imensa gentileza
Em conhecer minha vida,
A missão e a natureza
De escrever o cordel
Com poesia e leveza.


Quem nunca leu um cordel
Vá procurar ler urgente,
Conheça bem esta arte
Tão eclética e atraente
Que pode lhe divertir
E abrir a sua mente.


Se você tiver um sonho
Vá em frente, não desista
Por grande a dificuldade
Seja mais forte e persista
Quando o mundo disser não
Vá em frente, creia, insista.


É assim que se constrói
Uma história verdadeira
Na luta do dia a dia
De maneira alvissareira
E construa a sua história
Com Palavra Fiandeira.



PALAVRA FIANDEIRA

Publicação digital semanal

DIVULGAÇÃO LITERÁRIA, ARTÍSTICA E CULTURAL
Edição 132 —Sábado, 07 de Setembro de 2013
Edição VARNECI NASCIMENTO

PALAVRA FIANDEIRA
Fundada pelo escritor Marciano Vasques

ANO 4

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