Detalhe de ilustração de livro infantil da CORTEZ
e toda escolha é difícil e delicada
Obra de Rodrigo Abrahim
Em minha experiência na Educação e pelo país,
observo que as pessoas gostam, sim, de ler.
PALAVRA FIANDEIRA
ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 151
26 ABRIL 2014
AMIR PIEDADE
1.Quem é Amir Piedade?
—Primeiro sou professor, depois editor. Gosto
muito de apresentar-me assim. Há uma identificação imediata das pessoas com os
professores. Ainda exerço e com muito prazer a docência no Ensino Fundamental e
também no ensino superior. Paranaense por nascimento e paulista por escolha,
sou apaixonado por São Paulo, pela sua gente, pela agitação e correria da
cidade, pelos museus, pelos bares, pelos teatros, bibliotecas, pela vida
pulsante.
2.Como é ser um editor?
—É um trabalho de seleção. Ler, analisar e
separar aquele original que você considera o mais indicado naquele momento para
a editora e para o leitor. Isso significa deixar muitos, muitos originais – com
excelente qualidade – de fora. É sempre uma aposta. Não há certeza nem garantia
que o original selecionado será um sucesso. Não há uma fórmula para resolver o
melhor modo de selecionar. E, penso sempre na tristeza do autor e da autora
quando recebem a negativa de publicação. Tenho uma brincadeira que diz que se o
livro vende bem os departamentos de vendas, marketing e divulgação fizeram um
bom trabalho, mas se o livro não vende, o editor escolheu errado. Se o editor
aprova um original e ele não vende, deu prejuízo à editora. Se ele devolve o
original que é publicado por outra casa editorial e vende bem, deu prejuízo
indireto à editora. É sempre uma escolha e toda escolha é difícil e delicada e
traz ônus.
Na Bienal do Livro
3.Qual o primeiro livro que você aprovou?
—Foi O
sonho da bolinha de gude, de Eunice D’Amico, na editora Ave-Maria.
4.Comente sobre os 10 anos de Literatura Infantil da CORTEZ, uma
história da qual você faz parte.
—Trabalho na Cortez Editora desde 2001, como
editor da Coleção Docência em Formação, coordenada pela prof. Selma Garrido
Pimenta. É uma coleção voltada para a formação inicial na graduação e formação
contínua de professores na Educação Básica. Em 2003, quando a editora decidiu
abrir uma coleção de literatura infantil e juvenil, como eu tinha experiência
de criação de catálogo de literatura infantil (Editora Ave-Maria e Editora
Elementar), fui convidado pelo senhor José Xavier Cortez, presidente da
editora, para iniciar essa tarefa com uma orientação “Faça livros que não fujam
à linha editorial da Cortez, que promovam a reflexão, o debate, mas também o
despertar para a leitura”. Com essa ordem pus mãos à obra e chamei autores e
ilustradores para desenvolverem o projeto inicial. Contei ( e conto até hoje)
com o auxílio inestimável do Mauricio Rindeika Seolin, meu editor de arte, mais
o talento de excelentes revisores. A Coleção saiu com o slogan “Ler, gostosa brincadeira!”. Foi tão
feliz o projeto que o jornal O Estado de
São Paulo, conheceu vários títulos antes do lançamento oficial em 24 de
março de 2004, e no dia anterior, deu destaque na primeira página do Caderno 2,
comentando sobre o ousado projeto de literatura, os autores e ilustradores.
Pronto! As escolas, livrarias, órgãos públicos etc tomavam conhecimento do
nascimento da coleção. Isso ajudou a divulgação de uma forma espetacular.
CORTEZ: Dez anos de Literatura Infantil
5.Conte, por gentileza, aos leitores da FIANDEIRA, sobre a sua ida a
Bolonha, e que significado teve esse acontecimento, não apenas em sua vida, mas
na Literatura Infantil, expondo a importância desse evento para o livro do
Brasil.
—Desde que fui à Feira do Livro Infantil e
Juvenil de Bolonha, observei que lá é uma grande universidade do livro
infantil. Você conhece o trabalho de
editoras do mundo inteiro. Vê a beleza das imagens, os projetos gráficos, o
cuidado primoroso na edição. É um encanto para os olhos, uma compreensão
literária para a alma!
No caso da Cortez Editora, há um projeto de
internacionalização dos autores e ilustradores brasileiros. Por isso, vamos
sempre com o objetivo de vender direitos autorais, não de comprar. E tem dado
muito certo. Vendemos mais de treze títulos para Estados Unidos, Colômbia,
Espanha, Egito, China.
Para o Brasil é o momento de mostrar o que
nossos autores e ilustradores produzem e que não ficamos devendo nada aos
livros publicados no exterior.
6.Fez Filosofia. De que forma a Filosofia contribuiu com a sua vida?
—Filosofia é a reflexão cotidiana. O encontro
do espírito com as angústias do homem. A esperança de errar menos, de saber o que
você é e da sua contribuição para este mundo.
7.Com vê, de modo geral, a
blogosfera e também espaços culturais e de divulgação literária no universo
virtual? E de modo específico, acredita que eles contribuem para a consolidação
da ampliação de leitores?
—Todo e qualquer mídia que o livro ganhe
espaço, estimula e chama à leitura. Temos um grande problema que é fazer o livro
chegar ao leitor. Não gosto da frase sobre o brasileiro não gostar de ler. Em
minha experiência na Educação e pelo país, observo que as pessoas gostam, sim,
de ler. Apenas precisamos colocar o livro
nas mãos delas. Por isso, as redes sociais desempenham um papel
importante na divulgação do livro.
8.Desde que o conheço sei o quanto preza a ilustração num livro
infantil ou juvenil, sei o quanto aprecia a estética nas páginas. Como vê,
concretamente, a valorização do ilustrador e o reconhecimento do artista de
traços e cores, como um segundo autor do livro, um grande parceiro das letras?
—Aqui é um trabalho delicado. Os ilustradores
acreditam que não são valorizados o suficiente. Aliás, pelo nossa (minha e sua)
experiência na docência, ninguém é valorizado o suficiente. Não posso falar
pelas outras editoras, mas na Cortez Editora sempre cuidamos com carinho também
do ilustrador. Pagamos direitos autorais sem retirar isso do autor, além do
valor acertado (que não entra como antecipação de direitos autorais) na entrega
das artes.
Gostamos muito de trabalhar com profissionais
que conversam tranquilamente e sabem como é o risco de se editar livro no
Brasil, e, por isso, não exageram nas exigências e na negociação. A relação
tanto entre autor, ilustrador e editor é e deve ser de absoluta transparência e
respeito. E conseguimos isso. Dá gosto escutar a fala de nossos autores e ilustradores
contando que a Cortez Editora paga tudo rigorosamente em dia, sem ninguém
precisar ir atrás para receber, enviando, inclusive com antecedência os
extratos de direitos autorais.
E, nosso trabalho de editor é sempre mostrar
ao ilustrador que ele é coautor da obra, por isso, a ilustração não deve se
sobressair ao texto, mas constituir um trabalho em harmonia, integrado e elegante.
Ilustração de Livro Infantil (Banho de Bicho)
9.Também é autor. Poderia comentar um de seus livros que tenha proporcionado alegrias em sua
alma?, embora, claro, cada livro seja importante para o escritor.
—Ultimamente sou mais editor que escritor. Mas
um dos meus primeiros livros e voltado para a escola foi O aniversário do seu Alfabeto. Vende muito bem. Visito escolas e
conversos com as crianças e professores. Outros títulos entraram em programas
governamentais. Quando escrevo penso sempre nas crianças para quem lecionei e
leciono hoje. Talvez por isso minha produção seja bem mais paradidática.
10.Você é do sul, não é? Esteve recentemente em sua terra. Poderia
expôr, gentilmente, as suas emoções e impressões ao ver pessoas e paisagens queridas?
—Nasci no Paraná e toda minha família vive lá.
Quando chego e avisto os imponentes pinheiros tenho uma sensação maravilhosa de
filho voltando à terra natal. Volto sempre mais alegre, entusiasmado e
comprometido com a vida e o trabalho. É um bálsamo na corrida do dia a dia.
Sempre com a família em encontros queridos
11.Geralmente autores de Literatura Infantil têm encontros com
crianças, nos colégios, feiras literárias, Bienais, etc... E você como autor,
certamente já participou disso. Como é estar com crianças conversando sobre
assuntos tão preciosos como Poesia, Histórias, Contos, Literatura Infantil,
lendas?
—Crianças renovam qualquer pessoa. São
estimulantes, curiosas, não veem a maldade que os adultos estão mergulhados.
Tem esperança porque a vida ainda está começando para elas. Cada vez que vou à
escola, e adoro visitar escolas,
conversar com as crianças e professores, sinto que a esperança ainda tem espaço
e muito espaço em nosso mundo. E, que podemos sempre melhorar, transformar,
amar.
Contação de histórias
12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?
—Palavra fiandeira, fios, união, amarração,
criação. Tudo isso e mais um pouco é o trabalho de escritores e ilustradores
que, junto aos editores, dão vida à imaginação, tornam real os sonhos, multiplicam as esperanças.
Com amigos
Livro de Amir Piedade
Amir trouxe da Capadócia para embelezar a sua casa.
PALAVRA FIANDEIRA
ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Ano 5 — Edição 151
AMIR PIEDADE
Palavra Fiandeira:
Fundada pelo escritor Marciano Vasques
Com Mara Cortez
Com pessoas queridas
Parabéns, Amir Piedade! Você é o modelo de ética, caráter e cidadania. Admiro as suas qualidades e a compreensão exata que você possui da sua profissão de editor e da vida. Que privilégio tê-lo como editor e amigo, por tantos anos! Que Deus o abençoe sempre, pelo escritor, professor e editor que você é! Terminei de ler a sua entrevista, com desejo de quero mais. Grande abraço grato, por tudo de Sempre!
ResponderExcluir