PALAVRA FIANDEIRA
REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL
Publicação digital de Literatura e Artes
EDIÇÃO 110
ANO 4 —Nº110 —6 ABRIL 2013
EDIÇÕES AOS SÁBADOS
DOUGLAS GALINDO
1.Quem é Douglas Galindo?
Em primeiro lugar, agradeço
pelo interesse em meu trabalho e pela oportunidade de compartilhar minhas idéias.
O Douglas Galindo é um brasileiro, casado com a também artista Teresa Senda
(que trabalhou na extinta área de quadrinhos da Editora Abril/Bela Cintra), pai
de um lindo e talentoso casal de filhos.
Estudou no Instituto Metodista de
Ensino Superior (Comunicação Social), na FUJI Photo Filme do Brasil e fez
Desenho Artístico e Publicitário, cresceu profissionalmente através de diversas
agências publicitárias desde 1982, começando como assistente de arte, depois
ilustrador/layoutman, diretor de estúdio e de arte, com experiência em
programação visual e promoções.
Participou do jornal Clakete, foi
premiado em concurso nacional da Abril, no III Concurso Fotográfico Itaú, nas
categorias preto e branco e colorida, além de desenhar a revista em quadrinhos
do Capitão 7. Mais recentemente fez uma revista do Blenq, personagem do Rod
Gonzales.
Trabalhou na primeira agência de
marketing de incentivo no Brasil, a Incentive House e foi professor de Desenho
e Comunicação Visual no Instituto Radial.
Desde 1989 oferece seu trabalho
em caráter free-lance.
2.Já foi premiado em alguns
concursos, pode nos falar sobre esses acontecimentos?
Houve uma época que participei de
vários, cheguei até a ganhar uma moto com uma ilustração; depois por falta de
tempo, fui deixando os concursos de lado, porém acho um ótimo exercício.
Sempre foram experiências
desafiadoras, lembro que para o de fotografia (Itaú), queria uma locação (rua),
molhada e à noite; esperei até quase o término do prazo, mas para minha sorte
uma madrugada choveu e eu saí da cama para essa foto.
3.Desenhou a Revista do Capitão 7.
Fiandeira interessa-se profundamente por essa experiência. Poderia, nos contar
algo?
Nos anos 80, um colega de
faculdade trabalhava numa agência que atendia o Capitão Sete - Ayres Campos,
que, na época, tinha uma fábrica de
fantasias. Ele concebeu uma estratégia de marketing onde lojas (redes)
compravam um lote de fantasias e recebiam a HQ, com um encarte central
personalizado. O roteiro era da Maio Miranda, a mesma roteirista da série da
TV. Todos foram muito generosos, entenderam que era minha primeira experiência
em HQ,, que eu estava em início de carreira e me ajudaram muito a vencer esse
desafio.
Capitão 7—desenhado por Douglas Galindo
4.Falando nisso, quem era o Capitão
7?
Ayres Kruger da Senna Campos ou
Ayres Campos, o Capitão Sete (Nasceu em Uberaba, MG, em 26 de maio de 1923,
faleceu em São Paulo aos 11 de julho de 2003) foi um cantor, empresário, ator
de rádio, cinema e televisão brasileira. Seu pai foi adido militar em Bombain,
na Índia, acabou vindo com a família para Santos.
Ayres era alto e aloirado, se
parecia com o ator Errol Flynn. Chegou a cantar no Teatro Municipal de São
Paulo, nas rádios Bandeirantes e Jovem Pan. Fez vários cursos (química,
odontologia e aviação nos Estados Unidos). Viajou para Paris e na volta para o
Brasil montou um laboratório de perfumes. Foi lutador de boxe. Atuou em filmes
da Empresa Cinematográfica Vera Cruz.
Em 1954 se candidatou a uma vaga na TV Record - Canal 7, daí
vem o nome do personagem, para fazer papel de um herói infantil.
Estreou em 24 de outubro de 1954
o programa seriado de aventuras Capitão 7, junto com Idalina de Oliveira. Os
meninos se vestiam iguais ao personagem do programa. Em 1959 foi criada a
revista Capitão 7, nessa época ele batia em vendas o Super-Homem. O programa
ficou no ar até 1966.
Fundou como mencionei uma empresa
de fantasias de super-heróis americanos e japoneses. Casado, teve dois filhos e
dois netos. Isso numa época muito diferente da nossa, por exemplo, sem vídeo-tape,
quase tudo era ao vivo, cenas inusitadas e divertidas se sucediam. Lembro que
numa cena os homens formigas tinham que conversar, um deles sair e o outro
seria dominado pelo Capitão 7, mas depois de muita demora saem os dois, as
antenas de seus capacetes se enroscaram e não dava para mexer ao vivo; quando o
Capitão 7 entra em cena, não há ninguém para "bater", ele então sai
correndo atrás dos "terríveis homens-formiga", gritando: Não adianta
fugir, eu os pegarei!
Era comum ele enviar seus oponentes
para o pronto-socorro. Poderia contar muito mais, mas fica para uma outra vez.
5.Poderia nos comentar algo sobre
os grandes desenhistas nacionais de HQ que nos deixaram uma época de ouro, como
Júlio Shimamoto, Jayme Cortez e outros?
Escolher um seria difícil. As
artes gráficas no Brasil devem muito a esses desbravadores, pensando de forma
mais geral, numa época sem internet fui demais influenciado por eles. Para mim,
desenho é mais interessante como uma linguagem que mostra as decisões feitas na
pintura/arte-final, e eu fui atraído para isso no trabalho desses artistas.
Lembro que ia à banca de jornais
e devorava o trabalho das HQs, das enciclopédias, das adaptações literárias, dos
álbuns de figurinhas, é até difícil conceber isso hoje com tanta informação
disponível, mas queria mencionar que a maioria era e ainda é meio cavaleiro
solitário, nem sempre devidamente reconhecido.
Como nota queria colocar o nome
do Rodolfo Zalla, a quem tive oportunidade de conhecer pessoalmente. Nosso
último contato foi quando ele desenhou umas “tiras” de western para um trabalho
publicitário/promocional, ainda tenho um
original guardado em algum lugar em meu estúdio.
Rodolfo Zalla, citado por Douglas Galindo
6.Produziu desenhos para marcas e
lojas. É a sua veia de publicitário em sintonia com a sua arte? Como se
adentrou nesse meio? Quais as oportunidades que abriram as portas?
Sem querer ser pretensioso, desde que me entendo
por gente, rabiscava nas antigas folhas que embrulhavam pão, e desenhava
personagens, estórias … Mas, só na época que estava terminando a faculdade (em
1980), tive oportunidade de trabalhar mesmo com desenho.
Pensando bem, eu tinha um estável
emprego de escriturário, que custeou minha faculdade e da minha irmã, até o
último ano. Quando joguei tudo para o alto e fui trabalhar a convite de um
professor numa agência; o salário era muito menor, tive que reprogramar minha
vida. Lembro que como parte dessa reprogramação fui de carona (na rua, com
desconhecido) para a agência, hoje isso seria impensável.
De significativo, trabalhei com
livros didáticos e paradidáticos para diversas editoras, alguns anos na criação
e arte das caixinhas do Mc Lanche Feliz, projetos para grandes fabricantes de
brinquedos do Brasil, entre outros.
7.O que faz atualmente? Como
realiza o seu dom? O que anda produzindo?
Continuamos a oferecer nosso
trabalho em caráter free-lance, seja para a criação de peças (anúncios,
projetos), seja para criação de personagens (mascotes), seja para a ilustração,
temos vários trabalhos na área editorial (literatura, didáticos), e quando
possível fazemos HQs empresariais, a última foi para a Danone, ajudando a
divulgar hábitos saudáveis de alimentação.
Produção/arte digital do Estúdio de Douglas
Arte de Teresa Senda, no Estúdio de Douglas
8.É casado com uma artista
ilustradora. Como se encontraram? Foi no ambiente artístico? O que pode nos
contar dessa parceria certamente tão
fecunda?
Trabalhar a
quatro mãos e duas cabeças é um desafio, mas tem suas vantagens, a troca, a
crítica construtiva, acrescenta; hoje, depois de uma parceria de mais de 30
anos, concluo que vale muito a pena, lembro quando fui apresentado à Teresa, por
um amigo comum, acho que ninguém imaginava que daria nisso.
Teresa Senda —Fiandeira 76
9.Gosta de HQ, naturalmente.
Aprecia a Literatura Infantil?
Gosto sim. Tive
uma coleção de HQs e livros que somamos e que deixamos muitos pelos caminhos da
vida, estou numa fase que avalio se não é tempo de começar a contar nossas
próprias estórias para as crianças.
10.Entre os personagens não
nacionais, tipo o “Fantasma”, “Superman”, e não apenas americanos, mas também
de outros países, tem algum que possa considerar o seu preferido?
Gosto muito de muita coisa, mas
elegeria o Príncipe Valente de Harold Foster como meu preferido.
Harold Foster em sua prancha
11.Acredita que a HQ nacional
poderá reverter a situação atual e pelo menos retornar como na época em que nas
bancas se penduravam as revistas de Terror, por exemplo?
Muitos
sonham, há muito trabalho de formiguinha, editoras pequenas e novas que têm
coragem e ousadia; outros são pessimistas, mas eu vejo algo muito positivo
acontecendo, hoje você pode começar um trabalho na internet, avançar para
pequenas edições em gráficas on demand e quem sabe chegar às bancas/livrarias,
muitas ferramentas e sites(tecnologia) podem ajudar, mas o trabalho autoral
depende de acertar o momento e o gosto dos leitores.
Eu
acredito! Os super-hérois eram marginalizados, hoje são fonte de grande lucro
até em outras mídias, cinema por exemplo, e não só deles vive a nona arte.
12.Deixe aqui a sua mensagem final.
Qual a sua PALAVRA FIANDEIRA?
“As
pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o
mudam” Jack Kerouac, pelo Pavazine.
O
que queria era sonhar com um cenário onde viver de arte no Brasil seria menos
sofrido, mas real, você que me lê, pode sonhar junto?
PALAVRA FIANDEIRA
Publicação digital de divulgação literária
Publicação semanal de Literatura e Artes
Edições aos sábados.
Edição 110 —DOUGLAS GALINDO
PALAVRA FIANDEIRA:
Fundada por Marciano Vasques
Querido Douglas
ResponderExcluirParabéns pela lúcida e lúdica entrevista.
Adiante com os projetos.
com carinho
cristofani
Como sempre suas palavras são carinho e atenção, mesmo à distância, desejo muito sucesso a vocês; Abração
ExcluirParabéns ao "ilustre" ilustrador Douglas Galindo! Que bom poder conhecer um pouco mais sobre sua vida e seu trabalho!
ResponderExcluirA nona arte sem dúvida é muito mais rica com um profissional do "naipe", do estilo e do pensamento otimista de Galindo:
"O que queria era sonhar com um cenário onde viver de arte no Brasil seria menos sofrido, mas real, você que me lê, pode sonhar junto?"
- Claro que podemos, Douglas!! Conte com nossos sonhos!
Um grande abraço muito orgulhoso de ser brasileira, pelo fato de termos VOCÊ e sua arte fantástica! É uma grande honra para todos nós! Deus abençoe seus próximos Projetos hoje e sempre...
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*Ciano, obrigada pelas entrevistas que você traz aqui na sua Fiandeira, todos os sábados. Só assim nos aproximamos de feras como o Douglas (e sua esposa Teresa Senda). Um abração gigante pra você.Excelente semana a todos!