EDITORIAL

PALAVRA FIANDEIRA é um espaço essencialmente democrático, de liberdade de expressão, onde transitam diversas linguagens e diversos olhares, múltiplos olhares, um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Aqui busca-se a difusão da poesia, da literatura e da arte, e a exposição do pensamento contemporâneo em suas diversas manifestações.
Embora obviamente não concorde necessariamente com todas as opiniões emitidas em suas edições, PALAVRA FIANDEIRA afirma-se como um espaço na blogosfera onde a palavra é privilegiada.

sábado, 26 de abril de 2014

PALAVRA FIANDEIRA 151

Detalhe de ilustração de livro infantil da CORTEZ


e toda escolha é difícil e delicada 
Obra de Rodrigo Abrahim

Em minha experiência na Educação e pelo país, 
observo que as pessoas gostam, sim, de ler.



PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Publicação digital de divulgação cultural
EDIÇÕES SEMANAIS
ANO 5 — Edição 151
26 ABRIL 2014

AMIR PIEDADE

1.Quem é Amir Piedade?

—Primeiro sou professor, depois editor. Gosto muito de apresentar-me assim. Há uma identificação imediata das pessoas com os professores. Ainda exerço e com muito prazer a docência no Ensino Fundamental e também no ensino superior. Paranaense por nascimento e paulista por escolha, sou apaixonado por São Paulo, pela sua gente, pela agitação e correria da cidade, pelos museus, pelos bares, pelos teatros, bibliotecas, pela vida pulsante.



2.Como é ser um editor?

—É um trabalho de seleção. Ler, analisar e separar aquele original que você considera o mais indicado naquele momento para a editora e para o leitor. Isso significa deixar muitos, muitos originais – com excelente qualidade – de fora. É sempre uma aposta. Não há certeza nem garantia que o original selecionado será um sucesso. Não há uma fórmula para resolver o melhor modo de selecionar. E, penso sempre na tristeza do autor e da autora quando recebem a negativa de publicação. Tenho uma brincadeira que diz que se o livro vende bem os departamentos de vendas, marketing e divulgação fizeram um bom trabalho, mas se o livro não vende, o editor escolheu errado. Se o editor aprova um original e ele não vende, deu prejuízo à editora. Se ele devolve o original que é publicado por outra casa editorial e vende bem, deu prejuízo indireto à editora. É sempre uma escolha e toda escolha é difícil e delicada e traz ônus.


Na Bienal do Livro
3.Qual o primeiro livro que você aprovou?

—Foi O sonho da bolinha de gude, de Eunice D’Amico, na editora Ave-Maria.

4.Comente sobre os 10 anos de Literatura Infantil da CORTEZ, uma história da qual você faz parte.

—Trabalho na Cortez Editora desde 2001, como editor da Coleção Docência em Formação, coordenada pela prof. Selma Garrido Pimenta. É uma coleção voltada para a formação inicial na graduação e formação contínua de professores na Educação Básica. Em 2003, quando a editora decidiu abrir uma coleção de literatura infantil e juvenil, como eu tinha experiência de criação de catálogo de literatura infantil (Editora Ave-Maria e Editora Elementar), fui convidado pelo senhor José Xavier Cortez, presidente da editora, para iniciar essa tarefa com uma orientação “Faça livros que não fujam à linha editorial da Cortez, que promovam a reflexão, o debate, mas também o despertar para a leitura”. Com essa ordem pus mãos à obra e chamei autores e ilustradores para desenvolverem o projeto inicial. Contei ( e conto até hoje) com o auxílio inestimável do Mauricio Rindeika Seolin, meu editor de arte, mais o talento de excelentes revisores. A Coleção saiu com o slogan “Ler, gostosa brincadeira!”. Foi tão feliz o projeto que o jornal O Estado de São Paulo, conheceu vários títulos antes do lançamento oficial em 24 de março de 2004, e no dia anterior, deu destaque na primeira página do Caderno 2, comentando sobre o ousado projeto de literatura, os autores e ilustradores. Pronto! As escolas, livrarias, órgãos públicos etc tomavam conhecimento do nascimento da coleção. Isso ajudou a divulgação de uma forma espetacular.


CORTEZ: Dez anos de Literatura Infantil

5.Conte, por gentileza, aos leitores da FIANDEIRA, sobre a sua ida a Bolonha, e que significado teve esse acontecimento, não apenas em sua vida, mas na Literatura Infantil, expondo a importância desse evento para o livro do Brasil.

—Desde que fui à Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, observei que lá é uma grande universidade do livro infantil. Você  conhece o trabalho de editoras do mundo inteiro. Vê a beleza das imagens, os projetos gráficos, o cuidado primoroso na edição. É um encanto para os olhos, uma compreensão literária para a alma!
No caso da Cortez Editora, há um projeto de internacionalização dos autores e ilustradores brasileiros. Por isso, vamos sempre com o objetivo de vender direitos autorais, não de comprar. E tem dado muito certo. Vendemos mais de treze títulos para Estados Unidos, Colômbia, Espanha, Egito, China.
Para o Brasil é o momento de mostrar o que nossos autores e ilustradores produzem e que não ficamos devendo nada aos livros publicados no exterior.


6.Fez Filosofia. De que forma a Filosofia contribuiu com a sua vida?

—Filosofia é a reflexão cotidiana. O encontro do espírito com as angústias do homem. A esperança de errar menos, de saber o que você é e da sua contribuição para este mundo.

7.Com vê, de modo geral,  a blogosfera e também espaços culturais e de divulgação literária no universo virtual? E de modo específico, acredita que eles contribuem para a consolidação da ampliação de leitores?

—Todo e qualquer mídia que o livro ganhe espaço, estimula e chama à leitura. Temos um grande problema que é fazer o livro chegar ao leitor. Não gosto da frase sobre o brasileiro não gostar de ler. Em minha experiência na Educação e pelo país, observo que as pessoas gostam, sim, de ler. Apenas precisamos colocar o livro  nas mãos delas. Por isso, as redes sociais desempenham um papel importante na divulgação do livro.



8.Desde que o conheço sei o quanto preza a ilustração num livro infantil ou juvenil, sei o quanto aprecia a estética nas páginas. Como vê, concretamente, a valorização do ilustrador e o reconhecimento do artista de traços e cores, como um segundo autor do livro, um grande parceiro das letras?

—Aqui é um trabalho delicado. Os ilustradores acreditam que não são valorizados o suficiente. Aliás, pelo nossa (minha e sua) experiência na docência, ninguém é valorizado o suficiente. Não posso falar pelas outras editoras, mas na Cortez Editora sempre cuidamos com carinho também do ilustrador. Pagamos direitos autorais sem retirar isso do autor, além do valor acertado (que não entra como antecipação de direitos autorais) na entrega das artes.
Gostamos muito de trabalhar com profissionais que conversam tranquilamente e sabem como é o risco de se editar livro no Brasil, e, por isso, não exageram nas exigências e na negociação. A relação tanto entre autor, ilustrador e editor é e deve ser de absoluta transparência e respeito. E conseguimos isso. Dá gosto escutar  a fala de nossos autores e ilustradores contando que a Cortez Editora paga tudo rigorosamente em dia, sem ninguém precisar ir atrás para receber, enviando, inclusive com antecedência os extratos de direitos autorais.
E, nosso trabalho de editor é sempre mostrar ao ilustrador que ele é coautor da obra, por isso, a ilustração não deve se sobressair ao texto, mas constituir um trabalho em harmonia, integrado e elegante.


Ilustração de Livro Infantil (Banho de Bicho)

9.Também é autor. Poderia comentar um de seus livros  que tenha proporcionado alegrias em sua alma?, embora, claro, cada livro seja importante para o escritor.

—Ultimamente sou mais editor que escritor. Mas um dos meus primeiros livros e voltado para a escola foi O aniversário do seu Alfabeto. Vende muito bem. Visito escolas e conversos com as crianças e professores. Outros títulos entraram em programas governamentais. Quando escrevo penso sempre nas crianças para quem lecionei e leciono hoje. Talvez por isso minha produção seja bem mais paradidática.



10.Você é do sul, não é? Esteve recentemente em sua terra. Poderia expôr, gentilmente, as suas emoções e impressões ao ver pessoas  e paisagens queridas?

—Nasci no Paraná e toda minha família vive lá. Quando chego e avisto os imponentes pinheiros tenho uma sensação maravilhosa de filho voltando à terra natal. Volto sempre mais alegre, entusiasmado e comprometido com a vida e o trabalho. É um bálsamo na corrida do dia a dia.
Sempre com a família em encontros queridos 
11.Geralmente autores de Literatura Infantil têm encontros com crianças, nos colégios, feiras literárias, Bienais, etc... E você como autor, certamente já participou disso. Como é estar com crianças conversando sobre assuntos tão preciosos como Poesia, Histórias, Contos, Literatura Infantil, lendas?

—Crianças renovam qualquer pessoa. São estimulantes, curiosas, não veem a maldade que os adultos estão mergulhados. Tem esperança porque a vida ainda está começando para elas. Cada vez que vou à escola, e adoro  visitar escolas, conversar com as crianças e professores, sinto que a esperança ainda tem espaço e muito espaço em nosso mundo. E, que podemos sempre melhorar, transformar, amar.


Contação de histórias
12.Deixe aqui a sua mensagem final. Qual é a sua PALAVRA FIANDEIRA?

—Palavra fiandeira, fios, união, amarração, criação. Tudo isso e mais um pouco é o trabalho de escritores e ilustradores que, junto aos editores, dão vida à imaginação, tornam real  os sonhos, multiplicam as esperanças.

Com amigos 

Livro de Amir Piedade

Amir trouxe da Capadócia para embelezar a sua casa.

PALAVRA FIANDEIRA

ARTE, EDUCAÇÃO, LITERATURA
Ano 5 — Edição 151
AMIR PIEDADE

Palavra Fiandeira: 
Fundada pelo escritor Marciano Vasques

Com Mara Cortez
Com pessoas queridas


Um comentário:

  1. Parabéns, Amir Piedade! Você é o modelo de ética, caráter e cidadania. Admiro as suas qualidades e a compreensão exata que você possui da sua profissão de editor e da vida. Que privilégio tê-lo como editor e amigo, por tantos anos! Que Deus o abençoe sempre, pelo escritor, professor e editor que você é! Terminei de ler a sua entrevista, com desejo de quero mais. Grande abraço grato, por tudo de Sempre!

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